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Colecções elaboradas com base em histórias e objectos de uma determinada personalidade, grupo ou comunidade, fixas ou itinerantes

Banco de dados de informação elaborado e enriquecido por técnicos, pesquisadores, cientistas… por especialistas da área

Banco de dados de informação elaborado e enriquecido a partir de trabalhos desenvolvidos pela comunidade local

Banco de dados de informação elaborado e enriquecido pelos pesquisadores do próprio projecto assim como pelos utilizadores da Internet Modelos tradicionais de

aquisição e ampliação do acervo: compra, troca, comodato, arremate, prospecção

Acervo, essencialmente fotográfico e fonográfico, construído e renovado pela própria comunidade

Elaboração e troca de documentos textuais ou de imagens via e-mail ou correio tradicional.

Quadro 2 – Diferenças entre concepções de museu (adaptação de Oliveira, 2002:9).

Pensa-se que depois de uma breve análise deste quadro, se pode perceber que, apesar das inevitáveis diferenças que existem entre os vários formatos e conceitos associados aos museus, fruto da evolução dos tempos, está-se a caminhar num sentido da efectiva democratização da cultura e do acesso aos bens culturais, a uma escala nunca antes possível.

Com as novas modalidades de museu pode-se contar com a participação mais activa e interventiva, desde que séria e cuidada, das comunidades e seus actores na construção de um museu cada vez mais pensado e elaborado por todos e para todos, como aliás preconiza a definição de museu do ICOM: A museum is a non-profit making permanent institution in the

service of society and of its development, open to the public, which acquires, conserves, researches, communicates and exhibits, for purposes of study, education and enjoyment, the

tangible and intangible evidence of people and their environment.36

EDUCAÇÃO, DESENVOLVIMENTO LOCAL E MUDANÇA SOCIAL

O museu como pólo de desenvolvimento local – Museu/Escola de Rendas de Bilros de Vila do Conde

90 Capítulo III – Museus e Desenvolvimento Local

Perante o surgimento destes novos conceitos de museu e as possibilidades que actualmente encerra em si, cabe agora reflectir acerca dos processos de intervenção que no âmbito do desenvolvimento local se podem desenvolver, e ponderar, nesta perspectiva, acerca do papel que aquelas instituições culturais podem assim vir a assumir.

3.3 – A Intervenção no Âmbito do Desenvolvimento Local

Assim, no âmbito do desenvolvimento local considera-se importante a canalização e reformulação dos saberes e competências locais das comunidades abrangidas, no sentido em que se tornem capazes de competir no mercado global, contrariando, de certa forma uma concepção de desenvolvimento de tipo capitalista, baseado na lógica de acumulação de capital que hoje impera nas nossas sociedades, pela criação de novas formas de competitividade, propondo um mercado alternativo, sem no entanto desvirtuar ou retirar o sentido e significado particulares das produções locais.

O envolvimento e mobilização da comunidade nestes processos deverá acontecer tendo em conta aquilo que muitos autores já vêm dizendo e que corresponde ao desenvolvimento de iniciativas que sejam capazes de evocar as vivências, ideias, experiências, valores e memórias das comunidades que são de facto extremamente significantes e importantes para si, quer a nível da sua identidade pessoal ou mesmo colectiva. Por outro lado, iniciativas que contemplem a mobilização e reorganização do global a nível local. Isto não numa perspectiva de mero consumo, mas no sentido em que se exige uma certa apropriação e transformação daquilo que é globalmente emanado num instrumento a favor do local.

Para isso não basta só trabalhar e valorizar as competências e saberes locais, na medida em que estes poderão não mais representar possibilidades de obter algum rendimento, mas trabalhar principalmente na requalificação das pessoas, encontrando novas funções para as suas velhas competências e saberes. Reconstruir o local a partir apenas do que é local seria, por um lado, bastante difícil dada a situação de profunda depressão, retrocesso, ou mesmo estagnação em que estas comunidades geralmente se encontram com níveis de auto-estima baixos, por outro lado, seria uma forma de perpetuar ainda mais o isolamento e a pobreza em que grande parte destas comunidades vive.

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Capítulo III– Museus e Desenvolvimento Local 91

Assim, é preciso proceder a uma certa reorientação, que antes de ser técnica é em primeiro lugar social, na medida em que implica uma transformação profunda de um estatuto desestruturante num novo estatuto, um processo de recriação das identidades das comunidades, sem que o surgimento destas novas funcionalidades sociais, técnicas e culturais provoquem qualquer tipo de ruptura dolorosa. Neste sentido, a mudança implica uma postura que é de certa forma contraditória, na medida em que o sujeito e o seu quadro de referência se constituem simultaneamente em obstáculos e pontos de partida para a apropriação e interiorização das novas aprendizagens e mudanças que elas acarretam.

Tendo sempre em consideração que estes são processos demorados, complexos e nada pacíficos, precisamente porque acabam por mexer com o quadro de referência e de afectos pelos quais as pessoas encaram e filtram a realidade e o mundo que os rodeia. Talvez por isso se considere que no contexto de uma intervenção no local é essencial recorrer e trabalhar as questões da memória, na medida em que isto permite a recriação das identidades e uma nova valorização dos saberes e das sociabilidades num processo de desocultação e reconstrução de sentimentos, valores, competências, relações com o intuito de dar uma certa ‘espessura social’ às comunidades das zonas rarificadas, que sozinhas acabam por reproduzir as condições de exclusão de que são vítimas.

Aquilo que se preconiza então, são iniciativas que contem inevitavelmente com a participação e implicação da comunidade, sem no entanto dispensar o importante papel de orientação que os técnicos exteriores podem ter nestes processos, intervindo habilmente no desenvolvimento de uma alternativa que deverá ser estritamente baseada na comunidade e nas especificidades do seu contexto, “(…) numa perspectiva de empowerment (…) ou seja, de restituição de poder aos que não o têm de modo a que possam aceder à participação plena nos espaços de cidadania (…)” (Ferreira, 2004:64).

Estes técnicos apesar de se constituírem como elementos, à partida exógenos às realidades das comunidades locais, terão que fazer um esforço no sentido de cooperar de forma o mais implicada possível, tendo sempre em mente que são as comunidades quem deve assumir o protagonismo num espaço territorial que é o seu, tendo em conta a forte ‘malha de sociabilidades’ em que se encontram envolvidos e na qual constroem o sentido para a sua existência.

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92 Capítulo III – Museus e Desenvolvimento Local

A intervenção e orientação exteriores poderão, nesta perspectiva, ser úteis na medida em que forem capazes de desenvolver os mecanismos até ao ponto em que a comunidade domina por si só os mecanismos que lhe permitam prosseguir no processo de desenvolvimento.

Segundo Roque Amaro e tendo em conta que cada comunidade local possui uma dinâmica e especificidade que lhe é muito própria, podem apontar-se alguns princípios genéricos que podem servir de orientação a um qualquer projecto de desenvolvimento local que efectivamente pretenda contribuir para potenciar processos de recuperação e valorização de saberes, identidades, modos de vida, etc. (Amaro, s/d).

O autor refere-se nomeadamente à necessidade de estes projectos contemplarem diversas áreas e sectores de intervenção; privilegiarem a participação, negociação e o envolvimento das comunidades e sua população; a tomada de consciência dos seus problemas, dúvidas, interesses e potencialidades num processo de intervenção deveras complexo e de carácter conflitual que desejavelmente se deve prolongar no tempo.

Todo este complexo processo depende, acima de tudo, da vontade de agir da comunidade, cujo trabalho deverá ser acompanhado e articulado, no âmbito da intervenção comunitária, por equipas de técnicos e agências intermediárias. Ora isto, sempre no sentido de se rentabilizar os recursos disponíveis e suscitar, a longo prazo, a capacidade empreendedora e organizacional que permita às comunidades decidirem autonomamente acerca daquilo que mais se adequa às suas necessidades e qualidade de vida.

O objectivo deverá ser conseguir que a intervenção se adeqúe ao máximo ao contexto específico em questão e que não se torne desqualificadora daquilo que são os saberes e experiências da população, por outro lado dever-se-á desencadear na comunidade uma consciência do seu valor e da sua dinâmica intrínseca, a qual deverão ser capazes de mobilizar e gerir por forma a ‘sobreviver’ e a manter vivas as especificidades tão enriquecedoras destes locais, perseguindo assim a reabilitação positiva de cada local, de cada comunidade e até de cada indivíduo.

Assim, para a dinamização e implementação de uma intervenção séria, há que ter em atenção alguns aspectos essenciais, nomeadamente em relação ao tipo de metodologia e estrutura de intervenção a ser utilizada e depois, em relação ao modo como é conduzida a sua implementação no local.

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No que se refere à questão das metodologias propriamente ditas, e tendo sempre em mente que não existem, neste contexto, receitas ou medidas universais, considera-se interessante, analisar, perceber e ponderar acerca de duas propostas complementares, apresentadas por Alberto Melo e Rui D’ Espinay, sendo esta última referente ao tipo de intervenção pensada e desenvolvida no âmbito do Instituto das Comunidades Educativas (ICE)37 em meio rural.

Partindo então do princípio que as comunidades que carecem de iniciativas ou intervenções ao nível do desenvolvimento local, apresentam geralmente grandes dificuldades em se organizarem e rentabilizarem os seus recursos sociais, culturais e económicos, porque perderam a esperança e a capacidade de reagirem às condições de abandono estrutural em que se encontram. Um dos propósitos principais que a intervenção terá que garantir refere-se à capacidade de “(…) dotar as comunidades de iniciativas permanentes que se organizam e criam «a partir do seu património natural, construído e/ou saberes e que se afirmam ou viabilizam (…) pela competitividade que oferece a sua condição de alternativa cultural, social e mesmo económica»” (D’ Espinay, 2004:62).

Por outro lado, preconiza-se o desenvolvimento de projectos que garantam a articulação entre uma série de iniciativas de animação sócio-cultural, projectos de educação/formação associados a processos e actividades de investigação e inovação, no sentido de assim se conseguir proporcionar um conhecimento cada vez mais profundo sobre o meio, momentos de debate e reflexão criativos e geradores de outras dinâmicas até aí desconhecidas, ou mesmo de outros projectos.

Tudo isto num processo o mais integral e sustentável possível. Induzindo “(…) as pessoas do local a reunir-se em torno de iniciativas de animação cultural (realização de festas, de convívios comunitários, etc.), de projectos de criação de serviços de proximidade úteis à qualidade de vida das populações (organização de ATL’s, Centros de Dia, etc.) ou da reivindicação de serviços que lhes foram retirados (a reabertura do posto de correio, a extensão do serviço de saúde, etc.) (…), [consegue-se] levar a população a desocultar/promover tradições e práticas socioculturais em vias de extinção” (D’ Espinay, 2004:63).

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Como o próprio Alberto Melo refere, citado por Rui D’ Espinay, são então estas iniciativas que contribuem para “(…) «elevar a auto-estima colectiva em relação ao território, à história e ao património local» abrindo «portas para a clarificação de um futuro viável»” (Melo, cit. in D’ Espinay, 2004:63).

É então importante para a criação de projectos articulados, coerentes entre si e duráveis no tempo, a mobilização de uma série de intervenientes, quer no seio da própria comunidade local, quer por referência a outros agentes exteriores (técnicos), se se pretender induzir, especificamente nestes contextos, a (re)criação, promoção e fortalecimento de redes de relações e sinergias entre as pessoas da comunidade, e até entre várias comunidades.

Porque é com base na interdependência mútua que se consegue garantir a manutenção e sobrevivência destas comunidades locais e a sua fixação, vinculação espácio-temporal em determinado local, através do aproveitamento e maximização dos recursos locais disponíveis.

Rui D’ Espinay, preconiza então, uma intervenção baseada numa ‘tripla abordagem pedagógica’ como ele próprio a designa, porque baseada na pedagogia do superavit, pedagogia da escuta e na gestão do imprevisto.

O autor, pretende desta forma salientar a importância em desenvolver o trabalho comunitário partindo não só dos problemas ou deficits que as comunidades manifestam, mas sobretudo de uma abordagem positiva das potencialidades, qualificações e apetências daquelas, suas expectativas e anseios – pedagogia do superavit – que é preciso saber escutar, dar voz e encaixar, a partir do estabelecimento de relações de cooperação e implicação.

Finalmente, D’ Espinay aponta para a necessidade de saber gerir e acolher no seio destes procedimentos os mais diversos imprevistos, assim como toda a diversidade de situações, que se forem convenientemente discutidas e negociadas, acabam por ser digeridas e ultrapassadas enriquecendo, ainda mais, todo o processo de desenvolvimento (D’ Espinay, 2004:67-69).

É necessário que as propostas sejam reconhecidas pelas próprias comunidades e que surjam das suas condições, de modo a proporcionar uma organização e rentabilização das entidades, serviços e infra-estruturas que ainda estão disponíveis, ou até de outras que possam surgir como essenciais a todo este processo.

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Por outro lado, estes procedimentos de desenvolvimento devem ser de tal modo significativos para os actores locais, que acabam por ser gradual e completamente sorvidos, interiorizados tornando-se quase no hábitus38 de cada um, como Bordieu o definiu.

Deseja-se assim, um desenvolvimento local, entendido como a “(…) possibilidade das populações poderem expressar uma ideia de futuro num território visto de forma aberta e flexível, onde esteja ausente a noção do espaço como fronteira, concretizando acções que possam ajudar à (re)construção desse futuro” (Fragoso, 2005: 64). Numa perspectiva de desenvolvimento local que tendo em vista a melhoria da qualidade de vida das pessoas, bem como aumento da sua autoconfiança e organização tendo em conta principalmente os seus interesses e a sua participação, fomenta-se o controlo e o poder de decisão.

Por outro lado, e atendendo ao seu carácter sobretudo endógeno e integrado, estas iniciativas teriam que se desenvolver como processos eminentemente colectivos e educativos, articulando-se com participação de intervenientes externos às comunidades e contextos locais envolvidos, que em estreita cooperação permitem a efectivação do seu desenvolvimento e das mudanças que se pretendem operar (Fragoso, 2005: 64).

Mas, face a um “(…) contexto onde a globalização dos mercados tende a acentuar a desterritorialização das relações sociais anunciada pelo capitalismo, as alternativas passam então por uma globalização da acção local que permita pensar o desenvolvimento (local) na sua contribuição para a produção de redes de sociabilidade comunitárias numa lógica onde, a par da qualificação dos indivíduos, importa realçar a importância das redes densas de relações sociais qualificantes tanto para os indivíduos como para as comunidades” (Correia, e Caramelo, 2004:35).

38 “(...) habitus, sistemas de disposições duráveis e transponíveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionar como estruturas estruturantes, isto é, enquanto princípios geradores e organizadores de práticas e representações que podem ser objectivamente adaptadas ao seu fim sem supor a prossecução objectiva de fins e o domínio expresso das operações necessárias para os atingir, objectivamente “regulado” e “regular” sem que seja o produto de uma obediência a regras e, sendo por isso colectivamente orquestrado sem ser o produto da acção organizadora de um chefe de orquestra” (Bourdieu, 1980:88-89).

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Ou seja, a “(…) perspectivação globalizante do desenvolvimento local (…) [terá que procurar] a integração entre processos de compreensão e valorização de culturas comunitárias, processos de mobilização dos seus recursos e processos de transformação e mudança futurante (…), portanto, entre identidades e mudanças, entre continuidades e rupturas, entre confirmação e valorização de patrimónios acumulados e des/reconstrução crítica” (Fernandes, 2002:64).

É importante reforçar a ideia de que quando se fala em processos de desenvolvimento, o que é desejável não é a dinamização e implementação de um projecto de desenvolvimento local ou comunitário pontual, mas sim, de processos de desenvolvimento ‘integrado’, nos quais deverão estar incluídos, como já foi referido, projectos locais de animação a vários níveis (social, cultural, sócio-cultural, etc.), de educação/formação, e outro tipo de iniciativas que façam sentido entre si e colectivamente para aqueles que nelas se terão que envolver e participar activamente.

Só quando grande parte da população visada acredita nas suas potencialidades – ou seja quando existe de facto uma ‘vontade colectiva de mudança’ – é que se consegue proceder à estruturação e posterior implementação, como lhe chama Alberto Melo, de um ‘plano de desenvolvimento integrado’.

Um desenvolvimento integrado que tenha em conta “(…) processos que se pretendem democráticos, comunitários e participativos e, portanto, concedem uma tão grande importância aos projectos e acções de protagonistas comuns e locais, [procurando] (…) a relação virtuosa entre esses projectos e os objectivos, mandatos e vinculações programáticas das equipas políticas e técnicas que os desencadeiam ou apoiam.

Integração, portanto, entre perspectivas caracteristicamente pontuadas pelo dentro e o fora, o interior e o exterior, o leigo e o perito, quer dizer, procura controlada de superação, numa comunicação fundada sobre a acção cooperativa, do que nessas dicotomias é superável pela intervenção deliberada” (Fernandes, 2002:64).

Nesta perspectiva, Rui D’ Espinay apresenta então, uma série de ‘intencionalidades estratégicas da intervenção’ a serem consideradas, tendo no entanto em conta, que “cada dinâmica, cada processo local é concreto e resulta, necessariamente, de soluções que a realidade (concreta) produz” (D’ Espinay, 2004:74).

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Na sua opinião, a intervenção pauta-se por uma orientação em direcção à mudança, isto é, intervém-se nestes contextos desvitalizados, essencialmente para mudar, e mudar em termos estruturais. Isto porque para recuperar e requalificar estas comunidades implica agir directamente sobre as condições que conduziram ao isolamento e à perda da sua identidade, “(…) implica mexer na sua estrutura, implica (…) [reorganizar o meio] numa perspectiva alternativa, isto é investindo na construção de um outro eu, de um alter, que o faça romper com o presente crítico” (Idem:76).

Por outro lado, pretende-se uma intervenção pensada e implementada, não a partir de estratégias e técnicas pré-estabelecidas pelos agentes exteriores, impondo mecanismos de fora para dentro, mas sim através de propostas que partam internamente das conjunturas e projectos de vida que emergem da própria comunidade e seus destinatários, que se transformam e assumem para si a posição de actores interventivos. Desta forma o desenvolvimento local forja-se na criação de sociabilidades, na interpelação, gestão e simetrização dos poderes.

Por fim, o autor considera preponderante a perspectivação da intervenção, tendo em vista o desenvolvimento local, de forma imparcial, enformado por aqueles que são os princípios e valores ideológicos que a norteiam.

“Defender e promover a diversidade num mundo que se organiza e gere pela semelhança, defender e promover a igualdade numa sociedade que em cada dia reproduz desigualdades, defender e promover a participação numa ordem que privilegia a representação, defender e promover a emancipação e a potencial transgressão em tempos em que só se reconhece a ordem e a importância de assegurar o normal funcionamento das instituições… é sem dúvida, fazer política” (D’ Espinay, 2004:81).

Como exemplo concreto deste tipo de intervenção, que configura na realidade, aquilo que o autor designa como ‘pólos de desenvolvimento’, aponta-se precisamente as iniciativas ligadas à criação de espaços museológicos “(…) a partir da recolha de património disperso e, com