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Edifícios Território Colecções Património

Público específico Comunidade participativa

Função educadora (formal) Acto pedagógico para o eco desenvolvimento

Quadro 1 – Diferenças entre as concepções de Museologia (Primo, 1999:22).

A museologia tradicional valorizava e concebia os museus tendo em conta a primazia dos edifícios e as colecções que neles se apresentavam, atribuindo principal importância ao objecto museológico por si só. A função educadora assumia igual importância mas numa perspectiva formal e muito vinculada à educação escolar.

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30 Capítulo I – Museus e Museologia

Por seu lado, a proposta da Nova Museologia consistia no alargamento do espaço e âmbito museológicos, encarando o museu para além do edifício que encerra em si objectos e exposições, ampliando-se deste modo a noção de património cultural. Estes novos espaços museológicos teriam então que assumir a importância de cativar e incentivar a participação da comunidade envolvente nas questões museológicas, no sentido de assim, contribuir para o seu desenvolvimento social integral. Assim, a Declaração de Quebec “(…) não traz em si novidades conceptuais, mas a sua importância deve-se ao facto de ter reconhecido a existência do Movimento da Nova Museologia, tendo assim legitimado uma prática museológica mais activa, socializadora, dialógica e internacionalmente autónoma” (Primo, 1999:23).

No mesmo ano, mas desta vez de um encontro realizado no México, resulta um novo documento, igualmente de forte relevância para os contextos museológicos, a que se convencionou designar de Declaração de Oaxpatec, por referência à cidade em que decorreu, e que reflecte claramente o surgimento de novos vectores no que se refere às relações consideradas relevantes para o museu e suas dinâmicas, assumindo nova preponderância as dimensões de território, património e comunidade e as possibilidades de cooperação que entre si se tecem.

O último documento de relevância para a caracterização e contextualização da evolução da concepção museológica, refere-se à Declaração de Caracas, produzida em 1992 na Venezuela onde se revê, entre outras coisas, a definição apresentada em Santiago do Chile (de museu integral) que evolui para uma nova definição, a de ‘museu integrado na comunidade’. Revela-se aqui uma preocupação, por parte daqueles que trabalham e se movimentam no âmbito das questões da museologia, em direccionar a acção museológica na sua relação com a comunidade, para uma maior valorização da participação desta e dos seus interesses, tendo em conta o papel preponderante que pode assumir em diálogo com o museu no processo de intervenção e desenvolvimento sociais. Perante esta nova postura, o museu passa a encarar de bom grado a partilha de poderes, concretamente na gestão e divulgação dos bens culturais e históricos, que deixa de encarcerar em si mesmo, passando a considerar e a salvaguardar, de uma forma progressiva, os interesses da comunidade.

Resumidamente, pode-se afirmar que as alterações mais significativas que ocorreram no âmbito da conceptualização do museu e museologia ao longo do século XX se referem ao “(…) alargamento da noção de património, (…) [à] redefinição de «objecto museológico», (…) [à] participação e implicação da comunidade na definição e gestão das práticas museológicas, [à] museologia (…) como um factor de desenvolvimento, (…) [ao recurso da] interdisciplinaridade [e à] utilização das novas «tecnologias de informação» (…)” (Moutinho, 1993:6).

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Capítulo I – Museus e Museologia 31

À semelhança da evolução e alterações que se foram operando em torno do conceito de museu, suas diferentes configurações e fundamentos, que foram sendo motivo de inquietação, discussão e até de alguma produção escrita, fruto da necessidade inevitável em acompanhar as mudanças que se foram sucedendo no seio das sociedades; de igual modo foi-se tornando essencial retratar, designar e restringir o âmbito desta nova área de conhecimento que foi surgindo. Está-se pois a falar, daquilo a que se convencionou designar por museologia, mas que ao longo da sua história terá assumido sentidos diferenciados, de que já se foi falando, mas que vale a pena aqui esclarecer.

1.3 – Emergência e Evolução da Museologia

A museologia inicialmente surgiu como sendo a ciência que estuda os museus (Chagas, 1994: 14), definição que de resto terá permanecido até aos anos 70/80, altura em que começou a surgir, por parte daqueles que se movimentam nestes contextos, um certo desconforto com alguma simplicidade associada a esta definição e a uma ausência de questionamento acerca de algumas questões importantes para a sua problematização. Questões relacionadas com a “(…) redefinição política e ideológica de diversos profissionais; (…) o desenvolvimento de actividades práticas até então não previstas nos manuais museológicos; (…) o surgimento de uma nova tipologia de museus - museus comunitários, ecomuseus, museus da vizinhança, etnomuseus etc. (…) [e] a constatação de que a museologia normal não mais responde satisfatoriamente às questões colocadas” (Idem:17).

O chamado campo museal atravessava assim uma crise, não só conceptual, mas também em termos estruturais, o que acabaria por conduzir à procura de um novo modelo, um novo paradigma museológico capaz de integrar em si toda a complexidade e diversidade das questões que entretanto foram surgindo, e que terão resultado do ritmo acelerado com que as próprias transformações sociais e ideológicas iam ocorrendo, perante as quais se exige uma nova postura, um posicionamento diferente.

Para melhor entender as diferentes concepções de museologia que foram surgindo e que são defendidas por diferentes autores que trabalham e desenvolvem estudos nesta área e que permitem, de certa forma, retratar a evolução da conceptualização da museologia.

A definição subjacente ao paradigma museológico vigente e que, entretanto fora posto em causa, encarava a museologia como sendo “(…) o estudo das finalidades e da organização dos museus (…)” (Chagas, 1994:18).

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32 Capítulo I – Museus e Museologia

As alternativas que se foram depois propondo, e que a seguir se apresentam, correspondem a uma perspectivação da museologia como sendo o (…) estudo da implementação e integração de um número básico de actividades envolvendo a preservação e o uso da herança cultural e natural; (…) [Ou, propostas que a encaram como sendo] o estudo dos objectos museológicos e da musealidade; (…) [E por último, abordagens que definem] a museologia como estudo de uma relação específica entre o homem e a realidade”(Ibidem).

Peter Van Mensch, um conceituado autor na área, professor na Reinwardt Academie em Amesterdão, especialista em Teoria da Museologia e Ética do museu, inclina-se se mais para a primeira definição de museologia apresentada, ao referir que esta “(…) examina o complexo processo de aquisição, conservação, identificação e registro, a pesquisa, a exposição e comunicação dos objectos seleccionados e autênticos da natureza e sociedade que são fontes primárias do conhecimento” (Fontanelli, 2005:70-71).

Uma outra autora de relevância na área, Anna Gregorová, revê-se na última tipologia, ao afirmar “(…) que a Museologia é a ciência que estuda a específica relação do homem com a realidade, [na medida em que] consiste numa proposital e sistemática colecta e conservação de objectos seleccionados, inanimados, materiais, móveis e tridimensionais [que] documenta o desenvolvimento da natureza e sociedade e dos quais é feito um uso científico e cultural- educacional” (Idem).

A perspectiva de Stránsky, um museólogo de renome da escola Checa, segue esta mesma linha de ideias ao considerar que o “(…) museu é meio, o assunto da museologia, assim esta envolve-se com a ideia de museus ou a necessidade social que temos deles e não com suas normas e técnicas. O objectivo da museologia é definir a específica relação do homem com a realidade para satisfazer necessidades sociais. Museologia como ciência tende a esclarecer a realidade social e sua relação com o homem” (Ibidem).

O grupo da Nova Museologia define-a “(…) como área de conhecimento científico que se concretiza sobre indícios variados do património cultural e natural (o objecto), em qualquer lugar que eles se apresentem (o lugar), através de procedimentos de preservação, conservação, documentação, exposição, educação, divulgação e disseminação de conhecimento (os instrumentos)” (Ibidem).

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E, numa perspectiva muito semelhante a esta, Klaus Schreiner considera que “(…) a museologia é uma disciplina científica social com objecto de estudo complexo, estruturas e leis, envolvendo o processo de aquisição, preservação, descodificação, pesquisa e exposição de objectos originais seleccionados da natureza e da sociedade como fonte primária e conhecimento” (Ibidem).

Este conjunto de definições que foram recolhidas de entre muitas outras, apenas pretendem reforçar a ideia de que a museologia é um campo que está ainda em discussão e construção, e que tal como os próprios museus, não pode permanecer indiferente face às inúmeras transformações que foram ocorrendo neste contexto ao longo dos tempos, em função das concepções e práticas políticas, ideológicas e sociais vigentes e claro, face aos contextos socio- históricos mais latos em que se movimentam.

A museologia sofreu, como de resto já foi possível constatar, uma evolução passando de uma ‘museologia do objecto’ para uma ‘museologia da comunidade’; da centralidade do objecto museológico raro e valioso, por si só, para a valorização de um objecto museológico eminentemente cultural e pluridimensional; de uma preservação muitas vezes descontextualizadora e, por isso mesmo, esvaziada de sentidos para uma preservação in situ e significante; de uma museologia tradicional, fechada e centrada apenas nos seus próprios interesses e saberes, para uma outra interdisciplinar e dialógica, uma museologia social e comunitária, no sentido de se adequar, o mais possível, aos princípios, estruturas e fundamentos da dinâmica social inerente a uma qualquer sociedade, na qual estas instituições culturais se inserem (Moutinho, 1993:5-6).

Pode-se assim afirmar que actualmente, a museologia orienta e postula a sua actuação atendendo, por um lado à “(…) necessidade de compreender o comportamento individual e/ou colectivo do homem frente ao seu património e por outro lado, desenvolver mecanismos para que a partir desta relação se consiga transformar o património em herança e esta, por sua vez, contribua para a necessária construção das identidades (individuais e/ou colectiva)” (Bruno, 1993:17).

Considera-se ainda, e segundo aquilo os teóricos da Nova Museologia defendem, que os pressupostos museológicos podem e devem ser aplicados não só a locais devidamente institucionalizados como os museus, mas também noutros espaços que, de forma análoga, encerram em si importantes testemunhos naturais, culturais e histórico-sociais, etc.

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34 Capítulo I – Museus e Museologia

Qualquer uma das definições anteriormente apontadas de museologia, para prevalecer, terá que ser capaz de abarcar e sintetizar todas as outras definições, assim como toda a complexidade inerente às constantes transformações que vão ocorrendo a este nível.

Desta forma, a museologia deverá debruçar-se sobre aquelas que são há já muito consideradas como as principais funções dos museus e entidades deste tipo, nomeadamente a preservação, documentação, exposição e divulgação do património cultural legitimado como tal, que deverão ser alargados por forma a abarcar as relações que medeiam e inevitavelmente se desenvolvem entre esse vasto património e todos aqueles que, de uma maneira ou de outra se relacionam e interagem com ele, sendo a valência comunicativa uma peça fundamental em todo este processo. Está-se aqui falar das relações humanas, sociais e culturais subjacentes a todas as actividades e iniciativas, associadas aos museus e que a museologia deverá obrigatoriamente contemplar, sejam elas programadas ou não.

Considera-se neste sentido, que o objecto de estudo da museologia pode ser encarado de acordo com três dimensões essenciais: a ‘dimensão do tempo ou memória’, representada pelo ‘objecto ou bem cultural’ que interagindo com a ‘dimensão humana’ do sujeito, num determinado lugar – ‘dimensão do espaço’ – que pode ser institucionalizado ou não, possibilitam a interacção e o desenvolvimento de relações que lhe permitam a construção de uma ‘consciência histórica e social’ de si e dos outros que o rodeiam (Chagas, 1994:22-23).

Há ainda a considerar no campo museal, o importante papel que desempenha aquela a que se convencionou chamar museografia, e que diz respeito à parte da museologia reservada ao estudo das “(…) condições práticas e operacionais de ocorrência do facto museal” (Idem:24), ou seja, o estudo dos aspectos mais técnicos relacionados com a exposição, propriamente dita, dos objectos e colecções em determinado espaço museístico.

Subjacentes à museografia, podem-se considerar igualmente, a existência de três dimensões importantes: o ‘código objectual’, que como o próprio nome sugere, corresponde precisamente ao domínio dos objectos e do património seja ele material ou imaterial, que ao ser exposto tem que respeitar uma série de aspectos de carácter técnico; o designado ‘código medial’, mais relacionado com a concepção das exposições, no sentido de através delas se conseguir construir um sistema de comunicação, uma ”(…) dinâmica de interpretação, de intervenção e de apropriação entre o fruidor e os conteúdos expostos (…)” (Nolasco, 2003:10-11). E finalmente, o ‘código estrutural’ (…) que se reporta ao espaço expositivo, à determinação e estruturação dos percursos e à modelação espacial global” (Ibidem).

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A museografia dedica-se assim, a todo o processo inevitavelmente comunicacional de selecção, organização e exposição dos objectos museológicos, aos quais está subjacente uma determinada ‘mensagem cultural’ que se pretende seja uma possibilidade de compreensão e interpretação da realidade (Chagas, 1994:24-25). Neste âmbito, será interessante esclarecer aqui o conceito de objecto, mais especificamente, de objecto museológico, em causa quando se fala em museus ou espaços musealizados.

Atendendo àquilo que o próprio ICOM definiu, na sua Ética de Aquisições11, como sendo os principais requisitos para se adquirir um objecto tendo em vista o seu estudo, conservação e exposição num museu ou outra instituição do género, constata-se que este terá que ser valioso não só atendendo à sua raridade, como também ao seu meio natural e cultural de proveniência. Por outro lado, é igualmente essencial que seja reconhecido ao objecto, quer por parte da ciência quer por parte da comunidade envolvida, um importante significado cultural, de unicidade e por isso mesmo, passível de o tornar musealizável (Nolasco, 2003:11).

Segundo Peter Van Mensch, é possível identificar ‘três matrizes dimensionais’ que permitem encarar os objectos musealizáveis, como tal, tendo em conta as suas propriedades físicas, mais especificamente a sua composição material, construção técnica e morfologia (forma espacial e dimensões; estrutura de superfície, cor, padrões de cor e imagem e texto se houver); sua função e significado (o significado primário, no qual se englobam o significado funcional e o expressivo, e o significado secundário, em que se incluem o significado simbólico e o metafísico) e por último, atendendo à sua história, nomeadamente à sua origem e estado de deterioração ou à conservação e restauração a que terá sido sujeito.

Para além destas dimensões, e partindo do princípio de que os museus são espaços eminentemente sociais, aos quais estão inerentes figurações simbólicas construídas no âmbito das relações sociais, culturais e políticas que se vão forjando num determinado momento histórico, aquilo que realmente “transforma” um qualquer objecto em objecto museológico, em bem cultural, é o facto de um determinado grupo social e/ou cultural lhe atribuir, e isto inevitavelmente de forma selectiva e arbitrária, um certo valor e significado.

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Ainda a este respeito existem outras propostas de entendimento do objecto museológico, nomeadamente, tendo em conta quatro perspectivas diferentes: o ‘objecto fetiche’, o ‘objecto metonímico’, o ‘objecto metafórico’ e por fim o ‘objecto no contexto’ (Moutinho, 1994:7).

O objecto museológico pode ser considerado ‘objecto fetiche’, no sentido em que “(…) a

fetichização ou reificação consiste em deslocar atributos do nível das relações entre os homens e

apresentá-los como se eles derivassem dos objectos, autonomamente” (Moutinho, 1994:7). Isto tem precisamente à ver com aquilo que se referia há pouco, relativamente à atribuição e reconhecimento de sentido e valor por parte de um grupo ou sociedade a um determinado objecto ou até mesmo a um conjunto de objectos que acabam por incorporar e personificar de situações e vivências relativas àqueles que os manipulavam ou animavam em determinada conjuntura.

O ‘objecto metonímico’, como o próprio nome indica, advém do facto de frequentemente se tentar representar partindo de alguns objectos toda uma cultura ou grupo sócio-cultural. Este processo acaba por ser sempre selectivo e por isso mesmo redutor, na medida em que ao se salientar e ‘dramatizar’ determinada faceta ou característica, tendo em conta um certo ponto de vista acaba-se sempre, e de forma inevitável, por ocultar outras.

Ainda muito neste seguimento, o autor fala no ‘objecto metafórico’, referindo que o “(…) uso metafórico [acontece numa] (…) relação substitutiva de sentido, [em que] a exposição [acaba por apresentar] objectos que (…) ilustram [situações e] problemas formulados independentemente deles” (Idem:8).

Por fim, o facto de se considerar que o objecto museológico “(…) descontextualizado é objecto desfigurado, tem colocado, legitimamente, a questão do contexto e a necessidade de introduzi-lo na exposição” (Idem) da forma mais fiel e complexa possível, no sentido de conseguir-se abarcar uma série de perspectivas e possibilidades de interpretação da realidade a representar, e não apenas por referência a uma verdade única e absoluta.

No entanto, qualquer uma destas perspectivas só por si pode induzir a algumas insuficiências, das quais é preciso ter consciência no sentido de serem ultrapassadas e de se encarar o objecto museológico como um objecto, antes de mais, herdado com histórias e trajectórias que não são passíveis de serem isoladas.

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Assim, a musealização de um objecto “(…) introduz referências de outros espaços, tempos e significados numa contemporaneidade que é a do museu, da exposição e de seu usuário.... [A constatação da existência desta] complexa rede (…) [deverá] prevenir o museólogo contra as ilusões e burlas da contextualização e cenarização que ele pode indulgentemente construir” (Moutinho, 1994:9).

Relativamente à problematização do objecto museológico, muitos são os autores que terão, neste sentido, tecido algumas considerações que vale a pena destacar aqui.

Peter Van Mensch considera então que um objecto museológico apresenta uma série de características que lhe conferem a sua musealidade “(…) variando de acordo com os desenvolvimentos específicos das várias especializações (história, antropologia, arqueologia, etc.)” (Nascimento, 1998:36-37) nas quais se encontra enquadrado, e que desta forma, pode ser diferenciadamente rentabilizado para contribuir no processo mais lato de desenvolvimento de uma dada comunidade.

Por outro lado, a perspectiva de Tomislav Sola, um igualmente conhecido e activo professor croata que terá participado em inúmeros eventos relacionados com a museologia a nível nacional e internacional, alerta para o facto de que “(…) a tradicional peça de museu, simbolizada por um facto tridimensional, é apenas um dado de um conjunto de informação museológica, de uma mensagem e, que não temos museus em função dos objectos que eles contém, mas em virtude dos conceitos ou ideias que esses objectos ajudam a transmitir” (Idem: 37).

Há ainda as perspectivas em que se considera que aquilo que resulta da “(…) relação profunda entre homem, sujeito que conhece, e o objecto, parte de uma realidade da qual o homem também participa e sobre a qual tem poder de agir (…)”(Idem), não é um objecto, mas sim um facto museológico.

Existem outras abordagens em que se destaca o papel essencial e central do objecto em todo o processo museológico, entendido este do ponto de vista da sua material ou imaterialidade, cultural ou naturalidade, uma vez que é ele a porção da realidade à qual está associada uma determinada informação, que suscita a quem o percepciona a integração e intercomunicação entre o passado e o presente. (Bellaigne, cit. in Nascimento, 1998:37). Isto, na medida em que são as condições do presente que conferem um sentido e um significado ao passado, ”(…) significado esse que pode ser construído e negociado por diversos actores sociais, cujas relações de poder nem sempre são simétricas, e cujos interesses não são rígidos ou fixos” (Anico, 2005:76).

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