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O valente que correu de Iá Iá

Patrocínio, aí ele foi pra ispera disse que num tinha medo de onça, aí o povo: “- Moço, mais tem a onça cabocla!” “- Qual! Qual’é disgraça de onça cabocla eu tano co’ meu facão, minha ispingarda eu num tenho medo de disgraça ninhuma!” Chegô lá subiu na ispera a onça chegô, qu’ele viu ela desceu e saiu correno ela pegô ele teve co’ele na mão, deu uns tapa, aí ele largô o chapéu, capanga de munição, ispingarda e correu. Condo chegô na casa disse: “- Disgraça d’uma onça pintada correu comigo, só se vesse o tamanho!” “- E era onça mesmo?” “- Era moço, eu vi ela!” E a ispingarda as coisa num vai panhá, chapéu?” “- Vô nada, num vô de jeito ninhum! Então vão lá mais eu!” Aí foi chegô lá pegô o home oiô: “- Mais isso é que é rapaiz, quem correu com ‘cê foi um gambá, a o rastrim dele aí atrás d’ocê!

Contada por Valdemar Ferreira dos Santos. Terra Indígena Xakriabá, junho 2017

O conversadô

A onça caboca ela vingô com muita pessoa. Condo disobedicia. Um hôme morava ali bem aqui perto pra lá daquela escola, tinha um gado aqui, aí e’a cumeçô pegá. Ele disse: “- Ah, eu vô matá essa onça!” O povo: “- Moço cuidado, pode sê a onça cabocla!” Ele disse: “- Ah é disgraça de onça cabocla! Eu pegá ela eu impurro a bala nela!” Aí ela foi lá no curral del’ dent’ do curral na casa sangrô o garrote, bebeu o sangue e largô lá. Aí agora veio no oto dia ela tava distampano a casa, aí no oto dia ele ficô com medo. O povo disse: “- Moço, é onça caboca!” Agora p’cê livrá dela tem que i lá no Brejo d’onde tá Estevo Gome, fala pra ele. Aí ele foi chegô lá falô, o Estevo Gome falava: “- Não nego, tem nada não, é puque ‘cê disobedeceu ela. Mas de hoje em diante ela num vai pegá gado seu mais não. Ele conversô co’ela ela deixô. Ele falava co’ela. O Estevo Gomes? Conversava co’ela, se tivesse vechada com o cara ele tinha que i d’onte tava ele aí ele ia falava co’ ela pra ela dexá. Cumé que ele fazia pra conversá com ela? Ele conversava co’ ela no mato, ia lá no mato cantava pr’ela falava co’ ela: “- Num mexe co’ele não, tá com medo.” Aí ela deixava.

Contada por Valdemar Ferreira dos Santos. Terra Indígena Xakriabá, junho 2017

O fazendero Chico dos Santos

Aí um home aqui nas Traíra fazendero era Chico dos Santos. Aí ele criava o gado aqui, ela tava pegano os bizerro, ele disse que ia matá e reuniu um bucado de home, um mucado de cachorro e veio. Chegô aqui perto n’um lugá que chama Tiririca, os cachorro garrô acuano, correro pra lá. Chegô lá tinha um tôco os cachorro em roda, péga num péga, e era um tôco. Aí condo ele saiu do lugá, saiu com frio e febre num melhorô mais nunca até morrê.

Contada por Valdemar Ferreira dos Santos. Terra Indígena Xakriabá, junho 2017

A terra protegida

Tinha um home que quiria dividi essas terra aqui, se dividisse cada um pegava o certificado de escritura e fazia empréstimo. Ponhava a terra involuta ia dá renda. Aí foi atrás do ingenheiro, mode vim dividi, tinha um home nas Traíra que chamava João Torres era muitcho amigo d’ele. Ele drumiu lá condo evinha da viage, disse: “- É a terra agora vai sê dividida, puque eu fui lá num tal ingenheiro Patrocínio da Mota, ele só foi panhá u’a corrente pá gente midi as terra. Nesses dia ele chega.” Aí drumiu lá no otro dia ele arriô um cavalo, chegô aqui no Riacho do Brejo era diserto num tinha casa. Foi passano viu um tatu na bera da istrada, o tatu correu chegô na boca do buraco ficô parado. Ele desceu do cavalo foi pra pegá ele fundô, aí ele começô a sinti frio e febre, num foi home mais nunca. Condo chegô na casa num miorô vai e morreu. E o Patrucínio da Mota foi panhá corrente pra vim dividi a terra, foi num tratô, tratô tombô ferro entrô assim, matô. Então era só temá ia levando gente. Temá pra dividi a terra? Sim, a terra aqui é só mexê co’ela...

O tiro que saiu pela culatra

O Juca Santo’ chegô aqui o Dijarma era os mais rico. Comprô essa terra quais tudo cercô tudo. O Juca Santo’ ficô pobre, troxe a pulíça ‘qui pra fazê ataque multaro ele, ficô pobre. Ficô o Djiarma vendeu até o avião e Juca Santo’ morreu de acidente. Aí Sapé passô pra Caribé o Caribé de lá que mandava até aqui aí ele morreu de acidente tamém. Então era só temá e saí morto. Gunga nós corrêmo co’ ele, sumiu e num vortô mais! E dos que temô aí até o mesmo índio que aliado com fazendero tudo levaro ferro. O Agenô era índio foi levá os cara na casa do finado Roso matá ele, chegô lá tomô um tiro do mermo cumpanhero. Ele entrô na casa do finado Rosa e disse: “- Aqui é a Pulícia Federal!” Ês pensô que era gente que ia saino, sentô fogo na cara dele. Ele foi fazê o mal o otro, no jornal saiu assim “O tiro do aliado com o possero saiu pela culatra.” Qué dizê que foi atirá pra lá e saiu pra cá, ele morreu. O trêm era complicado, era não inda é. Essa demanda ‘qui ela demora mais nós ganha, só num ganha se nós perdê a tradição.

Contada por Valdemar Ferreira dos Santos. Terra Indígena Xakriabá, junho 2017

O bandêro e o toro

Aqui na Imbaúba tinha um sinhô, hoje ele já tá de idade já e lá no Sapé tinha um outro. Aí ês evinha de encontro um com otro, só eles dois só. Lugá distante e nessa estrada fazia uma curva. De longe dava pra vê os cumpanhero que evinha lá de longe. Aí evinha um poco atento, incontrô, né?, de longa distância ês viu o outro. Aí ês pensô entre eles lá, sozim: “- É, ele num me viu, eu vô aprontá uma com ele.” E o outro de lá assim: “É, eu já sei que ele, nessa região ele é desse jeitcho e ele já anda atento, mas hoje eu quero, eu vô mostrá pra ele. Ele pensa que vai me inganá.”Aí veio quando incobriu na curva, aí o outro daqui da Imbaúba iscutô, tava turrano que nem um tôro. Aí evém só rompeno, rompeno, falô assim: “- É, eu vô mostrá pra ele, eu acho qu’ele num me viu não. Aí foi lá e pensô que não e ficô na bêra da estrada assim, aí começo turrano tamém, ficô turrano lá, só que ele ficô parado e o outro evém, turra de lá, otro turra de cá. Foi e o

outro evém, quando avistô assim o outro tava lá em forma de um bandêro, Tamanduá!, né?, incostava na areia no chão assim e dava uma turrada de chegá istremecê. E o otro lá em forma dum tôro. Foi o otro deu uma vorta assim, só enquanto ele rodô em volta duma mata assim, uma moitinha mais baxa assim que dava pra incobri ele, ele foi lá e transformô em uma onça e veio. Aí condo veio o otro que tava em forma dum tamanduá bandêra já embalô na carrera, falô: “- Não, agora num dá pra mim não.” Aí correu, correu, quando el’ diz que já tava cansado o otro queria pegá ele mesmo. Correu entrô dent’ do mato e o otro correu atraiz, e o otro que era daqui da Imbaúba correu mais poco que já tava mais de idade. Quando el’ viu que já tava pega num pega. El’ pulô do lado assim e transformô, né?, numa mesma pessoa, foi el’ tava com um canivete do lado assim, já andava com canivetim, aí tirô o canivetim: “- Vem onça, vem onça, agora eu quero te insiná. Eu virei um tamanduá, ocê qué me cumê? Então agora cê vem!” Aí o otro pulô lá longe: “- Cê é doido, faiz isso não moço, é ieu!” (risos) Foi bem assim. O otro falô assim: “- Pois é, num falei que cê incravava um dia?” Falô bem assim. Aí foi lá e guardô o canivetim e deu a mão de amigo. É vivo até hoje. É, e foi desse geitcho.

Contada por José de Araújo Souza, Deda. Terra Indígena Xakriabá, junho 2017

A festa no céu

Tem a história do cuei. O cuiei foi... tinha a festa no céu. Aí o cuei convidô a rapasiada pra i. O sapo falô: “-Eu tamém vô!” Aí ês ficaro tudo em dúvida: “- Mas como é que amigo sapo vai, pois se ele num tem asa? Tem jeito dele ir não, saí no chão!” . A hora que ês tava arrumano el’ entrô dento da viola do urubu. Urubu era tocadô de viola, aí urubu avoô e levô ele. Quando ês tão lá na festa condo tudo oiô, ês ficaro tudo besta: “- Mais como é que amigo sapo vem?” Tava lá no meio. Aí a maritaca que é um pásso pequeno, cê já ouviu falar, né?, era cunzinhera lá. Foi dá o café o sapo e disse: “- Amigo sapo cê tá ‘qui? -Tô! - Como é que cê veio?” Ele disse: “- Quieta moça! Num descobre pra ninguém! Eu vim dento da viola do urubu.” Aí no otro dia passô a festa o urubu jogô a viola debaxo do braço e avoô, ele sumiu. Nisso o amigo sapo já foi, tornô agasaiá e évem. Condo chegô numa hora o urubu disse: “- Diacho essa viola tá pesano!” Diz qu’ele comeu muito lá. Cê vai vê o fim da história. Diz qu’ele comeu bastante, aí tava