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MANUEL CORREIA DE ANDRADE E A GEOGRAFIA PERNAMBUCANA – A TERRA E O HOMEM NO NORDESTE

CAPÍTULO 4 A GEOGRAFIA EM PERNAMBUCO

4.1 MANUEL CORREIA DE ANDRADE E A GEOGRAFIA PERNAMBUCANA – A TERRA E O HOMEM NO NORDESTE

Nesse Capítulo sobre a evolução do pensamento geográfico em Pernambuco, pretende-se, nesse momento, contextualizar um pouco sobre a participação e a contribuição de Manuel Correia de Andrade para a Geografia Pernambucana.

Como situar Manuel Correia de Andrade nesse contexto da história da Geografia Pernambucana?

Alves Felipe (2008) se reportando à Escola Pernambucana, salientou que grande parte dos profissionais que a formaram, entre eles, Manuel Correia de Andrade teve a sua formação profissional oriunda da Faculdade de Direito. Disse ele a esse respeito:

O professor Manuel Correia de Andrade é originário dos quadros de cientistas sociais formados nas cinco primeiras décadas do século passado na Faculdade de Direito do Recife, que dava aos seus futuros advogados uma sólida formação humanística com base na Filosofia, na História, na Sociologia, na Antropologia e na Geografia (ALVES FELIPE, 2008, p. 66 apud CAVALVANTI et al., 2008, p. 66).

Em um outro momento, Alves Felipe (2008) ainda se reportando a essa Escola e à formação humanística dos profissionais da Geografia associando ao Direito, mencionou que:

Essa leitura humanística feita na Faculdade de Direito vai determinar uma das mais importantes “Escolas Geográficas” do Brasil, que é a Escola Pernambucana, formada por Gilberto Osório de Andrade, Hilton Sette, Mário Lacerda de Melo e Manuel Correia de Andrade. As pesquisas de campo, os trabalhos em equipe, a formação de grupos de pesquisadores sobre a Geografia Nordestina e Pernambucana, em particular, ganham destaque a nível nacional e essa escola se consolida a partir dos anos 50 (ALVES FELIPE, 2008, p. 66 apud CAVALCANTI et al., 2008, p. 66).

São daquela época, anos 50, as pesquisas desenvolvidas junto ao Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais sobre Os Rios do Açúcar do Nordeste Oriental, momento em que foram estudados pelos professores Manuel Correia e Gilberto Osório de Andrade, o rio Ceará-Mirim, o Mamanguape, o Paraíba do Norte

e os rios Coruripe, Jiquiá e São Miguel, publicados em quatro volumes por aquela instituição de pesquisas. Outro trabalho desenvolvido no início dos anos 60 envolvendo geógrafos pernambucanos e o Instituto Joaquim Nabuco foi Os Rios da Carnaúba: o rio Mossoró Apodi desenvolvido por Gilberto Osório e Rachel Caldas Lins.

Em 1945, através de escritos para jornais e revistas universitárias, Manuel Correia de Andrade iniciou a sua contribuição à Geografia. A partir daí foram acrescentadas outras mais contribuições que vieram a se somar aos inúmeros textos por ele produzidos e que vieram a compor o seu acervo de publicações composto por temas da Geografia, vultos da história, fatos e movimentos históricos nacionais e regionais e, outros mais que, hoje se encontra no IEB, da USP.

Andrade conseguiu associar a sua vida de escritor, à carreira acadêmica e a de geógrafo. Esteve sempre presente em todos os debates para os quais era convidado a participar trabalhando as diferentes temáticas, que também estavam presentes em seus livros e que tinham como universo de preocupação, Pernambuco, o Nordeste, o Brasil, a América Latina e a África. Somaram-se a elas, questões relativas à história do pensamento geográfico brasileiro, à globalização, à geopolítica do Brasil e do mundo, à Geografia Econômica, ao meio ambiente e tantas outras, que foram trabalhadas sempre respeitando o processo histórico que as caracterizava e a sua atualidade.

Sua obra é reconhecida como das mais importantes contribuições para o estudo das questões epistemológicas da Geografia, das questões regionais, econômico-sociais, geopolíticas e ambientais derivadas da forma como ocorreu o processo de conquista, ocupação e uso do solo do espaço brasileiro e nordestino, da grande concentração fundiária e da concentração de renda existentes no país e, consequentemente, na região Nordeste.

Souza em um Encontro Científico realizado na cidade de Natal, em 1995, sobre o tema, Manuel Correia de Andrade: o geógrafo e o cidadão deixou registrada em sua fala, a importância da obra desse autor, ressaltando que “[...] a obra de Manuel Correia não tem implicações apenas no desenvolvimento da Geografia. Sociólogos, economistas, antropólogos e tantos outros cientistas humanos têm sido também por ela influenciados” (SOUZA, 1995, p. 28 apud ALVES FELIPE et al., 1995, p. 28).

[...]. Mas, sem dúvida alguma, na Geografia, sua obra é marcante, seja como referência e rigor metodológico, seja como referência obrigatória sobre temas teóricos, seja como crítica a história da Geografia brasileira, seja como obra essencial para conhecimento do Nordeste brasileiro (SOUZA, 1995, p. 28 apud ALVES FELIPE et al., 1995, p. 28).

Outro autor que chamou atenção para o significado que tinha a obra de Andrade foi Barros (1995). Na sua opinião,

[...] a obra do professor Manuel Correia de Andrade faz brotar em nossas almas a “clareza e o sentimento de responsabilidade” em duplo aspecto. O primeiro enquanto estudantes de ciências porque nelas aprendemos que, como crer Max Weber, ser tanto mais fácil realizar a obra de transferir o saber quanto mais ele, o professor, evite escrupulosamente, impor ou sugerir, à audiência, uma convicção. E o segundo porque suas obras nos levam enquanto cidadãos, possuidores do conhecimento, a consciência da obrigação em nos envolvermos com as mudanças racionalmente definidoras de nossa inserção na modernidade social (BARROS, 1995, p.115 apud ALVES FELIPE et al., 1995, p. 115).

Observou-se e ainda será observado, nos próximos Capítulos da Tese, referências a algumas das obras escritas pelo pesquisador Manuel Correia de Andrade. Menção a essas obras aqui representadas pelos livros e opúsculos está sendo feita no final dessa Tese, no Apêndice 2.

Gallero (2010) se reportando à Geografia e ao método desenvolvido por Andrade em seus trabalhos afirmava que ele:

Desarrolló siempre una geografía crítica, materialista dialéctica, latinoamericanista, profunda, prolífica en producción bibliográfica orientadora y no ajena a una militância social acorde con su pensamiento científico. Entendemos que ha sido um ejemplo – para toda America Latina, por el valor intelectual pero también por haber estado siempre acompañado de la coherencia permanente em la acción (GALLERO, 2010, p. 105).

Dentre as várias obras que escreveu, destacou-se para que se fizesse uma breve análise de seu conteúdo e de sua repercussão frente a outros estudiosos, o livro A Terra e o Homem no Nordeste (1963) que foi um marco na vida do autor e para a Geografia Agrária brasileira. (Figura 11).

Figura 11 - Lançamento do livro A Terra e o Homem no Nordeste (1963).

Fonte: Acervo pessoal de Thais Correia.

Esse livro trouxe à tona nas suas páginas, um método crítico de análise, pouco trabalhado e aceito nos idos da década de 1960, principalmente pela maioria dos geógrafos, algumas categorias de análise, a exemplo de: modos de produção; estrutura fundiária e agrária dominantes na região Nordeste do Brasil; questões das relações de produção e de trabalho existentes; das classes sociais; o movimento das Ligas Camponesas; tudo isso ocorrendo em um momento de efervescência política no país onde a classe dominante não queria reformas políticas de base. Essa classe bastante conservadora se mostrava contrária a qualquer alteração nas estruturas vigentes que já as vinha beneficiando fazia séculos enquanto que outro grupo, as forças progressistas lutavam pelas reformas.

A Terra e o Homem no Nordeste fugia, assim, àquela feição que era dada nos livros que tratavam de Geografia Agrária onde era dada ênfase a questões relativas: à localização; aos aspectos naturais; à produção pela produção em si; aos processos produtivos. Não continham discussões acerca da grande concentração fundiária existente nem tão pouco das relações de trabalho tipo pré-capitalistas, inclusive com a presença do cambão e da parceria.

Para reforçar o que foi dito, utilizou-se a colocação feita por Lins (1995) ao falar a respeito de como era trabalhado o agrário, na Geografia.

Em relação ao campo, ao agrário, a preocupação é bastante antiga na Geografia. A abordagem consistia basicamente em grandes descrições relativas à localização, sem se tocar em questões, por exemplo, sociais, econômicas e políticas. A outra base de estudos da Geografia Agrária era a descrição das relações técnicas de produção, de maneira minuciosa, como, por exemplo, se os sistemas agrícolas eram extensivos ou intensivos, com rotação de terras, culturas ou não etc (LINS, 1995, p. 36).

Lins (1995) acrescentou, ainda, sobre o diferencial que caracterizou o livro escrito por Manuel Correia de Andrade em 1963:

“A terra e o homem no Nordeste” (prefaciado por um Historiador de origem marxista, muito denso e de muita contribuição – Caio Prado Júnior) foi a primeira obra a trabalhar com categorias de análise como “trabalho” e “propriedade”, a nível de Nordeste brasileiro, no início da década de 1960. Do meu ponto de vista, teve o mérito também de não levar em conta a tradicional separação entre a ciência e a política, tão divulgada à época pelos Professores de Geografia (LINS, 1995, p. 36-37).

A escolha por esse tipo de abordagem fez com que esse livro não fosse bem aceito por parte de alguns geógrafos pernambucanos conservadores, afirmando que o autor não havia feito Geografia ao escrevê-lo. Na História, na Sociologia, na Economia, o livro foi bem aceito.

Como bem comentava Andrade (2002c), em conversas e, na entrevista concedida a Araújo (2002),

O livro criou uma reação muito grande. A maioria dos geógrafos era muito conservadora e achou que o livro não era científico. Era um livro de propaganda política. Lembro-me bem de que muitos poucos me apoiaram. Um deles foi Araújo Filho, que era um cara conservador, professor da USP, e que defendeu muito esse livro [...] (ANDRADE, 2002c apud ARAÚJO, 2002, p. 99-100).

Caio Prado Júnior no Prefácio da primeira edição de A Terra e o Homem no Nordeste ao se referir ao seu autor e, ao livro, afirmou que a região contava com inúmeros trabalhos sobre ela e que esse livro de Manuel Correia de Andrade poderia

dar a ideia que seria mais um a ser somado à bibliografia sobre a região já existente. Contudo, dizia ele que não era dessa forma,

[...] porque se encontra no livro algo de verdadeiramente inédito. É que na extensa bibliografia relativa ao Nordeste, há uma questão que, por estranho que pareça, sempre se relegou a um quase esquecimento, apesar de constituir, sem dúvida alguma, a mais importante, e mais que qualquer outra merecedora de atenção. Refiro-me às relações de produção e trabalho (PRADO JÚNIOR, 1964, p. IX).

Continuando a sua colocação sobre o diferencial encontrado em A Terra e o Homem no Nordeste, Prado Júnior (1964) enfatizava:

Será difícil objetar que se trata aí de matéria essencial, uma vez que envolve o que de mais importante, ou pelo menos de fundamental, se apresenta na vida de qualquer comunidade, a saber, como se relacionam os homens entre si em suas atividades produtivas, e como se comportam, uns relativamente aos outros e ao conjunto da coletividade, no exercício de suas funções econômicas. Análise como essa, é claro, abre desde logo perspectivas (e sòmente ela pode fazê-lo) sobre a estrutura social e as condições de vida da população e de suas diferentes classes (PRADO JÚNIOR, 1964, p. IX).

Ainda, Prado Júnior (1964) ao se dirigir ao autor do livro ora em análise, declarava que:

Trata-se de um especialista que já conta com grande número de contribuições para a análise da economia agrária do Nordeste brasileiro que êle vem observando e estudando como geógrafo de profissão que é, em paciente e exaustivo trabalho de campo, que se complementa de larga informação de conhecimentos geográficos, econômicos e sociológicos gerais.[...] E agora, podemos dizer que pela primeira vez, nos é apresentada a análise de conjunto da economia agrária nordestina, numa síntese de alto valor científico (PRADO JÚNIOR, 1964, p. X).

Quando em 2002, Araújo na entrevista perguntou a Andrade se ele “tinha consciência, quando estava escrevendo, de que estava fazendo algo novo, algo que seria um marco na ciência?” Ele respondeu enfatizando que:

Essas coisas evoluem. Eu sabia que estava fazendo uma coisa que contrariava a ordem estabelecida, em primeiro lugar. Em segundo lugar, eu sabia que aquele livro ia contar as coisas que não eram

contadas. Uma das coisas que eu denunciei, nele, foi o processo da prisão por dívidas. O senhor de engenho ou fazendeiro emprestava dinheiro ao trabalhador e, depois, o trabalhador não podia pagar, não podia sair do engenho. Era uma espécie de escravidão. Ninguém falava nisso (ANDRADE, 2002c apud ARAÚJO, 2002, p. 101).

Dizia ainda “Eu fiz denúncias. Eu achava que devia haver modificações muito grandes em dois aspectos: primeiro, na análise da realidade; segundo, na forma como os geógrafos deveriam encarar essa realidade” (ANDRADE, 2002c, p. 101).

Araújo, T. B. (2008) ao se referir ao livro A Terra e o Homem no Nordeste destacou que a análise feita por Andrade,

[...] das relações sociais de produção dominantes no Nordeste rural é o ponto alto do exame que fez da realidade dessa região. A denúncia do papel do latifúndio e das conseqüências nefastas do minifúndio para a construção de uma região economicamente mais dinâmica e socialmente mais justa o aproxima de Celso Furtado. Ambos não aceitavam que um povo tão trabalhador e criativo amargasse as consequências de modelos de organização sócio-econômica geradores de fortes injustiças sociais e de níveis de vida tão indignos (ARAÚJO, T. B., 2008, p. 158).

Mais adiante, em seu texto Um Intérprete do Nordeste dizia ainda que Andrade:

Ao invés de culpar a natureza, colocando na irregularidade das chuvas a explicação para o drama social da seca que atingia milhares de sertanejos, como o faziam os poderosos oligarcas e seus ventríloquos, Furtado e Manuel Correia defendiam que o problema estava na forma como se procedera o povoamento e nas bases organizacionais que estruturavam as relações entre proprietários e parceiros no Sertão nordestino. Deixavam claro que não bastava armazenar água, era preciso transformar as estruturas produtivas, mexer na estrutura agrária, apoiar os produtores sem terra – que eram e continuam sendo a maioria dos sertanejos (ARAUJO, T. B., 2008, p. 158).

Carvalho (2014) reforçou o que foi dito por Araujo, T. B. a respeito de Celso Furtado no seu livro Formação Econômica do Brasil, de 1959. Furtado,

[...] desloca o enfoque tradicional da leitura do subdesenvolvimento nordestino colocando, em lugar do discurso da seca no semiárido como causa do atraso, uma nova visão baseada na estrutura

fundiária, na organização econômica e na formação histórica-política da região (CARVALHO, 2014, p. 8).

A pesquisadora acrescentou ainda, a respeito de Andrade e Furtado,

Ousaram dizer que o problema não era o ano de seca: era o ano bom. Nele, milhares de produtores produziam mas não acumulavam. Zerados no final de cada ciclo produtivo, não tinham lastro para viver no ano em que as chuvas caiam de forma irregular, inviabilizando o plantio. Propunham mudar a forma de fazer política pública no Nordeste (ARAÚJO, T. B., 2008, p. 158).

Ao ser solicitado por Araujo (2002) para que “explorasse” mais a gênese do livro e, também a estruturação, o autor disse que:

[...] A Terra e o Homem no Nordeste não é um livro acadêmico. O livro foi feito para esclarecer os políticos e os estudiosos como se poderia fazer uma reforma agrária. É um livro mais de militante, com a base de um professor universitário, que vinha estudando a questão agrária, tema que foi a preocupação central na minha vida de professor(ANDRADE, 2002c apud ARAUJO, 2002, p. 108).

Andrade estava sempre a mencionar e a registrar em suas entrevistas que escrever A Terra e o Homem no Nordeste foi um convite que recebeu do professor Caio Prado Júnior que por sua vez, teve ideia, na época, de contatar com outros pesquisadores para fazerem estudos semelhantes a respeito das outras regiões brasileiras. Contudo, apenas A Terra e o Homem no Nordeste é que foi publicado, inclusive por sua editora, a Brasiliense.

Dizia que ao ser convidado, Caio Prado recomendou que:

[...] enquanto eu estivesse escrevendo o livro, não lesse os grandes teóricos marxistas, porque, dizia ele, “– Se você ler os livros de Kautsky – que eu já tinha lido uma vez -, vai querer encontrar no Nordeste o que Kautsky encontrou na Alemanha Ocidental. E marxismo não é isso. Marxismo tem que partir da práxis” [...] Eu escrevi o livro baseado nisso, levando em conta o seguinte: o que é que, no Nordeste, é consequência da ação do homem, e o que é consequência da ação da natureza. Naquele momento histórico, que capacidade tinha o homem, em tecnologia e em capital, para transformar a natureza? E a que interesses as políticas agrárias serviam? (ANDRADE, 2002c apud ARAUJO, 2002, p. 108-109).

Na opinião de Lins (1995), se reportando A Terra e o Homem no Nordeste, afirmava:

[...] o discurso do Prof. Manuel Correia de Andrade não teve relação direta com o contexto epistemológico/institucional da Geografia a esta época, mas teve bastante relação com o contexto social, altamente excludente, concentrador da renda, da propriedade e do poder. Foi coerente com seu povo e com seu tempo (LINS, 1995, p. 39).

Ao contrário do que foi mencionado a respeito da não aceitação e crítica feita por alguns geógrafos pernambucanos ao livro de 1963, Maia (2009) ressaltou o significado que teve essa obra que a chamou de um clássico para a Geografia e, para a Geografia Agrária Brasileira. E, com relação ao seu autor disse que Manuel Correia de Andrade:

[...] integra um grupo clássico de geógrafos que inicialmente construíram a Geografia Brasileira, entre eles: Orlando Valverde, Pasquale Petrone, Manoel Seabra e Maria do Carmo Galvão. Estes autores são os responsáveis pelo início da construção do pensamento agrário brasileiro (MAIA, 2009, s/p.).

Ela salientou, também, a importância que teve esses geógrafos não só na construção da Geografia Agrária Brasileira, mas também na formação de novos geógrafos que trabalham essa Geografia através de suas obras.

A recuperação das suas contribuições permitiu que uma outra geração de estudiosos – Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Sílvio Carlos Bray, Bernardo Mançano, Emília de Rodat Moreira, Lenyra Rique da Silva, Antônio Tomaz Júnior, Paulo Alentejano, Guiomar Germani, Maria de Fátima Rodrigues, Manoel Calaça, entre outros – da questão agrária avançassem nas suas análises (MAIA, 2009, s/p.).

Para Souza (1995) falando sobre o livro A Terra e o Homem no Nordeste disse que ele se constitui:

em uma obra cuja importância, densidade eu a comparo a outros grandes mestres conhecedores do nosso país, através de outros olhares, mas com a mesma agudeza: Euclides da Cunha e Guimarães Rosa, independentemente de suas visões políticas e suas visões de mundo. Eis por que: leiam A Terra e o Homem do Nordeste. Tentem descobrir uma informação que não tenha o mais absoluto rigor da observação científica: complexa e ao mesmo tempo singela, linear e ao mesmo tempo eivada de informações sobre a gente nordestina e seu rude viver. Um texto cristalino que revela

todos os meandros e complexidades da vida nestes sertões. Para fazer o mesmo, Euclides e Guimarães romancearam, criaram personagens. Os de Manuel Correia são vivos e reais, com suas vidas e suas lidas (SOUZA, 1995, p. 28-29).

Andrade (2011) ao falar sobre a sua obra, na Introdução da Primeira edição (1963) afirmou ser este um ensaio “[...] resultado de vários anos de estudos, pesquisas e meditações. Em verdade, faz mais de quarenta anos, desde os bancos acadêmicos, que nos preocupamos com os problemas brasileiros em geral e com os nordestinos em particular [...]” (ANDRADE, 2011, p. 31).

Iumatti (2008), em Saberes Populares do Nordeste fez referência a um dos pontos que mereceu ser ressaltado, ao se ler A Terra e o Homem no Nordeste:

São muitas as instâncias em que se percebe a profunda imersão de Manuel Correia de Andrade no universo de saberes e vivências populares em sua diversidade, o que, em si, apresentou-se lhe como grande desafio metodológico (IUMATTI, 2008, p. 141).

Essa imersão segundo Iumatti (2008) é percebida quando Andrade desenvolveu sua pesquisa abrindo espaço, também, à análise em cada uma das sub-regiões do Nordeste, à vida do nordestino, aos seus hábitos, costumes, crenças, enfim, à sua cultura. Iumatti mencionou diferentes passagens do livro, como por exemplo, quando Andrade trabalhou o Litoral, ressaltando a figura do praieiro, o seu estilo de vida, os seus hábitos; no Sertão, o traquejo do sertanejo relacionado à previsão de chuvas.

O ingresso no ensino superior e a oportunidade que teve de realizar estudos e pesquisas em instituições como o IJNPS, no Serviço Social Rural (SSR), no Banco do Nordeste do Brasil (BNB), na SUDENE e participar das assembleias da AGB fez com que ele tivesse tido condições de conhecer o país e realizar trabalhos de campo e a oportunidade,

[...] de conhecer de perto, de sentir os vários problemas que afligem o povo brasileiro e que entravam seriamente o desenvolvimento nacional; problemas que são ora de ordem geográfica - condições climáticas e edáficas, sobretudo -, ora de ordem histórica - respeito a