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OPÇÃO METODOLÓGICA DA PESQUISA E PERCURSO INVESTIGATIVO

3.4 Geração dos dados empíricos

3.4.1 Mapeamento dos encontros

Na forma como os encontros formativos foram estruturados, o pesquisador teve um papel bastante ativo nas intervenções junto aos licenciandos na intenção de que eles adentrassem em conteúdos/temas relevantes à pesquisa. Igualmente, toda organização dos encontros (Quadro 18) foi concebida segundo a dinâmica dos três momentos pedagógicos propostos por Delizoicov (1983): (I) problematização inicial no primeiro encontro – houve

preocupação em introduzir os licenciandos à temática de pesquisa, pondo em evidência a necessidade de buscar novos conhecimentos; (II) organização de conhecimentos do segundo até o antepenúltimo encontro – foram promovidas diversas intervenções voltadas à (re)construção de conhecimentos sobre fontes de energia, matriz energética e educação CTS; (III) aplicação de conhecimentos nos últimos dois encontros – oportunizou-se a sistematização de conhecimentos em um debate simulado relativo a uma problemática no campo da geração de energia.

Quadro 18 – Mapeamento dos encontros formativos

Encontro Data Duração em

horas-aula (1 h/a = 50 min)

Intervenções Conteúdos/temas abordados

1° 26/mar/2015 3 Abertura - Cronograma dos encontros

Aplicação de questionário

- Dados gerais dos participantes - Fatores responsáveis pela crise energética no Brasil e no mundo - Presença das fontes de energia em diferentes matrizes

- Impactos ambientais de processos de produção e consumo energético - Tomadas de decisão em assuntos relacionados à matriz energética Exibição de

documentário “A história das coisas”

- Repercussões e limites do atual modelo de produção e consumo Discussão em grupo

sobre documentário “A história das coisas”

- Repercussões e limites do atual modelo de produção e consumo

2° 09/abr/2015 4 Realização de

palestra de introdução à educação CTS

- Movimento CTS

- Pressupostos teóricos de educação CTS

Realização de seminário I

- Energia e sociedade Discussão em grupo - Educação CTS

- Energia e sociedade

3° 16/abr/2015 3 Realização de

seminário II - Freire e CTS Discussão em grupo - Freire e CTS Realização de

4° 23/abr/2015 4 Realização de

seminário IV - Diretrizes governamentais para a pesquisa e desenvolvimento tecnológico no setor energético Discussão em grupo - Matriz energética brasileira Realização de

seminário V - Energia e sustentabilidade – Parte I Realização de

seminário VI - Energia e sustentabilidade – Parte II Discussão em grupo - Energia e sustentabilidade – Partes I e

II

5° 30/abr/2015 4 Realização de uma

aula sobre a geração hidrelétrica nacional

- Matriz de oferta de energia elétrica no mundo x Brasil

- Histórico de hidrelétricas - Princípios físicos envolvidos na geração hidrelétrica

- Tecnologia hidrelétrica - Impactos socioeconômicos e ambientais

Exibição de vídeo

“Gota d’água” - Manifestação de um grupo de atores da Rede Globo contrário a construção de Belo Monte

Exibição de vídeo “Tempestade em copo d’água”

- Manifestação de grupo de estudantes de Engenharia Civil e Economia e um professor da Unicamp favorável à construção de Belo Monte Realização de

estudo de caso - Construção de Belo Monte

6° 07/mai/2015 3 Realização de

debate simulado - Construção de Belo Monte Produção de texto

escrito

- Investimentos na geração hidrelétrica para atendimento de demanda imposta pelo atual modelo de produção e consumo de bens materiais Fonte: Elaboração própria.

No primeiro dia, os licenciandos responderam a um questionário contendo vários itens relativos à temática matriz energética e participaram de uma ampla discussão sobre o documentário “A história das coisas”13. Para o encontro seguinte, todos os participantes foram orientados a ler o artigo “Uma análise dos pressupostos teóricos da abordagem CTS no contexto da educação brasileira” de Santos e Mortimer (2000) e outro texto “Energia e sociedade” extraído do livro Química cidadã, volume 2, de Santos e Mól (2010).

13 O documentário “A história das coisas” tem duração de aproximadamente de 20 minutos. Sua autoria é da norte-americana Annie Leonnard e contém um alerta ao atual modelo de produção e consumo e sua relação com os problemas sociais e ambientais.

O segundo dia foi aberto com uma palestra proferida pelo pesquisador, na qual foram apresentadas as bases do movimento CTS, além de realçar demarcações de uma perspectiva crítica de educação CTS. Depois disso, no seminário I, uma dupla de licenciandos fez uma exposição acerca do tema energia e sociedade. Ao término das apresentações, o pesquisador retomou os temas abordados no encontro em discussões com todo o grupo. Para os próximos encontros, todos os participantes receberam os artigos “Alfabetização científico-tecnológica para quê?”, de Auler e Delizoicov (2001); e “Articulação entre pressupostos do educador Paulo Freire e do movimento CTS”, de Auler (2007); mais um texto intitulado “Fontes de energia e seus impactos ambientais” extraído do livro de Física, volume 2, de Guimarães, Piqueira e Carron (2014).

No início do terceiro encontro, uma participante fez a apresentação do seminário II e, posteriormente, o pesquisador conduziu uma discussão com todos os participantes sobre o tema “Freire e CTS”. Ainda no mesmo encontro, outros três participantes apresentaram o seminário III, abordando conteúdos relativos às fontes de energia e seus impactos ambientais. No decorrer desse seminário, outros participantes dialogaram com os apresentadores, contribuindo com a exposição do tema.

Para o quarto encontro, haviam sido recomendadas quatro leituras: (a) Texto “Matriz energética nacional 2030” (BRASIL, 2007); (b) artigo “Matriz energética brasileira” (TOLMASQUIM; GUERREIRO; GORINI, 2007); além (c) do capítulo “Desafios do desenvolvimento sustentável”, extraído do livro “Energia, recursos Naturais e a prática do desenvolvimento sustentável” (REIS; FADIGAS; CARVALHO, 2012); e (d) do capítulo “Energia e desenvolvimento sustentável”, extraído do livro “A natureza como limite da economia: a contribuição de Nicholas Georgescu-Roegen” (CECHIN, 2010).

Com base no primeiro texto, uma participante organizou e apresentou o seminário IV, abordando o tema “Diretrizes governamentais para a pesquisa e desenvolvimento tecnológico no setor energético”. Para ampliar o estudo acerca da “matriz energética brasileira”, o pesquisador conduziu uma discussão com os participantes, com base em dados disponibilizados no artigo de Tolmasquim, Guerreiro e Gorini (2007). Depois, com uma primeira aproximação ao tema “Energia e sustentabilidade”, três participantes expuseram o seminário V, com base no capítulo de Reis, Fadigas e Carvalho (2012). No seminário VI, sobre o mesmo tema, outra participante fez uma apresentação sobre o capítulo de Cechin (2010). Tanto no seminário V quanto no seminário VI, não houve abertura para diálogo entre

apresentadores e demais participantes. Diante isso, ao término dos mesmos, o pesquisador conduziu uma discussão em grupo, na qual todos os participantes tiveram oportunidade de se manifestar sobre a temática abordada.

Os dois últimos encontros, por sua vez, destinaram-se à sistematização de conhecimentos em um estudo de caso sobre a geração hidrelétrica nacional, dando alguns encaminhamentos à problemática abordado em um debate simulado. Desse modo, para o quinto encontro, foram disponibilizados aos licenciandos duas referências com posicionamentos divergentes sobre a construção da hidrelétrica de Belo Monte: um artigo intitulado “O projeto da usina hidrelétrica Belo Monte: a autocracia energética como paradigma” (BERMANN, 2012); e outro texto do Ministério de Minas e Energia intitulado “Projeto da usina hidrelétrica de Belo Monte” (BRASIL, 2011). Além disso, o pesquisador ministrou uma aula, na qual foram abordados conhecimentos científicos, tecnológicos, sociais, econômicos e ambientais relativos à geração hidrelétrica. Em continuidade, foram exibidos dois vídeos14 intitulados “Gota d’água” e “Tempestade em copo d’água”, que serviram para ampliar a problematização do tema “geração hidrelétrica nacional”, com abordagem da polêmica construção da usina de Belo Monte. Depois disso, os licenciandos foram distribuídos em dois grupos que ficaram responsáveis pela preparação de defesas de posições antagônicas em um debate simulado sobre a construção da hidrelétrica de Belo Monte.

No último encontro, após o pesquisador evocar as regras para realização do debate simulado, cada grupo finalizou acertos em suas considerações iniciais e na preparação de quatro perguntas, com vistas às possíveis refutações do grupo oponente. O debate simulado contou com considerações iniciais, oito rodadas de perguntas (com respostas, réplicas e tréplicas) e considerações finais. Por fim, o pesquisador solicitou que cada participante, despido do papel assumido no debate, elaborasse um texto por escrito com parecer de sua real posição a respeito da construção de novas hidrelétricas no país.

14 O vídeo “Gota d’água” é um curta-metragem de aproximadamente cinco minutos, no qual um grupo de atores da Rede Globo estabelecem uma espécie de diálogo com o espectador, opondo-se à construção da usina hidrelétrica de Belo Monte no Pará. De outro lado, em resposta ao “Gota d’água”, o “Tempestade em copo d’água” é outro curta-metragem de aproximadamente seis minutos, que foi produzido por um grupo de estudantes de Engenharia Civil e Economia e um professor da Unicamp com argumentos em defesa de Belo Monte.