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incentivadas pelo governo federal, no contexto de medidas atenuantes para os graves problemas enfrentados no conjunto da região Nordeste. A ação da SUDENE, neste caso, sugeria uma espécie de mercado de terras aberto, configurado a partir da abertura de novas fronteiras agrícolas, cuja finalidade primordial consistia na produção de alimentos. A opção do governo estadual contrapunha-se a essa concepção na medida em que procurava incentivar a vinda da “empresa moderna”, considerada pelos planejadores como preferível à “empresa familiar”81, estabelecendo um mercado de terras fechado. Assim, passa-se a gerar um cenário no qual as possibilidades de acesso à terra pelos trabalhadores rurais – antes aliados de campanha do então governador - passam pela necessidade de confronto, agora não somente com os tradicionais latifundiários individuais, mas com parcelas do capital especulativo em busca das facilidades de reprodução proporcionadas pelos incentivos fiscais e de crédito. Assim é que, com o aparecimento da Lei e das

Delegacias de Terras estourou, de verdade, a mais crítica problemática fundiária da história do Maranhão (ASSELIN, 1982, p. 129).

Grande parte das famílias que eram expulsas de suas posses dispersava-se nas periferias das cidades; outras, porém, agrupavam-se e organizavam-se para resistir, primeiramente montando acampamento entre as rodovias e as cercas de arame, e em seguida, ocupando fazendas improdutivas. Não restava, pois, alternativa aos trabalhadores além da busca de fortalecimento de sua luta - a exemplo das ações que se iniciaram no vale do rio Pindaré - abrindo sindicatos independentes e enfrentando de maneira mais organizada os desafios que se colocavam naquele momento. Essas entidades, em torno das quais se reuniu grande número de trabalhadores, ficaram conhecidas como sindicatos clandestinos, porque procuravam permanecer autônomas em relação à legislação vigente.

Por sua vez, aquelas entidades que seguiram as conveniências legais tiveram expressivo crescimento em todo o País, a partir da criação de novos sindicatos. Estes são os chamados sindicatos pelegos, surgidos sob a tutela da ditadura militar e usados como instrumentos desta, sendo suas marcas fundamentais, de um lado, a prática do assistencialismo e, de outro, o controle das ações dos trabalhadores

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Conforme observa Gonçalves (2000, p. 99), pode-se considerar que José Sarney demarca a diferença entre a

empresa chamada ‘moderna’ e a ‘empresa familiar’ pelo que denomina de ‘sentido dinâmico’ da primeira. Essa concepção perpassa pela idéia de que a organização da empresa familiar é na sua essência dotada de sentido estático, antípoda ao da empresa dita ‘moderna’.

rurais. Através dessas agremiações o Estado passou a ofertar serviços como assistência médica e aposentadorias para a população rural. Assim, grande parte de seus membros constitui-se da chamada população inativa, que buscava tais benefícios, cujo acesso estava condicionado à filiação aos sindicatos oficiais. Atrelados à burocracia estatal, esses sindicatos eram muito suscetíveis à ingerência externa. Sob tal circunstância, grupos políticos regionais, interessados nos possíveis ganhos eleitorais, passaram a utilizar sua influência junto à cúpula do poder central para fundar e reconhecer sindicatos, os quais podiam manter sob seu controle. No caso particular do Maranhão, esse processo foi concretizado com a instalação, no ano de 1967, da Delegacia da CONTAG, então sob intervenção militar, e com a fundação, em 1972, da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Maranhão – FETAEMA.

No ano de 1973, a CONTAG organizou o II Congresso Nacional de Trabalhadores Rurais, no qual se travou acirrado embate entre os sindicatos controlados pelo Estado e os que se mantinham independentes, pois estes últimos reafirmavam a necessidade de uma reforma agrária democrática. Como resultado imediato, alguns deles sofreram intervenção.

Apesar do controle estatal, gradativamente foi surgindo no interior desses sindicatos oficiais o desejo de autonomia, posição que foi aprofundada durante o III Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais. Os trabalhadores firmaram o

propósito de lutar constantemente para que seus sindicatos mantenham-se livres e autônomos, com os próprios trabalhadores decidindo sobre os destinos e as lutas de suas organizações (ALMEIDA, 1981, p. 78).

A Igreja, por sua vez, buscou renovar sua prática social, traçando ações pedagógicas específicas para os distintos segmentos, contemplando assim operários, trabalhadores rurais, indígenas, etc. Essa foi uma tentativa de melhor alcançar a diversidade existente, ainda que no Maranhão grupos sociais numericamente decisivos como os negros não tenham então recebido atenção específica, mas isso talvez se deva ao fato de o foco dos conflitos agrários localizar-se, naquele momento, nas áreas de fronteira agrícola, cuja questão central não estava relacionada às especificidades étnicas e sim à posse da terra. Destaca-se o trabalho da Comissão Pastoral da Terra – CPT, criada em 1975 com a finalidade de auxiliar os trabalhadores rurais no levantamento fundiário e na titulação das terras, além de

prestar assistência no âmbito da educação sindical e apoiar suas reivindicações prioritárias.

Como resultado da luta empreendida pelos trabalhadores rurais e com o apoio das diversas entidades, muitas famílias vêm conseguindo reconquistar importantes faixas de terra no Maranhão, a exemplo do que ocorre em todo o Brasil. De um modo geral, esse movimento tem representado uma antecipação dos trabalhadores a uma esperada ação estatal de redistribuição da terra. Assim, a ocupação das terras agricultáveis não utilizadas produtivamente pelos grandes proprietários tem funcionado como a estratégia mais imediata e eficaz para impulsionar o processo de mudança na estrutura fundiária do país.

Tabela 12: Ocupações de terra no meio rural do Brasil e do Maranhão - 1985- 2005

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