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4. ANÁLISE DOCUMENTAL

4.1 DO MARCO LEGAL

Do ponto de vista legal o estatuto da Readaptação Funcional, tal qual conhecido atualmente, aparece na Lei Federal nº 8112 de 1990, que dispõe sobre o Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Federais.

É possível localizar, em legislação anterior à mencionada, o termo “readaptação”, empregado no serviço público, com sentido distinto do atual. Como exemplo pode-se encontrar na legislação estadual de Minas Gerais, Lei nº 3.214/1964 artigo 19, a possibilidade de readaptação para servidor que “venha exercendo ininterruptamente, atribuições diversas das próprias da classe a que pertencer o cargo a que é titular”, mediante transformação do cargo ou função. Verifica-se, portanto, o recurso da readaptação sendo utilizado, nos casos previstos por esta lei, para a regularização do “desvio de função” no serviço público.

A Lei 8112/1990, em seu artigo 24, define a readaptação como “a investidura do servidor em cargo de atribuições e responsabilidades compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental verificada em inspeção médica.” Os parágrafos do mesmo artigo estabelecem as condições de aposentadoria por invalidez, assim como os critérios para readaptação do servidor público, que deverão ocorrer em cargo por afinidade de atribuições, habilitação, nível de escolaridade e equivalência de vencimentos. A Lei Federal fornece, portanto, os parâmetros gerais para readaptação de servidores públicos.

O Governo do Distrito Federal acolheu a norma legal acima através da Lei nº 197 de 04 de dezembro de 1991 que em seu artigo 5º determina sua aplicação, assim como da legislação complementar, no que for compatível.

Até o ano de 2008 a legislação local não previa formalidade especificamente voltada para o processo de readaptação de professores. Informação verbal colhida junto aos profissionais do Programa de Readaptação Funcional – PRF, da Secretaria de Educação – SEDF, revela o funcionamento do PRF desde a década dos anos 90. Entretanto, a resolução governamental específica que cria o programa não foi localizada, nem junto à SEDF, nem mesmo ao próprio programa ficando, portanto, uma lacuna quanto a esta informação.

Na Secretaria de Educação, também segundo informação verbal constante da entrevista realizada com a equipe profissional do PRF, a edição de Instruções Normativas regulamentava os procedimentos a serem tomados nos casos de readaptação de servidores do quadro efetivo, procedimento vigente até a publicação da norma específica que somente ocorreu em 2008, conforme se verificará adiante.

O Decreto nº 29.021 do GDF, datado de 02 de maio de 2008 cria, no âmbito da Secretaria de Planejamento e Gestão do Distrito Federal – SEPLAG, a Coordenadoria de Acompanhamento de Procedimentos Médico-Periciais e Saúde Ocupacional e dá outras providências. Cria também, no parágrafo único do artigo 1º, a Gerência de Atenção à Saúde do Servidor, unidade de execução e controle da referida Coordenadoria.

Considerando que no segundo momento da presente análise serão abordados os aspectos legais relacionados ao que tange à Secretaria de Educação e considerando, ainda, a redundância natural de alguns aspectos das duas normas, serão omitidos os artigos do Decreto 29.021/2008 cujo teor será alvo de análise posterior.

Dentre as competências da Coordenadoria de Acompanhamento de Procedimentos Médico-Periciais e Saúde Ocupacional, destaca-se a de “Realizar a análise das causas de absenteísmo, da readaptação funcional e de aposentadoria

precoce, visando a implementação de ações promoção à saúde do servidor”, conforme previsto no artigo 2º, inciso V. Ao apontar para a “análise das causas” o legislador ressalta a necessidade de se buscar a(s) raiz(es) de problemas relacionados à saúde do servidor.

Quanto à unidade executora, a Gerência de Atenção à Saúde do Servidor, o decreto estabelece competências que se constituem numa manifestação formal, por parte do Governo do Distrito Federal, da intenção do desenvolvimento de uma política pública voltada para a promoção da saúde do servidor.

Art. 3º. À Gerência de Atenção à Saúde do Servidor compete:

I – Desenvolver programas relativos à melhoria da qualidade de vida do servidor;

II – Propor e coordenar campanhas preventivas de saúde e qualidade de vida no trabalho;

III – Desenvolver programas regulares de promoção à saúde e prevenção de doenças em níveis primário, secundário e terciário, com base em levantamentos epidemiológicos dos servidores;

IV – Integrar com as unidades de perícias médicas e saúde ocupacional para execução das atividades preventivas.

A edição tardia por parte do GDF de norma dessa natureza aponta, além de um legítimo interesse do Estado em tratar do tema, para a necessidade de um posicionamento formal frente ao aumento considerável, que vem se verificando ao longo dos anos, dos casos relacionados ao adoecimento no trabalhado e conseqüente afastamento das principais atividades inerentes aos cargos ocupados. Situação esta que não se constitui privilégio do Distrito Federal, estando presente em estudos realizados em outros estados da federação, como se verá adiante.

Com vistas à regulamentação, o artigo 6º do Decreto aprova o “regulamento unificado de padronização dos serviços de perícia médica e saúde ocupacional dos servidores e empregados públicos da administração direta, autárquica e fundacional do Distrito Federal”, estabelecido no Anexo Único do referido decreto.

Em seu detalhamento o Anexo Único apresenta os procedimentos gerais de perícia médica prevendo, entre outros, os relacionados à readaptação de servidor.

Define inicialmente, em seu artigo 1º, parágrafo único, inciso V o entendimento acerca da incapacidade laborativa – conceito fundamental para o presente estudo – considerando-a como “a incapacidade de desempenho das funções específicas de uma atividade ou ocupação, em conseqüência de alterações morfopsicológicas provocadas por doença ou acidente.”

Considerando o adoecimento como momento desencadeador do processo de readaptação funcional, faz-se necessário ressaltar a determinação legal quanto aos critérios relacionados à concessão de licença para tratamento de saúde.

Em seu artigo 5º, o Anexo Único do decreto prevê a concessão de licença para tratamento de saúde mediante realização de perícia médica. Destaca em seu parágrafo 1º que “os pedidos de licença terão por base o acometimento de quaisquer moléstias que impossibilitem o exercício normal das funções”, podendo ser concedidos por inspeção médica singular nos períodos inferiores a 30 (trinta) dias, e por junta médica nos períodos superiores a este prazo, para servidores do quadro efetivo, conforme parágrafo 2º do mesmo artigo.

Ao término do período definido para o afastamento por licença a regulamentação prevê, em seu artigo 13º, a realização de nova inspeção médica que poderá concluir “pela volta ao serviço, pela prorrogação da licença, pelo encaminhamento ao Programa de Readaptação Profissional ou pela aposentadoria por invalidez com proventos proporcionais ou integrais”.

O parágrafo único do mesmo artigo estabelece que a aposentadoria por invalidez somente se dará quando “não houver capacidade laborativa residual que permita readaptação profissional do servidor.”

Mais adiante chama atenção a redação do artigo 20 da norma que estabelece os parâmetros para a configuração de acidente em serviço. Em sua redação determina: “Configura acidente em serviço o dano físico ou mental sofrido pelo servidor que acarrete incapacidade laborativa e que se relacione, mediata ou imediatamente, com as atribuições do cargo exercido”, estabelecendo a seguir, no inciso III do parágrafo único, a equiparação de doença profissional ou ocupacional ao acidente em serviço, desde que seja definido o nexo de causalidade pelo Médico do Trabalho ou pela Junta Médica de atendimento ao servidor.

O parágrafo 1º do artigo 51 determina que as informações contidas no laudo de avaliação, sobre o estado de saúde e as novas funções a serem desempenhadas após a readaptação, sejam encaminhadas à chefia imediata do servidor para conhecimento e cumprimento.

O aspecto tratado neste tópico da legislação é de fundamental importância por envolver a chefia imediata, ainda que de maneira formal nesse momento, considerando assim, a necessidade de articulação das instâncias envolvidas na reintegração do servidor. Desse modo restabelece o vínculo do readaptado com a escola, para além da mera formalidade hierárquica, aponta para a interação tão significativa na abordagem da ecologia humana.

No tópico do decreto intitulado POR OCASIÃO DE APOSENTADORIA EM RAZÃO DE INVALIDEZ, o artigo 57 estabelece as condições para que tal evento se processe. Destaca a aposentadoria com pagamento de proventos integrais em caso de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença contagiosa, incurável; e proporcionais “nos demais casos, deferida após parecer da junta médica que caracterize a incapacidade para o cargo, ressalvada a hipótese de readaptação.”

O parágrafo 1º estabelece em 24 meses o limite de licença para tratamento de saúde, quando deverá ocorrer o encaminhamento do servidor para aposentadoria por invalidez ou, considerada a capacidade laborativa, o retorno às atividades ou ,ainda, o encaminhamento para readaptação (parágrafo 2º). Findo o período estabelecido e não estando o servidor em condições de reassumir suas funções ou ser readaptado, será aposentado por invalidez.

O artigo seguinte, de número 58, traz conceito fundamental para a garantia de direitos trabalhistas não somente ao aposentado por invalidez como também ao readaptado, por analogia. Trata-se do “nexo causal” que, conforme previsto no parágrado 5º deste artigo, deverá ser estabelecido por laudo médico vinculando a doença à atividade exercida pelo servidor. Considera-se, portanto que, em se estabelecendo tal vínculo, ficam assegurados proventos e benefícios integrais tanto aos aposentados por invalidez, quanto aos readaptados.

O parágrafo 7º define moléstia, doença profissional, como “aquela decorrente das condições próprias do trabalho (da sua forma especial de realização ou situações peculiares de trabalho que agravam uma doença de base pré-existente) ou do seu meio restrito e expressamente caracterizada como tal, por Junta Médica especializada”.

O último tópico do decreto 29.021/2008, destinado às DISPOSIÇÕES FINAIS, define as “unidades de gestão de saúde ocupacional”, destacando uma especificamente destinada à SEDF, onde os servidores desta secretaria deverão ser atendidos.