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MARCO LEGAL E INSTITUCIONAL DO DIREITO À SAÚDE DO ADOLESCENTE NO BRASIL

O direito à saúde está previsto em diversos dispositivos da Constituição Federal de 1988, seja através do próprio direito à vida, no caput do artigo 5º, seja como direito social no artigo 6º, seja através da garantia do salário mínimo, no inciso IV do artigo 7º, ou da redução dos riscos do trabalho, no inciso XXII deste mesmo artigo. A responsabilidade pela atuação no cuida- do da saúde e na assistência pública é competência concorren- te dos entes públicos, nos termos do inciso II do artigo 23 e do inciso VII do artigo 30.

A Constituição Federal (CF), no seu artigo 196, se refere à saúde como “direito de todos e dever do Estado” a ser garan- tido através de políticas públicas sociais e econômicas. Neste caso, conforme afirma Pereira (2008, p. 631), “a possibilidade de alcance do usuário à rede de serviços básicos deve orientar a distribuição de recursos e a ampliação dos serviços existentes”.

Compreendido como direito humano de todas as pesso- as, o direito à saúde no Brasil é garantido através do Sistema

Único de Saúde (SUS), que tem como princípios a universali- dade, a equidade e a integralidade. Como o SUS é um sistema amplo e complexo, apesar de todos os esforços que vêm sendo envidados para a sua implementação, ainda apresenta proble- mas de acesso, resistência do setor privado e de profissionais da saúde, tensionando, permanentemente, o sistema público. Esta circunstância dificulta o acesso por parte de amplos con- tingentes populacionais, incluindo-se aí os grupos em situação de maior vulnerabilidade social (MISEREOR et al., 2007), como as crianças e adolescentes. Assim, no que diz respeito à saúde infanto-juvenil, é necessário assimilar o princípio do interesse superior da criança o qual aponta diretrizes para o atendimen- to nas esferas pública e privada.

O direito à saúde da criança e do adolescente está pre- visto na CF, no seu artigo 227, que afirma, ainda, o interesse superior deste grupo social, tal como consta na CDC. Traz a CF a obrigação do Estado quanto aos programas de assistência integral à saúde da criança e do adolescente, com prevenção e atendimento especializado para aqueles que possuem deficiên- cia física, sensorial ou mental. Ademais, ao incluir, no referido artigo 227, os aspectos que envolvem o direito à proteção espe- cial, abrange, no inciso VII, programas de prevenção e atendi- mento especializado à criança e ao adolescente dependente de entorpecentes e drogas afins.

A Lei nº 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adoles- cente), regulamentando o artigo 227 da CF, trata da proteção do direito à saúde, nos artigos 7º a 14, reafirmando que tal di- reito deve ser efetivado mediante políticas públicas sociais que permitam o desenvolvimento sadio e harmonioso da criança e do adolescente em condições dignas de existência. Conforme previsto no ECA, especificamente no seu artigo 11, deve ser garantido o “acesso universal e igualitário às ações e servi-

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A adolescência e o consumo de drogas: uma rede informal de saberes e práticas

ços para promoção, proteção e recuperação da saúde”. A par- tir deste marco legal, situa-se o direito dos adolescentes a um atendimento integral e intersetorial em saúde.

Nesse caso, registra-se que a forma descentralizada e o atendimento municipalizado orientarão a política de atendi- mento aos adolescentes para facilitar a integração entre os di- versos setores responsáveis pelo planejamento e pela articula- ção das políticas comuns de atenção a este grupo social a partir da sua realidade local. Visando a garantia deste direito aos adolescentes, deve-se atentar para a destinação de recursos e a sua efetiva aplicação pelo Estado. Como afirma Pereira (2008, p. 635), a “proteção integral é um dever social e, como norma constitucional, não é sugestão ou conselho, é determinação”.

Outro instrumento normativo de proteção do direito à saúde no âmbito nacional é a Lei nº 8.080/1990 (Lei Orgânica da Saúde), que estabelece diretrizes e princípios que deverão nortear as ações e serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) e as políticas de atenção à saúde dos adolescentes. De acordo com Pereira (2008, p. 642-643), o “SUS está em plena sinto- nia com os princípios do Estatuto da Criança e do Adolescente para proteção da população infanto-juvenil na prevenção ou no atendimento, antes e/ou após o nascimento”.

Percebe-se, assim, a existência de um ordenamento ju- rídico interno adequado à normativa internacional e voltado à proteção, à promoção e à garantia do direito à saúde dos ado- lescentes. Como pondera Lima (2002, p. 89):

a afirmação do direito à saúde e do conjunto de direitos da infância e da adolescência previstos na Carta de 1988 constitui não uma pauta de negociação política em torno da qual se façam ajustes de natureza alheia ao interesse público: constitui uma pauta de direito para ser garanti- da e implementada.

No plano internacional, além da CDC, é importante elen- car outros instrumentos internacionais para a defesa do direito à saúde do adolescente dos quais o Brasil é signatário, quais sejam: Declaração Universal dos Direitos Humanos; Declara- ção dos Direitos da Criança; Pacto Internacional de Direitos Ci- vis e Políticos e o seu Protocolo Facultativo; Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais; Convenção Ameri- cana sobre os Direitos Humanos; Declaração sobre o Progresso e o Desenvolvimento Social; e Declaração Mundial sobre a so- brevivência, a proteção e o desenvolvimento da Criança (Nações Unidas).

Por fim, cabe acrescentar que o Governo Brasileiro criou políticas, programas e fóruns específicos para assegurar o di- reito à saúde de adolescentes dentre os quais: a Política Nacio- nal de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens e o Fórum Nacional de Saúde Mental Infanto-Juvenil. Ressalta-se a existência, no âmbito do Ministério da Saúde, da Área Técni- ca da Saúde do Adolescente e do Jovem, setor responsável pela elaboração e monitoramento de políticas de saúde específicas para esse segmento populacional.

USO E DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS POR