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articulação das informações levou a construção de tabelas que proporcionaram uma maior elucidação da relação entre os aspetos das condições do trabalho e os efeitos na saúde e no envelhecimento. Também entendemos pertinente elaborar graficamente um esquema que traduzisse a cronologia dos acontecimentos pré e pós-greve para elucidar aspetos sobre as reivindicações da categoria, sendo esta análise elaborada a partir de documentos públicos e validada pelo representante do Sindicato SNMMP.

Para melhor compreensão dos resultados da investigação é importante situar que o trabalhador que atua no transporte de mercadorias perigosas está vinculado a uma empresa e não com um estatuto de trabalhador subcontratado, já que ‘As mercadorias perigosas só devem ser entregues para transporte a transportadores devidamente identificados’ (Lei 41- A/2010, de 29 de abril de 2010, artº 1.10, ponto 1.2), conforme o Acordo Europeu Relativo ao Transporte Internacional de Mercadorias Perigosas (ADR). O Decreto-lei 41-A/2010, preconizar que o próprio condutor adquira uma certificação que o habilite a transportar esse tipo mercadoria. Essa certificação é obtida após um exame feito ao fim de uma formação que concede informações a cerca do domínio da atividade e das responsabilidades que esse tipo de transporte acarreta e disposições específicas que se aplicam à segurança pública do transporte de mercadorias perigosas. Apenas com este requisito de certificação prévia o motorista se encontra apto a conduzir e transportar esse tipo de mercadoria (Lei 41-A/2010, de 29 de abril de 2010, artº 1.3, ponto 1).

1. Marcos Históricos do debate protagonizado pelas greves dos motoristas de matérias perigosas

Em Portugal o mês de abril de 2019 foi marcado pela greve dos motoristas de matérias perigosas que teve impacto em diversos setores da sociedade portuguesa. Esta categoria profissional paralisou os transportes rodoviários, repercutindo em alguns serviços, como foi o caso da aviação que teve o abastecimento de combustível cortado em aeroportos como Lisboa e Faro. Desta greve se originou um debate público acerca da atividade destes profissionais e das reivindicações que ocasionaram tal paralisação (Vinha & Suspiro, 2019), se destacando alguns marcos históricos que ganharam visibilidade no debate público (cf. Fig.2)

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Figura 2 - Cronograma dos marcos histórica das reivindicações dos Motoristas de Matérias Perigosas

Formação da Associação Nacional

dos Motoristas de Matérias Perigosas

Novo Contrato Coletivo de Trabalho Assinado entre a ANTRAM e a FECTRANS

Formação do Sindicato Nacional dos

Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP)

Primeira greve dos Motoristas

de Matérias Perigosas

2017 Setembro 2018 Dezembro 2018 Abril 2019 Maio Julho 2019 Agosto 2019 Setembro 2019

Negociações do Sindicato com ANTRAM

Acordo assinado entre as partes.

ANTRAM não acata uma parte do acordo.

Pré-aviso de nova greve. Segunda Greve

Após novas negociações SNMMP, ANTRAM e. Governos chegam a acordos. Outras reivindi permanecem pendentes.

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1.1. Cronograma dos acontecimentos pré e pós-greve

Atualmente atuam como motoristas de matérias perigosas 800 profissionais, dos quais 600 fazem parte do Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas (Vinha & Suspiro, 2019). Este sindicato independente foi formado no final de 2018 dando continuidade a Associação Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas que havia sido constituída no ano anterior com o objetivo de reivindicarem melhores condições de trabalho e de salários que abarquem a especificidade da atividade. Este foi o primeiro sindicato próprio da categoria de mercadorias perigosas.

O presidente atual do Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) aponta que foi após alteração no contrato coletivo de trabalho em setembro de 2018, oriunda de um acordo entre a Associação Nacional de Transportes Públicos Rodoviários e Mercadorias (ANTRAM) e a Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (FECTRANS), que a insatisfação da categoria emergiu já que os profissionais de matérias perigosas não foram consultados sobre as resoluções tomadas para o novo contrato. As discordâncias sobre esta alteração se deu maioritariamente pelo novo cálculo das horas extraordinárias trabalhadas, que por pré definir o valor das horas extras impactaria na remuneração do adicional noturno. Outro ponto argumentado foi a insatisfação com o salário base e o subsídio de risco, que é igual para todas as classes de transporte de pesados, sem levar em consideração o risco adicional a que os profissionais de matérias perigosas são submetidos. Para além destas, outras reivindicações relacionadas com a melhoria das condições de trabalho também foram feitas. Dentre elas destaca-se alguns pedidos ao Governo, como a proposta de antecipação da reforma, progressivamente diminuir 1 ano a cada 4 anos trabalhados e a proibição do transporte de mercadorias perigosas nas vias públicas nos dias de domingos e feriados.

As reivindicações para alteração do contrato coletivo de trabalho foram recusadas pela ANTRAM, que representa a entidade patronal, culminando na greve dos motoristas. Pela dimensão que a greve tomou, afetando setores importantes da economia, a ANTRAM decidiu negociar com o Sindicato para que chegassem a um acordo, finalizando este primeiro episódio de greve (Vinha & Suspiro, 2019).

Após algumas tentativas de acordo entre as partes, no dia 6 de junho de 2019, depois do primeiro Congresso dos Motoristas de Mercadorias Perigosas o SNMMP fez um anúncio de pré-aviso de greve para o dia 12 de agosto de 2019, caso os parceiros sociais não

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aceitassem as alterações no contrato de trabalho apontadas como necessárias para melhores condições de trabalho da categoria. A reunião de negociação que ocorreu no dia 15 de julho de 2019, contou com a presença do Sindicato, ANTRAM, FECTRANS e o Ministério do Trabalho, Infraestrutura e Economia (Cavaleiro, 2019).

Mais uma vez a falta de acordo entre as partes fez emergir a segunda greve. Esta convocação teve objetivo de reivindicar o cumprimento do acordo assinado em maio com a ANTRAM. Neste acordo, as entidades patronais consideraram o aumento salarial para o ano de 2020, mas continuaram contrários ao aumento progressivo do salário base nos próximos anos. Este momento de greve foi marcado pelo decreto de uma requisição civil, já que o Governo entendeu que havia o incumprimento dos serviços mínimos (Diário de Notícias, 2019).

Após o fim desta segunda greve, as negociações avançaram dando ínicio a algumas alterações esperadas pelo setor, porém as reivindicações não foram atendidas da forma como o sindicato previa. O presidente do SNMMP, afirma que, devido a precariedade das condições de trabalho dos motoristas, ainda há muito que fazer para alcançar novas conquistas para o setor. Reconhece que pelo pouco tempo de existência do sindicato a concretização de alguns acordos é um ganho para categoria, e que os avanços deverão ocorrer de forma gradual, até para ter um tempo para as empresas se adaptarem. Dentre o que já foi conseguido, o representante do sindicato destaca: aumento do salário base para 700 €, aumento de 17€ do acréscimo de diuturnidades; avanço da Portaria de proibição do trafégo de matérias perigosas aos domingos e feriados (com exceção de abastecimento de alguns postos, como no caso dos aeroportos), que deverá ser publicada em 2 meses.

Entre as reivindicações que faltam ser atendidas está a proposta de diminuição dos anos para a reforma, que ainda está em análise pelo Governo; a negociação do valor do subsídio de operação, que seria a compensação financeira para outras funções excercidas além da condução e o pagamento das horas extraordinárias trabalhadas, sem ter um valor máximo pré-definido.

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