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Maria ofereceu a Deus todos os trabalhos do dia

CAPÍTULO II: Certeza da Imaculada Conceição

III. DA APRESENTAÇÃO DE MARIA

3. Maria ofereceu a Deus todos os trabalhos do dia

Fala também S. Anselmo da vida de Nossa Senhora no templo e diz: Maria era dócil, pouco falava, estava sempre composta, sempre séria, e sem jamais se perturbar. Perseverança no coração, na leitura dos Livros Santos, nos jejuns, em toda sorte, enfim, de obras virtuosas. Boaventura Baduário refere coisas mais particulares. Maria observava a seguinte ordem todos os dias. Desde o amanhecer até a hora da Terça (9 horas), dava-se à oração; de Terça até à Nona, ocupava-se em algum trabalho; à hora Nona tornava à oração, até que o anjo lhe trazia a comida, como era de costume. Procurava ser a primeira nas vigílias, a mais exata na divina Lei, a mais profunda na humildade, e em toda a virtude a mais perfeita. Ninguém jamais a viu irada; pelo contrário, tão repassadas de doçura lhe eram as palavras, que se reconhecia o Espírito Santo em sua boca. Como se lê em Baduário, a Santíssima Virgem revelou a S. Isabel de Turíngia o seguinte: Quando meus pais me deixaram no templo, tomei a resolução de ter só Deus por Pai. Continuamente pensava no que havia de fazer para dar-lhes gosto. E a S. Brígida disse a mesma Senhora: Determinei,

além disso, consagrar a Deus minha virgindade, e não possuir coisa alguma do mundo, entretanto ao Altíssimo toda a minha vontade. E novamente a S. Isabel: Entre todos os preceitos, tinha particularmente diante de mim o de amar a Deus. Levantava-me à meia-noite e ia ao templo orar ao Senhor, diante do altar, para que me concedesse a graça de observar os preceitos e de contemplar a mãe do Redentor. Roguei-lhe que me conservasse os olhos para vê-la, a língua para louvá-la, as mãos e os pés para a servir, e os joelhos para adorar em seu seio o Divino Filho. Mas a Santa ao ouvir isto lhe perguntou: Mas, Senhora, vós não éreis cheia de graça e de virtudes? Ao que respondeu Maria: Sabe que eu me tinha em conta da mais vil entre as criaturas, e de mais indigna das graças do céu. Por isso pedia continuamente a graça e as virtudes. Finalmente, para que nos persuadamos da necessidade absoluta que todos temos de pedir a Deus as graças que nos fazem falta, acrescentou Maria: Pensas tu que eu tenha possuído a graça e as virtudes sem fadiga? Sabe que eu graça alguma recebi de Deus sem grande fadiga, oração contínua, desejo ardente e muitas lágrima penitências.

Especial atenção merecem as revelações de S. Brígida acerca dos exercícios das virtudes praticadas pela Santíssima Virgem na sua infância. Desde pequenina foi ela cheia do Espírito Santo, e à medida que crescia em idade aumentava também em graça. Desde então estabeleceu amar a Deus de todo coração, de modo a não ofendê- lo nunca em palavras ou ações. Por isso desprezava os bens da terra, dando aos pobres tudo quanto podia. De tal temperança usava no comer, que só tomava quanto lhe era absolutamente necessário para o sustento do corpo. Ciente pela Sagrada Escritura de que Deus devia nascer de uma virgem, para salvar o mundo, abrasou-lhe de tal forma o seu espírito no amor divino, que não pensava senão em Deus, não desejava senão Deus e só em Deus se comprazia. Evitava, por isso, até o trato com seus pais, para que a não distraíssem da memória de Deus. Sobretudo, desejava alcançar a vinda do Messias, na esperança de ser a serva daquela feliz Virgem, que merecesse ser sua Mãe.

Ah! certamente por amor desta excelsa menina acelerou o Redentor sua vinda ao mundo. Enquanto Maria em sua humildade nem se julgava digna de ser a serva da Divina Mãe, foi ela mesma a eleita para essa sublime dignidade. Com a fragrância de suas virtudes e poderosas súplicas atraiu ao seu seio virginal o Filho de Deus. Por isso dela diz o Divino Esposo: Ouviu-se a voz da rola em nossa terra (Ct 2,12). À semelhança da rola, amava sempre a solidão, vivendo neste mundo como num deserto. Como a rola que vai carpindo pelos campos, Maria sempre gemia no templo, lamentando as misérias do mundo perdido, e pedindo a Deus a comum redenção. Oh! com que afeto e fervor repetia diante de Deus as súplicas dos profetas, para que mandasse o Redentor!

Era, em suma, o objeto de complacência de Deus, o ver subir sempre esta virgenzinha à mais alta perfeição, semelhante a uma espiral de incenso, rico das fragrâncias de todas as virtudes. Assim já a descreve o Espírito Santo nos Cânticos:

Quem é esta, que sobe pelo deserto, como uma varinha de fumo composta de aromas de mirra, e de incenso, e de toda a casta de polilhos odoríferos? (3, 6). Era, na verdade, esta santa menina (diz o Pseudo-Jerônimo) o jardim de delícias do Senhor, que nele achava toda sorte de flores, e todos os perfumes das virtudes. É, por isto, afirma S. João Crisóstomo, que Deus escolheu Maria para sua Mãe na terra, porque aqui não achou virgem mais santa e mais perfeita do que ela, nem lugar mais digno para sua morada do que seu sacrossanto seio. Aqui concordam S. Bernardo e S. Antonino: Para ser eleita e destinada à dignidade de Mãe de Deus, devia a Santíssima Virgem possuir uma perfeição tão grande e consumada, que nela excedesse todas as outras criaturas.

Assim, pois, a santa menina apresentou-se no templo e se ofereceu totalmente a Deus. Apresentemo-nos também nós neste dia à Santíssima Virgem, sem demora e sem reserva. Peçamos- lhe que nos ofereça a Deus. Não nos repelirá ele, quando apresentados pelas mãos daquela que foi o templo vivo do Espírito Santo, as delícias de seu Senhor e a Mãe eleita do Verbo Eterno. Tudo esperemos dessa gratíssima e excelsa Soberana, sempre extremosa no recompensar os obséquios de seus devotos servos. É o que vamos ver no seguinte exemplo.

EXEMPLO

Sóror Domingas do Paraíso nasceu de pais pobres, em uma aldeia chamada Paradiso, perto de Florença. Desde pequenina começou a servir a Mãe de Deus. Jejuava em sua honra todos os dias da semana; nos sábados dava aos pobres a comida de que se tinha privado. Nesse dia procurava o jardim da casa ou os campos vizinhos, onde colhia quantas flores podia, indo com elas enfeitar uma imagem da Santíssima Virgem com o Menino ao colo, que havia em casa. Vejamos agora com que favores a gratíssima Senhora recompensou os obséquios desta sua serva. Estando um dia Domingas à janela (teria 10 anos então), viu na rua uma senhora de bela aparência com um menino, ambos estendendo a mão como se pedissem esmola. Vai logo buscar um pão para aqueles pobres, quando, de repente, sem que se abrisse a porta, os vê a seu lado, dentro de casa. Repara então que a criança tinha feridas as mãos e o peito. Pergunta à bela senhora: Quem feriu o menino? — Foi o amor, respondeu-lhe a mãe. Encantada com a beleza e modéstia do pequenino, pergunta-lhe Domingas se lhe doíam as feridas. Mas ele só responde com um sorriso. Entretanto mãe e filho foram se aproximando da imagem que costumava ser enfeitada por Domingas.

– Dize-me, filha, o que te move a coroar de flores esta imagem? – pergunta-lhe aquela senhora – Move-me o amor que tenho a Jesus e Maria.

– E quanto os amas tu? – Amo-os quanto posso. – E quanto podes?

– Quanto eles me ajudam.

– Continua, continua a amá-los, disse-lhe a senhora, que eles mui bem te recompensarão no paraíso. Sentiu então Domingas um perfume celeste a desprender-se das chagas. Perguntou por isso à mãe pelo bálsamo com que as ungia e onde se podia comprá-lo. Ao que respondeu a senhora: Compra-se com a fé e com as boas obras. Ofereceu depois pão ao menino, mas a mãe disse-lhe: A comida deste meu filho é o amor; dize-lhe que amas a Jesus, e o contentarás. O menino, a este nome de amor, começou a alegrar-se, e voltando para Domingas, perguntou-lhe quanto amava a Jesus. — Amo-o tanto, que vivo pensando nele, noite e dia; só me preocupo em dar- lhe o maior gosto possível, responde a interrogada. — Pois bem, acrescentou o menino, ama-o, que o amor te ensinará o que deves fazer para contentá-lo.

essa fragrância me faz morrer de amor. Se ela é tão suave numa criança, que será então no paraíso? – Mas eis que se muda a cena, de repente: a Mãe da criança aparece revestida como uma Rainha e circundada de luz, e o menino resplandecente como um sol de beleza. Ei-lo que toma as flores, espalha-as sobre a cabeça de Domingas, que reconhece então naqueles personagens a Jesus e Maria, e prostra-se para venerá-los devidamente. Assim terminou a visão. Mais tarde Domingas tomou o hábito dominicano e morreu em odor de santidade no ano de 1553.

ORAÇÃO

Ó dileta de Deus, amabilíssima menina Maria, ah! se assim como vos apresentastes no templo e prontamente e inteiramente vos consagrastes à glória e ao amor do vosso Deus, eu pudesse também oferecer-vos neste dia os primeiros anos de minha vida para dedicar-me todo ao vosso serviço, ó santa e dulcíssima Senhora minha, como seria então feliz! Mas não é mais tempo, porquanto, infeliz, tenho perdido tantos anos a servir o mundo e os meus caprichos, quase inteiramente esquecido de vós e de meu Deus. Mas é melhor começar tarde do que nunca. Eis, ó Maria, que hoje a vós me apresento, e me ofereço todo ao vosso serviço, por aquele pouco ou muito tempo que me resta de vida neste mundo. A vosso exemplo renuncio a todas as criaturas, e inteiramente me dedico ao amor de meu Criador. Consagro-vos, pois, ó minha Rainha, a minha mente para que pense sempre no amor que mereceis; minha língua, para louvar-vos; meu coração, para amar-vos. Aceitai, ó puríssima Virgenzinha, a oferta que vos apresenta este mísero pecador. Aceitai-a, eu vo-lo rogo, por aquela consolação que sentiu o vosso coração, quando no templo vos destes a Deus. E se tarde me dedico ao vosso serviço, é justo que compense o tempo perdido, duplicando os obséquios e o amor. Ajudai com vossa poderosa intercessão, ó Mãe de misericórdia, a minha fraqueza, e impetrai-me do vosso Jesus a perseverança e a fortaleza para servos fiel até a morte, a fim de que, servindo-vos sempre nesta vida, possa depois ir louvar-vos eternamente no céu.

IV. DA ANUNCIAÇÃO DE MARIA

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