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CAPÍTULO 3 – Dinâmicas de Género na Guiné-Bissau: Expressões e Impactos

3.6. Masculinidades, Hegemonia e Subalternidade

Nas entrevistas realizadas, quando indagados sobre o sentido e significado de se ser “homem” e de se ser “masculino”, as respostas dos indivíduos recaem na nomeação de características e de valores tais como a ´objetividade´, a ´responsabilidade´, a ´tradição´, a ´potência´, a ´providência´ e a ´virilidade´. Contudo, é interessante verificarmos que estas características associadas ao homem e à masculinidade, são na verdade expressões que significam poder na inter-relação social do género, pois colocam no feminino e nas feminilidades as características antagónicas destas primeiras, tais como a subjetividade, a imprevisibilidade, a fragilidade e a emotividade.

Definindo masculinidade, segundo Miescher (2003:4), “We use the terms masculinity to refer to a cluster of norms, values, and behavioral patterns expressing explicit and implicit expectations of how men should act and represente themselves to others. Ideologies of masculinity – like those of femininity – are culturally and historically construted, their meanings continually contested and always in the process of being renegotiated in the context of existing power relations.” Connell (1995:79) distingue quatro tipos de masculinidades, baseadas em hierarquias e privilégios – hegemónica, cúmplice, marginalizadas e subordinadas – reconhecendo que nem todas as masculinidades possuem igual poder e legitimidade na sociedade. A masculinidade hegemónica é aquela que efetivamente representa a face do poder e a que se encontra por isso mesmo no topo da hierarquia das concepções idílicas do género, um modelo a seguir, e todo um universo simbólico e comportamental do “homem ideal” e empoderado. Autoras como Andrea Cornwall e Nancy Lindisfarne (1994b:20) recordam que nas sociedades africanas podem coexistir vários modelos hegemónicos de masculinidade. Cornwall (1994a:17) afirma que diferentes masculinidades hegemónicas produzem diferentes variantes subordinadas e chama a atenção para o facto do conceito de hegemonia masculina de Carrigan nunca chegar a definir o que entende por masculinidade, e diz que se ignora o facto de que não é de masculinidade que falam mas da masculinidade do homem36: “Implicit in their argument is a contingente connection, yet the relation between men and masculinity is made to seem incontrovertible. Ironically, such a slippage is a fundamental characteristic of hegemonic masculinities!”. A distinção entre homem e masculinidade é portanto importante para se caracterizar outras formas de masculinidade, como a “masculinity whithout men” (Halberstam, 1998), que são as masculinidades femininas, presentes por exemplo em algumas

36 Tem aumentando a produção científica sobre as masculinidades femininas e feminilidades masculinas em

África, com obras, por exemplo, de Ifi Amadiume (Male Daugthers, Female Husbands, 1987; Reinventing

Africa – Matriarchy, Religion and Culture, 1997); Oyèrónké Oyéwùmí, African Gender Studies – a Reader,

sociedades africanas (ex: os “female husband” dos povos Nandi do Quénia e das sociedades Igbo da Nigéria) em que certos indivíduos, neste caso mulheres, trocam de género (não de sexo) para assumirem determinadas posições e privilégios na sociedade (Miescher, 2003:5).

Segundo Connell (2002:6), se os homens geralmente beneficiam da ordem de género, o facto é que nem todos beneficiam dele de igual modo, e realça o facto dessa mesma ordem de género ser opressora para muitos homens que se encontram fora das masculinidades hegemónicas, como os homossexuais, os homens afeminados, os imigrantes de certas sociedades, homens pobres e sem recursos ou pertencentes a certos grupos étnicos. Segundo Barker (2005:7-8), os homens africanos enfrentam uma forte pressão para ter dinheiro e conseguir sustentar a família, e por este facto, o acesso ao mercado de trabalho é um veículo para o reconhecimento social da sua masculinidade. Para o autor (2005:8), “This presents tremendous problems for young men given high rates of under-and unemployment in Africa.”

Na Guiné-Bissau, a construção das masculinidades é um processo complexo, que envolve um meio ambiente de heterogeneidade étnica, religiosa, de práticas culturais e simbólicas diversas, e um ambiente sociopolítico instável e tendencialmente violento, marcado por tensões e conflitos político-militares. Este ambiente é proporcionador tanto da construção de masculinidades caracterizadas pela exclusão e invisibilidade, como por masculinidades de extrema violência. Tendo em conta as observações anteriores das análises sobre as masculinidades, daremos dois exemplos de masculinidades subordinadas, com base em entrevistas realizadas, tomando nota do nível de pobreza e de exclusão social que os homens a elas pertencentes sofrem na sociedade guineense. Personificando estas duas masculinidades subordinadas, não queremos porém omitir a pluralidade de situações de subalternidade existentes no seio guineense (homens desempregados, deficientes motores, camponeses, etc.). Uma destas masculinidades, representada aqui pela categoria profissional dos taxistas, é construída com base na ocupação profissional dos indivíduos, e o outro exemplo de masculinidade subordinada será representada pelos homossexuais e tem como base a orientação sexual dos homens.

Aquilo que se vive nas estradas guineenses, mesmo para quem “está habituado” à rotina quotidiana de gestão do caos, é merecedor de um caso de estudo.37 A nós deu-nos uma

37 Nas indicações sobre a Guiné-Bissau, a The Overseas Security Advisory Council (OSAC) dos Estados Unidos

da América, no texto sobre “Guinea Bissau 2013 Crime and Safety Report”, adverte os cidadãos sobre o seguinte: “Traffic conditions inside of the city limits of Bissau present several challenges. On-going construction and recently installed traffic lights on Avenue des Combatentes da Liberdade da Patria have created significant congestion throughout the center of the city from the airport to the Port of Bissau. There are also several taxi services available in Bissau. Taxi passengers should exercise caution when selecting a taxi because many are in sub-standard condition. It is also important for passengers to inform taxi drivers that they do not want additional

outra perspectiva da cidade e do trabalho de campo. As estradas têm buracos de todos os tamanhos, o trânsito é intenso e para fugir aos buracos os carros circulam naturalmente na faixa de rodagem em melhor estado, mesmo que em contramão. Este ziguezague, mistura-se com os peões que não havendo muita sinalização para respeitar, circulam pelas vias, correndo por vezes sérios riscos de atropelamento. O andar a pé, feito geralmente por pessoas com baixos recursos, contrasta com o aburguesamento de outros, que se descolocam de carro para distâncias mínimas, fugindo à poeira, ao trânsito e ao sol intenso.

Neste ambiente caótico trabalham os taxistas e os condutores de toca-tocas,38 que são ambos transportes colectivos de passageiros no país. Em Bissau, todas as deslocações feitas para a realização de entrevistas e questionários foram feitas utilizando estes dois meios de transporte e a possibilidade de presenciar e de analisar os comportamentos sociais dos indivíduos nas estradas, permitiu-me constatar quatro situações: 1) O mau estado das vias de trânsito; 3) Os condutores de táxi e de toca-tocas serem apenas homens; 3) A condição de precariedade do trabalho dos taxistas; 4) o ambiente de tensão e de alta conflituosidade que se vive nas estradas do país.

Começando pela última situação, a da alta conflituosidade que se vive nas estradas, numa conversa informal, um académico contava-me a seguinte história:

“Estava no carro num local em que tinha de fazer cedência de passagem e aguardava. Deixei passar dois ou três carros enquanto esperava o melhor momento para arrancar e quando vi um carro ainda com boa distância, acelerei e entrei, porque se ficasse à espera que alguém me cedesse a passagem nunca mais sairia do lugar. Eis que o condutor do carro, visivelmente irritado, gritou-me violentamente em tom de ameaça e desafio “Ami ku ossa, i kel? Bu missti lebsin? | “De mim já não tens medo, não é? Queres faltar-me ao respeito?”. Se eu fosse outro homem, provavelmente reagiria de forma igualmente desafiadora, mas eu limitei-me a pedir-lhe desculpas por ter-me posto à frente dele no trânsito e a fui-me embora.”

A postura viril dos outros ocupantes de automóveis nem por isso contrasta com a atitude aguerrida dos taxistas, que circulam procurando clientes e alternativas de encurtar as distâncias para conseguiram lucro no final do dia. Os táxis são geralmente veículos velhos, dos anos 90 do século XX, sujos pela poeira da terra vermelha, e como transporte colectivo, são utilizados por dezenas de pessoas durante o dia. O não cumprimento das regras básicas de

patrons to be picked up along the route. Taxis serve as a bus service, in which each passenger pays for their seat. Furthermore, the Regional Security Office does not recommend visitors to use the unconventional bus system in Bissau, the “Bus Rapides,” or “Toca-Tocas.” In addition, the erratic and continuous stop-and-go of small transport buses (Toca-Tocas) and taxis creates an unpredictable and unstable traffic pattern. Drivers are also encouraged to exercise caution during the rainy season (June-October), due to flooded roadways and an increase number of potholes.” (in https://www.osac.gov/pages/ContentReportDetails.aspx?cid=13940)

38 Candongas. Transportes colectivos urbanos que ligam os diferentes bairros de Bissau. O preço por uma

viagem é de 100 francos, quantia acessível à população, o que faz com que o toca-toca seja um transporte essencialmente popular.

trânsito e das sinalizações (quando as há), fazem da condução na cidade um verdadeiro risco, entre apitos, gritos, velocidade, poeira e trânsito. Dentro do seu táxi, Amadu39 deu-nos uma entrevista, do qual foram tiradas os excertos abaixo. Foi-lhe pedido que não deixasse entrar mais ninguém no táxi até a entrevista terminar, pelo que, para não gastar mais gasolina, e recebendo um valor monetário como compensação, parou o táxi para prosseguimos a conversa. Amadu tem 40 anos, embora aparente ter um pouco mais, tem quatro filhos e a mulher não trabalha. Vive num bairro considerado dos mais violentos de Bissau, mas indagado sobre este facto, respondeu que lá, todos se conhecem e toda a gente sabe quem faz o quê, e falou-nos dos assaltos que acontecem agora com mais frequência. Diz levar para casa nos meses bons um máximo de 65 000 francos (100 euros) de ordenado, mas que geralmente leva uma média de 40-50 mil francos. Para sobreviver, tem de trabalhar o máximo possível para entregar ao patrão pelo menos o mínimo exigido, e dependendo da gasolina gasta, tirar um extra todos os dias para levar para casa. Para isso, precisa de garantir o táxi cheio em cada viagem, de forma a tornar eficaz a sua estratégia.

O trabalho de taxista não exige uma formação avançada, pelo que praticamente o único requisito exigido é ter carta de condução. Isto significa que é um trabalho acessível a todos e de relativamente fácil emprego. Contudo, devido à baixa remuneração e às difíceis condições de trabalho, tanto em termos físicos (muitas horas sentado, inalando poeira e sentindo calor) como em termos psicológicos (pressão para conseguir receitas; atenção na estrada e tensão permanente), é um trabalho que tende a ser a feito pela classe mais desfavorecida da sociedade:

E (Entrevistado) Se um homem não tiver coragem não vai trabalhar. Este trabalho que eu faço (taxista), se eu não tiver coragem, como é que o conseguiria fazer?

I (Investigadora) Porque é que optou por este trabalho de taxista?

E) Eu estudei até um ponto e não terminei. Há muitas profissões, mas para taxista basta conduzires um ano que podes exercer a profissão. Há outras profissões que tens de fazer oito anos, dez anos. Eu já não tenho tempo para isso. Eu tenho escola francesa, falo francês, um pouco de inglês e de árabe.

Para Amadu as mulheres não conduzem táxis porque trata-se de um trabalho de muita coragem, ou seja em que não se pode deixar-se intimidar pelo ambiente circundante, e nomeadamente pelos outros condutores. Retrata-nos o seu trabalho como sendo muito duro, com horários e condições difíceis de cumprir por uma mulher. Com uma visão protetora (e paternal), explica-nos que o trabalho de taxista não é respeitado, recordando-nos que as mulheres devem ser respeitadas (logo, dar-se ao respeito):

JKM) Porque é que a maioria dos taxistas em Bissau são homens?

E) (Risos) Porque isto é trabalho de homens. Vais passar aqui vinte anos e não vais ver nenhuma mulher nisto.

JKM) Mas porquê?

E) Porque isto é um trabalho de homens, Não é fácil. Eu levanto-me às 5h da madrugada, lavo-me e vou rezar. Rezo às 6h10 – 6h20 e venho sentar-me (conduzir) e vês onde é que estou até agora, sem fazer paragem. Não tomei ainda o pequeno almoço, tenho de levar a receita ao dono do carro e trabalhar para conseguir levar também um bocado para a minha família. Se tens isso tudo na tua cabeça, tens de ter coragem para poderes cumprir.

JKM) Mas as mulheres também podem acordar às 5h para guiar um táxi, ou não?

E) O trabalho de taxista é um trabalho de grande coragem. Sabes que aqui não respeitam os taxistas. Aqui em Bissau não há respeito por este trabalho. Os patrões não respeitam os condutores. Imagina que trazes receitas todos os meses, mas há um mês que não consegues muito porque não há muitos clientes e és logo despedido e tens de entregar o táxi? Eu saí desde manhã e ele não sabe o que se passa comigo, ele (o patrão) só está em casa a pensar no dinheiro que vou lhe entregar no fim do dia.

Na sua entrevista, Armando40, um taxista de 38 anos, iria mais longe afirmando que se trata de um trabalho de “matchus”, (machos= homens), porque na estrada, tens de ser duro. Esta dureza, por vezes não tem a ver com agressividade física, mas com a capacidade de resistência. Dá exemplo de que “as mulheres precisam, por exemplo, de urinar mais vezes que os homens, e se não podem ir para casa fazê-lo, como é que vão conduzir um táxi se têm de passar horas sentadas? Nós urinamos em qualquer lado.” Lembra-nos ainda que são as mulheres que cuidam dos filhos e que tratam das refeições em casa, o que não lhes permite estar em trabalhos como o de taxista ou condutor de toca-tocas. Relatou com entusiasmo a história de duas mulheres, uma que decidiu ser taxista e outra condutora de toca-tocas, mas que depois não aguentaram a pressão social e acabaram por deixar a profissão: “Uma delas, a que era taxista, até deu entrevistas para a rádio e saiu nos jornais, mas sabíamos que não ia aguentar muito tempo. Este é um trabalho duro.”

As condições de trabalho são de grande precariedade, não havendo contratos de trabalho, porque geralmente a contratação é feita de forma informal, e os despedimentos são fáceis e imprevisíveis. Isto faz com que esta situação de instabilidade reprima atitudes reivindicatórias por parte dos taxistas, porque o patrão facilmente encontra outro para substituí-los, se sentir que está a ser questionado. Brayma41, um taxista de 21 anos, disse-nos que o grande problema é que agora havia muitos táxis a circular, o que fazia com que por vezes aceitasse pessoas a pagar abaixo do preço só para ter o táxi cheio: “Se alguém quiser pagar 200 francos e eu recusar, um colega meu vai aceitar, logo perco estes 200 francos.” Enfatizou que vive-se uma situação complicada na Guiné neste momento42 e por isso não

40 Entrevista realizada em Bissau a 20 de Março de 2014, pelas 9h. Duração da entrevista: 42 minutos. 41 Entrevista realizada em Bissau a 28 de Março de 2014, pelas 15h. Duração da entrevista: 17 minutos. 42 Entrevista realizada ainda no período de transição, fruto de um golpe de estado em Abril de 2012.

circula dinheiro no país e que o trabalho de taxista já não dá rendimento. A relação hierárquica patrão-empregado tende a ser abusiva e marcada por uma grande desconfiança de ambas as partes. Numa conversa informal com um antigo proprietário de táxis em Bissau43, este afirmou que “os taxistas fazem-se de coitadinhos mas não são nada sérios. Tu dás-lhes um táxi, eles conduzem sem cuidado nenhum, estragam-te o carro e ainda ficam com uma parte do dinheiro dizendo que não levaram muitas pessoas. Eu passava o tempo todo a comprar peças novas e a pagar aos mecânicos e o que recebia não compensava. O táxi na Guiné é barato, não é como aqui, e o que ganhava, mais a malandrice daqueles gajos, não compensava, por isso deixei”

Segundo Amadu:

E) Eu conduzi no Senegal e na Gâmbia e lá não era como aqui. JKM) Como era lá?

E) Lá pagam as pessoas na hora e há mais respeito pelos taxistas. Uma pessoa quando trabalha espera receber no final do mês. Aqui os patrões todos os meses inventam problemas com o carro para reduzir o teu ordenado e quando vais ver, não recebes quase nada do que trabalhaste num mês inteiro. No Senegal há lei, não podes despedir alguém de qualquer maneira, dizendo “este carro é meu, faço com ele o que eu quiser”. Aqui vais para receber no final do mês, o patrão pede-te para deixares as chaves, e diz que o carro vai ficar parado uns tempos, mas no dia seguinte vês outro taxista a conduzir o mesmo carro.

(...)

JKM) E porque é que os taxistas não se unem e reclamam?

E) Nós não temos um bom sindicato! Nós há pouco tempo fizemos greve. A polícia prendeu o carro às pessoas. No Senegal quando o sindicato diz que há greve ninguém se atreve a ligar o carro para conduzir o táxi, mas aqui fala-se de greve e vês taxistas na rua, porque aqui não há união.

JKM) Qual a causa desta falta de união? E) Isso nasci e já o encontrei assim.

O descrédito nas instituições do país, simbolizado aqui pelos sindicatos e pela polícia, foi um factor visível nas entrevistas com os taxistas, que são também grandes comentadores políticos, mostrando-se sempre bastante informados sobre os acontecimentos do país. “O povo é que é culpado porque o povo é que escolhe”, no excerto seguinte, é uma afirmação que não deixa dúvidas que esta é também uma classe muito politizada, ao ponto de evitar comentar assuntos ainda considerados delicados na Guiné-Bissau, como as questões que tocam os militares e as forças de defesa e segurança no país:

JKM) Mas conduzir nestas estradas é um risco...

E) Claro que é um risco. Já viste como nós viemos até aqui? As estradas estão cheios de buracos e cada um guia do lado que consegue. Cada um conduz da forma que quer, se não tomares cuidado tu tens acidentes logo.

JKM) E quando há acidentes, o que acontece?

E) A polícia vem, mede, vê quem tem culpa e depois a pessoa vai à esquadra e paga a multa. JKM) E se for um acidente grave?

E) Também há esses acidentes, os que dão cadeia. Que Deus nos livre. Mas por vezes há atropelamentos.

JKM) O que é que achas que é preciso fazer para acabar com o espírito de impunidade? E) Isso depende do povo. Nós é que temos de votar, escolher e mudar as coisas.

JKM) Então não são as elites que devem mudar? Os políticos e os militares?

E) Não, a tropa é para ajudar o povo. As tropas não têm nada que ver com a política. O povo é que é culpado porque o povo é que escolhe.

O trabalho funciona como hierarquizador e definidor de tipos de masculinidade, no qual o salário é o principal elemento de comparação. O salário é igualmente identificador das pertenças dos indivíduos e do seu grau de masculinidade. No caso dos taxistas, podemos comprovar que para além de serem uma classe trabalhadora precária, também são exemplo de que continua a existir uma efetiva divisão sexual do trabalho na Guiné-Bissau, que indica áreas e profissões como sendo masculinas e femininas.

As masculinidades hegemónicas têm todas como elemento comum a assunção da heterossexualidade como sexualidade normativa, como característica natural e intrínseca da masculinidade e excluem homens em situações de subalternidade, tais como os das minorias sexuais ou os desempregados. O segundo tipo de masculinidade subordinada que queremos trazer à discussão tem como base a orientação sexual dos indivíduos e abordará a comunidade homossexual de Bissau. Segundo Cornwall (1994:4) “if we locate and describe the multiplicity of competing masculine identities in any given setting we automatically begin to dislocate the hegemonic versions of masculinity which privilegie some people over others”. Estes privilégios provocam a exclusão e a discriminação de uns indivíduos face a outros. Exatamente no sentido da desmistificação de um certa “naturalização” das dinâmicas históricas e socioculturais que hierarquizam e preenchem as identidades sexuais de significados quasi-estanques, autores como Judith Butler (1999) têm enfatizado o facto de o género ser tão frágil e tão pouco natural que os indivíduos precisam de afirmá-lo ao longo da sua vida e escreve sobre aquilo que considera ser o carácter performativo do género e da identidade, que tem como base a necessidade que os indivíduos têm da repetição permanente