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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.2 MATEMÁTICA FINANCEIRA: OLHAR PARA EDUCAÇÃO FINANCEIRA

O Ensino de Matemática Financeira no ensino médio tem um grande potencial, vai além do ponto de vista da formação financeira, propicia também a formação Matemática dos estudantes. É importante destacar sua contribuição para o desenvolvimento de cidadãos mais críticos e comprometidos com a sociedade em seu entorno.

De acordo com as Diretrizes Curriculares de Matemática para a Educação Básica: É importante que o estudante do Ensino Médio compreenda a Matemática Financeira aplicada aos diversos ramos da atividade humana e sua influência nas decisões de ordem pessoal e social. Tal importância relaciona-se o trato com dívidas, com crediários à interpretação de desconto, à compreensão dos reajustes salariais, à escolha de aplicações financeiras, entre outras. (BRASIL, 2008, p. 61)

A partir de abordagens contextualizadas, busca-se uma formação Matemática com apropriação dos conteúdos de forma significativa. Na disciplina de Matemática, a Matemática Financeira assume uma posição de destaque na educação dos estudantes e não deve ser ignorada, frente à possibilidade de aplicação imediata no seu cotidiano.

Concordamos com Brasil (2011), pois ao analisar alguns trabalhos na área da Matemática Financeira observamos que

[...] administrar o dinheiro não se limita, a saber, economizar e fazer contas. Não é tampouco colocar o dinheiro como primeira grandeza em nossas vidas. Significa saber utilizar nossos recursos em prol do nosso crescimento e bem-estar. (BRASIL, 2011, p.12)

A infância é uma época que precisa ser explorada, Brasil (2011), relata que “(...) as primeiras lições de finanças começam na infância, estejamos nós conscientes ou não disso. Ou seja, nossos filhos aprenderão o manuseio do dinheiro observando o que lhes ocorre em volta” (BRASIL, 2011, p.12).

Brasil (2011) ressalta ainda, a importância que as instituições escolares e a família têm na busca da autonomia financeira.

[...] as famílias podem e devem repassar às gerações seguintes a capacidade de buscar a autonomia financeira, sem se prender a jeitos de lidar com o dinheiro que, às vezes, nem dão o resultado desejado. O objetivo é estimular a criatividade e a responsabilidade, dando apoio para tentativas bem planejadas. (BRASIL, 2011, p.15)

Vivemos numa sociedade que impõe alguns padrões, sobre o que deve ou não ser discutido. Nesse cenário, muitas informações são distorcidas ou não fazem parte das discussões nos núcleos familiares, seja por falta de conhecimento ou falta de vontade. Entendemos que é importante discutir o uso do dinheiro em nosso cotidiano e a importância de se debater sobre finanças pessoais desde a infância. Abaixo, pontuamos alguns trabalhos que reforçam a importância de trabalhar a Educação Matemática Financeira em sala de aula.

Segundo Brasil (2010), a Estratégia Nacional de Educação Financeira foi desenvolvida em parceria do governo com a iniciativa privada e a sociedade civil,

[...] buscando promover e fomentar a cultura de Educação Financeira no país, ampliar a compreensão do cidadão, para que seja capaz de fazer escolhas conscientes quanto a administração de seus recursos, e contribuir para a eficiência e solidez dos mercados financeiros, de capitais, de previdência e de capitalização. (BRASIL, 2010, p. 2)

Ao falar sobre Educação Financeira adotaremos como referência as significações dos textos da Estratégia Nacional de Educação Financeira – ENEF – (2010), menciona que a Educação Financeira

[...] é o processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades melhoram a sua compreensão em relação aos conceitos e produtos financeiros, de maneira que, com informação, formação e orientação, possam desenvolver os valores e as competências necessários para se tornarem mais conscientes das oportunidades e riscos neles envolvidos e, então, poderem fazer escolhas bem informadas, saber onde procurar ajuda e adotar outras ações que melhorem o seu bem-estar. Assim, podem contribuir de modo mais consistente para a formação de indivíduos e sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro. (BRASIL, 2010, p. 57-58)

Desse ponto de vista, a Educação Financeira não deve ser considerada como sendo técnicas e macetes para administrar dinheiro, ou simplesmente como um manual de regras.

José Pio Martins, no livro intitulado “Educação Financeira ao alcance de todos: adquirindo conhecimentos financeiros em linguagem”, mostra uma postura crítica com a falta de uma proposta de ensino para Educação Financeira nas escolas. Ele comenta que: “o sistema educacional ignora o assunto “dinheiro”, algo incompreensível, já que a alfabetização financeira é fundamental para ser bem- sucedido em um mundo complexo” (MARTINS, 2004, p. 5).

Segundo Martins (2004) é dever dos pais cuidar para que os filhos recebam Educação Financeira, qualquer que seja a profissão que o filho deseja seguir. Nesse contexto percebo que as famílias não conseguem cuidar de tais funções. O autor ainda comenta sobre a falta de instrução nas escolas:

Muitas pessoas apresentam rejeição diante de expressões financeiras. Como a escola não dá qualquer instrução financeira, a criança cresce e continua ignorando o assunto ‘dinheiro”. Quando o adulto se depara com os esquisitos termos do mundo das finanças, a tendência é fugir deles. É grande o número de empresários que não sabem a diferença entre um balanço, uma demonstração de renda e um fluxo de caixa, como é grande o número de empregados e profissionais autônomos que não têm noção do assunto. (MARTINS, 2004, p. 30)

Na obra “Aprenda a administrar o próprio dinheiro: coloque em prática o planejamento financeiro pessoal e viva com mais liberdade” publicada por Souza & Torralvo (2008), encontramos um questionamento sobre a inexistência de uma proposta nas escolas que desenvolva nos estudantes conhecimentos financeiros. Os autores afirmam que falta ensinar as pessoas a lidar com o dinheiro, e a ausência de orientação para uma formação financeira adequada contribui para que parte da renda seja gasta sem necessidade, em gastos que poderiam ser evitados. Como exemplo, dizem que “são comuns às situações em que alguns preferem pagar, por exemplo, a parcela mínima da fatura do cartão de crédito para não sacar recursos da poupança” (SOUZA & TORRALVO, 2008, p. 17). No entendimento dos autores, esta situação, evidencia a falta de Educação Financeira de nossa população. Destaco que esta pesquisa não tem por objetivo promover o consumismo. Não

devemos correr o risco de ensinar em nossas escolas Matemática Financeira preocupados com o consumo, somente com uma visão capitalista, mas sim, preparar os estudantes para de que forma crítica possam decidir quando e como melhor gastar ou aplicar seus recursos financeiros. Os autores destacam uma realidade encontrada nas escolas, a falta de ensino dos assuntos relacionados a finanças. O livro não atende ao que sugere seu título, a linguagem não é adequada para pessoas que não dominam assuntos relacionados a finanças. Além de preocupar-se apenas com técnicas de mercado e não apresentar soluções de forma pragmática, além de não subsidiar a criticidade do leitor.

Segundo Cóser Filho (2008), apesar da importância da Matemática Financeira como conteúdo do ensino médio e sua aplicação prática, observa-se que não é devidamente contemplado nesta etapa de escolarização. A partir desta afirmação, sugere uma proposta usando planilhas eletrônicas que permite a análise da variação do dinheiro ao longo do tempo. Para o autor, a proposta contribui para que o estudante possa tomar decisões em situações práticas do seu cotidiano. Nessa linha de pensamento ressalto que assim como planilhas eletrônicas auxiliam as decisões do dia a dia, o conhecimento do custo de vida local colabora para decisões mais seguras durante a vida.

Amaral (2013) defende que os estudantes tenham conhecimento básico, a fim de garantir sua autonomia na construção do conhecimento.

[...] devemos preparar os estudantes para a aquisição de conhecimento básico, para que estes possam prosseguir com autonomia na construção do conhecimento. Tudo isso confirma que a Matemática Financeira se faz necessária no mundo atual devido ao modelo capitalista e globalizado. (AMARAL, 2013, p.26)

O autor ainda aborda a forma como os livros didáticos abordam a Matemática Financeira.

[...] os livros didáticos, em grande parte, abordam Matemática Financeira de forma superficial e por meio de situações que não condizem com o cotidiano, o que demonstra maior preocupação pelo “saber fazer” ao invés do “saber reflexivo”. A Matemática Financeira é reduzida ao ensino de cálculo de juro simples, montante, taxa de juro, desconto, aumento, cálculo de juro composto e outros temas sem abordar os conceitos intrínsecos a esses elementos. (AMARAL, 2013, p.24)

A Matemática Financeira torna-se mecanizada, não valoriza a reflexão, a formação crítica e autônoma dos estudantes. A inserção do estudo do custo de vida oportuniza ao professor explorar conceitos matemáticos e promove o diálogo em sala de aula nas discussões realizadas, onde o estudante apresenta e compartilha ideias.

A autora Amorim (2013) afirma que:

A partir de situações ou de temas complexos da sua vivência, os estudantes aprendem a organizar suas ideias e a usar os conteúdos matemáticos como instrumentos para entender as situações do dia a dia em que vivem. Assim, os conceitos matemáticos tornam-se o meio para a leitura do mundo, e cidadãos que sabem aprender, que sabem colocar suas ideias e respeitar as dos outros, são cidadãos livres. (AMORIM, 2013, p.12).

No trabalho de Novaes (2009) o estudo de Matemática Financeira no ensino médio também é o foco, discute a possibilidade de integrar o estudo de Matemática Financeira com outros conteúdos do ensino médio, como por exemplo: progressões ou gráficos de funções afins e exponenciais. Além de ressaltar a importância da análise do dinheiro ao longo do tempo.

Rosetti Jr. & Schimiguel (2009) compreendem a importância desse conhecimento para o estudante do ensino médio. Segundo os autores, os livros didáticos adotados para essa etapa da vida escolar, não apresentam a Matemática Financeira de forma contextualizada, apresentam-na de forma tradicional com foco na aplicação de fórmulas não relacionadas com o cotidiano dos estudantes. Segundo os autores, o preparo do indivíduo para o exercício da cidadania “exige da escola e dos seus currículos a implementação de competências e habilidades que propiciem uma postura autônoma diante dos problemas a serem enfrentados” (ROSETTI JR. & SCHIMIGUEL, 2009, p. 2).

Isso aponta para a necessidade de ensinar Matemática Financeira de forma eficaz no ensino médio, buscando mostrar equívocos comuns cometidos pelos cidadãos, como por exemplo, considerar que parcelas iguais em datas diferentes tem o mesmo valor. Entendemos que é preciso formar nossos professores munidos de elementos, modelos de trabalho, atividades de ensino, que possibilitem experiências para além da memorização de fórmulas.

Para isso nossa proposta de pesquisa, envolve um grupo de atividades, pensadas, de tal forma que possam despertar nos estudantes e professores, maneiras de desenvolver conteúdos matemáticos e suas aplicações em situações que promovam uma Educação Financeira, e que favoreça o Ensino de Matemática Financeira e o Ensino de Matemática.

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