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A matemática na formação dos professores do ensino primário em Portugal de 1926 até

Rui Candeias, UIED-Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, ruicandeias1@sapo.pt

As escolas de formação de professores para o ensino primário, inicialmente designadas por escolas normais primárias, desempenharam um papel central na formação do saber pedagógico em Portugal. A investigação histórica tem-se debruçado detalhadamente sobre essas escolas e as propostas conceptuais de Chervel (1990), valorizando a autonomia das disciplinas escolares revelaram-se produtivas, em particular quanto ao estudo das representações associadas às disciplinas denominadas Pedagogia ou

Didática o que permitiu mapear o desenvolvimento inicial do

pensamento pedagógico em Portugal (Pintassilgo, 2012). Foi nessas escolas que os primeiros manuais destinados a professores foram escritos e estudados e foi nelas que as tendências da Escola Nova foram apropriadas e transformadas em alternativas pedagógicas centradas nos alunos.

Depois do apogeu que a formação de professores do ensino primário terá vivido durante o período republicano, a Ditadura Militar, implantada em 1926 e, especialmente, o Estado Novo que se seguiu, produziram diversas alterações nestas escolas que não se limitaram à alteração da designação para escolas do magistério primário. Desde 1926 até meados da década de 1930 foram publicados mais de 20 documentos legais que visavam as escolas de formação de professores legislando sobre matérias como a reorganização dos cursos, programas das disciplinas, regulamentação dos exames de admissão, dos exames finais, exames de estado, bolsas de estudo e extinção de escolas (Pintassilgo, 2012).

A educação matemática no ensino primário em Portugal já foi tema de investigação histórica que os textos de Matos (2007) e Almeida e Candeias (2014) sintetizam. No entanto, o ensino e a aprendizagem da matemática nas escolas de formação de professores do ensino primário não foram ainda objeto de estudo. Neste terceiro e último

texto desta série de três, estudam-se em particular os conteúdos relacionados com a matemática e o seu ensino nas peças legislativas dedicadas às escolas de formação de professores para o ensino primário em Portugal desde a implantação da Ditadura Militar, em 1926, até 1974.

A elaboração deste trabalho foi guiada pelo levantamento já efetuado em Almeida e Candeias (2014). Analisou-se a legislação que, para além dos normativos habituais (leis, decretos e portarias), incluiu também circulares e instruções enviadas às escolas. Recorreu-se ainda a documentação do Arquivo Histórico da Escola Superior de Educação de Lisboa. Este terceiro e último período, de 1926 a 1974, é marcado pelo Estado Novo, e termina quando uma revolução democrática vem introduzir novas alterações na formação inicial dos professores do ensino primário.

Numa primeira secção será traçado um breve quadro da evolução das escolas de formação de professores do ensino primário em Portugal no período em apreço. O texto ir-se-á depois focar especificamente nos conteúdos matemáticos, sendo discutidos primeiramente os conteúdos dos exames de acesso à profissão propostos para as regentes, estudando-se depois sucessivamente as provas de acesso às escolas de formação de professores, a estrutura curricular e os programas das disciplinas com conteúdos relacionados com a matemática, os Exames de Estado e os requisitos académicos dos docentes das escolas de formação de professores com responsabilidades na formação matemática dos futuros professores.

A evolução das escolas de formação de professores para o ensino primário

A reforma de 1919 traz um cunho de transformação republicana ao ensino normal. O regime de coeducação e a defesa de uma escola laica eram referências fundamentais do republicanismo (Pintassilgo e Mogarro, 2015). Com a redução do número de escolas, o reforço da preparação e a maior exigência nos exames de admissão às escolas normais, tentou-se melhorar a qualidade do ensino. No plano curricular, apesar de a formação ter sido mais centrada na componente da prática docente, não se descurou a parte científica, com a presença de disciplinas como Língua e Literatura Portuguesa ou

Matemáticas. Os programas das disciplinas, enquadrados na reforma

nas instruções pedagógicas que precedem cada programa (Pintassilgo e Mogarro, 2015).

Em Portugal, a Ditadura Militar implantada em 1926 e, especialmente, o regime do Estado Novo que se seguiu, alteraram a formação de professores do ensino primário. Em 1930, ainda na transição da ditadura militar para o regime do Estado Novo, as escolas normais superiores foram encerradas96 e as escolas normais

primárias substituídas por escolas do magistério primário97. Mais do

que uma mudança na designação, esta alteração envolveu uma mudança radical na organização escolar, no plano curricular e nos programas, que sofrem alterações em 1935 e, posteriormente, em 1943. No entanto, a implementação dos modelos de formação na década de 1930 não foi uma tarefa fácil para o Governo, porque havia muitos adversários no campo educacional que eram apoiantes do modelo de formação republicano (Baptista, 2004).

Em 1936, alegando que havia um número excessivo de professores, o Governo suspendeu a matrícula nas escolas do magistério primário 98. Em 1942 99, tomou a decisão de as reabrir,

reconhecendo a premente necessidade de professores primários e em 1943 foram publicados os programas das disciplinas100. As

escolas foram então reconfiguradas, colocadas sob o controlo do governo central e adotando os valores do novo regime. Esta situação manteve-se até o fim do Estado Novo (Mogarro, 2001; Pintassilgo, 2012).

Em 1960101, assistimos a uma extensão da escolaridade obrigatória

e a aprovação de novos programas para o ensino primário, o que exigia alterações no desenvolvimento profissional dos professores102. No entanto, esta alteração não produziu mudanças

fundamentais na estrutura e funcionamento dos cursos de formação de professores do ensino primário (Pintassilgo, 2012). Esta regulamentação irá durar até 1974, final do período em estudo. A tabela 2.3.1. resume o número de inscritos nas escolas normais primárias, posteriormente escolas do magistério primário, durante o período trabalhado neste texto.

96 Decreto n.º 18.973. Diário do Governo, 251(28/10/1930), 2208-13. 97 Decreto n.º 18.646. Diário do Governo, 166(19/7/1930), 1443-50. 98 Decreto-lei n.º 27.279. Diário do Governo, 276(22/11/1936), 1511-1. 99 Decreto n.º 32.243. Diário do Governo, 208(5/9/1942), 1139-43. 100 Decreto n.º 32.629. Diário do Governo, 12(16/1/1943), 31-41. 101 Decreto-lei n.º 43.369. Diário do Governo, 279(2/12/1960), 2674-6. 102 Decreto-lei n.º 43.369. Diário do Governo, 279(2/12/1960), 2674-6.

Tabela 2.3.1. Número de inscritos nas escolas de formação de professores para o ensino primário 1926-1970.

Anos Inscritos 1926-1927 793 1933-1934 313 1947-1948 1155 1954-1955 2721 1961-1962 4494 1962-1963 4209 1963-1964 3332 1964-1965 2792 1965-1966 2700 1966-1967 2316 1967-1968 ---- 1968-1969 2274 1969-1970 3277 Fonte: Sampaio (1976, 1977)

A duração do curso de formação de professores do ensino primário sofreu pois diversas alterações entre 1926 e 1974. A tabela 2.3.2 apresenta uma síntese dessas alterações.

Tabela 2.3.2. Duração do curso de professores do ensino primário, 1928-1960.

Ano Duração do curso

1928 Quatro anos.

1930 Dois anos (4 semestres). 1931 Dois anos (4 semestres). 1932 Três anos (6 semestres).

1936-42 Suspensão das matrículas no 1.º ano do curso das Escolas do Magistério Primário

1942 Três semestres mais um semestre de estágio 1960 Dois anos (4 semestres).

Fonte: Legislação (1928, 1930, 1931, 1932, 1936, 1942, 1960).

Inicialmente, o curso teve duração de quatro anos, herdando a estrutura do regime anterior. Depois disso, a duração do curso variou de um mínimo de três semestres mais um estágio que decorria entre 1 de março e 31 de julho (1942)103 e um máximo de

103 Só eram admitidos a este estágio os candidatos que tivessem obtido aprovação

três anos (1932). Entre 1936 e 1942 as matrículas estiveram suspensas.

Exames de acesso aos lugares de professor do ensino primário

O estudo das normas que regulam os exames aos candidatos a professores primários, em particular as dimensões científicas, pedagógicas ou morais valorizadas, permite-nos conhecer as representações que os poderes públicos faziam da profissão, no sentido que lhe é atribuído por Julia (1995). A reforma do ensino primário e do ensino normal de 1901104 veio fixar pela primeira vez

a obrigatoriedade de um diploma das escolas normais para o acesso à profissão de professor do ensino primário. Esta obrigatoriedade manteve-se durante o final do período da monarquia e durante todo o período republicano. No entanto, em 1931, o Ministro Cordeiro Ramos cria “postos de ensino”, com o objetivo de diminuir o número de iletrados e resolver o problema do analfabetismo105, devendo-se respeitar o regime de separação de

sexos que vigorava para a escola primária106. Para a regência destes

postos de ensino poderia ser designada pelo Ministro da Instrução

escolas primárias oficiais, tendo como objetivo integrar o futuro professor em todas as atividades escolares. Os estagiários eram distribuídos por professores do ensino primário considerados de referência, que acompanhavam os estagiários, no máximo de dois, na regência das aulas. Durante o estágio, os estagiários tinham que assistir obrigatoriamente a sessões de leitura comentadas sobre educadores modernos e conferências pedagógicas.

104 Decreto n.º 8 de 1901. Reforma do ensino primário e do ensino normal

(24/12/1901). COLP 1901, pp. 1229-46.

105 Decreto n.º 20.604. Diário do Governo, 283(9/12/1931), 2680-81.

106 No corpo do texto legislativo destacava-se que a criação dos postos de ensino

visava a resolução do problema do analfabetismo, demonstrando-se assim a atenção que o governo dava à melhoria da escola primária. Pretendia-se levar o ensino da leitura e da escrita aos lugares onde a escola ainda não tinha chegado. Salientava-se, no entanto, a distinção entre as escolas e estes postos de ensino, referindo-se mesmo que a designação adotada pretendia que não houvesse lugar a confusões. Relativamente a esta possível confusão, realçava-se a experiência das escolas móveis, posta em prática durante o período republicano, que, segundo o decreto referido, tinham funcionado em localidades onde já existiam escolas regulares, com uma regência onde não eram verificadas habilitações profissionais. O decreto pretendia distinguir os postos de ensino das escolas móveis, referindo que os postos de ensino deveriam ficar limitados à função que lhe era atribuída, ou seja, não podiam ser criados em povoações dotadas de escolas oficiais, nem a menos de dois quilómetros destas. No entanto, em 1940, a falta de professores do ensino primário levou a que fosse necessário recorrer a regentes para completar lugares em escolas do ensino primário.

Pública qualquer pessoa que possuísse a necessária idoneidade moral e intelectual. As nomeadas eram na sua quase totalidade do sexo feminino e ficaram conhecidas como as “regentes”. Para além da idoneidade, não se indicava qualquer outra habilitação necessária à regência dos postos.

O já referido decreto de 1931 conferia ao ministro o poder de nomear os regentes para os postos, com base na idoneidade moral e intelectual. Como não se exigia a comprovação desta idoneidade, as informações eram enviadas pelas entidades locais. Considerou-se em 1935107, que estas informações nem sempre seriam fiáveis, pelo

que se passou a exigir provas de aptidão limitadas ao programa do 2.º grau da instrução primária108 para o acesso ao lugar de regente.

Eram admitidos às provas indivíduos do sexo masculino com mais de 20 anos e menos de 45, e do sexo feminino com pelo menos 18 e não mais de 45 anos de idade. As provas eram prestadas perante um júri constituído por um inspetor de distrito, ou por um inspetor orientador, ou ainda um professor dos liceus, que presidia, e por dois vogais, professores do quadro geral do ensino primário. Estas provas eram realizadas nas capitais de distrito. Havia uma prova escrita de português, outra de aritmética e outra das restantes disciplinas, elaboradas pelos serviços de orientação pedagógica. As provas, escritas não deveriam demorar mais de uma hora e meia no total, sendo reprovados os candidatos que não obtivessem 10 valores em cada uma delas. Os candidatos aprovados realizariam uma prova oral, centrada na disciplina de português, com uma duração de dez minutos. Os candidatos do sexo feminino, que constituíam a esmagadora maioria, efetuavam ainda uma prova de lavores femininos.

Em 1936 o Ministro Carneiro Pacheco toma um conjunto de medidas visando o enquadramento das escolas primárias no ideário do Estado Novo109. Para além de decisões sobre a inscrição

obrigatória na Mocidade Portuguesa de todos os alunos do ensino primário elementar, a necessidade de uma autorização ministerial para o casamento das professoras, a ameaça de expulsão da função

107 Decreto n.º 25.797. Diário do Governo, 199(28/8/1935), 1260-1.

108Em 1935 estava ainda em vigor o Decreto n.º 18.140, de 1930, que dividia o

ensino primário elementar em dois graus. O primeiro grau correspondia às três primeiras classes, e era considerado ensino obrigatório, o segundo grau correspondia à quarta classe. Neste caso, passava-se a exigir aos candidatos a regentes que prestassem provas ao nível da 4.ª classe do ensino primário elementar.

pública dos docentes que exprimissem desacordo com o regime político, a imposição de um livro único para o ensino primário, entre outras110, nas duas páginas do decreto-lei o Ministro ainda

suspende as matrículas de novos alunos nas escolas do magistério, converte os postos de ensino em postos escolares, considerados formas embrionárias da escola elementar e reduz o âmbito das provas a realizar pelos candidatos a regentes exigindo apenas conhecimentos ao nível do ensino primário elementar que em 1938 passará de quatro para três anos (Almeida e Candeias, 2014). Obriga ainda as regentes que tivessem sido nomeados sem prestação de prova a realizar este exame no ano letivo de 1936/37. Em 1937 precisou-se melhorar o modo como devia ser organizado o exame das regentes dos postos escolares111. O exame constava de

provas de cultura, que incidiam sobre os programas do ensino primário elementar, e provas de aptidão pedagógica. A prova que incidia sobre conteúdos de matemática era a terceira, de um total de três provas de cultura escritas. A prova consistia na resolução de seis problemas, com a duração de 45 minutos. Referia-se que entre a prova escrita de redação, a segunda do exame, e a prova de aritmética, devia existir um intervalo de 15 minutos. O candidato que obtivesse a classificação de mau numa prova escrita era eliminado. No caso da prova escrita de aritmética a classificação de mau era atribuída se o candidato errasse a resolução de dois problemas. Na prova de aptidão pedagógica os candidatos tinham de dar uma lição a uma classe, sobre um assunto designado pelo júri e tirado à sorte até às 17 horas do dia anterior ao da prestação da prova. A classificação final era atribuída de acordo com uma escala definida legalmente. Os exames continuavam a ser realizados nas sedes de distrito, mas a constituição do júri era alterada, relativamente à legislação anterior, sendo este constituído pelo diretor do distrito escolar, que o presidia, e por dois vogais de entre quatro professores da sede do distrito, nomeados pelo diretor geral

110Este Decreto-lei n.º 27.279 apresentava medidas de caráter transitório, e

consideradas de urgência, enquanto era preparada reforma do ensino primário. O objetivo explicitado era o de aumentar a cultura dos portugueses e o de combater o analfabetismo. Neste decreto-lei criticava-se as “entorpecedoras utopias e as aspirações ilegítimas” atribuídas à educação popular, afirmando-se que esta se deveria centrar no “ler, escrever e contar, e a exercer as virtudes morais e um vivo amor a Portugal.”, criticando-se ainda “o estéril enciclopedismo racionalista” que, segundo o legislador, deturpava o ensino primário elementar. Para o desenvolvimento deste objetivo, a disseminação dos postos escolares era considerada essencial.

do ensino primário. As regentes que já tivessem completado os 45 anos de idade não eram submetidos a estas provas, sendo a sua competência julgada por uma inspeção.

Em 1940, pouco tempo após a saída de Carneiro Pacheco do Ministério da Educação Nacional, e perante a patente falta de professores para o ensino primário, o governo legisla um processo expedito de formação. É o próprio decreto-lei112 assinado pelo

novo Ministro Mário de Figueiredo que, implicitamente criticando a política de Carneiro Pacheco, argumenta que, mesmo utilizando todos os professores auxiliares e agregados existentes, e recorrendo às regentes agregadas cuja função se deveria limitar aos postos escolares, ficariam encerradas naquele ano letivo 134 escolas. por falta de professores. Esta situação seria agravada com a passagem à inatividade de 160 professores por ano, em média, pelo que, até à saída dos primeiros professores das escolas do magistério primário, após a sua reabertura, estariam em falta aproximadamente 807 professores. A situação piorava ainda num contexto em que o governo afirmava pretender alargar a rede escolar.

Na emergência, propunha-se que a habilitação para o magistério primário se fizesse através de um exame de cultura específica, um estágio de preparação didática curto, um exame de aptidão pedagógica e um Exame de Estado. A estas provas só seriam admitidos candidatos com o curso geral dos liceus, ou com o 2.º ciclo dos liceus, sendo necessário que tivessem entre 18 e 28 anos. O exame de cultura específica, para além de português e de geografia-história, abrangia os conteúdos de matemática, com a realização de provas escritas e orais. A nota de medíocre em duas disciplinas, ou de mau numa, conduz à eliminação. Eram aprovados os candidatos que obtivessem pelo menos 10 valores em cada disciplina, sendo a classificação expressa pela média aritmética das notas das diferentes disciplinas. O estágio de preparação didática durava três meses e era realizado numa escola do ensino primário. O exame de preparação pedagógica era constituído pela realização de uma lição com alunos. No estágio de preparação didática o candidato tinha que elaborar um relatório. No exame de aptidão pedagógica, o júri devia ter em consideração as informações das provas realizadas no exame, o relatório do estagiário e as informações do parecer sobre o relatório. Estes exames habilitavam para nomeação provisória de professor agregado. O Exame de Estado era constituído por quatro lições a alunos, uma a cada classe

do ensino primário. Era ainda feito um interrogatório sobre o plano de cada lição. O acesso a este Exame de Estado podia ser feito depois de um ano de serviço letivo numa escola. Eram aprovados os candidatos que obtivessem pelo menos 10 valores em três lições, desde que na outra lição não obtivessem menos de 8 valores. Este exame habilitava para a nomeação definitiva de professor agregado. Estas medidas surgiram num momento em que as escolas de habilitação para o magistério estavam encerradas há cinco anos, levando a uma situação de falta de professores para assegurar as escolas existentes. Mesmo com a reabertura das escolas de formação de professores, só passados três anos estariam aptos os primeiros professores, pelo que se pensava que este processo de emergência para recrutamento de professores seria eficiente no preenchimento dos quadros do ensino primário. Por um lado, considerava-se que a exigência de pelo menos o 2.º ciclo do liceu aos candidatos garantiria que dominavam os conteúdos, por outro lado, o contacto com a função despertaria nos candidatos as qualidades para o seu exercício, afirmando-se que “o candidato aprendeu a ensinar, ensinando; ensinando, mostrará se aprendeu a ensinar” (Decreto-lei n.º 30.951, 1940, p. 1454). Apesar das carências de professores para o ensino primário, a reabertura das escolas do magistério vai demorar ainda dois anos113.

No que diz respeito à disciplina de matemática, o programa das provas do exame de cultura114 estava dividido em aritmética,

potenciação e geometria, contemplando conteúdos ministrados até ao 2.º ciclo dos liceus excluindo todos os conteúdos de álgebra. Em aritmética avaliavam-se conteúdos como numeração árabe e romana, quatro operações fundamentais, propriedades das operações e regras práticas. Na potenciação estavam incluídas as expressões numéricas, noção de múltiplo e submúltiplo, critérios de divisibilidade, máximo divisor comum e mínimo múltiplo comum, fatores primos e decomposição em fatores primos. Podiam ser avaliados conteúdos relacionados com os números fracionários e as operações com estes números, assim como os números decimais. A raiz quadrada e a sua extração também constavam nos assuntos a avaliar, tal como o sistema métrico. Antes dos conteúdos relacionados com a geometria, surgiam ainda as razões e proporções geométricas, proporcionalidade direta e inversa e a regra de três simples e composta. Na geometria podiam ser

113 Decreto n.º 32.243. Diário do Governo, 208(5/9/1942), 1139-43. 114 Decreto n.º 30.968. Diário do Governo, 290(14/12/1940), 1468-72.

avaliados conteúdos relacionados com os sólidos geométricos,