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CAPÍTULO I REVISÃO DA LITERATURA

1.6. ENSINO DE CORDAS: PRINCIPAIS LIVROS, TRATADOS E MÉTODOS

1.6.2. Os materiais didáticos

A variedade de materiais didáticos feitos para o ensino coletivo heterogêneo de cordas, em língua inglesa, é muito grande. Eles são divididos em books (livros), que avançam de acordo com o progresso dos alunos, sendo, normalmente, utilizado um por ano. Para estudo e consulta, tive acesso a alguns deles. Concentrei-me nos primeiro volume desses materiais. Em geral, são métodos19 do século XX, ainda muito usados atualmente no ensino coletivo heterogêneo. Todos eles podem também ser usados no ensino individual, ou no ensino coletivo homogêneo.

Esses métodos que seguem são fruto de um pré-seleção feita por mim. Nela, privilegiei os materiais onde a apresentação visual para o aluno não fosse desagradavelmente carregada, cheia de textos ou com uma escrita musical muito pequena. Estabeleci isso como critério de acordo com a minha experiência pessoal com o ensino para crianças e jovens, onde percebi a importância da apresentação visual do material didático para o seu aprendizado. Os materiais didáticos consultados foram:

• String builder (1960) – Samuel Applebaum: Material didático com uma boa apresentação gráfica. Começa com a utilização de figuras de valor de média e longa duração, utilizando exercícios, a princípio sem contextualiza-los musicalmente. Em seguida, aplica quase todo o aprendizado e progresso técnico do aluno musicalmente, oferecendo melodias simples e acompanhamentos de cantigas conhecidas do folclore norte americano, do

19 A palavra método é geralmente utilizada com dois sentidos: um se refere à maneira de como exercer aquele ensino, ou seja, o “como”. O outro sentido (que caiu no senso comum, mas pode gerar confusão) designa o material didático empregado no ensino. Aqui está sendo como descrito por último.

repertório erudito ou composições originais dos autores. Além do aspecto coletivo entre todos os instrumentos de cordas, propõe também duos com o professor e entre os colegas de classe. A parte dos instrumentos de cordas é toda em uníssono e usa o sistema tradicional de notação desde a iniciação. Há pouco direcionamento metodológico no material, o que permite do professor usa-lo como suporte para a metodologia que quiser.

• Müller-Rusch string method (1961) – J. Frederick Müller e Harold W. Rusch: Material didático que propõe, desde o primeiro contato com o instrumento, duas notações alternativas utilizando gráficos com linhas e números dos dedos da mão esquerda20: utiliza uma quando a música é meramente instrumental e outra quando tem uma letra que a acompanha. Isso pode gerar uma confusão no aluno logo no começo de sua aprendizagem. A notação tradicional aparece somente a partir da sétima lição. Apresenta um recurso interessante, que é um piano acompanhador na parte do professor. O que pode ajudar a melhor contextualizar musicalmente o trabalho feito. É um método bastante técnico, pois proporcionalmente são muitos exercícios para a quantidade de repertório apresentada. O seu repertório é essencialmente autoral, misturando algumas poucas melodias tradicionais. A escrita dos instrumentos de cordas é toda em uníssono. Material com quase nenhum direcionamento metodológico, o que permite ao professor aplicar a metodologia de sua preferência.

• Young strings in action (1971) – Paul Rolland: Material baseado na pesquisa do pedagogo Paul Rolland acerca da inclusão do movimento, da flexibilidade e relaxamento em todas as etapas do aprendizado instrumental dos jovens. Foi desenvolvido para os professores que desejavam aplicar os seus ensinamentos e precisavam de um material didático mais adaptado. O material é todo contextualizado musicalmente, até os exercícios. Isso permite que o aluno não toque uma nota sequer sem um sentido musical. Apresenta um repertório misto, com peças escritas pelo autor, melodias tradicionais inglesas e americanas, assim como clássicos da música erudita. O material do professor vem com um grande suporte pedagógico, oferecendo a ele, além do conteúdo musical, muitos exercícios lúdicos e estratégias a serem trabalhados em aula

20 Tradicionalmente, o número um corresponde ao indicador esquerdo; o dois, ao dedo médio; o três ao anelar e o quarto ao dedo mínimo. O polegar não entra nessa contagem.

em todas as etapas do ensino. A escrita é em uníssono para os instrumentos de cordas, porém mais dinâmica que os demais materiais didáticos, pois há momentos de diálogos e independência de pelo menos duas vozes. Apresenta também uma parte de piano acompanhador simples podendo ser tocado pelo professor, o que ajuda no enriquecimento musical do ensino. Apresenta uma notação alternativa simples e de fácil compreensão no início do método, que pode ser uma ferramenta realmente facilitadora para o aprendizado dos alunos. Essa notação facilitada em cordas soltas vem acompanhada de melodias tocadas pelo professor, reforçando o compromisso desse material didático e método com o fazer música musicalmente sempre.

• All for strings (1985) - Gerald E. Anderson and Robert S. Frost: O mais recente dos métodos consultados vem com uma formulação gráfica um tanto carregada21. Contem muitas indicações, instruções e gráficos confusos no seu material para o aluno, o que pode tornar o contato com o material uma experiência desagradável e desmotivadora logo no início do aprendizado. Os exercícios aparecem isolados, sem uma contextualização musical, sobretudo no começo. A notação alternativa, baseada nos nomes das notas é simples e fácil entender, mas é usada durante muitas lições. O método é muito técnico, fundamentado em um número exagerado de exercícios e o seu conteúdo musical é muito escasso em boa parte do livro, apenas no fim a música toma a sua devida importância. O pouco repertório que há, constitui-se de peças feitas pelos autores, peças tradicionais de vários países e algumas melodias conhecidas da música erudita. O material é sempre carregado de informações e sua diagramação, mesmo com a notação musical tradicional, muito pequena para ser destinados a crianças. Aparentemente pouco didático, acredito que poderá ser melhor recebido por jovens a partir da adolescência, com um perfil mais técnico. É um método muito popular e muito utilizado no Brasil em diversos projetos, como o Projeto Guri. (COELHO, 2011, p. 25)

Esses livros, métodos e materiais didáticos apresentados são só uma parte do tudo o que existe em língua inglesa sobre o assunto. Mesmo sendo uma cobertura parcial, vista a extensa literatura sobre o assunto, já foi possível para mim ter as informações necessárias para uma melhor fundamentação da metodologia proposta neste trabalho.

21 No entanto, foi escolhido por ser o menos pior nesta questão gráfica em relação aos materiais mais recentes, como o Essentials elements for strings ou o String basics.

Na sessão seguinte, será abordada a experiência brasileira do ensino coletivo de cordas. Acerca das experiências em outros países, não foram encontradas por mim livros, tratados e métodos destinados especificamente ao ensino coletivo heterogêneo. Em outras culturas, surgiram práticas de sucesso como o método Suzuki, no Japão, e o Colorstrings na Hungria. No entanto, são métodos destinados somente ao ensino coletivo homogêneo, que não é o foco deste trabalho.