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CAPÍTULO I REVISÃO DA LITERATURA

1.9. TRABALHOS ACADÊMICOS BRASILEIROS SOBRE O ENSINO DE CORDAS

prática. No entanto, é apenas um material de suporte a uma metodologia mais completa, não pode ser usado isoladamente.

A análise e estudo desses métodos foi uma etapa muito edificante para o desenvolvimento do ensino proposto neste trabalho. Permitiu o estabelecimento de metas práticas para o ensino e a compreensão dos objetivos técnicos-musicais a serem alcançados durante o período de experimentação. Foi possível também conhecer e analisar as diferentes abordagens que surgiram com o desenvolvimento do ensino coletivo de cordas no Brasil. Tendo, assim, os meios necessários para escolher a que melhor se adaptaria à prática da Filarmônica de Cordas.

1.9. TRABALHOS ACADÊMICOS BRASILEIROS SOBRE O ENSINO DE CORDAS

Esta parte é dedicada a uma rápida análise e comparação de diferentes trabalhos acadêmicos acerca do ensino coletivo heterogêneo de instrumentos de cordas, devido ao foco

desta pesquisa. Trabalhos como os de Brito (2012) e Veloso (2014), centrados no ensino coletivo de apenas um instrumento, ambos dedicados ao violino, não serão analisados. A proposta aqui é uma análise de suas abordagens, conteúdos, objetivos e ideias, a fim de melhor compreender sobre quais assuntos dentro desse tema se tem dedicado às publicações acadêmicas. Serão considerados os trabalhos feitos no Brasil nos últimos onze anos, ou seja, a partir de 2007. Mas antes, algumas considerações sobre a pesquisa no campo do ensino coletivo de instrumentos no Brasil são necessárias. Santos (2016) ainda a considera bastante reduzida, mas também destaca os seus progressos:

[...]os últimos anos foram auspiciosos para o tema e é possível constatar que a produção na área fez grandes progressos.[...]o número de dissertações ou teses sobre o assunto praticamente dobrou nos últimos sete anos. Considerando-se que a primeira tese sobre o tema foi escrita em 1990, temos um intervalo de 17 anos (1990 a 2006) quando foram defendidas 12 dissertações ou teses; na contrapartida, no período posterior, que compreende sete anos (2007 a 2013) estes trabalhos chegaram a 16.

Quando dirigimos nossa observação para artigos e comunicações publicados, podemos perceber a ocorrência de um fenômeno similar. No período de 1990 a 2006, ou seja, 17 anos, foram publicados 63 trabalhos acadêmicos, no segundo período (2007 a 2013) foram publicados 142 trabalhos, ou seja, em apenas sete anos a quantidade de produção na área mais que triplicou. (p. 35)

Com isso, percebe-se o aumento crescente do interesse dos professores e pesquisadores das grandes possibilidades do ensino coletivo no campo instrumental. Nesses trabalhos, essa abordagem é constantemente apontada como vantajosa e fruto de bons resultados.

Como a eficiência do ensino coletivo em instrumentos de cordas já foi abordada por muitos autores recentes como Santos (2016), Brito (2010, 2012), Dantas (2010), Ying (2007), Chagas (2007), entre outros. A insistência em sua eficácia não se mostra necessária e já foi detalhada e defendida em muitos trabalhos sobre esse tema. Então, o foco aqui será de mostrar um pouco do conteúdo desses textos, a fim de melhor situar este trabalho no campo de pesquisa.

Ying (2007) em sua dissertação de mestrado, faz uma análise de diversos materiais e métodos direcionados ao ensino coletivo de cordas. No entanto, o foco do seu trabalho é voltado para o violino, onde, depois da síntese obtida através da análise desses métodos, a autora faz propostas acerca de um novo método baseado em melodias folclóricas brasileiras. Apresenta uma análise histórica muito útil do ensino coletivo de cordas tanto no Brasil quanto nos EUA. Sua análise dos métodos de ensino coletivo é totalmente voltada para o violino e baseada nos aspectos técnicos que são trabalhados. Os demais instrumentos não entram na análise feita e nem os aspectos musicais, gráficos e pedagógicos dos métodos.

Chagas (2007) vem através da sua dissertação propor uma abordagem diferente para as orquestras infantis de cordas. Ele insiste que não é um ensino coletivo, mas sim um estudo direcionado para desenvolver a percepção do aluno através da interação com o grupo. Ou seja, o autor propõe um trabalho e desenvolvimento da percepção do aluno dentro do contexto dos ensaios e da estrutura de uma orquestra infantil.

Já a dissertação de Dantas (2010) foca na motivação, no desenvolvimento da autoestima e nos aspectos de interação do grupo dentro do ensino coletivo de cordas. Apresenta um importante relato sobre o cenário do ensino coletivo na Bahia entre os anos 2007 e 2009, mostrando as suas principais instituições e contexto em que este ensino estava inserido nelas.

A dissertação de mestrado de Brito (2010) propõe uma catalogação crítica da literatura sobre o ensino de cordas de 1999 a 2009, usando as bases de dados online como referência. A sua ideia era criar embasamento teórico para a sua própria prática, ligada ao ensino coletivo para violino com crianças. Sua catalogação crítica envolve sobretudo os trabalhos acadêmicos acerca desse campo de pesquisa, considerando trabalhos escritos em inglês e português. Ela faz uma análise crítica desse material, mapeando a sua produção, assuntos e metodologias.

Já Rodrigues (2012) tem como proposta em sua dissertação analisar a proposta metodológica de um projeto em específico, efetuando assim um estudo de caso, do ensino coletivo de viola e violino do Programa Cordas da Amazônia. Neste trabalho, a autora, após fazer uma breve contextualização histórica do ensino coletivo de cordas e suas origens, foca o seu trabalho no desenvolvimento desta prática no estado do Pará (surgida em 1977, como um dos polos do Projeto Espiral de Alberto Jaffé). Faz um panorama histórico do seu desenvolvimento e em seguida faz análise pedagógica do Programa Cordas. Faz uma descrição dos métodos utilizados, do processo de ensino-aprendizagem neste programa e de sua estrutura metodológica (do processo de seleção dos alunos até suas avaliações de fim de semestre).

Santos (2016), em sua tese de doutorado, busca fazer um levantamento e análise dos principais métodos de ensino coletivo de cordas. O objetivo é entender se é possível e como esses métodos poderiam ser adaptados para atender as exigências dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). É um trabalho bem completo sobre o assunto, onde há uma bem fundamentada análise histórica e documental sobre o tema. Funciona como uma excelente referência a qualquer pesquisador que se interesse pelo assunto. Seu índice temático também é bem rico e pode ser um excelente material de partida para qualquer pesquisa sobre o ensino

coletivo em geral. Sua análise dos métodos também é muito bem detalhada e envolve as principais obras brasileiras e americanas.

O estudo e análise dos trabalhos dos últimos onze anos acerca do ensino coletivo de cordas heterogêneo me permitiu perceber que muitos deles são voltados para análise de materiais didáticos, das metodologias utilizadas e de aspectos específicos do ensino coletivo desses instrumentos. Todos os autores ressaltam a importância desse ensino e saem em sua defesa, ressaltando seus elementos positivos.

O estudo desses trabalhos acadêmicos mostra também o avanço na pesquisa acerca das origens do ensino coletivo de instrumentos de cordas, pois cada pesquisa mais recente apresentava referências mais precisas e aprofundadas acerca desse assunto. É possível perceber também que a grande maioria dos trabalhos dos últimos dez anos estão voltados a analisar métodos, materiais didáticos e projetos já existentes. Sem propostas de como realizar esse ensino de uma forma diferente ou buscar outros modelos para realiza-lo. Mesmos os textos onde há proposições acerca do ensino coletivo de cordas como em Ying (2007) e Chagas (2007), buscam apenas atrelar a esse ensino algumas ferramentas pedagógicas, respectivamente, como o uso da música folclórica e do desenvolvimento da percepção. Há uma falta de propostas metodológicas mais profundas, assim como uma busca por novos modelos e formas de praticar esse ensino. Isso mostra que, na área acadêmica, ainda há muito espaço para pesquisas nesse sentido.

1.10. CONCLUSÃO

A revisão de literatura permitiu constatar que não existia nenhuma proposta de buscar nas filarmônicas ou bandas de música uma possível inspiração para o ensino coletivo de instrumentos de cordas. Nenhum método ou material didático abordou essa possibilidade, sendo o Da Capo: Cordas de Joel Barbosa o único material a aproximar essas duas realidades pedagógicas distintas.

Ambos os assuntos, tanto as filarmônicas como o ensino coletivo de cordas heterogêneo, têm uma literatura significante que permite uma ideia bem clara acerca de sua origem, desenvolvimento, metodologias utilizadas, literatura específica e contexto atual.

Ambos temas mostram também um crescimento de trabalhos escritos acerca de suas práticas nos últimos anos, o que mostra o quanto importante tem sido o desenvolvimento, relevância e interesse no campo da pesquisa em música.

CAPÍTULO II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA