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CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.4. O ENSINO COLETIVO HETEROGÊNEO DE GILLESPIE E HARMNN

Como guia para a abordagem do ensino coletivo de instrumentos de cordas foi escolhida a feita por Gillespie e Harmann (2013) em seu Strategies for teaching strings. Vista a vasta experiência e tradição dos norte-americanos em matéria de ensino coletivo de cordas, presente neste país desde o início do século XIX, boa parte dos tratados mais completos que abordam esse tipo de ensino têm origem norte-americana. (YING, 2007, p. 10) Existem muitos métodos e tratados diferentes, mas a escolha da abordagem de ensino coletivo heterogêneo presente de Gillespie e Harmann (2013) é justificada por ser muito completa, clara, simples, pragmática, efetiva e atual, visto que segue todos os padrões curriculares americanos sobre ensino coletivo como o MENC/NAfME51 e o ASTA52, que delineiam e exigem quais as

técnicas, habilidades e repertórios que um ensino coletivo de cordas de qualidade e estruturado deve abordar. (GILLESPIE; HARMANN, 2013, p. xiii)

O Strategies for teaching strings é basicamente um tratado de ensino coletivo para cordas, muito completo, que aborda da história e origem dos instrumentos de cordas até estratégias lúdicas53 de ensino dos inúmeros mecanismos técnicos-musicais desses instrumentos.

Nosso objetivo neste livro é triplo: fornecer estratégias de ensino que promovam o desenvolvimento de habilidades individuais em todos os instrumentos de cordas

51 Music Educators National Conference (1994).

52 American String Teachers Association (1998) e o ASTA Curriculum Guide (2011).

53 São estratégias e exercícios próximos da vivência dos jovens aprendizes: utilizam nomes e imagens do imaginário infanto-juvenil. Abordam certos exercícios técnicos com dinamismo, como se fossem brincadeiras. Isso permite ao aprendiz de se aperfeiçoar tecnicamente de forma fluída e sem esforço. Ajuda-o a memorizar o exercício com facilidade e também contribui para a sua motivação.

friccionadas, oferecer estratégias de ensaio que ajudem os instrutores a avançar suas técnicas de conjunto de grupo e oferecer dicas sobre a construção de programas de orquestra escolar abrangentes. 54(GILLESPIE; HARMANN, 2013, p. xiii)

É um tratado muito abrangente, pois além de abordar cada sutileza técnica dos instrumentos de cordas, como postura, golpes de arco, mudança de corda e técnicas de mão esquerda, sugere também estratégias de ensino para cada instrumento em separado, dando soluções e exercícios lúdicos para cada elemento trabalhado. Além disso, oferece estrutura e planejamento para as aulas, com estratégias pedagógicas e de ensaio nos mais diferentes contextos no qual o ensino coletivo de cordas pode ser aplicado, como numa escola de música, escola regular de primeiro grau, de segundo ou até na universidade. Propõe também métodos e repertórios para serem aplicados nos mais diferentes contextos encontrados nos EUA, mas que também podem servir de inspiração para o Brasil.

Esse tratado propõe a aquisição dos meios técnicos do instrumento através de pequenos exercícios lúdicos minuciosamente descritos que permitem que o aluno aprenda a postura ou qualquer outro elemento técnico (como détaché, mudança de posição, postura dos dedos, vibrato e assim por diante) através do movimento, do relaxamento, da flexibilidade e da ludicidade. Essa abordagem é chamada de rote-to-note teaching sequence ou simplesmente rote teaching, ou rote instruction:

Os alunos a princípio geralmente aprendem as habilidades de forma mais eficaz através da rote instruction. A rote instruction é aquela apresentada sem o uso de notação impressa. Isso permite que os alunos se concentrem em suas habilidades instrumentais sem precisar ler a notação impressa ao mesmo tempo. 55 (GILLESPIE; HARMANN, 2013, p. 33)

Ou seja, o rote instruction é um ensino em que os alunos aprendem de cor certos exercícios, que remetem a imagens do seu cotidiano. Esses exercícios são geralmente transmitidos de forma oral, sem o suporte de partitura ou outra notação escrita. Esses exercícios são repetidos ao longo das aulas e fazem parte da rotina de aprendizagem. Por serem exercícios simples e memorizados pelos alunos, auxiliam muito na compreensão de elementos técnicos e musicais, muitas vezes complexos.56

54 Tradução nossa. Original em inglês: “Our goal in this book is threefold: to provide teaching strategies that foster individual skill development on all the bowed string instruments, to offer rehearsal strategies that help instructors advance their large-group ensemble techniques, and to offer advice on building comprehensive school orchestra programs.”

55 Tradução nossa. Original em inglês: “Students often learn playing skills more effectively first through rote instruction. Rote instruction is that which is presented without the use of printed notation. This allows students to focus on their playing skills without needing to read printed notation at the same time.”

56 Para mais detalhes, ver no Capítulo III o tópico “2.1 A Influência de Gillespie e Harmman (2013) e do seu rote teaching”.

Há também valiosas explicações do funcionamento dos instrumentos, sua manutenção e diferentes partes, assim como descrições precisas acerca da postura correta em todos os instrumentos de corda. O exemplo a seguir trata da disposição dos dedos da mão esquerda no violoncelo, eficaz e minuciosamente descrita, o que auxilia aos professores que não dominam totalmente a postura desse instrumento na prática a poderem explicar aos seus alunos como aplicarem uma postura correta, através da compreensão intelectual da mesma pelo professor:

Lembre-se que no violoncelo todos os dedos estão espaçados a meio tom, criando um intervalo de uma terça menor entre o primeiro e o quarto dedo. [...] As escalas de uma oitava de ré, sol e dó, tipicamente apresentadas pela primeira vez em classes de iniciantes em instrumentos de cordas, são todas tocadas de maneira idêntica ao iniciar com a corda solta da nota que é a tônica da escala. . 57 (GILLESPIE; HARMANN, 2013, p. 52)

O tratado conta também com explicações e recomendações que servem como fundamento e guia para a prática de ensino do próprio professor:

O início deste capítulo recomenda que os alunos desenvolvam a postura, a posição do instrumento, a fôrma da mão esquerda e as habilidades de posicionamento dos dedos independentemente das relacionadas à mão direita. Embora a instrução para o instrumento e a mão direita ocorra ao mesmo tempo, iniciando desde as primeiras aulas, o desenvolvimento independente dessas habilidades permite aos alunos a oportunidade de desenvolver o domínio através da revisão antes de tentar combiná- los. .58 (GILLESPIE; HARMANN, 2013, p. 53)

Os conselhos fornecidos ajudam a moldar e direcionar o ensino dos instrumentos de cordas de forma eficaz e muito funcional, permitindo um aprendizado mais rápido e descomplicado por parte do aluno:

É uma boa ideia para o professor de cordas dividir as habilidades técnicas maiores em menores, modelando-as, revisando-as com frequência e, em seguida, combinar sequencialmente as habilidades menores, levando a uma mais complexa.59 (GILLESPIE; HARMANN, 2013, p. 32)

57 Tradução nossa. Original em inglês: “Remember on the cello all fingers are spaced a half step apart, creating an interval of a minor third between the first and fourth fingers. […] The one-octave D, G and C-major scales typically first introduced in beginning string classes are all fingered the same when starting on the open string for the tonic pitch.”

58 Tradução nossa. Original em inglês: “The beginning of this chapter recommends that students develop body posture, instrument position, left-hand shape, and finger placement skills independent of bowing skills. Though instrument and bowing instruction should occur at the same time, beginning from the very first classes, the independent development of these skills allows students the opportunity to develop mastery through review before trying to combine them.”

59 Tradução nossa. Original em inglês: “It is a good idea for the string teacher to break larger skills into smaller ones, model each of them, review them frequently and then sequentially combine the smaller skills, leading to a more complex one.”

2.5.O ENSINO COLETIVO HETEROGÊNEO DO MÉTODO DA CAPO DE JOEL