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CAPÍTULO III A PROPOSTA DE ENSINO

3.3. OUTROS ELEMENTOS DE INFLUÊNCIA

É importante ressaltar que a essência da prática de uma filarmônica de cordas é norteada pela influência desses elementos das filarmônicas baianas que foram delineados logo acima. A influência das filarmônicas baianas é que gera a originalidade desse ensino no domínio das cordas. A influência do ensino gerada através da escolha do método de base utilizado é extra. Por exemplo, para o estudo de caso feito para este trabalho, outras influências foram originadas da necessidade de escolha do professor-autor de certas obras para nortearem a sua prática do ensino dos instrumentos de cordas. Foi necessário escolher um tratado de ensino coletivo de cordas, para ser a base de todo o ensino ligado à parte instrumental. Foi também necessário escolher um método como fio condutor de base para a prática de ensino. Essas duas obras tiveram também a sua influência no ensino aplicado no experimento em questão.79

3.3.1. A Influência de Gillespie e Harmman (2013) e do seu rote teaching

No ensino aplicado na filarmônica de cordas, muitos elementos estruturais e direcionais

do ensino foram inspirados nas filarmônicas, no entanto, tudo o que foi relacionado à parte das cordas especificamente, como os elementos da postura80, a ordem de apresentação dos elementos técnico-musicais81, os exercícios a serem aplicados e as estratégias de ensino tiveram o tratado de Gilllespie e Harmann (2013) como referência.

O rote instruction foi, na prática da filarmônica de cordas, aplicada através de exercícios que permitiram que os alunos aprendessem de forma simples elementos complexos da técnica de seus instrumentos, segue um exemplo de um desses exercícios:

79 É importante ressaltar que, se um outro professor quiser replicar o ensino da filarmônica de cordas e utilizar outro tratado e outro método de base, será influenciado por outros fatores inerentes a essa escolha. No entanto, isso não descaracterizaria o ensino da filarmônica de cordas, pois a sua essência é a influência metodológica originada das filarmônicas baianas.

80 O autor, por ser violinista e violista, precisou usar o método para consultar a postura e os elementos de ensino para os instrumentos do qual não tem domínio mas adquiriu conhecimento, como o cello e contrabaixo.

81 Por exemplo, primeiro foi apresentado alguns exercícios para já conscientizar o aluno da flexibilidade e mobilidade que a postura em geral os exige, depois foi trabalhado o pizzicato de mão esquerda, depois foram feitos alguns exercícios de arco, depois foi apresentada a postura da mão direita, em seguida alguns exercícios da mão esquerda e por aí em diante. Toda essa ordem de aparição assim como os exercícios e estratégias foram tiradas de Gillespie e Harmann (2013).

Ridin’ the Rails. Have each student slide their fingers up and down one string. Hopefully their fingers will not become “derailed”! 82 (GILLESPIE; HARMANN, 2013, p. 48)

Esses exercícios foram aplicados de forma oral e memorizados pelos alunos. Em cada aula, eram relembrados e aplicados para o desenvolvimento da mão direita, da mão esquerda e da postura corporal com o instrumento.

Os exercícios rote instruction usam como ponto de partida alusão a imagens do cotidiano e do imaginário dos jovens, relacionando-os com os elementos técnicos e musicais dos instrumentos de corda. Além disso, são exercícios que não usam nenhum suporte escrito, inclusive de partituras. Baseiam-se no aprendizado de memória e associativo. Alguns estimulam também a interação entre os colegas, o que reforça o aspecto cooperativo do ensino das filarmônicas.

Buddy bowing. Pair students up with one student bowing and the other checking and guiding the bow so that it travels parallel to the bridge correctly.83 (GILLESPIE; HARMANN, 2013. p. 60)

Outro exemplo de um exercício rote instruction presente em Gillespie e Harmann (2013):

Spyglasses and Telescopes. After students’ bow hand shapes are formed, have them look through the spyglass or telescope shape formed by their long finger and thumb. (p. 56)84

Esses exercícios estão presentes em dezenas em Gillespie e Harmann (2013) e abrangem inúmeros aspectos técnicos e pedagógicos de todos os instrumentos de cordas friccionadas. Fornecendo não só exercícios, mas também imagens e ideias dinâmicas que podem enriquecer muito o processo de ensino-aprendizagem do instrumento.

Esse tipo de abordagem faz parte da grande tradição e experiência americana com o ensino coletivo de cordas, que com certeza não podiam ser ignoradas. Assim como as filarmônicas e seus mestres, o ensino coletivo americano também já data de mais de um século e tem muito a ensinar. Suas práticas são facilitadoras e fruto de anos de experimentação.

Como foi dito anteriormente, o tratado de Gillespie e Harmann (2013), além do rote teaching, conta com valiosas explicações de como o instrumento funciona, assim como se deve portar e ensinar a boa postura nos mesmos. É voltado não só para o aluno, mas também

82 Tradução nossa: Deslizando nos trilhos. Peça a cada aluno que deslize os dedos para cima e para baixo de uma corda. Esperando que seus dedos não se tornem "descarrilados"!

83 Tradução nossa: Arco amigo. Dupla de estudantes em pé, com um estudante tocando com o arco e o outro observando e guiando-o para que ele passe paralelo ao cavalete corretamente.

84 Tradução nossa: Lunetas e Telescópios. Depois que a postura da mão [direita] estiver formada, peça aos alunos para olharem através da fôrma de luneta ou telescópio constituída pelo dedo médio e o polegar.

para o professor, devido às suas explicações e recomendações que servem para direcionamento do ensino em si e à sua estrutura. Esses conselhos fornecidos ajudam a moldar o ensino de forma muito prática e eficaz, o que descomplica e torna mais rápido e prazeroso o aprendizado do aluno.

3.3.2. Todos esses elementos listados são exemplos demonstrativos de como foi pensada a parte ligada ao ensino das cordas e encontram-se na base do trabalho aplicado na filarmônica de cordas. Em resumo, o tratado de Gillespie e Harmann serviu como consulta e referência teórica para a parte específica do ensino da técnica instrumental. Foi útil também para incorporar a prática do rote teaching na essência do planejamento das aulas. (p. 43-44) (ver anexo “Planejamento das aulas”) Sendo assim, o rote teaching é um dos elementos mais importantes da prática de iniciação em instrumentos de cordas da filarmônica de cordas.

3.3.2. Influência do método Da Capo: Cordas de Joel Barbosa

Mesmo tendo muitas semelhanças e excelente adaptabilidade ao ensino das filarmônicas de cordas, o método Da Capo: Cordas possibilitou o acréscimo de algumas ideias que foram por fim também incorporadas a essa prática.

1. Ao aplicar a improvisação, a imitação e a composição, esse método permitiu aproximar o ensino da filarmônica de cordas da própria prática popular da música brasileira, que também está presente na prática das filarmônicas, mas que é raramente incorporada ao ensino de cordas.

2. Permitiu também trazer ao nível do aluno as práticas que inicialmente deveriam ser aplicadas apenas pelo mestre de orquestra, como o compor e o arranjar.

3. Ao propor dinâmicas e brincadeiras que trabalham de maneira lúdica elementos complexos como a improvisação e a imitação, permitiu romper com o tradicionalismo ainda muito forte no ensino das cordas.

3.4. SÍNTESE DOS PRINCIPAIS INFLUECIADORES DO ENSINO APLICADO