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Accionistas Atuais FC Porto, Futebol SAD

9. Material e métodos

Neste capítulo pretendemos apresentar o quadro metodológico deste estudo. De acordo com Garcia (2002)8 a metodologia é uma ferramenta analítica utilizada pelo investigador para descrever e discutir o objeto escolhido com objetividade, clareza, pormenor e rigor, sem, contudo, atropelar a sua liberdade e criatividade. Desta forma, a metodologia representa o caminho que temos que percorrer através de um conjunto de métodos sistemáticos e coerentes e de procedimentos instrumentais e que nos permitirá alcançar os objetivos propostos num estudo. Albarello (1997) acrescenta mesmo que a metodologia deve ser escolhida, em função dos objetivos da investigação ou do estudo, em função dos resultados desejados, ou ainda do tipo de análise esperada.

Nesse sentido, compreende-se que a utilização de uma metodologia, seja ela quantitativa ou qualitativa, vai depender do propósito da investigação. Reis (2010) entende que uma abordagem qualitativa de pesquisa tem como objetivos principais interpretar e dar significados aos fenómenos analisados, descrever a complexidade de um específico problema e compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais. Nesta perspetiva, quando se pretende descrever e explicar a organização, de uma maneira específica, o método mais aconselhável é o qualitativo.

Sendo assim, no que diz respeito a este estudo pareceu-nos que a metodologia adotada teria de ser de natureza qualitativa uma vez que para a concretização dos objetivos que pretendíamos alcançar importava-nos particularmente a utilização de métodos de pesquisa que derivam deste tipo de metodologia.

De acordo com Thomas, Nelson & Silverman (2010) numa pesquisa qualitativa são muitos os componentes envolvidos na recolha de dados. Segundo Bogdan e Byklen (1994), Tuckman (2005), Quivy e Campenhoudt (2005) e Denzin e Lincoln (2011) existem três grandes grupos de métodos de recolha de dados que se podem utilizar como fontes de informação nas

investigações qualitativas: a observação; o inquérito, o qual pode ser oral – entrevista – ou escrito questionário; e a análise de documentos.

As técnicas de recolha de dados utilizadas neste estudo compõem-se da análise documental e da observação participada.

Para Carmo e Ferreira (1998) a análise documental é um processo que envolve seleção, tratamento e interpretação da informação existente em documentos (escrito, áudio ou vídeo) com o objetivo de extrair algum sentido. Como tal nesta análise o investigador faz recolha e verificação dados relevantes contidas em documentos, e depois os analisa com o objetivo de identificar informações úteis para o seu campo de estudo.

Assim, a técnica da análise documental caracteriza-se por ser um processo dinâmico ao permitir representar o conteúdo de um documento de uma forma distinta da original, gerando assim um novo documento (Peña Vera & Pirela Morillo, 2007).

Quivy e Campenhoudt (2005, p. 201) utilizam o termo “recolha de dados preexistentes”, onde se pode enquadrar a análise documental. Os autores indicam que o investigador pode recolher dados para estudá-los por si próprios ou para encontrar informações úteis para estudar outros objetos. Estes documentos podem ser manuscritos, impressos ou audiovisuais, oficias ou públicos, privados ou provenientes de um organismo, contendo texto ou números.

Conforme a problemática acerca da organização do FC Porto apresentada anteriormente neste estudo e os objetivos propostos para serem alcançados, procurou-se realizar uma pesquisa de identificação em termos legais, institucionais e funcionais para compreender as principais transformações ocorridas no clube. Para tal tornou-se crucial recolher e tratar um conjunto vasto de informações derivadas de documentos internos e oficiais e documentos não oficiais, documentos legais e não legais respeitantes ao FC Porto e aos seus contextos juridico-desportivos.

A análise de documentos e a interpretação jurídica foram as práticas a que recorremos para tratarmos convenientemente a informação disponibilizada, que se traduziu num corpus documental composto essencialmente por:

 Estatutos do FC Porto e do FC Porto, Futebol SAD;

 Relatórios e Contas adstritos a estas entidades;

 Documentação interna e oficial e não oficial do Grupo FC Porto;

 Legislação constitucional, da lei de bases do setor desportivo e de regulamentação avulsa.

Procedemos naturalmente á revisão da literatura no domínio dos temas respeitantes ao nosso trabalho de forma a procedermos a construção e análise do seu campo teórico. Conforme Denscombe (2007), a revisão de literatura enquadra-se na análise documental, devendo esta ser uma esta etapa que todo o investigador deve envolver na sua investigação. Esta pesquisa bibliográfica ocorreu então durante todo o andamento desse estudo, indo sempre de acordo com a delimitação do tema proposto e consequentemente balizando os materiais e métodos propostos.

Assim, durante todo o processo, foi indispensável reunir um vasto apoio de artigos, teses e livros de acordo com o tema, utilizando a Biblioteca da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP), as bases de dados eletrónicas tais como: EBSCO, Proquest Dissertations & Theses e Scielo, e sites, como: Google acadêmico.

Tendo em conta a particular posição do autor deste trabalho no interior da organização do Grupo FC Porto, visto que o mesmo realizou um estágio profissionalizante no departamento de formação da FC Porto – Futebol, SAD, entendemos que a observação participada não podia ser descurada no presente trabalho quer para a recolha dos dados quer para a interpretação e tratamento dos mesmos.

Para Estrela (1994, p. 35) “a observação participada corresponde a uma observação em que o observador poderá participar, de algum modo, na atividade do observado, mas sem deixar de representar o seu papel de observador e, consequentemente, sem perder o respetivo estatuto. Convirá, ainda, acrescentar que a observação participada se orienta para a observação

em que o pesquisador toma parte do quotidiano do grupo ou organização pesquisada, até desempenha tarefas regularmente, tudo com o intuito de entender em profundidade aquele ambiente em que se encontra inserido.

Neste contexto, foi possível ao autor deste trabalho ter contacto direto com os responsáveis de diversos departamentos do Grupo FC Porto. Este contacto para além de nos ter sido possível dialogar acerca do funcionamento e da gestão de cada uma das empresas pertencentes ao grupo, foi-nos facultado documentação variada, como por exemplo, textos e apresentações internas, livros relativos ao FC Porto publicados pelo seu Conselho Cultural, e relatórios de mapeamentos de processos. Na nossa opinião esta ferramenta revelou-se ao longo de toda a pesquisa um instrumento valiosíssimo para compreendermos o dia a dia desta organização desportivo-empresarial, que é o Grupo FC Porto.

10. Conclusão

Achamos pertinente iniciar a conclusão do nosso estudo com título do mesmo “Um olhar sobre o passado e o presente: O enquadramento sob ponto vista legal, institucional e funcional do Grupo FC Porto” porque tentou-se de certa forma retratar aquilo que foram as principais transformações ocorridas ao longo dos anos no contexto do futebol, e especificamente nas suas organizações desportivas.

Do ponto de vista legal, o presente estudo concluiu que a mudança do FC Porto clube para a FC Porto, SAD se notabilizou pela modificação relativamente com à posição do clube com a sociedade em geral, pois o que era apenas uma ligação clubística com os seus adeptos, transformou-se numa relação com outros intervenientes ligados ao modelo empresarial. As SADs são assim uma sociedade desportiva com direitos específicos estabelecidos no seu regime jurídico (RJSD), composta por acionistas com ações cotadas no mercado da bolsa de valores. Verifica-se assim, que as SADs têm a obrigação, de toda e qualquer operação realizada no interior da mesma, de informar ao mercado Comissão do Mercado de Valores Imobiliários (CMVM). Pode-se concluir então que através desta nova forma jurídica, as referidas sociedades

conseguiram assim, por via das correspondentes ofertas públicas, obter financiamento adicional para as suas atividades, adquirindo simultaneamente maior visibilidade e exposição pública dos seus negócios.

Por outro lado, através da publicação do Decreto-Lei n.º 67/97 (RJSD) foi estabelecido que os clubes desportivos que pretendem participar em competições desportivas profissionais poderiam optar por assumir o estatuto de SAD, ou manter o seu atual estatuto de pessoa coletiva sem fins lucrativos (clubes). Verifica-se deste modo, que a criação da sociedade foi considerada como facultativa, mas os clubes que não optem pela sua criação ficam sujeitos a um regime especial de gestão.

Concluí-se, que a constituição da FC Porto, Futebol SAD regeu-se pela alínea b) do artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 67/97, pois tratou-se da personalização jurídica de uma equipa já existente na estrutura do FC Porto que passou a ter autonomia em todas as matérias, resultando assim na criação da sociedade anónima desportiva “Futebol Clube do Porto, Futebol SAD”. Desta forma a FC Porto, SAD emerge da entidade FC Porto, tendo como grande objetivo a gestão única e exclusiva do futebol profissional anteriormente realizado pelo FC Porto.

Assim, pode-se compreender que a grande alteração ao nível da direção institucional sofrida pelo clube, deve-se ao fato de que o departamento de futebol, através da constituição da SAD, passou a ser gerido pelo conselho de administração da respetiva sociedade desportiva, continuando a ser presidente deste concelho o também presidente do clube Jorge Nuno Pinto da Costa.

Do ponto de vista funcional, percebe-se que em termos de estrutura e principalmente de funcionalidade o FC Porto teve que se adaptar para fazer frente a esta nova realidade global do futebol-negócio, criando assim uma nova lógica e um novo modelo. O Grupo FC Porto, é assim considerado um novo modelo organizativo implementado, voltado para uma lógica empresarial. Assim sendo, é possível constatar que no interior deste grupo, desta “macro- empresa”, constituem-se várias pequenas empresas incluindo entre elas a FC Porto, Futebol SAD. Estas empresas surgem assim, com o objetivo de dar uma

nova dinâmica organizativa e de permitirem uma maior segmentação e especialização dos serviços integrados do grupo.

Foi através do “Projeto Vencer” que o Grupo FC Porto implementou um novo Modelo Operativo. Modelo que reorganizou e agrupou todas as empresas pertencentes do Grupo em quatro grandes unidades operacionais (Desporto; Comercial; Operacional; Serviços Partilhados e Corporativos). E cada uma dessas unidades operativas desenvolvem a sua intervenção e o seu negócio nas áreas em que se encontram destinadas. Desta forma, este modelo operativo permitiu fundamentalmente uma especialização das funções de cada um dos intervenientes que integram essas unidades operacionais, criando também um modelo de articulação entre todos no sentido de potenciar o rigor e o método nos princípios organizacionais e de gestão.

Podemos concluir que, após a análise realizada sobre todas as transformações ocorridas, tanto do ponto de vista legal, institucional e funcional, no momento em que o FC Porto deixou o seu modelo tradicional e passou a ser uma SAD, caminhou para um novo modelo de gestão e deixou de ser apenas um clube e passou a ser constituído pelo Grupo FC Porto, uma grande empresa (empresa-mãe) composta por tantas outras empresas, entre elas a FC Porto Futebol SAD.