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Um olhar sobre o passado e o presente: O enquadramento sob ponto de vista legal, institucional e funcional do Grupo FCPorto

3. O Século XXI: A Necessidade de Mudança

“O Futebol é uma actividade construída pelo Homem e, portanto, um fenómeno cultural, o que quer dizer que será aquilo que dele fizermos. A magnitude do protagonismo social deste jogo desportivo, justifica plenamente que o mesmo se constitua como um exemplo de modelo desportivo evoluído, uma actividade organizada e humanizante, o que decorre não apenas de uma necessidade funcional, mas também de um imperativo ético e moral” (Garganta, 2002, p. 77)

Atualmente, o futebol é um fenómeno de extrema importância, tendo grandes repercussões na sociedade contemporânea. O futebol influência diversos setores da sociedade, tais como o sector económico, social e cultural. O que significa, que as funções do desporto em geral, e do futebol em particular, abarcam variadas áreas na sociedade, nomeadamente educativa, saúde pública, social, cultural e recreativa (Arnaut, 2006).

Nenhum outro desporto mobiliza o interesse de multidões como o futebol, sem distinção de idade, sexo, raça, crença, estatuto social ou económico. Garganta (2006) afirma que o futebol alcançou uma popularidade sem precedentes na história da humanidade, afirmando-se como a modalidade desportiva de maior expressão mundial constituindo-se um fenómeno de atracção de massas inigualável. Esse fenómeno transformou a actividade de lazer (jogo) num espetáculo de massas, mantendo inalterável ao longo do tempo, todos os ingredientes vitais do show desportivo.

 A nível sócio-cultural, fomento da cultura, ocupação dos tempos livres e desenvolvimento de valores;

 A nível sociológico, com o aumento da cidadania bem como da identidade local ou nacional;

 A nível político, com a promoção dos regimes e destaque internacional dos países;

 A nível económico, devido ao desenvolvimento das economias locais, restauração e turismo, construção civil, e criação de emprego.

Com o advento da globalização, o futebol passou a ser visto não só como um desporto mas também como um negócio, sendo assim uma das poucas atividades com capacidade para captar interesse em todo o mundo. O desporto retratado é, e continuará a ser, um elemento de ligação entre vários povos e culturas e nos últimos tempos, através da televisão e novas tecnologias, criou-se uma profissionalização da modalidade, quebrando fronteiras entre os vários países (Faria, 2000).

No século XXI, o futebol passou a dar mais ênfase ao espectáculo desportivo, desenvolvendo a actividade de lazer, que passou a gerar um maior interesse financeiro, face ao século passado. Segundo Sobral (2000, p. 21) “o futebol é cada vez mais um produto, nós somos cada vez menos adeptos e cada vez mais consumidores”

Face a esta conjuntura o futebol apresenta grande complexidade organizativa envolvendo o relacionamento com agentes e instituições com atuação vinculada ao negócio do futebol. Agentes com estatutos diferenciados que se repercutem em papeis e funções distintas, mas que convergem a sua ação de forma a potenciar o negócio em causa. As instituições distinguem-se em entidades de práticas desportivas (clubes e ligas) e entidades nacionais de administração do desporto (federações e confederações.

Para uma melhor adequação a este modelo económico perspectivou-se como necessário a constituição das Sociedades Anónimas Desportivas

(SAD´s) em muitos países da Europa, não tendo Portugal sido excepção após 19973.

Face às dificuldades financeiras dos clubes nacionais, na época, o enquadramento legal apresentado despertava nos dirigentes sentimentos de esperança, relativamente à solução de muitos dos problemas do sector. Surgiram assim várias SAD’s, no sentido de rentabilizar o espectáculo de futebol, mas sobretudo para marcar um momento de viragem na gestão dos clubes profissionais de futebol, alicerçada na transparência, rigor e gestão profissional destas organizações desportivas (Maças, 2006).

Ademais, tal como salienta Tenreiro (2000) a imagem fornecida pelo futebol tem capacidade para influenciar a sua capitalização bolsista, como tal, torna-se fundamental profissionalizar este sector, transformando os clubes/associações em sociedades desportivas. E na realidade assim acontecem, “em 1997, foi criada a figura jurídica das sociedades anónimas desportivas (SAD) como entidades vocacionadas para a organização e gestão do desporto profissional nos clubes, as quais, para o efeito, têm um estatuto societário específico em certas vertentes, e no geral reportam para os requisitos jurídicos das restantes sociedades anónimas comerciais. As empresas criadas passaram a responder gestionariamente, quer em concretização de estratégias e objectivos quer nos resultados financeiros e económicos, perante os seus “stakeholders”, entre os quais se encontram agora os seus financiadores por excelência, isto é, os seus accionistas (“shareholders”).”(Pires, 2007, pp. 165-166).

De acordo com o exposto, o FC Porto sentiu a necessidade de criar, e até face ao panorama normativo em vigor, esse novo modelo organizativo, a SAD, no sentido de autonomizar o setor profissional do futebol passando a ser gerido pelo órgãos e estruturas próprias que se dedicassem exclusivamente a gestão única do futebol, como melhor veremos adiante.

As competições, cada vez mais acirradas, no próprio mercado nacional, têm impulsionado a implementação de formas de organização societária.

Num estudo realizado pelo Centro de Estudos em Gestão e Economia Aplicada da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica, no Porto, juntamente com a empresa Deloitte, e solicitado pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) é possível verificar, ao longo das épocas desportivas, um aumento significativo do volume de négocios praticados pelos clubes da Primeira Liga (Universidade Católica Portuguesa & Deloitte, 2011).

No gráfico a baixo é possível constatar esse aumento considerado dos negócios ao longo dos anos, tendo se balizado em valores na ordem de mais de 300 milhões de euros.

Gráfico 1: Volume de Negócios agregado dos clubes da Primeira Liga (Valores em milhões de €)

Fonte: Adaptado do estudo da Universidade Católica e Deloitte (2011)

4. Caracterização da Instituição Futebol Clube do Porto