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5. O SEQUESTRO DE DAVID ROHDE E O MEDIA BLACKOUT

5.2 O media blackout

Praticamente nada do sequestro de David Rohde foi publicado pela imprensa interna- cional. Considerando que o fato congrega alguns dos valores-notícia que já citamos previa-

mente, era de se esperar que os principais veículos dessem matérias relacionadas ao caso. A- final, o sequestro é marcado pelos valores de:

a) Relevância - por conta da ocupação dos EUA, o sequestro de um jornalista ameri- cano em solo afegão é um sinal de quão falha tem sido toda a operação, já que não conseguiu diminuir o domínio do Taliban. Para o povo americano, é importante saber esses detalhes, visto que muitos soldados já morreram no Afeganistão e que a guerra é custeada com o dinheiro dos impostos.

b) Atualidade – na época do sequestro, o fato era novo.

c) Inesperado – sequestros de jornalistas não são (e eram menos ainda em 2009) algo rotineiro.

d) Conflito e infração – o fato envolve crime, violência e violação das leis internacio- nais.

e) Personalização e dramatização – a história de Rohde e de sua família poderia ren- der alta carga de dramatização.

f) Comunidade jornalística – a comunidade jornalística tende a se sensibilizar e dar destaque a casos que envolvam os seus.

Ainda assim, a mídia silenciou. Esse processo em que a imprensa se cala propositada- mente diante de determinado tema ou fato é chamado pelos jornalistas americanos de media

blackout, ou blackout midiático.

No caso de Rohde, dois atores foram fundamentais para que isso ocorresse. O primeiro deles foi a família. Kirsten, sua esposa, e Lee, seu irmão, aconselhados por um grande conjun- to de pessoas, inclusive analistas do FBI e uma empresa de segurança contratada para auxiliar a negociação com os sequestradores, decidiram que o melhor seria manter o caso em segredo. O segundo, e o mais decisivo, foi o New York Times. A influência e respeito do jornal foram os responsáveis por convencer a imprensa mundial a não noticiar o sequestro de Rohde. É preciso dizer, porém, que o jornal decidiu apoiar a posição da família e o conselho de especia- listas, mas que questionou essa atitude algumas vezes.

Houve dois principais motivos para que isso fosse feito. A família, o jornal e analistas acreditavam que levar a história ao conhecimento do público poderia pôr em risco a segurança dos três reféns. Entendia-se que, se o Taliban de alguma forma pensasse que Rohde era al- guém muito importante, poderia pedir muitos milhões em resgate. Da mesma forma, se a notí- cia se espalhasse e os terroristas chegassem a divulgar algum vídeo em que fizessem exigên- cias (como, por exemplo, que os EUA retirassem suas tropas do Afeganistão) e impusessem um deadline para que fossem atendidas, seriam “moralmente6” obrigados a matar os reféns caso não obtivessem o resultado esperado dentro do prazo estipulado.

Enquanto empresas de comunicação entram em conflito por conta dos blac- kouts porque se dividem entre a responsabilidade essencial de noticiar e o desejo de ajudar os colegas, empresas de segurança não passam por esse conflito. Sua única obrigação é para com o cliente. A cobertura da imprensa, eles acreditam, pode complicar sensivelmente as negociações e aumentar a o pedido de resgate. Também acreditam que lidar com a imprensa e responder à demanda dos jornalistas é um tremenda distração durante um período de crise. Ao menos que haja um objetivo específico para ser atingido através da mídia, elas argumentam, é melhor manter as coisas em segredo (SIMON, 2014).

Outro ponto importante é que considerava-se que a publicidade do caso poderia incen- tivar novos sequestros e atos terroristas. Como já vimos, boa parte dos atentados visa causar medo e pânico e utiliza a imprensa como meio para atingir esse fim.

O processo de negociação com os sequestradores ficou a cargo da esposa de David, Kirsten Mulvihill, e de seu irmão, Lee Rohde. Foi deles a decisão de não ir a público anunciar o sequestro e de fazer o possível para evitar que a notícia vazasse. A articulação entre eles e o New York Times, o principal ator no processo de manter o assunto fora da imprensa, foi fundamental para o sucesso do media blackout.

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O código de honra pashto, etnia dominante no Afeganistão, chama-se Pashtunwali, tem cer- ca de 5 mil anos e em certas regiões tem muito mais valor que as leis. Segundo o código, todos os pashtuns devem ser hospitaleiros, se vingar daqueles que os insultam ou ferem, proteger a honra das mulheres e sempre mostrar bravura, força e lealdade. Os homens pashtuns não podem chorar ou demonstrar fraqueza diante dos outros.

O primeiro desafio foi conter o boato que se espalhava pela própria comunidade jorna- lística. Os primeiros a saberem do sequestro foram os outros repórteres do escritório do New York Times em Kabul, que por sua vez informaram a diretoria do jornal em Nova York e es- tes informaram a família de Rohde. A informação começou a se disseminar entre colegas de jornal e, depois, ganhou repercussão entre profissionais de outros veículos.

Nos primeiros dias do sequestro, a família contou com a camaradagem dos colegas de imprensa (Kirsten também trabalha no meio) e a influência do New York Times para manter a história longe do público. Entretanto, logo se tornou visível que qualquer informação que fos- se repassada a algum amigo jornalista rapidamente de espalhava entre outros repórteres. Cou- be ao jornal, a pedido da família, a pressionar seus empregados a manter a descrição.

Especialmente nos primeiros meses, o Times se envolveu no processo de negociação, juntamente com o FBI e com uma empresa privada especializada em sequestros. Esse proces- so aproximou a família de Rohde da direção do jornal. Uma das primeiras reuniões da equipe foi realizada no prédio do jornal e contou com a presença de editores e membros do alto esca- lão, como Arthur Sulzberg Jr., publisher, e Bill Keller, editor-executivo. Também participou da reunião David McCraw, membro do conselho editorial, e que serviu de interlocutor entre a família e a equipe de experts em segurança. Foi nesse encontro que o jornal anunciou que apoiaria a decisão tomada pela família de manter o caso fora da mídia.

Bill Keller calmamente diz que nossa família tem todo o suporte da equipe do NYT e que o jornal fará de tudo para assegurar a libertação de David. E- les irão honrar nosso desejo de manter o caso de David fora da imprensa. Lee e eu concordamos que é o melhor a se fazer no momento. Nós achamos, baseado nos conselhos dados pelo FBI, que visibilidade só irá aumentar o valor de David enquanto refém. E nós sabemos que David não iria gostar de ser personagem de uma matéria de jornal7. (ROHDE & MULVIHILL, 2010, p. 56).

A pedido do Times, ao menos 40 organizações midiáticas, desde as maiores, como o The Wall Street Journal, aos menores, como o site Gawker, mantiveram silêncio, durante sete meses, sobre o sequestro de Rohde.

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Nós agonizamos em torno disso desde o começo e repetidamente ao longo dos sete meses em que David foi mantido refém. Nós estamos no mercado de notícias. Não gostamos de esconder uma história. Ao mesmo tempo, al- gumas vezes suprimimos informações quando estamos convencidos que pu- blicá-la pode pôr vidas em perigo. Especificamente, nós suprimimos infor- mações sobre sequestros a pedido de outras organizações. O conjunto de conselhos que recebemos de outras pessoas que passaram por uma situação semelhante, de experts em situações com reféns e de membros do governo era de que ir a público aumentaria o risco para David e seus companheiros. Essa foi a visão da família ao longo do tempo e, com algumas ressalvas, a minha. Basicamente, os argumentos pelo silêncio eram que a visibilidade do caso iria aumentar bastante a percepção dos sequestradores sobre o valor de David, poderia causar grande número de rumores (como, por exemplo, de que David era um espião), que iria criar um confuso conjunto de falsas pistas e falsos intermediários, que implicaria na sua já devastada família ser bom- bardeada com atenção da mídia e que, em todo caso, o Taliban não é propri- amente conhecido por considerar a opinião mundial. Houve visões contrá- rias, é claro, e por vezes nós revisitamos esse assunto. (Bill Keller, em entre- vista concedida a Katia Bachko. Junho de 2009).

Foram muitos os atores nesse processo. Várias pessoas, entre jornalistas e membros do governo americano, indicaram que evitar o assédio da imprensa seria a melhor opção. O FBI é o primeiro a sustentar essa posição, ao dizer a família de Rohde que publicidade pode contri- buir para que os sequestradores considerassem o jornalista um refém valioso e peçam quantias muito altas como resgate.

O jornalista paquistanês Ahmed Rashid, amigo de David, também foi um dos que a- conselhou Kirsten a ficar fora da imprensa. Especialista na cobertura do Taliban, Rashid diz acreditar que os radicais dificilmente sucumbiriam à pressão moral por trás da ideia de que manter refém um jornalista seria errado. Ele também argumenta que, caso o sequestro fosse divulgado na imprensa, Rohde poderia se tornar um peão em um jogo político muito maior ou mesmo uma moeda de troca nos conflitos entre o Taliban e o governo afegão. (ROHDE & MULVIHILL, 2010, p. 60).

Entidades internacionais são consultadas e indicam que manter o silêncio é o caminho certo a seguir. O Comitê para Proteção de Jornalistas, a ONG Repórteres Sem Fronteiras e a Human Rights Watch indicam que, baseado em casos recentes de outros jornalistas sequestra- dos ou detidos em diferentes lugares do mundo, ir a público só ajuda quando o autor da ação é um governo ou entidade que de alguma forma se preocupa com a imagem pública.

Foi o caso do correspondente da BBC Alan Johnston, capturado em 2007 em Gaza por um pequeno grupo conhecido como Exército do Islã. A BBC, juntamente com a família de Johnston, orquestrou uma campanha mundial pela sua libertação, o que influenciou o Hamas a pressionar o grupo. Ainda assim, o jornalista só foi libertado depois de quatro meses de cati- veiro.

Entretanto, em situações em que os autores do sequestro são grupos sem conexão com um governo (ou entidade com poder semelhante a um, como era o caso do Hamas), as três instituições argumentaram que manter o caso em privado seria mais proveitoso. Um exemplo citado por eles foi o da a jornalista canadense Melissa Fung, também sequestrada no Afega- nistão em outubro de 2008. A CBC, empresa onde trabalhava, organizou um blackout da im- prensa sob o argumento de que a atenção da imprensa terminaria por complicar o processo de negociação e pôr sua vida em risco. Vinte e oito dias depois do sequestro, ela foi libertada.

A então secretária de Estado do governo americano, Condoleeza Rice, também susten- tou essa opinião. Ela defendeu que, como os sequestradores não são membros de um governo legítimo, provavelmente são imunes a pressão moral. Outros membros do cenário político dos Estados Unidos, como o Senador John Kerry, sustentaram essa posição (ROHDE & MULVI- HILL, 2010, p. 154).

Vozes contrárias ao media blackout também se fizeram presentes. Em A Rope and A Prayer, Kirsten se refere a um colega de Rohde em Kabul que defende veementemente que a família e o jornal tornem o sequestro público.

Já um repórter americano que também havia sido sequestrado e passou 45 dias nas re- giões tribais do Afeganistão, Jere Van Dyk, também aconselha Kirsten a não ir a público, por considerar que seria muito perigoso. Nic Robertson, correspondente internacional sênior da CNN, faz o mesmo (ROHDE & MULVIHILL, 2010, p.260).

Á medida que a situação vai avançando, algumas situações vão colaborando para re- forçar o posicionamento da família. Quando os sequestradores começam a exigir a libertação de prisioneiros talibans em troca da libertação dos reféns, fica claro para a família e para o jornal que tornar o caso público poderia contribuir para que os reféns servissem como de- monstração do poder do grupo (ROHDE & MULVIHILL, 2010, p. 69).

Em fevereiro de 2009, os sequestradores tentaram vender um vídeo para algumas em- presas de comunicação. Há relatos de que BBC e outros veículos se recusam a comprá-lo, mas a Al Jazeera acaba pagando pelo conteúdo. A rede de televisão árabe chega a veicular um

teaser de 12 segundos em que aparecem os três reféns. O vídeo era o anúncio de uma trans-

missão maior que aconteceria depois. Bill Keller, editor executivo do Times, entrou em conta- to com a empresa em Doha e convenceu o alto comando a não mais exibir o vídeo, alegando que poderia pôr em risco as vidas de Rohde, Tahir e Assad.

O Nem York Times sai em nosso auxílio. Temos medo de que o vídeo vaze e acabe na internet. Nossa maior preocupação é que a exibição dê aos se- questradores a atenção e notoriedade que procuram ao tem como refém um americano. Não queremos que David seja usado para um espetáculo político. Não queremos que ele seja usado para testar ou desafiar a nova administra- ção Obama (ROHDE & MULVIHILL, 2010, p. 172)

Com o episódio do vídeo, a família de Rohde passa por sessões de media training caso a notícia do sequestro vaze e seja preciso, então, que o Times assuma a situação e reporte-a também. Uma nova ameaça de vazamento acontece quando é anunciado que Rohde ganhou o prêmio Pultzer junto com outros jornalistas do Times por uma cobertura coletiva no Paquistão e Afeganistão. Nesse momento, o jornal avisa à família que alguns veículos podem optar por dar a história. Isso leva a crer que nem a influência do maior jornal do mundo poderia ser su- ficiente diante da sede da imprensa por boas histórias que, consequentemente, rendem grande audiência. Afinal, a potencialidade dos fatos enquanto notícia é bastante alta: um jornalista americano seria impedido de receber o maior prêmio do jornalismo porque era mantido em cativeiro por radicais islâmicos. Além das altas doses de dramaticidade, a história tem valo-

res-notícia como crime, violência, sofrimento humano, descontinuidade com a rotina habitual e notabilidade.

O jornal, porém, afirma que manterá o silêncio sobre o caso, ao menos que a noticia seja dada por outro veículo. Nesse caso, segundo o relato, o advogado da empresa, David McCraw, teria sugerido que o Times preparasse um comunicado oficial confirmando o se- questro e explicando os motivos que os fizeram manter a história longe dos holofotes. A prin- cipal alegação oferecida ao público seria a segurança dos reféns. Em entrevista concedida à repórter Katia Bachko logo após a divulgação da fuga de Rohde, Bill Keller afirma que houve a preocupação de que a história fosse, jornalisticamente falando, boa demais para que os jor- nais resistissem à tentação de publicá-la. Entretanto, nada foi veiculado na imprensa. A nota, que não chegou a ser divulgada, dizia o seguinte:

David Rohde, 41, correspondente do The New York Times, que estava em licença para escrever um livro sobre o Afeganistão, foi sequestrado a sul de Kabul em 10 de novembro, junto com seu fixer, Tahir Luddin, e seu motoris- ta, Asadullah Mangal. Rohde foi fazer uma entrevista com um comandante do Taliban na Província de Logar, mas não voltou. Informações indicam que Rohde e seus colegas afegãos estão sendo mantidos reféns pelo Taliban. As famílias dos três homens estão fazendo todo o possível para assegurar sua li- bertação e nós estamos atuando em seu suporte.

Desde os primeiros dias do acontecido, a visão que prevalece entre a família de David, experts em casos de sequestros, membros de diversos governos e outros que consultamos foi de que levar o caso ao conhecimento do público poderia tornar a situação dos três ainda mais perigosa. Nós decidimos respei- tar essa recomendação, assim como fizemos em outros casos de sequestros, e um grande número de outros veículos de comunicação que souberam do caso de David fizeram o mesmo. Mas agora que outros veículos decidiriam noti- ciar a história, nos restaram poucas opções. […] As famílias, esposas e fi- lhos, amigos e colegas de trabalho, todos aguardam o retorno dos três em se- gurança (ROHDE & MULVIHILL, 2010, p. 258).

Em 8 de junho, um outro fato pôs a família e o Times em alerta. O Huffington Post publicou uma matéria sobre jornalistas americanos sequestrados e presos em países estrangei-

ros e incluiu o nome de Rohde. Uma pequena biografia acompanhada da frase “ainda desapa- recido” figurava na lista de repórteres vítimas de grupos terroristas e governos totalitários.

“Eu fiquei chocada com o fato do site não ter consultado nossa família. Ainda que não seja o segredo mais bem guardado, é de conhecimento geral da comunidade jornalística que o caso de David está sendo mantido fora da imprensa por precaução”8

(ROHDE & MULVI- HILL, 2010, p. 281)

Mais uma vez, a influência do Times foi decisiva para que a situação fosse contornada. A pedido de Kirsten, a vice presidente de comunicação do jornal, Catherine Mathis, entra em contato com Arianna Huffington (co-fundadora do Huffington Post, na época a frente do site) e pede a remoção do conteúdo relacionado a David Rohde. Segundo relato de Kirsten. Mathis desempenhou um papel fundamental no mapeamento de toda e qualquer faísca de atividade midiática que possivelmente pudesse se relacionar ao sequestro do jornalista americano e, consequentemente, convencendo os veículos responsáveis a não publicar nada sobre o assun- to. “Eu digo a ela9

que não tenho receio de contatar Arianna Huffington e dizer-lhe que será sua culpa se algo acontecer a David por conta dessa publicação. Mas não houve necessidade. O Huffington Post honra o pedido de Catherine e imediatamente remove o nome de David e sua foto” (ROHDE & MULVIHILL, 2010, p. 281).

Contudo, vozes contrárias ao media blackout também se fizeram presentes. Em A Rope and A Prayer (2010), Kirsten se refere a um colega de Rohde em Kabul que defende veementemente que a família e o jornal vão a público sobre o sequestro.

Um dos colegas de David, que é repórter em Kabul, manifesta um desejo muito forte de ir a público. Nós nos falamos quase todas as noites por Skype. Isso, o repórter diz, é o que ele iria querer se estivesse no lugar de David. Eu tenho um respeito muito grande por esse jornalista, que é versado nas nuan- ces da cultra afegã. Ele diz que tornar o caso público irá pressionar o Taliban a libertar David. O repórter me diz que a maioria dos afegãos confia em jor- nalistas e que recentemente Mullah Omar declarou que o Taliban deveria se abter de sequestrar jornalistas. O repórter acha que fazer uma campanha pú-

8

Relato de Kirsten Mulvihill

9

Kirsten se refere a Catherine Matis, porta-voz do New York Times. Nesse caso, é ela que entra em contato com o Huffington Post para pedir a remoção do conteúdo relacionado a David Roh- de

blica iria acelerar a libertação de David. Entretanto, o FBI e membros do go- verno acreditam que é difícil dizer se, ou como, o Taliban iria reagir à pres- são pública (ROHDE & MULVIHILL, 2010, p. 61).

Em dado momento, o FBI, que previamente havia defendido a posição de manter o se- questro fora da imprensa, votou a favor de ir a público. Entretanto, os agentes em contato com Kirsten afirmaram que não podem justificar a decisão por razões de segurança nacional (ROHDE & MULVIHILL, 2010, p. 102). O editor executivo do Times, Bill Keller, também alegou que a família deveria rever a decisão do imprensa blackout.

Em sete meses, nenhum veículo da grande imprensa noticiou o sequestro de Rohde. O então editor-executivo do Washington Post, Marcus Brauchli, afirmou que as atitudes do jor- nal sempre iriam pesar em favor da segurança do repórter, e que a atenção da mídia poderia aumentar seu valor enquanto refém. Alguns pequenos blogs e sites, porém, publicaram a notí- cia. Foi o caso de um blog extremamente conservador americano chamado “Infidels Are Co- ol” (infiéis são legais) e de um fórum, também conservador, chamado “Free Republic” (repú- blica livre). Também entram na lista o Jawa Report (que diz comparar mulçumanos a Jawas, personagens da saga Star Wars, e que faz críticas e sátiras às tradições e crenças mulçuma- nas), e o blog sobre política Little Green Footballs (KURTZ, 2009).

5. 3 Os sequestradores e a imprensa

Era de se esperar, pela natureza da situação, que os captores tivessem feito algum es- forço substancial para que o caso fosse divulgado na imprensa. Mesmo com o blackout, em uma sociedade em que a penetração das redes sociais é cada vez maior, seria possível divulgar o caso por meios próprios, sem depender da grande imprensa. O Estado Islâmico, por exem- plo, produz uma revista online em inglês em que propagandeia seus feitos.

Não foi o que aconteceu. Houve algumas tentativas pouco eficientes em tornar o caso público, mas não parece ter havido esforço efetivo do grupo taliban em romper (ou mesmo lutar contra) as barreiras da imprensa tradicional do ocidente.

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