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Capítulo III – Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária – Farmácia Vale D’Álvaro

7.2. Medicamentos Sujeitos a Receita Médica

MSRM são todos aqueles que preenchem as premissas dispostas no artigo 114.º do Decreto-Lei n.º 176/2006, de 30 de Agosto (Ver Anexo XV). Embora a apresentação de receita médica seja obrigatória nestes casos, no decurso do atendimento, recebi muitos pedidos por parte de utentes para dispensar os MSRM sem receita médica. A maioria reconhecia a necessidade da sua apresentação mas mesmo assim tentava a sua compra, dado o preço relativamente baixo

14 “Ato profissional em que o farmacêutico, após avaliação da medicação, cede medicamentos ou

substâncias medicamentosas aos doentes mediante prescrição médica ou em regime de automedicação ou indicação farmacêutica, acompanhada de toda a informação indispensável para o correto uso dos medicamentos” (2).

de alguns ou por puro desconhecimento. Nestes casos tentei abordar da melhor forma a situação, recorrendo a uma justificação plausível e clara para o utente, demonstrando o porquê do imperativo da receita. Os casos mais notáveis no decurso do estágio foram os das benzodiazepinas, dos analgésicos para a dor moderada a forte, dos corticosteroides e dos antibióticos. Se por um lado a grande maioria dos utentes compreendia e até agradecia a explicação, comprometendo-se a trazer a receita para consequente dispensa, por outro pude infelizmente constatar que vários clientes ficavam indignados com a recusa da cedência, apesar de a equipa agir corretamente segundo os princípios ético-profissionais.

7.2.1. Prescrição Médica e Validação

O modelo atual de receita médica foi aprovado pelo Despacho n.º15700/2012, de 30 de Novembro, podendo ser do tipo não renovável (validade de 30 dias a partir da data de prescrição) ou renovável (constituída por 3 vias e com validade de 6 meses) (16). Geralmente é eletrónica mas há casos de receitas manuais se se verificar alguma das seguintes condições: falência informática, inadaptação do prescritor, prescrição no domicílio e até 40 receitas/mês (17). É ainda estipulada a obrigatoriedade da prescrição médica por sistemas eletrónicos e por DCI, salvo algumas exceções. As vantagens residem na diminuição dos erros de despensa, agilização da faturação e usufruto do direito de opção sobre medicamentos bioequivalentes com diminuição dos seus encargos económicos (16,17). Quando um farmacêutico recebe uma prescrição médica, deve proceder à sua avaliação e aceitá-la na garantia da observância dos parâmetros dispostos nas normas relativas à dispensa de medicamentos e produtos de saúde. v.3.0. (ver Anexo XVII).

Em cada receita podem ser prescritos no máximo até 4 medicamentos distintos ou duas embalagens por medicamento, perfazendo um total de 4 embalagens. A exceção às duas embalagens ocorre no caso dos medicamentos se apresentarem sob forma de embalagem unitária podendo nesse caso serem prescritas até 4 embalagens do mesmo medicamento (17). Durante sensivelmente mês e meio, no final do estágio, pude realizar atendimentos praticamente de forma autónoma, após ter tomado conhecimento dos procedimentos inerentes. Contudo, quando o utente se dirige à farmácia, para além de avaliar as disposições acimas referidas, deve ainda ter-se em atenção se a validade da receita expirou, se há ausência da identificação do médico e da respetiva assinatura e no caso das manuais, se estas se encontram rasuradas, corrigidas ou com modificações efetuadas pelo utente ou prescritor (17). Se surgir alguma dúvida durante a avaliação da prescrição, bem como durante a dispensa, o farmacêutico deverá contactar o médico no sentido de obter esclarecimentos. A FVA apresenta relações cordiais e profissionais com os prescritores, pelo que presenciei alguns telefonemas quando a posologia não era bem clara ou quando o utente referia que a medicação que utiliza para as suas patologias crónicas não era a constante da receita ou o porquê de esta ter sido alterada.

7.2.2. Dispensa de MSRM

Embora os trâmites acima descritos pareçam morosos, não deixam de ser fundamentais para evitar erros na faturação e consequente reembolso das comparticipações. Posto isto, a primeira operação a realizar é abrir o Sifarma 2000 no menu “Atendimento” e efetuar a leitura ótica do Código Nacional para a Prescrição Eletrónica de Medicamentos (CNPEM) (no caso de receitas eletrónicas), que codificam para o princípio ativo, dosagem, forma farmacêutica e número de unidades (18). Portanto, o farmacêutico deve inquirir o utente, questionando-o se pretende um medicamento de marca ou genérico, consultando a listagem gerada:

 Se existir grupo homogéneo, o utente poderá optar por qualquer um que apresente o

CNPEM, assumindo para tal a diferença de preço e assinando no verso da prescrição. Se não tiver preferência, o farmacêutico deve dispensar o medicamento com o menor preço disponível, sendo as farmácias obrigadas a ter em stock, no mínimo, “três medicamentos de cada grupo homogéneo de entre os cinco medicamentos com preço mais baixo” (17).

 Se não existir grupo homogéneo, o farmacêutico deve dispensar o medicamento mais

barato que vai de encontro à prescrição médica, exceto se o utente exercer direito de opção de outro medicamento com o mesmo CNPEM, assinando no verso da receita médica (17).

No caso das receitas onde esteja prescrito o medicamento por nome comercial, e se se tratar de um medicamento de marca sem similar ou sem genérico similar comparticipado, só se poderá dispensar aquele que vem indicado. Se o prescritor tiver optado pelo de marca, deve apresentar uma justificação através de alguma das seguintes exceções: a) medicamentos com margem ou índice terapêutico estreito, b) reação adversa prévia e c) continuidade de tratamento superior a 28 dias. Este último caso permite ao utente exercer a opção de escolha por um medicamento equivalente desde que seja de preço inferior ao prescrito, assinando também o verso da receita. As exceções constituíram, durante os meus atendimentos, algumas fontes de erro, visto que é obrigatório no Sifarma 2000 selecioná-las sempre para que no verso da receita seja incluída a opção do utente. Mais uma vez, com a prática e com a devida orientação e visualização das correções, este erro foi-se dissipando.

Em segundo lugar, deve-se proceder à escolha do organismo de comparticipação e prosseguir no “menu de atendimento”. Desde cedo foram-me incutidas a necessidade e as vantagens de usar a verificação dos produtos, onde os códigos são lidos de novo com os sensores de leitura ótica. Assim, pode-se detetar se os códigos dos produtos vão de encontro ao selecionado na prescrição, isto é, se estamos na presença do medicamento efetivo e se a quantidade dispensada é igual à verificada. É uma mais-valia que providencia não só uma segurança extra ao profissional de saúde que dispensa, como ao utente que têm a certeza que o que lhe foi cedido está de acordo com o prescrito.

Em terceiro lugar são impressas no verso das receitas informações acerca dos medicamentos comparticipados dispensados, para efeitos de faturação, tais como: o preço inicial, o valor da comparticipação e o valor a pagar após comparticipação. É também pedida a assinatura do utente consoante as disposições verificadas e o profissional carimba, data e assina o verso da prescrição. Finalmente é impressa a fatura (simplificada ou não) para o utente e é carimbada. Ocorreram dois casos particulares no estágio. Um deles referia-se a prescrições de Azilect® em blisters de 28 unidades, quando este medicamento se encontrava esgotado. Nesta situação, foi possível dispensar duas embalagens de Azilect®, cada uma com 10 unidades, sendo esta troca justificada no lado esquerdo do verso da receita. A outra situação correspondia a receitas manuais onde não era indicado o tamanho da embalagem, fornecendo-se assim a de menor dimensão (17).