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Medidas a serem adoptadas face ao fenómeno de pirataria no Canal de Moçambique

2. AS NOVAS AMEAÇAS À SEGURANÇA INTERNA ASSOCIADAS AO COT

2.4. Pirataria Marítima no Canal de Moçambique

2.4.2. Medidas a serem adoptadas face ao fenómeno de pirataria no Canal de Moçambique

A pirataria marítima, à semelhança das outras modalidades do COT, nunca se previne ou se combate de forma isolada. Daí que a Associação dos Países da Orla do Oceano Índico e da região da SADC procurem conjugar as suas capacidades para fazer frente ao fenómeno, que ameaça a circulação de navios nos oceanos e mares. Ao nível da SADC foram traçados como “objectivos estratégicos marítimos” que se centram “na protecção e na preservação dos recursos marítimos, os seguintes:249

 A manutenção da integridade territorial dos países litorais no

mar, na totalidade das suas zonas económicas exclusivas;  A garantia de segurança de todas as actividades marítimas

legalmente conduzidas, nomeadamente, o trânsito e

248 Idem.

249 Cadernos Navais, “Simpósio das Marinhas dos Países de Língua Portuguesa”, op.

movimento livre das marinhas mercantes, o comércio marítimo, a exploração dos recursos naturais, o turismo e pesca desportiva;

 A fiscalização dos recursos vivos e aplicação das normas internacionais para a protecção dos mesmos, da exploração dos recursos naturais contra a exploração excessiva ou excedente e práticas lesivas, das actividades ilícitas, da pesca ilegal, da poluição do mar, do contrabando de mercadorias incluindo armas, droga e poluentes tóxicos, da imigração ilegal, da pirataria e tomada de reféns, do terrorismo, entre outros;

 Apoio às missões de manutenção da paz às missões diplomáticas, tais como negociações no alto mar, às calamidades para a evacuação, às operações de socorro e salvamento marítimo, à assistência à navegação, à protecção do meio ambiente e às missões de pesquisa científica;

A costa moçambicana é considerada uma das maiores do continente africano, para além de ser considerada uma “linha vital do comércio internacional” e ponto de convergência privilegiado das rotas marítimas, principalmente de petroleiros, quando não utilizam o Canal do Suez.250

Quanto à rota pelo Canal de Moçambique, de referir que absorve cerca de 75% do transporte marítimo de mercadoria diversa para os países vizinhos, essencialmente para os do hinterland, mas também absorve cerca de 15% para o transporte de mercadoria para diversas partes do mundo.251

250 Idem, p. 61. 251 Ibidem, p. 69.

E porque os piratas intensificam as suas acções nas zonas com segurança deficitária ou inexistente, há uma recomendação dos Ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa e Segurança da região da SADC que culminou com a criação de um órgão de Política de Defesa e Segurança, denominado Órgão da SADC252, cujo objectivo é criar e fortificar mecanismos de cooperação, coordenação e partilha de informações nos assuntos sobre o mar. Tanto que os Estados podem-se apoiar de forma bilateral ou multilateral. É com base nessa recomendação que Moçambique tem cooperação naval com África do Sul e Tanzânia, que conjuntamente conduzem as operações marítimas combinadas nas águas territoriais de cada um dos três países. Por isso verificam-se sinais de maior segurança.253

A nível nacional há uma vontade de criação de uma Autoridade Marítima, esperando-se que o poder político considere um órgão estrategicamente importante, tendo em conta as redes do COT que privilegiam muito o mar para as suas actividades, por se aperceberem das vulnerabilidades existentes.254

Assim, segundo informação obtida durante a entrevista concedida pelo oficial da Marinha de Guerra, a ideia da criação da Autoridade Marítima visa lidar com todos os assuntos relacionados com a segurança do espaço marítimo no país, nomeadamente:255

 Segurança e controlo da navegação;

 Preservação e protecção dos recursos naturais (marinhos);  Preservação e protecção do património cultural subaquático;

252 O Órgão da SADC foi criado na Cimeira de Gaberone em 28 de Juno de 1996,

para a necessidade de cooperação, coordenação e troca de informações nos assuntos sobre o mar e a costa da região da SADC.

253 Entrevista concedida pelo oficial da Marinha de Guerra, indicado pelo Contra-

Almirante e Comandante da Marinha de Guerra, em cumprimento da autorização do General do Exército e Chefe do Estado-Maior General das FADM, em 2015.

254 Jornal Notícias de Moçambique, do dia 10 de Julho de 2012. 255 Oficial da Marinha de Guerra entrevistado em 2015.

 Preservação e protecção do meio marinho e combate à poluição;

 Fiscalização das actividades de aproveitamento económico dos recursos vivos e não vivos;

 Salvaguarda da vida humana no mar e salvamento marítimo;  Protecção civil, com incidência no mar e na faixa litoral

(costa);

 Prevenção e combate ao COT, nomeadamente, narcotráfico, tráfico de pessoas, tráfico de armas, imigração ilegal, pirataria marítima, entre outros;

 Prevenção e combate ao terrorismo;

 Segurança da faixa costeira e no domínio público marítimo e das fronteiras marítimas, lacustres e fluviais.

A ideia de criação deste órgão é mais para permitir a conjugação de sinergias com outros organismos que lidam com assuntos de segurança do espaço marítimo, nomeadamente as FDS que no conjunto com outros organismos do Estado têm como função superintender, supervisionar e controlar as actividades relacionadas com o mar, seja em matérias de ordem pública, bem como de integridade territorial. Assim, os organismos que lidam com assuntos do mar e que têm interesse nele são:

 O Ministério do Mar, Águas Interiores e Pescas;  O Instituto do Mar e Fronteiras;

 O Instituto Nacional da Marinha;

 O Instituto Nacional de Hidrografia e Navegação;  A Administração Nacional das Pescas;

 A Direcção Nacional de Gestão Ambiental;  A Marinha de Guerra de Moçambique;  A Força Aérea;

 A Polícia Costeira, Lacustre e Fluvial;  A Polícia de Fronteira;

 As Alfândegas de Moçambique;  O Serviço Nacional de Migração;

 O Serviço de Informações e Segurança do Estado.

Assim, a Marinha de Guerra e a Força Aérea, bem como a Polícia Costeira, Lacustre e Pluvial, tendo em atenção as suas atribuições, são as que material e operacionalmente têm capacidade para prevenir e reprimir qualquer actividade criminosa no Canal de Moçambique, incluindo a pirataria e outras modalidades do COT. Entretanto, uma vez que a Polícia encontra-se desprovida de meios para fazer face às ameaças que ocorrem no mar256, parte das suas actividades acabam sendo assumidas pela Marinha de Guerra, que se mostra com capacidade para desempenhar as funções de prevenção e repressão das actividades criminosas. Para além de que no âmbito das suas atribuições, tem parte significativa das suas funções centradas na vertente de prevenção e repressão do COT e outras actividades ilegais que possam ocorrer no mar e na costa.257 Assim, são funções da Marinha de Guerra:

 Preparar, aprontar, empregar e manter as forças e meios necessários para garantir a defesa, o controlo e a vigilância da costa marítima e águas interiores;

 Garantir o exercício da autoridade do Estado nos diversos espaços de soberania ou jurisdição marítima nacional;

 Assegurar a cooperação no quadro institucional do Sistema de Autoridade Marítima e o emprego articulado das capacidades navais e daquelas que são impróprias da autoridade marítima;

256 Faz parte das competências da Polícia Costeira, Lacustre e Fluvial a vigilância,

fiscalização, controlo e protecção do espaço marítimo até as 12 milhas náuticas.

257 Artigo 48 da Estrutura Orgânica das FADM, aprovada através do Decreto nº

 Realizar operações navais de vigilância e controlo permanente do Espaço Estratégico de Interesse Nacional e, quando necessário, com outros países;

 Realizar a actividade de fiscalização marítima e pesqueira;  Realizar acções de busca e salvamento.

O Canal de Moçambique tem vindo a assumir posição “estratégica, política e económica” na região da SADC, essencialmente, como temos vindo a fazer menção neste trabalho, para os países do hinterland que têm os portos moçambicanos meios para importar e exportar suas mercadorias e, porque “o comércio mundial” é suportado, grandemente, pelo transporte marítimo (cerca 90%), urge a necessidade de se privilegiar essa posição geostratégica, política e económica que o Canal de Moçambique representa.

Em nosso entender, os países do hinterland que se beneficiam das infra-estruturas portuárias no Canal de Moçambique, deveriam contribuir com meios que possam ajudar para estancar a problemática da pirataria marítima, já que nas suas incursões os piratas atacam e sequestram navios de grande porte, de transporte de mercadoria diversa, estando claro que as fragilidades do sistema de segurança constituem um dos factores primordiais para o sucesso dos piratas, sendo ameaça para o país, para os países do hinterland, para a segurança marítima e para o comércio internacional.

CAPÍTULO III

3. FRONTEIRAS EM ÁFRICA: CONSTITUIÇÃO E PONTOS