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Meios processuais de proteção à boa-fé objetiva

3. A BOA-FÉ OBJETIVA NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO

3.6. Meios processuais de proteção à boa-fé objetiva

Tão importante quanto admitir a presença do princípio da boa-fé no diploma processual civil brasileiro é identificar os meios de prevenção e repressão às condutas processuais desleais, pois somente assim é possível verificar, na prática, a incidência da boa-fé objetiva no processo.

O exercício inadmissível de posições jurídicas no processo normalmente é percebido com o seu resultado, o que faz com que seja mais comum a repressão de condutas abusivas, com a aplicação de sanções aos seus agentes, do que a sua prevenção.

Não obstante prevalecer, na prática, a repressão às condutas processuais que desrespeitam a boa-fé em detrimento de sua prevenção, o diploma processual civil brasileiro prevê algumas medidas para a sua prevenção: o magistrado possui deveres genéricos de velar pela rápida solução da lide, bem como de prevenir qualquer ato contrário à dignidade da justiça (CPC, art. 125, incisos II e III)300; na instrução do processo, o juiz pode indeferir diligências que considere inúteis ou meramente procrastinatórias (CPC, art. 130)301; a prevenção por ação repetida visa inibir o ajuizamento malicioso de ações idênticas e consequentemente a ocorrência de abuso do processo (CPC, art. 253, inciso III)302; dentre outras hipóteses.

A prevenção da prática de comportamentos inadmissíveis de posições jurídicas no processo ocorre, portanto, por meio de atos judiciais, uma vez que o juiz, no Estado Constitucional, tem o dever de dirigir o processo orientado pela boa-fé objetiva, conduzindo as condutas das partes de forma ética.

Nesse sentido, assevera Brunela Vieira de Vicenzi:

Dessa forma, parece possível impedir o exercício de posições inadmissíveis, sem cominar sanções e multas, mas por meio de “ameaças”, seja com a inversão do tempo no processo, ou até com a inversão de certos ônus (como acontece na revelia) ao litigante que abusa da confiança depositada nele pelo Estado, ou com a perda de direitos processuais como consequência da violação à regra da boa- fé303.

Além disso, a prevenção de condutas atentatórias à boa-fé objetiva se coaduna com o escopo social da jurisdição de pacificar e de educar os jurisdicionados, evitando o desrespeito à boa-fé no processo, o que se mostra mais salutar que as medidas repressivas, porque estas impõem sanções

300 CPC, art. 125: O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, competindo-lhe: [...] II - velar pela rápida solução do litígio; III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da Justiça;[...].”.

301 CPC, art. 130:

“Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias.”.

302

CPC, art. 253: “Distribuir-se-ão por dependência as causas de qualquer natureza: [...] III - quando houver ajuizamento de ações idênticas, ao juízo prevento.”.

pecuniárias tardiamente, ou seja, somente após a ocorrência de comportamentos desleais dos sujeitos processuais.

Note-se que todos os sujeitos processuais possuem o dever de lealdade e de boa-fé dentro do processo (CPC, art. 14, inciso II), o que representa, per se, uma forma de prevenção do abuso.

Além disso, a mera previsão de sanções no ordenamento jurídico para aqueles que atuem, no processo, de forma desleal e ilegítima, já constitui uma forma de prevenção do abuso do processo304.

Atente-se também que, como a boa-fé objetiva pode se manifestar de diversas formas, sendo impossível prever todas as formas de sua incidência, consequentemente também não existe um rol limitado de sanções aplicáveis aos agentes que infringem o dever processual de agir com lealdade e boa-fé.

Observe-se, outrossim, que a imposição de quaisquer sanções ao sujeito que agiu em desconformidade com a boa-fé deve respeitar as garantias constitucionais da ampla defesa, do contraditório e do acesso à justiça, dentre outras, sob pena de o próprio juiz cometer abuso no exercício de seus poderes. Ademais, as circunstâncias do caso concreto devem ser minuciosamente analisadas para que o magistrado possa concluir peremptoriamente se houve ou não a violação do princípio da boa-fé no processo.

Destaca-se, entre as sanções mais comuns nos casos de ocorrência de abuso processual, a imposição de multa e a obrigação de reparar danos.

A multa é uma das sanções mais eficazes tanto para prevenir como para reprimir o exercício inadmissível de posições jurídicas no processo. O magistrado apenas tem que agir com cautela a fim de averiguar, de acordo com a realidade do caso, o montante da multa que melhor se ajusta à gravidade do abuso em questão, para que não cometa arbitrariedades.

Com o intuito de evitar abusos por parte do magistrado, o legislador pátrio houve por bem determinar os valores máximos das multas em várias hipóteses, possuindo o magistrado, portanto, uma margem de liberdade limitada no que concerne à imposição de multas.

304 TARUFFO, Michele. General report. Abuse of procedural rights: comparative standards

of procedural fairness, p. 22, apud ABDO, Helena Najjar. O Abuso do Processo. São Paulo:

Observe-se, por exemplo, que, nos casos de litigância de má-fé, a multa pode ser aplicada no percentual máximo de 1% sobre o valor da causa (CPC, arts. 16 a 18); a imposição de multa, nos casos em que a parte alega falsamente ser pobre na forma da lei, com vistas a gozar da gratuidade judiciária, pode atingir o limite de dez vezes o valor das custas judiciais (Lei 1.060/50, art. 4.°, § 1. °). Por outro lado, a aplicação de multa quando se detecta a ocorrência de atos atentatórios à dignidade da justiça, limita-se ao percentual máximo de 20% do valor da causa (CPC, arts. 599 a 601) e quando se interpõe agravo manifestamente inadmissível ou infundado, aplica-se multa de até 10% sobre o valor da causa (CPC, art. 557, § 2.°).

Outras hipóteses de limites máximos de multas estabelecidos pela lei são encontradas nos arts. 233305; art. 475-J306; art. 740, parágrafo único, do CPC307.

Não só os juízes de primeiro grau, mas também os tribunais superiores têm aplicado multas nos casos em que os sujeitos não observam em suas condutas o princípio da boa-fé. Ilustra-se tal fato com o recente acórdão do STF, que negou provimento a agravo regimental que visava impugnar, “sem razões consistentes, decisão fundada em jurisprudência assente na Corte”308.

Saliente-se também que o valor da multa é revertido, em regra, para o sujeito atingido pelo abuso, a não ser que a lei disponha de modo diverso.

305

CPC, art. 233: “A parte que requerer a citação por edital, alegando dolosamente os requisitos do Art. 231, I e II, incorrerá em multa de 5 (cinco) vezes o salário mínimo vigente na sede do juízo.”.

306 CPC, art. 475-

J: “Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação.”. 307

CPC, art. 740, parágrafo único: “No caso de embargos manifestamente protelatórios, o juiz imporá, em favor do exequente, multa ao embargante em valor não superior a 20% (vinte por cento) do valor em execução.”.

308 EMENTA: 1. RECURSO. Extraordinário. Inadmissibilidade. Servidor público. Remuneração. Proventos e vencimentos. Pretensão de cumulação. Inadmissibilidade. Cargos inacumuláveis na atividade. Jurisprudência assentada. Ausência de razões consistentes. Decisão mantida. Agravo regimental improvido. Nega-se provimento a agravo regimental tendente a impugnar, sem razões consistentes, decisão fundada em jurisprudência assente na Corte. 2. RECURSO.

Agravo. Regimental. Jurisprudência assentada sobre a matéria. Caráter meramente abusivo. Litigância de má-fé. Imposição de multa. Aplicação do art. 557, § 2º, cc. arts. 14, II e III, e 17, VII, do CPC. Quando abusiva a interposição de agravo, manifestamente inadmissível ou infundado, deve o Tribunal condenar o agravante a pagar multa ao agravado. (STF, 2.ª T.,

Assim sendo, a multa destina-se àquele que foi prejudicado pelo abuso, que nem sempre coincide com o sujeito que ocupa o lado oposto do infrator na lide.

Outra forma bastante comum de reprimir o sujeito que agiu contra a boa-fé é a reparação de danos.

O dano, seja ele material ou moral, é um dos elementos caracterizadores do abuso do processo, pois a teoria do abuso processual seria inócua se não fossem percebidos prejuízos com a sua prática, mesmo que esse dano seja causado ao Estado, notadamente ao Poder Judiciário, e não à parte adversária no processo. Por conseguinte, a reparação de danos mostra-se como uma das principais formas de sanção àquele que agiu em desconformidade com a boa-fé.

A reparação dos danos visa recuperar o equilíbrio daquela situação jurídica anterior que fora burlada pelo transgressor da boa-fé, com o intuito de causar o mínimo de prejuízo à vítima do abuso.

Ressalte-se, nesse ponto, que os danos sujeitos à reparação pelo sujeito ativo do abuso devem corresponder aos danos causados, de forma direta, pela conduta abusiva, o que não afasta, entretanto, os danos emergentes e os lucros cessantes, mas apenas aqueles danos causados de forma indireta pelo infrator da boa-fé. Assim, por exemplo, são passíveis de reparação os lucros cessantes de um empresário que foi parte ré de uma demanda proposta, com o claro intuito de macular sua reputação comercial.

No direito brasileiro, o art. 18 do CPC prevê a indenização, por conta do litigante de má-fé, à parte adversária, em quantia não superior a 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa, além de multa eventualmente arbitrada pelo juiz.

Deve-se observar, contudo, que, em regra, o valor da indenização deve equivaler aos prejuízos sofridos pela vítima do abuso, não havendo limite de um valor máximo para isso. Assim, os casos de litigância de má-fé, que consistem em uma modalidade de abuso processual, são uma exceção a essa regra, uma vez que, consoante o § 2.° do art. 18 do CPC, o litigante de má-fé deve indenizar à “parte contrária” em quantia não superior a 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa.

Em outras palavras, a vítima no abuso não necessariamente é a parte adversária do sujeito ativo do abuso no processo, não obstante o caput

do art. 18 do CPC se referir à “parte contrária” do litigante de má-fé; o sujeito passivo da reparação de danos consiste naquele sujeito que foi prejudicado, isto é, sofreu danos com a conduta desleal do sujeito ativo do abuso processual, que não corresponde necessariamente com a parte contrária no processo, podendo inclusive ser o litisconsorte ou o próprio assistente daquele que desrespeitou a boa-fé.

Dessa forma, em regra, o sujeito processual que agir de encontro à boa-fé objetiva está obrigado a reparar os danos causados à vítima do abuso, e não à parte adversária na lide.

Ademais, é convergente na doutrina que será obrigado a reparar os danos aquele sujeito que violar o dever de agir com boa-fé, independentemente de ter sido, ao final da lide, o vencedor da demanda309.

E mais, consoante adverte Barbosa Moreira, a condenação do infrator da boa-fé à reparação de danos exige a prova efetiva da ocorrência do prejuízo310. Logo, a vítima do abuso tem que comprovar os danos por ela sofridos em razão da violação da boa-fé, se não essa forma de sanção do abuso processual, qual seja, a reparação de danos, perderia a sua utilidade prática311.

A condenação do infrator à indenização dos danos causados pelo abuso pode ser feita de ofício ou a requerimento da parte interessada, sendo necessária sempre a comprovação dos prejuízos efetivamente experimentados por este.

Além da multa e da reparação de danos, existem outras sanções previstas pelo CPC para os sujeitos que praticarem condutas em desconformidade com a boa-fé, como a restrição de direitos contida nos arts.

309 Seguem esse raciocínio, por exemplo: THEODORO JR., Humberto. Abuso do direito processual no ordenamento jurídico brasileiro. Abuso dos direitos processuais. Rio de janeiro: Forense, 2000, p. 101; BARBOSA MOREIRA, José Carlos. A responsabilidade das partes por dano processual no direito brasileiro. Temas de direito processual civil. Primeira Série. São Paulo: Saraiva, 1988, p. 25.

310 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. A responsabilidade das partes por dano processual no direito brasileiro. Temas de direito processual civil, Primeira Série. São Paulo: Saraiva, 1988, p. 33.

311Essa exigência de comprovação de prejuízos por parte da vítima do abuso do processo não é exigida pelas outras formas de sanção do abuso do processo. Por exemplo, a aplicação de multa, nos casos de abuso processual, prescinde da prova do dano no caso concreto.

196 e 197312, que determina a perda de vista dos autos ao advogado, ao membro do Ministério Público e ao representante da Fazenda Pública que excederem o prazo legal e as previsões do art. 538, parágrafo único313, e do art. 557, §2.°314, que condicionam a interposição de recurso ao pagamento de multa.

Cabe, ainda, ação rescisória nas hipóteses previstas nos incisos do art. 485 do CPC315, que estão contaminadas, de alguma forma, pela mácula do abuso processual, especialmente em virtude do desvio de finalidade nelas presentes316.

Também há possibilidade de aplicação de sanções penais em alguns casos de violação do dever de boa-fé: alguns casos foram tipificados como crimes, dada a sua gravidade no meio social.

312 CPC, art. 196: “É lícito a qualquer interessado cobrar os autos ao advogado que exceder o prazo legal. Se, intimado, não os devolver dentro em 24 (vinte e quatro) horas, perderá o direito à vista fora de cartório e incorrerá em multa, correspondente à metade do salário mínimo vigente na sede do juízo. Parágrafo único. Apurada a falta, o juiz comunicará o fato à seção local da Ordem dos Advogados do Brasil, para o procedimento disciplinar e imposição da multa.”; CPC, art. 197: “Aplicam-se ao órgão do Ministério Público e ao representante da Fazenda Pública as disposições constantes dos arts. 195 e 196.”.

313

CPC, art. 538, par. único: “Quando manifestamente protelatórios os embargos, o juiz ou o tribunal, declarando que o são, condenará o embargante a pagar ao embargado multa não excedente de 1% (um por cento) sobre o valor da causa. Na reiteração de embargos protelatórios, a multa é elevada a até 10% (dez por cento), ficando condicionada a interposição

de qualquer outro recurso ao depósito do valor respectivo” (grifo da autora).

314 CPC, art. 557, § 2o: “Quando manifestamente inadmissível ou infundado o agravo, o tribunal condenará o agravante a pagar ao agravado multa entre um e dez por cento do valor corrigido da causa, ficando a interposição de qualquer outro recurso condicionada ao depósito do

respectivo valor.” (grifo da autora).

315 CPC, art. 485: “A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: I - se verificar que foi dada por prevaricação, concussão ou corrupção do juiz; II - proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente; III - resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou de colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei; IV - ofender a coisa julgada; V - violar literal disposição de lei; Vl - se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou seja provada na própria ação rescisória; Vll - depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de Ihe assegurar pronunciamento favorável; VIII - houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação, em que se baseou a sentença; IX - fundada em erro de fato, resultante de atos ou de documentos da causa;[...].”.

316 Corrobora com essa previsão do art. 485 do CPC, a tendência atual da relativização da coisa julgada. Na lição de Cândido Rangel Dinamarco, “o valor da segurança das relações jurídicas não é absoluto no sistema, nem o é, portanto, a garantia da coisa julgada, porque ambos devem conviver com outro valor de primeiríssima grandeza, que é o da justiça das decisões judiciárias, constitucionalmente prometido mediante a garantia de acesso à justiça (CF, art. 5. °, XXXV)” (DINAMARCO, Cândido Rangel. Relativizar a coisa julgada material.

Nesse diapasão, constituem crimes contra a administração da justiça os crimes de desobediência (CP, art. 330)317 e de desobediência à decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito (CP, art. 359)318.

Além dessas sanções previstas pelo sistema processual civil e penal brasileiro, o juiz, no Estado Constitucional contemporâneo, dotado do poder- dever de velar pela efetividade e instrumentalidade do processo, tem à sua disposição diversos outros mecanismos de evitar ou reprimir a violação do princípio da boa-fé no direito processual.

Sem o objetivo de esgotar todos os poderes que o juiz possui no intuito de inibir ou coibir abusos no âmbito processual, cita-se, exemplificativamente: o disposto no art. 130 do CPC, que possibilita ao juiz o indeferimento de diligências que considere inúteis ou protelatórias; o poder de antecipar os efeitos da tutela, em caso de abuso no exercício das situações subjetivas processuais de defesa (CPC, art. 273, II); a possibilidade de presumir como verdadeiros fatos baseados em documentos que a parte se recusa a exibir (CPC, art. 359); e, os poderes contidos no art. 461 do CPC, que permitem ao magistrado conceder a tutela específica da obrigação ou determinar providências para assegurar o seu resultado prático, quando os sujeitos se recusam a atender ordens judiciais relativas a obrigações de fazer ou de não-fazer.

Observe-se que todos esses poderes judiciais estão previstos em normas genéricas, uma vez que era impossível o legislador antever todas as hipóteses de abuso do processo. Ademais, a boa-fé objetiva possui diversas formas de manifestação, o que implica, por sua vez, que a repressão à sua violação processual também pode e deve se revelar dos mais variados modos, principalmente porque um dos principais objetivos do sistema processual pátrio consiste em evitar e coibir ao máximo a ocorrência do abuso no processo.

Em arremate a tudo que foi aqui exposto, é importante notar que as diversas formas de sanção aos sujeitos transgressores da boa-fé objetiva podem ser cumuladas, se assim o magistrado entender cabível ao caso,

317 CP, art. 330: “Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses, e multa.”.

318 CP, art. 359:

“Exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão judicial:Pena - detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, ou multa.”.

defendendo a jurisprudência, inclusive, a possibilidade de imposição de sanções da mesma espécie para o mesmo fato.

Por exemplo, o STJ vem admitindo, em suas decisões, a imposição de duas multas pela interposição de agravo manifestamente inadmissível ou infundado, pois também constituiria uma hipótese de litigância de má-fé319. Em outras palavras, o infrator é multado por litigância de má-fé (CPC, art. 18) e por ter interposto agravo infundado (CPC, art. 557, §2.°), ou seja, um mesmo fato gerou duas multas ao mesmo sujeito processual.

Esta autora entende, contudo, que, não obstante poderem ser impostas, em uma mesma relação jurídica processual, duas ou mais sanções ao sujeito ativo do abuso do processo, inclusive da mesma espécie, estas penalidades devem se referir a fatos distintos, pois seria injusto punir um sujeito, mais de uma vez, por um mesmo fato (vedação do bis in idem). Quanto à cumulação de sanções de natureza diversa, porém, não há qualquer objeção. Acrescente-se, ainda, que tanto o sujeito ativo como o sujeito passivo do abuso processual pode corresponder a um ou mais sujeitos processuais.

No caso de pluralidade de sujeitos ativos, a responsabilidade dos agentes do abuso deve ser aferida no caso concreto pelo magistrado, uma vez que cada um responderá na proporção de seu respectivo interesse e proveito na causa. A multiplicidade de sujeitos passivos do abuso, por outro lado, será

319 Nesse sentido, vem decidindo o STJ, conforme ilustra a seguinte decisão, transcrita em parte: “TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. LEIS NºS 7.787/89 E 8.212/91. COMPENSAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE LIMITAÇÃO. LEIS NºS 9.032/95 E 9.129/95. JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA. LEI Nº 9.250/95. PRECEDENTES.DESNECESSIDADE DE DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DA NORMA LEGAL. ANÁLISE DE VIOLAÇÃO DE DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. IMPOSSIBILIDADE. INTENÇÃO PROCRASTINATÓRIA. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. MULTA. ARTS. 16, 17, IV E VII, 18, E 557, § 2º, DO CPC. LEIS NºS 9.668/1998 E 9.756/1998.(...) 8. Recurso que revela a patente intenção de procrastinar o feito, dificultando a solução da lide ao tentar esgotar todas as instâncias e impedindo, com isso, o