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CAPÍTULO IV TRAJETÓRIA DA PESQUISA DE CAMPO

4.1 Memórias do campo: Brasília, Ceilândia e Brazlândia

O ambiente em que a pesquisa realizou-se foi “ambiente natural” (VILELA, 2003). A mesma ocorreu em três escolas localizadas em Brasília, Ceilândia e Brazlândia (em 2010 e 2012), na sede da Secretaria de Estado de Educação – SEDF e na residência de um sujeito de pesquisa. Os Centros Interescolares de Línguas são considerados, neste estudo, como escolas2 e espaços em que há

experiências coletivas. Carvalho (2013) afirma que na escola “o plano do cotidiano se inscreve nas relações e nas práticas sociais que englobam a produção e a reprodução matéria e discursiva” necessárias para cada formação social (p.404). Esta autora compreende que nos espaços escolares há uma amostragem de “operações que permitem percursos, passagens, intercâmbios, trocas, compartilhamentos” (CARVALHO, 2013, p.407).

O Distrito Federal apresenta um quadro peculiar quanto à aprendizagem e ao ensino de línguas (DAMASCO, 2010), tendo em vista que é a única unidade do país que conta uma cooperação técnica entre uma Associação de Cultura Franco- brasileira e oito Centros Interescolares de Línguas, ofertando um ensino de idiomas, para além da carga horária prevista na escola regular para os anos finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio. A informação referente ao local da realização dos grupos de discussão ou das entrevistas narrativas é relevante, por levar uma marca social (IBÁÑEZ, 1992).

O Distrito Federal é dividido em 31 regiões administrativas. A primeira escola em que a pesquisa foi realizada localiza-se na primeira região administrativa, intitulada Brasília ou Plano Piloto, formada pelo Plano Piloto de Brasília e pela região do Parque Nacional de Brasília, com 2.562.963 habitantes de acordo com o Censo demográfico do ano de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Além de sediar os três principais poderes do governo brasileiro, hospeda mais de 120 embaixadas estrangeiras3.

De acordo com a Pesquisa Distrital de Amostra por Domicílio de 2013, o nome de Ceilândia4 surgiu em decorrência da Campanha de Erradicação de Favelas

CEI, como um primeiro projeto de erradicação de favelas realizado no Distrito Federal pelo governo local, iniciado em 1971, com a transferência de 70.128 pessoas, moradoras de 14.607 barracos (PELUSO; CANDIDO, 2006). Atualmente, a Ceilândia está subdividida em diversos setores: Ceilândia Centro, Ceilândia Sul, Ceilândia Norte, P Sul, P Norte, Setor O, Expansão do Setor O, QNQ, QNR, Setores de Indústria e de Materiais de Construção e parte do INCRA (área rural da Região Administrativa), Setor Privê, e condomínios que estão em fase de legalização como o Pôr do Sol e Sol Nascente. É a IX região administrativa e está situada a 26 Km de Brasília. A população urbana da Ceilândia foi estimada, no ano de 2013, em 449.592 habitantes. De acordo com Peluso e Candido (2006), com a criação de Ceilândia, “fechou-se um importante ciclo da organização territorial do Distrito Federal, em que

se implantaram núcleos urbanos, cujo centro econômico e social se encontra no Plano Piloto” (p.53).

Brazlândia5, era um povoado que já existia antes mesmo da construção

de Brasília e que integrava a área rural do município goiano de Luziânia. Foi desmembrado para se inserir no quadrilátero previsto da nova capital. Este nome está associado à localização do povoado, que se encontrava perto da família Braz. É uma região de produção de hortifrutigranjeiros do DF. Brazlândia é composta pelo Setor Tradicional, onde se originou a cidade, Setores Norte e Sul, Vila São José e Bairro Veredas. Na região encontram-se também os Núcleos Alexandre Gusmão, Dois Irmãos, Engenho Queimado, Desterro, Chapadinha e Barreiro. É a IV Região Administrativa do DF e sua população foi estimada em 50.728 habitantes e localiza- se à 59 Km de Brasília.

Em 2010, iniciou-se a trajetória de campo de maneira exploratória em Brasília, com a realização de 4 grupos de discussão durante este ano. Gondin e Lima (2006) destacam que a etapa exploratória é um processo de construção do conhecimento que acontece por meio de sucessivas aproximações com a realidade empírica e a com a construção de elaborações teóricas a respeito do objeto pesquisado. Em 2011, ocorreram quatro entrevistas narrativas e um grupo de discussão com docentes pioneiras, visando a compreensão da história do ensino de LE no DF. E em 2012, ocorreu o trabalho de campo durante quase dois meses, setembro e outubro, finalizando a coleta de dados. Em 2013, ocorreu a análise, interpretação dos dados coletados. Em 2014, ocorreu a escrita do relatório deste estudo.

A pesquisa de campo em Ceilândia e Brazlândia com estudantes e jovens professores foi aprovada em exame de qualificação de doutorado em abril de 2012. Aguardou-se que o calendário de reposição de aulas, devido à greve ocorrida, fosse reorganizado para iniciar o trabalho de campo. Assim, de agosto a outubro de agosto de 2012 a pesquisa de campo aconteceu nestas cidades. O quadro 06 apresenta a organização dos dados de acordo com a situação dos/as entrevistados.

Quadro 06: Organização dos dados de acordo com a situação dos/as entrevistados/as.

Ano da

Entrevista

Local Sujeitos Total de participantes Docentes aposentados/as e docente especialista 2011 Brasília/DF 06 Professores 07 2012 Brasília/DF 01 Professor Jovens Estudantes 2010 Brasília 11 Estudantes 63 2012 Ceilândia 28 Estudantes Brazlândia 24 Estudantes Jovens Docentes 2010 Brasília 05 Professores 14 2012 Ceilândia 03 Professores Brazlândia 06 Professores

Fonte: Quadro organizado pela pesquisadora – março/2013.

Do total de 84 participantes nesta pesquisa, 05 docentes tinham sido docentes pioneiros/as do primeiro CIL, um docente da SEDF dos anos 1970, um docente especialista da SEDF na atualidade, 14 jovens que lecionam LE e os demais 63 sujeitos da pesquisa, eram jovens estudantes em CIL e na escola de francês conveniada à SEDF.

Os participantes foram organizados em 18 grupos de discussão e em 04 entrevistas narrativas realizados em Brasília, Ceilândia e em Brazlândia, de acordo com os objetivos deste estudo. As entrevistas narrativas propiciaram uma compreensão aprofundada quanto aos temas deste estudo: língua estrangeira, juventude e gerações e docência em LE. O quadro 07 apresenta uma síntese da coleta de dados de acordo com as questões e objetivos da pesquisa:

Quadro 07: Síntese da coleta de dados de acordo com as questões e objetivos da pesquisa.

Questões de pesquisa Objetivos da pesquisa Coleta de dados Dados interpretados e apresentados neste relatório de pesquisa

Quem é o/a jovem

estudante e o/a jovem que leciona língua

estrangeira da rede pública de ensino em escolas específicas de idiomas?

Identificar o/a jovem estudante e o/a jovem que leciona língua estrangeira no Distrito Federal, traçando seu perfil de ingresso nos Centros Interescolares de Línguas e na escola conveniada de francês à SEDF Questionário de identificação dos sujeitos Organização do perfil de 77 sujeitos da pesquisa: jovens estudantes e jovens que lecionam LE no DF (Capítulos V, VI, VII e VIII)

O que motiva e mobiliza o/a jovem da rede pública do Distrito Federal a estudar língua estrangeira em escolas específicas públicas e na escola conveniada de francês à SEDF, bem com suas dificuldades neste estudo?

Reconstruir os sentidos e significados atribuídos pelos/as jovens estudantes e jovens que lecionam língua estrangeira, a partir de suas motivações e dificuldades 13 grupos de discussão Interpretação de 5 grupos de discussão com jovens estudantes de LE (Capítulo VI)

Como foi a trajetória pessoal e profissional de

docentes de língua estrangeira que lecionam

em escolas específicas públicas e na escola conveniada de francês à SEDF? Analisar as trajetórias profissionais de docentes de língua estrangeira quanto à sua identidade profissional e ao reconhecimento de sua atuação. 04 grupos de discussão Interpretação de 4 grupos de discussão com jovens que lecionam LE (Capítulo VII) 1 entrevista

narrativa

Interpretação de uma

entrevista narrativa com uma jovem que leciona espanhol (Capítulo V) Como foram os movimentos, as tensões e embates presentes na história do ensino público de línguas estrangeiras no Distrito

Federal, de sua concepção aos dias atuais?

Compreender e reconstruir os movimentos, tensões e embates presentes na história do ensino de língua estrangeira do DF, de sua concepção aos dias atuais. Questionário de identificação Organização do perfil de 7 sujeitos de pesquisa: 6 docentes aposentados/as e um docente especialista (Capítulos V e VIII) 3 entrevistas narrativas Interpretação de 3 entrevistas narrativas (Capítulo V) 1 grupos de discussão Interpretação de um grupo de discussão de pioneiras (Capítulos VIII) Documentos escritos

Discursos dos anos 1959 Leis e diretrizes sobre o ensino de LE no Brasil e no DF Fonte: Quadro organizado pela pesquisadora – janeiro/2014.

Foram também analisados e interpretados dados escritos para a compreensão do ensino de LE no Brasil e a entrada na história do ensino de LE no Distrito Federal ocorreu por meio do estudo, análise de discursos, fotos, reconhecimento de uma placa de inauguração dos anos 1959, da legislação sobre o tema. Appel (2005) sugere que se entreviste pessoas que tiveram papel importante nos processos de trocas culturais, que foram mediadores culturais (p.2)6. Assim, um

grupo de discussão de docentes pioneiras, e uma entrevista narrativa com uma participante deste grupo foram realizados, sendo todas representantes do idioma inglês. Houve também uma entrevista narrativa com um docente pioneiro dos anos 1970, representante do idioma francês e uma entrevista narrativa com um especialista em CIL, oriundo do idioma inglês. Ocorreu uma única entrevista narrativa com uma jovem que leciona espanhol.