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3.1 A CONSTITUIÇÃO DAS FONTES AUTOBIOGRÁFICAS

3.1.1 Memoriais acadêmicos

O quadro seguinte apresenta o total de 47 (quarenta e sete) memoriais acadêmicos, datados de 1935 a 1980. Cada uma das cinco décadas foi colorida com uma cor específica para melhor visualização do conjunto.

FMV – Faculdade de Medicina Veterinária; FMB – Faculdade de Medicina da Bahia; FFCL – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras; FE – Faculdade de Educação; FMVZ – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia; ICB – Instituto de Ciências Biomédicas.

Quadro 1 – Corpus constituído por memoriais acadêmicos (1935-1980) Fonte: Elaborado a partir dos documentos

MEMORIAIS ACADÊMICOS (1935-1980)

Ano Autor Título Pág Finalidade Instituição Código

1935 Clemente Pereira Memorial 31 Catedrático FMV-USP 01|35 1935 Flávio Oliveira R. da Fonseca Memorial 38 Catedrático FMV-USP 02|35 1935 Zeferino Vaz Memorial 28 Catedrático FMV-USP 03|35 1936 Dorival da Fonseca Ribeiro Memorial 58 Catedrático FMV-USP 04|36 1936 Max de Barros Erhart Curriculum Vitae 19 Catedrático FMV-USP 05|36 1936 Paulo Enéas Galvão Memorial 20 Catedrático FMV-USP 06|36 1938 Cesário Ramos Machado Curriculum Vitae 08 Catedrático FMV-USP 07|38 1938 Adriano de Azevedo Pondé Títulos e trabalhos

científicos

54 Catedrático FMB-UFBA 08|38

1941 Paschoal Mucciolo Memorial 15 Catedrático FMV-USP 09|41 1942 Laerte Machado Guimarães Memorial 04 Catedrático FMV-USP 10|42 1942 Theodoro Lion de Araújo Memorial 11 Catedrático FMV-USP 11|42 1946 Romeu Diniz Lamounier Memorial 14 Catedrático FMV-USP 12|46 1946 Sebastião Nicolau Piratininga Memorial 10 Catedrático FMV-USP 13|46 1946 Heinrich Hauptmann Memorial 16 Catedrático FFCL-SP 14|46 1950 Humberto Cerruti Memorial 120 Docente livre FMV-USP 15|50 1951 Paulo Mª Gonzaga de L. Jr. Memorial 17 Catedrático FMV-USP 16|51 1951 Ary França Memorial 05 Catedrático FFCL-SP 17|51 1952 Ernesto Antonio Matera Memorial 27 Catedrático FMV-USP 18|52 1952 Euclydes Onofre Martins Memorial 16 Catedrático FMV-USP 19|52 1953 José de Fatis Tabarelli Neto Memorial 31 Catedrático FMV-USP 20|53 1955 Antonio G. Ferri Memorial 26 Catedrático FMV-USP 21|55 1955 Nylceo Marques de Castro Curriculum Vitae 12 -- FMV-USP 22|55 1956 Ihiel Schwartz Schneider Memorial 20 Docente livre FMV-USP 23|56 1956 Orlando Marques de Paiva Memorial 45 Catedrático FMV-USP 24|56 1957 Ma io D Ápi e Memorial 63 Catedrático FMV-USP 25|57 1958 Adolpho Ribeiro Netto Memorial 14 Efeti o FMV-USP 26|58 1958 Paulo de Carvalho Pereira Memorial 09 Livre Docência FMV-USP 27|58

1960 Armando Chieffi Memorial 37 -- FMV-USP 28|60

1961 Décio de Mello Malheiro Memorial 33 Adjunto FMV-USP 29|61 1962 Fernando Andreasi Memorial 44 Adjunto FMV-USP 30|62 1962 Omar Jaques M. Barbuto Memorial 21 Docente livre FMV-USP 31|62 1963 Fernando V. de Carvalho Memorial 23 Catedrático FMV-USP 32|63 1964 Dinoberto Chacon de Freitas Memorial 47 Catedrático FMV-USP 33|64 1964 Virgílio Bonoldi Memorial 55 Catedrático FMV-USP 34|64 1965 Luiz Ferreira Martins Memorial 34 Livre-docência FMV-USP 35|65 1968 Carlos Correa Mascaro Memorial 21 Associado FE-USP 36|68 1968 Uriel Franco Rocha Memorial 66 Associado FMV-USP 37|68 1969 Nilton Santos de Campos Memorial 14 -- FMV-USP 38|69 1969 Bruno Soerensen Cardozo Memorial 32 -- FMV-USP 39|69 1972 Adayr Mafuz Saliba Memorial 65 Titular FMVZ-USP 40|72 1973 Osmane Hipólito Memorial 63 Titular FMVZ-USP 41|73

1975 Walter Spicciati Memorial 30 --- FMVZ-USP 42|75

1976 A to io Al e to D E i o Memorial 55 --- FMVZ-USP 43|76 1977 Marlene Pezzutti Holzchuh Memorial 26 --- FMVZ-USP 44|77 1978 Francisco Gacek Memorial 80 Livre-docente ICB-USP 45|78 1979 Antonio P. Schlindwein Memorial 63 Livre-docência FMVZ-USP 46|79 1980 Maria Martha Bernardi Memorial 37 --- ?-USP 47|80

Como se pode observar, o Quadro 1 foi construído em função de nossas primeiras aproximações de análise. Na últi a olu a, so a u i a ódigo , encontram-se o número do memorial e o ano. Cada memorial está identificado, em primeiro lugar, pelo ano de sua produção. Vemos que a distribuição é bastante desigual. Na década de 1930, temos 8 memoriais; na década de 1940, encontramos apenas 6 memoriais; as décadas de 1950 e de 1960 são as que têm mais exemplares: 13 e 12 respectivamente; e na década de 1970, temos 8 memoriais, dos quais 1 deles datado de 1980.

Retomamos nesse Quadro os nomes de seus autores. É importante observar que entre os memoriais encontrados apenas dois foram escritos por mulheres e esses memoriais se situam já na década de 1970. Uma de nossas preocupações era identificar se havia títulos nos memoriais, como havíamos encontrado nos memoriais de formação, analisados anteriormente. A grande maioria traz o nome Memorial na capa. Apenas quatro memoriais se destacam: três são nomeados como Curriculum Vitae e o memorial de Ad ia o de Aze edo Po d , T tulos e t a alhos ie t fi os , ap ese tado U i e sidade Federal da Bahia.

Outro elemento que nos chamou a atenção e que faz parte desse Quadro é a quantidade de páginas. Podemos observar que esse número é bastante variado, temos memoriais com o número mínimo de 4 páginas (datado de 1942) e outro com o máximo de 80 páginas (datado de 1978). A grande maioria se situa entre 20 e 40 páginas.

Temos, respectivamente, na antepenúltima e penúltima coluna a finalidade ou cargo para o qual se candidataram os professores e as instituições nas quais eles ingressaram. Discutiremos mais adiante a predominância da Faculdade de Medicina Veterinária da USP, como aquela que é a mais recorrente e a diversidade de concursos e cargos, além da predominância quase absoluta do gênero masculino entre os autores. Para sintetizar, podemos dividir esses primeiros memoriais em dois grandes blocos: 1) Memoriais das décadas de 1930 a 1950; 2) Os memoriais das décadas de 1960 a 1970 (já que apenas um representa o ano de 1980).

Os memoriais das três primeiras décadas constituem, até onde pudemos constatar, os primeiros da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal da Bahia. Eles se concentram na área da Saúde e todos foram escritos por professores do sexo masculino para os cargos de professor catedrático e livre docente. Sua escrita segue as orientações contidas nos editais, havendo na abertura de alguns a transcrição dessas orientações. Eles

apresentam variabilidade no número de páginas e quatro deles trazem títulos diversos, conforme já mencionado. Podemos adiantar, aqui, que a especificidade da maioria desses memoriais consiste na adoção de uma escrita narrativa, a qual visa: expor os fatos ocorridos durante a trajetória acadêmico-p ofissio al e o p o a a ida ie t fi a a partir da transcrição de resumos dos trabalhos publicados e da extensa lista de documentos que aparece ao final do memorial.

No que concerne aos memoriais das décadas de 1960 e de 1970, observamos a variedade de cargos inexistente nas décadas anteriores: professor catedrático, livre docente, adjunto, associado e titular. Essa mudança decorre da Reforma Universitária datada de 1968 (Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968, que fixa normas de organização e funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média), que extinguirá o cargo de catedrático e instituirá em seu lugar o cargo de Professor Titular. Nas instituições federais, foram criados outros cargos estabelecendo diferentes níveis da carreira: adjunto, assistente e auxiliar de ensino. Permanecendo a possibilidade de concurso para Livre-docente, ainda hoje uma tradição na USP. Observamos ainda que sete desses memoriais não especificaram o cargo pretendido e que apenas duas mulheres compõem o nosso acervo. Como especificidade da escrita nessas décadas, percebemos o abandono da narrativa dos fatos e a adoção da prática de listagem dos eventos, caracterizando-se como uma mera exposição. Estavam muito mais próximos da estrutura do Curriculum Vitae do que da estrutura dos memoriais observados na década de 1930.

Dentre os 47 (quarenta e sete) memoriais relacionados no Quadro 1, selecionamos 16 (dezesseis) memoriais para análise, tomando como critério o de escolher pelo menos 1 memorial como representante de cada década:

1935 – Flávio Oliveira Ribeiro da Fonseca – Prof. Catedrático|FMV-USP 1935 – Clemente Pereira – Prof. Catedrático|FMV-USP

1935 – Zeferino Vaz – Prof. Catedrático|FMV-USP

1936 – Dorival da Fonseca Ribeiro – Prof. Catedrático|FMV-USP 1936 – Paulo Enéas Galvão – Prof. Catedrático|FMV-USP

1938 – Adriano de Azevedo Pondé – Prof. Catedrático| FMB- UFBA 1942 – Laerte Machado Guimarães – Prof. Catedrático|FMV-USP 1946 – Sebastião Nicolau Piratininga – Prof. Catedrático|FMV-USP

1946 – Heinrich Friedrich Hauptmann – Prof. Catedrático|FFCL-USP 1951 – Ary França – Prof. Catedrático|FFCL-USP

1952 – Ernesto Antonio Matera – Prof. Catedrático|FMV-USP 1955 – Nylceo Marques de Castro – Prof. Catedrático|FMV-USP 1964 – Virgílio Bonoldi – Prof. Catedrático|FMV-USP

1968 – Carlos Correa Mascaro – Prof. Associado|FE-USP 1973 – Osmane Hipólito – Prof. Titular|FMVZ-USP 1978 – Francisco Gacek – Livre-docência|ICB-USP

Como se observa, selecionamos 6, dentre os 8 memoriais da década de 1930. Essa escolha deveu-se, primeiramente, ao fato de tais memoriais marcarem a institucionalização dessas escritas em pelo menos duas universidades brasileiras e, em segundo lugar, por se mostrarem profícuas às análises. Neles foi possível identificar pistas acerca da cultura educacional do país específica das primeiras do século XX, além da possibilidade de reconstituição dos ritos da universidade brasileira a partir de sua leitura. É nesse sentido que não nos se ti os o tade pa a des a ta a aio ia deles, e lui do-os das análises. O mesmo se deu quanto às décadas de 1940 e 1950, dos quais selecionamos 3 como representativos dos períodos estudados.

Outra observação importante consiste na reduzida seleção de memoriais referentes às décadas de 1960 a 1970, em comparação às décadas de 1930 a 1950. A justificativa reside na constatação do formato padronizado que o memorial assumiu nesse período. Desse modo, entendemos que se tornaria redundante para as análises selecionar uma quantidade maior de memoriais no período compreendido entre essas décadas.

Para dar continuidade à constituição do corpus, com memoriais das décadas de 1980, 1990, 2000, momento em que o o e o ue esta os ha a do de e pa s o e di e sifi aç o dos e o iais , o procedimento para a seleção dos memoriais acadêmicos orientou-se pelo critério de disponibilidade pública. Ou seja, selecionamos memoriais publicados sob a forma de livro ou em coletâneas. O Quadro 2 reúne os demais memoriais acadêmicos selecionados para nossas análises.

MEMORIAIS ACADÊMICOS (1980-2007)

Ano Autor Título Pág Finalidade Instituição Código

1981 Magda Soares Metamemória-memórias. Travessia de uma educadora

124 Titular UFMG 48|80

1993 Heloisa Helena Oliveira Buarque de Hollanda

Caminhos e descaminhos de uma professora universitária

43 Titular UFRJ 49|93 2000 Cynthia Pereira de Sousa Rememorações 36 Livre- Docência USP 50|00 2000 Jane Soares de Almeida

Tempora mutantur et nos cum illis 40 Adjunto UNESP 51|00 2005 Elizabeth Santos Ramos Memórias de um texto de partida 32 Adjunto UFBA 52|05

2005 Vera Lucia Xavier Pinto

Nem Quixote nem Sancho: apenas uma professora em busca de um sonho

48 Assistente UFRN 53|05

2007 Paula Perin

Vicentini

A formação como ponto de partida e de chegada: marcas e disposições da docência

23 Adjunto USP 54|07

UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais; UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro; UNESP – Universidade Estadual Paulista; UFBA – Universidade Federal da Bahia; UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte; USP – Universidade de São Paulo.

Quadro 2 – Corpus constituído por memoriais acadêmicos (1980-2007) Fonte: Elaborado a partir dos documentosanalisados

Escolhemos o memorial da professora Magda Soares, por ser aquele que se o stitui u a o desse o o o e to. Pu li ado, e , so o t tulo Meta e ia- memórias: travessia de u a edu ado a , o e o ial foi es ito e e ap ese tado pa a concorrer ao cargo de professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais. Dez anos depois, em 2001, o livro foi reeditado e firma-se, vinte anos depois, como referência para a escrita do gênero memorial no Brasil.

Para Walter Garcia (2001, p. 7-8 a p i ei a ez ue u edu ado asilei o contemporâneo tem a feliz ideia de revelar sua trajetória intelectual, suas dúvidas, suas perplexidades, e o caminho que o levou à plena emancipaç o i tele tual . Pa a o auto o desafio enfrentado por Magda Soares configura-se como um exemplo para as novas ge aç es, u a ez ue O o p o isso de u edu ado sig ifi a, ta , assu i -se, perante os colegas e a sociedade, sem mistificações e oportunismos que alguns zelosamente ulti a . Pa a s ue investigamos os memoriais como uma tradição da universidade brasileira, somos testemunhas de que seu memorial constitui-se um verdadeiro legado para a criação do memorial de formação. A sua história intelectual e profissional e a problematização de aspectos inerentes não somente à profissão, mas também ao ser

humano, responsável por sua existência e pela promoção de mudanças sociais, inspirou a escrita dos primeiros memoriais e continua servindo de quadro para tantas professoras que se veem diante da tarefa de escrever sobre sua formação.

Os demais memoriais acadêmicos selecionados para a análise fazem parte de duas olet eas, pu li adas e , a s ie Es itas de si (BARBOSA; PASSEGGI, 2011a e 2011b),coordenada por Tatyana Mabel Nobre Barbosa. Os dois livros trazem o total de nove memoriais. Após uma leitura flutuante, a nossa escolha recaiu sobre cinco memoriais, tendo em vista o seu ano de produção e o anseio de trazer à tona, nesse outro extremo temporal focalizado na tese, a voz da mulher professora, em contraposição à voz masculina predominante nos memoriais representativos das primeiras décadas estudadas. São eles|elas: Heloisa Helena Oliveira Buarque de Hollanda (1993), Cynthia Pereira de Sousa (2000), Jane Soares de Almeida (2000), Elizabeth Santos Ramos (2005), Vera Lucia Xavier Pinto (2005), Paula Perin Vicentini (2007).