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3.1 A CONSTITUIÇÃO DAS FONTES AUTOBIOGRÁFICAS

3.1.2 Memoriais de formação

Para a constituição das fontes com os memoriais de formação, selecionamos o conjunto de memoriais que faziam parte de nosso acervo desde os trabalhos de iniciação científica e sobre os quais também trabalhamos no mestrado. Esses memoriais, datados de 1995 a 2000, constituem, hoje, parte da memória – pois se trata dos primeiros memoriais elaborados e defendidos – do Instituto de Educação Superior Presidente Kennedy (IFESP- RN), em Natal-RN, vinculado à Secretaria de Educação do Rio Grande do Norte, e que institucionalizou o memorial de formação enquanto prática pedagógica na formação de professores.

Os memoriais de formação selecionados correspondem a 10% de todo o acervo disponível na Biblioteca do IFESP-RN, no ano 2000, e compreendem 98 (noventa e oito) memoriais elaborados, defendidos e aprovados desde a primeira turma, ou seja, de 1995 ao ano de 2000. Esclarecemos que a recolha foi realizada de forma aleatória e tomou como único critério o ano de elaboração e defesa. Para a análise mais aprofundada das narrativas, delimitamos o corpus a 30 (trinta) memoriais de formação, definindo, desta vez, 5 (cinco) memoriais por ano. Essa seleção foi realizada a partir de leituras flutuantes, a partir das quais identificamos, no processo, a referência à voz do outro, mediante citações dos autores

que nos davam pistas sobre as diretrizes teóricas e metodológicas que emergiam como base da formação e das concepções educacionais que guiavam a formação intelectual dos professores-alunos em formação. Realizamos o levantamento de 300 (trezentas) citações nos trinta memoriais selecionados.

Em nosso trabalho de tese retomamos a análise das citações presentes em 17 dezessete desses e o iais de fo aç o, pa a i estiga as a as i s itas pela oz do

outro as a ativas de formação. O Quadro 3 reúne e descreve tais memoriais, os quais

também fazem parte do corpus da pesquisa.

MEMORIAIS DE FORMAÇÃO (1995-2000)

Ano Autor Título Pág Finalidade Instituição Código

1995 FEITOSA, S. M. Percepção sobre a prática docente

30 Conclusão de curso IFESP|RN 01|95

1995 SILVA, M. A. Minha evolução

intelectual e profissional

28 Conclusão de curso IFESP|RN 02|95 1996 CARVALHO, L. M. Questionando... aprendendo na busca do novo 27 Conclusão de curso Superior IFESP|RN 03|96 1996 FERNANDES, L. R. R. F

Tecendo uma história: aperfeiçoando o saber fazer pedagógico

31 Conclusão de curso IFESP|RN 04|96

1996 MIRANDA, I. M. Ser professor: um caminho de permanente busca

38 Conclusão de curso IFESP|RN 05|96

1997 NÓBREGA, Z. M. P. Memorial 32 Conclusão de curso IFESP|RN 06|97 1997 RODOLFO, L. S. A. Pilares de uma formação

educacional – desafios e experiências

28 Conclusão de curso IFESP|RN 07|97

1998 SOUSA, V. M. A. Em busca da identidade profissional

30 Conclusão de curso IFESP|RN 08|98 1998 VARELA, I. F. Buscando os saberes 34 Conclusão de curso IFESP|RN 09|98 1999 ARAÚJO, L. C. F. Profissão professora: em

busca da competência profissional

29 Conclusão de curso IFESP|RN 10|99

1999 MENEZES, M. F. S. Educar numa dimensão

reflexiva e

transformadora

30 Conclusão de curso IFESP|RN 11|99

1999 NIELSEN, L. M. L. Transformando a prática pedagógica.

33 Conclusão de curso IFESP|RN 12|99 1999 SILVA, J. M. F. Refletindo o fazer

pedagógico

31 Conclusão de curso IFESP|RN 13|99 2000 LIMA, L. J. Educar pela cidadania 32 Conclusão de curso IFESP|RN 14|00 2000 OLIVEIRA, R. C. Trilhando caminhos: de

aprendiz a professora

29 Conclusão de curso IFESP|RN 15|00 2000 PEREIRA, M. E. Magistério: formar para

transformar.

34 Conclusão de curso IFESP|RN 16|00 2000 SANTOS, E. M. Reflexão para mudar 32 Conclusão de curso IFESP|RN 17|00 Quadro 3 – Memoriais de formação (1995-2000)

Como se pode observar, o Quadro 3 traz informações sobre os memoriais de formação, cujos autores são identificados pelo sobrenome. Como se trata de uma escrita semi-pública, já que tais documentos encontram-se no arquivo da instituição, essa forma de referenciação foi a indicada pelos bibliotecários, pois constituem, antes de tudo, trabalhos de final de curso. Quanto ao título, podemos observar que todos os memoriais, exceto um, apresentam títulos sugestivos que buscam antecipar o foco dado na reconstituição da formação recebida na instituição, diferentemente do que observamos nos memoriais das décadas de 1930 a 1970.

No Quadro 3, é possível ainda destacar a maior quantidade de memoriais nos anos de 1999 e 2000. Isso se justifica pelo fato de estes terem sido os memoriais que acompanhamos em seu processo de elaboração e defesa.

Segundo Bauer e Aarts (2002, p. , U a oa a lise pe a e e de t o do corpus e procura dar conta de toda a dife e ça ue est o tida ele . Nesse se tido ue buscamos na composição dos dados, não uma forma de homogeneizá-los, mas de encontrar, por meio da análise, fatos ou explicações que justifiquem nossa opção pelo estudo dos vínculos que se estabelecem entre o contexto sócio-histórico e os gêneros do discurso e destes com a reinvenção de si, mediante a escrita autobiográfica.

Em resumo, o corpus referente aos memoriais autobiográficos, selecionado para análise neste trabalho está constituído por 40 (quarenta) memoriais, assim distribuídos:

 16 (dezesseis) memoriais acadêmicos, datados de 1935 a 1970;  07 (sete) memoriais acadêmicos, datados de 1980 a 2007;  17 (dezessete) memoriais de formação, datados de 1995 a 2000.

Se nas três primeiras décadas (1930, 1940, 1950) encontramos apenas memoriais de professores-homens, escritos, em sua maioria, para cargos na área das ciências médicas; os memoriais das décadas de 1980, 1990 e 2000, são todos eles escritos por professoras e todas elas para cargos na área das ciências humanas. O que historicamente isso nos diz? Prestígio da figura masculina na área da medicina e no ensino superior de modo geral? Segregação social da mulher e sua atuação docente restrita à alfabetização, espaço menos valorizado pela sociedade da época? Diante dessa diversidade é justo perguntar se na tentativa de dar homogeneidade a esses dados a fim de lhes garantir representatividade científica não estaríamos perdendo o que dá vitalidade às biografias e às autobiografias

como método científico, ou seja, que o conhecimento que delas emana faz parte da vida (bios) e retorna para a vida.

Nesse ponto, trazemos à tona questões sociais de gênero, com a crescente conquista de espaços pela mulher na escolarização e na profissionalização; questões políticas, que fazem coincidir o eclipse desse tipo de escrita com o período do governo militar e, em seguida, o seu ressurgimento na fase de redemocratização do país; e, finalmente, a tese sobre os gêneros do discurso, inspirada em Bakhtin (2003), e que defendemos aqui, segundo a qual os memoriais evoluem e se complexificam à medida que seus contextos de uso também evoluem e se tornam mais complexos.