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Mercado Brasileiro

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CAPÍTULO III – ANÁLISE DO CORPUS

3.3 Análise das informações coletadas

3.3.5.1 Mercado Brasileiro

O mercado de mídias móveis no país é novo, porém apresenta crescimento acelerado, atingindo quase a totalidade da população. Grande parte dos aparelhos são pré-pagos e o acesso aos conteúdos se dá, prioritariamente, via SMS, realidade que se deve, principalmente, a questões econômicas que atrasam o processo de inclusão digital. Desse modo, Restrepo (Anexo IV, Editacuja) afirma que “ainda falta muito em termos de inserção, democratização digital, mas está indo por um bom caminho e o Brasil é um dos primeiros, é o quarto ou quinto país com maior número de linhas móveis do mundo, com mais de 170 milhões de linhas móveis” (RESTREPO, Anexo IV, Editacuja).

O acesso às linhas móveis, porém, não reflete, necessariamente, crescimento do mercado. Neste sentido, Restrepo (Anexo IV, Editacuja) diz que há a necessidade de novos projetos e incentivos para implementação de mais serviços móveis no Brasil e na América Latina. Ele destaca, por exemplo, o fato de estarmos atrasados em relação à África na implantação de serviços de pagamento móvel. “Na África, já se atingiu 8% de penetração do

pagamento móvel e, no Brasil, estamos ainda nos 2%, por exemplo. Coisas que tem a ver, principalmente, com a alta carga tributária que se tem no Brasil” (RESTREPO, Anexo IV, Editacuja). Rosa (Anexo V, MEF) explica que o imposto de telecomunicação do Brasil é o mais caro do mundo, 35%, e o custo de telecomunicações no país está entre os dois mais caros do mundo, o que dificulta o acesso.

Do meu pós-pago, ligar para os EUA é mais barato do que uma pessoa que tem pré-pago ligar dentro do estado de SP: pago um real e pouco por minuto. Nos EUA, com este valor, eu falo durante 5h para Marte, quer dizer, não tem relação nenhuma de preço e lá, obviamente, o poder aquisitivo é muito maior do que aqui (ROSA, Anexo V, MEF).

De acordo com Santucci (Anexo VI, PlayPhone), o mercado brasileiro está atrasado, cerca de dois anos, em relação aos outros países nos quais a PlayPhone atua. “Hoje, a gente fala muito nos eventos da nossa área em aplicativos, mas o pessoal ainda não está acostumado com isso, não sabe direito o que é, tem medo de baixar, tem medo de interagir...” (SANTUCCI, Anexo VI, PlayPhone). Já para Grison (Anexo V, MEF), o mercado de mídias móveis no país está em um período de entressafra, com muita venda de conteúdo por SMS e com o crescimento do número de pessoas com smarthphones, que querem novidade, mas ainda não estão dispostas a pagar mais por isso. Neste sentido, as empresas estariam buscando um formato de conteúdo compatível à realidade do país. “Você vai para outros países, tem muita venda de aplicativos, 40% da população tem iPhone, então é muito mais fácil fazer um conteúdo com formatos mais avançados, que vira para cá, vira para lá, games como estávamos falando, do que fazer para um celular mais simples, né?” (GRISON, Anexo V, MEF).

Neste momento de entressafra, o mercado tenta se estruturar, buscando novas possibilidades para o desenvolvimento de conteúdos, para a divulgação da mídia móvel e, também, para a regulamentação do setor. Restrepo (Anexo IV, Editacuja) comenta que, neste sentido, existem iniciativas interessantes, como o Mobile Monday, que reúne integrantes do mercado móvel e interessados na área para discutir tendências da indústria. Fiaschi (Anexo VII, Pure Bros) destaca, ainda, que antes que o mercado seja completamente regulado, alguns integrantes da cadeia, como operadoras, integradores e provedores, estão se unindo para desenvolver boas práticas.

3.5.2 Mercado Internacional

Enquanto o mercado brasileiro está em período de maturação, outros países, em fases mais avançadas em relação à produção de conteúdo para mídias móveis, apresentam novas possibilidades para essas tecnologias, priorizando a promoção de experiências diferenciadas para os usuários. Para Ferreira (Anexo III, Disney), o desenvolvimento do mercado envolve a relação das pessoas com a mídia, assim com a realidade, com o contexto das mesmas. Assim como os nativos digitais usam as mídias móveis com mais facilidade, o mercado tem estágios diferentes. Nesse sentido, “os Estados Unidos é o grande gerador de produtos para novas experiências, é o grande gerador de adesão, é onde a gente realmente vê que tem envolvimento do nosso consumidor com os serviços de tecnologia que a gente oferece” (FERREIRA, Anexo III, Disney).

Comparando o Brasil com os mercados internacionais, Grison (Anexo V, MEF) acha que são momentos diferentes e regulamentações diferentes. Ela destaca, por exemplo, que na a Espanha existem 40 empresas de operadoras, “então a forma como elas competem entre elas, o tipo de serviço que oferecem, a importância que elas têm, [...], acaba diminuindo um pouco, até porque você vai em qualquer bar tem rede sem fio. Então, a pessoa consegue driblar a rede da operadora” (GRISON, Anexo V, MEF). Nesse sentido, na Europa, a importância dos desenvolvedores de conteúdos aumentou, em detrimento da relevância do papel das operadoras.

Na Ásia, por exemplo, você pega um mercado como o Japão que, desde 99 tem o uso da internet no celular no formato de i-mode que era diferente do formato daqui. O mercado é muito mais desenvolvido. Eles usam muito mais. A forma como as pessoas usam o celular é diferente e isso acaba gerando demandas diferentes dos players do mercado (GRISON, Anexo V, MEF).

Além das demandas de conteúdos serem diferentes em outros países, Santucci (Anexo VI, PlayPhone), afirma que interação com aplicativos e a utilidade dos mesmos também é maior. Ela destaca, ainda, que nos Estados Unidos e na Europa, o acesso pré-pago é raro, os custos são menores e não existe o problema da inadimplência, o que possibilita o desenvolvimento do mercado. Em relação a esse desenvolvimento, Fiaschi (Anexo VII, Pure Bros) exemplifica que na Alemanha, é possível, por exemplo, pagar a passagem de trem através do celular.

Nos Estados Unidos, quando você está acessando um site e você quer colocar alguma informação a mais como, por exemplo, um trial de um software, você consegue fazer isso pelo celular. Pelo celular, você libera que aquele trial seja cobrado, vire um meio de pagamento e, aí, funcione. Os

provedores de conteúdo que começarem a oferecer isso para os seus clientes, vão começar a surfar numa nova onda, que tem tudo para ser grande (FIASCHI, Anexo VII, Pure Bros).

Em relação ao desenvolvimento de aprendizagem móvel, Restrepo (Anexo IV, Editacuja), destaca a Inglaterra, “porque é um país que tem fomentado, já há algum tempo, a pesquisa e o desenvolvimento de projetos que incorporem tecnologias da informação e, particularmente, mobilidade, para a educação” (RESTREPO, Anexo IV, Editacuja). Assim, verifica-se que o Brasil dá seus primeiros passos em relação ao mercado de mídias móveis e que, a partir do acesso a tecnologias mais avançadas e economicamente viáveis à realidade do país, será possível desenvolver conteúdos, produtos e serviços que resultem na ampliação da experiência do usuário, aproximando-se, cada vez mais, de suas demandas comunicacionais, seja em relação a aspectos pessoais ou profissionais, indo além do uso das mesmas enquanto despertador, por exemplo.

3.3.5.3 Tendências

De acordo com Ferreira (Anexo III, Disney), está ocorrendo uma quebra de paradigmas em relação aos modelos de negócio para o celular, a partir da exploração de diferentes plataformas e tipos de produção. Neste sentido, ele destaca a responsabilidade de as mídias móveis ampliarem a experiência do usuário, a partir de seus recursos, oferecendo uma experiência tão completa quanto a oferecida pelas outras mídias. Ele destaca, então, a necessidade de se investir na produção de conteúdos mais criativos, interativos, etc., uma vez que esses estão sendo mais valorizados do que a mídia em si.

Hoje, a valorização que eu vejo é que está existindo um processo de valorização do conteúdo em si, em detrimento do meio, plataforma ou formato em que ele está presente. Então, eu acho que, hoje, o conteúdo, e isso me parece lógico, está se tornando mais relevante do que o meio. Então, o que a gente vê é um mercado de música onde a venda física começa a cair e a venda digital começa a subir. Eu vejo como um fenômeno derivado da geração nativa digital (FERREIRA, Anexo III, Disney).

Quanto à valorização do conteúdo em relação ao meio em si, Belem (Anexo I, Biz4U) afirma que o telefone está começando a ser usado para autenticar operações realizadas em outras plataformas, como serviços de banco, por exemplo, consolidando-se como um meio, no sentido mais literal. Assim, ele explica que para fazer um telefonema, as pessoas poderão utilizar os dispositivos de outras e, a partir da leitura de sua digital, ter a cobrança inserida em seu banco de dados.

Isso aqui (mostrando o iPhone) não pode ser propriedade, isso aqui é um meio, só. E quem vai pagar essa conta é o cara que está lá, com o banco de dados. É ele que diz: 'Faça esse telefonema que eu pago para você. Porque eu estou fazendo a transação aqui’. Então, a operadora vai estar fora e, provavelmente, os bancos também (BELEM, Anexo I, Biz4U).

Dias (Anexo II, Brasiltec), diz que, em conversa com um representante do Grupo Telefonica, esse afirmou que o mercado de aplicativos está mudando drasticamente devido à conexão e de celular e à queda de preços, principalmente na América Latina. Este novo mercado altera a cadeia do mercado móvel, uma vez que o acesso a dados e aplicativos através do iPhone, por exemplo, não passa pela operadora. Neste sentido, as operadoras tentam segurar o iPhone, não o divulgando, mas os usuários já começam a cobrar. Dias destaca, ainda, o acesso às redes sociais via celular, que, caso a operadora decida bloquear, corre o risco de perder clientes. Ele cita o exemplo da internet, cujo crescimento não é previsível, para mostrar quão incerto é o futuro das mídias móveis.

'Ah, não tem espaço para mais ninguém, a internet está saturada, não dá dinheiro'. Nasceu o Google, né? Nesse meio tempo, o Google nasceu, depois da bolha, o que mostrou o seguinte: tem espaço. Depois que o Google nasceu, todo mundo: 'Não tem espaço para mais ninguém, acabou...'. Aí, nasceu o Facebook, né? Agora, realmente, depois do Facebook, não tem espaço para mais ninguém, é certeza. Nasceu o Twitter, aí, agora não tem espaço, agora acabou. Twitter, Facebook, Google, Yahoo, outros caras fecharam tudo, não tem. Está nascendo o Foursquare agora, né?, que você vira prefeito da sua localidade. Eu posso virar, por exemplo, o prefeito da Record se eu quiser, dentro do Foursquare. Então, assim, eles estão nascendo com uma coisa interessante que é: todos têm aplicativos para o mobile (DIAS, Anexo II, Brasiltec).

Porto (Anexo VIII, SupportComm) também observa como tendência a redução do poder das operadoras na cadeia: “Pensar na cadeia que você tem as empresas para serem remuneradas e a operadora na ponta ganhando mais de 70%, logo de cara, mais os impostos, é... esse cálculo fica apertado para o mercado se desenvolver. Mas eu acho que a tendência é isso virar um pouco”. Neste sentido, ela destaca o crescimento da internet móvel e da importância dos desenvolvedores, com exemplos como o da Apple, que não envolve a operadora no processo. Assim, o consumidor tende a ser cada vez mais beneficiado, as mídias começam a se conectar entre si e o celular insere-se no seu cotidiano.

Para Schiffer (Anexo IX, Vivo) a convergência é uma tendência forte do mercado, que refletirá no formato dos conteúdos. Assim, Fiaschi (Anexo VII, Pure Bros) destaca que o futuro das mídias móveis será parecido com o que ocorre em outros países: o celular é inserido no cotidiano das pessoas, consolidando-se como mídia útil, possibilitando, por exemplo, a realização de compras e pagamentos via celular.

Em relação ao fato de as mídias conectarem-se entre si, Rosa (Anexo V, MEF) destaca a tendência cada vez maior da convergência internet e celular, apontando estudos que mostram que, daqui a dois anos, as pessoas vão acessar mais internet móvel pelo celular do que no computador. Neste sentido, ele destaca como principais mudanças a perda do posto dominante por parte das operadoras, uma vez que os clientes vão fazer download de aplicativos, o que implica em novos hábitos de consumo. Assim, os players dominantes seriam as empresas de search, que indicam se você vai para o site A, B ou C. “Então, você já vê empresas tipo Google e o próprio MSN se posicionando muito forte no mundo mobile. Você tem o CIO da Google falando que, daqui há quatro anos, mais de 60% das receitas do Google vão vir de mobile, não de internet” (ROSA, Anexo V, MEF).

Assim, observa-se que as mídias móveis estão em fase de crescimento no país e que ainda estão sendo configurados os hábitos de consumo das mesmas. Atualmente, as operadoras detêm maior importância no fluxo de produção de conteúdos, porém, com a popularização dos smartphones e da internet móvel, o usuário poderá acessar informações e aplicativos com maior liberdade, assim como os desenvolvedores de conteúdo terão maior autonomia. Neste novo cenário, que já é realidade em outros países nos quais o mercado móvel está mais desenvolvido, o conteúdo passa a ser mais valorizado, até mesmo em relação ao meio em si.

Com a convergência de mídias e a mobilidade, a tendência é a promoção de conteúdos que proporcionem uma experiência diferenciada ao usuário. Neste sentido, os conteúdos devem se voltar, cada vez mais, para serviços básicos do dia a dia até para complementar os modelos de aprendizagem. Entre os serviços de valor agregado, este estudo foca-se nas possibilidades de desenvolvimento da aprendizagem móvel, que será estudada com mais detalhe no próximo capítulo.

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