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Novas possibilidades educacionais

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CAPÍTULO II – EDUCAÇÃO E AS NOVAS TECNOLOGIAS DIGITAIS

2.1 Novas possibilidades educacionais

Diante da expansão das novas tecnologias digitais, que criam novas experiências educativas, seja a partir de uma visita virtual ao Museu do Louvre ou de uma pesquisa ao YouTube por um vídeo que apresenta o funcionamento do sistema digestivo, a escola ganha novos aliados para a transmissão da informação. O modelo de ensino, no qual o professor é o detentor do conteúdo e os alunos receptores passivos da transmissão, aos poucos, dá lugar ao modelo de aprendizagem, no qual o aluno tem papel mais ativo em sua formação, com postura pró-ativa diante das novas mídias, que o permite acessar as informações de seu interesse, e com participação colaborativa na transmissão das mesmas a professores e colegas de classe.

A fim de entender as diferentes análises do papel da educação para, então, situar e caracterizar as propostas que fazem uso dos potenciais das novas tecnologias, promovendo a aprendizagem em detrimento do ensino, conforme destacado acima, é possível relacionar alguns paradigmas e abordagens da educação.

Behar (2009, p.22) apresenta três paradigmas da educação: Interacionista, Instrucionista e Humanista. No paradigma Interacionista, o sujeito é o construtor do seu

próprio conhecimento, sendo a base do modelo a interação entre sujeito e meio exterior. O paradigma Instrucionista tem o sujeito como folha de papel em branco, de modo que seu conhecimento vem do meio exterior, sendo o objeto o responsável por definir o sujeito. O paradigma Humanista, por sua vez, considera que o sujeito já nasce com um saber a ser organizado à medida que cresce. Assim, ele deve fazer o que deseja, pois encontrará seu caminho, a partir de suas ações.

Mizukami (1986) destaca cinco abordagens: Abordagem Tradicional, Abordagem Comportamentalista, Abordagem Humanista, Abordagem Cognitivista e Abordagem Sociocultural. Na Abordagem Tradicional, a educação é tida como produto a ser transmitido do professor ao aluno, o que, comparando com as teorias comunicacionais, poderíamos relacionar com o modelo da agulha hipodérmica, no qual a informação é inoculada no receptor, ou seja, na qual o aluno apenas assimila o que lhe é transmitido.

A Abordagem Comportamentalista, por sua vez, considera que o conhecimento está presente na realidade exterior. Desse modo, “o conhecimento é uma “descoberta” e é nova para o indivíduo que a faz. O que foi descoberto, porém, já se encontrava presente na realidade exterior” (MIZUKAMI, 1986, p.19). Esse já está formalizado e a função do aluno é apenas descobrí-lo. Já na Abordagem Humanista, o aluno é o centro do processo, sendo que o professor não ensina, mas apenas cria condições para que os alunos aprendam. Ambas as abordagens já consideram o papel do aluno ativo em sua formação, mesmo que de formas diferentes: na Comportamentalista, esse é limitado à realidade exterior, enquanto que, na Humanista, a postura ativa do aluno, diante do conhecimento que já lhe é inerente, é que desencadeia o processo de aprendizagem.

Entre as abordagens mais próximas do que se observa para o futuro da educação, que se utiliza de modo eficaz das novas TIC, está a Cognitivista, na qual, de acordo com Mizukami (1986), o processo educativo não consiste na transmissão de verdades, mas na conquista individual dessas verdades, por parte do aluno.

Consideram-se aqui formas pelas quais as pessoas lidam com os estímulos ambientais, organizam dados, sentem e resolvem problemas, adquirem conceitos e empregam símbolos verbais. Embora se note preocupação com relações sociais, a ênfase dada é na capacidade do aluno de integrar informações e processá-las (MIZUKAMI, 1986, p.59).

Desse modo, o aluno passa a ter postura ativa, ao ser instigado à exploração e compreensão da realidade e à procura por soluções aos problemas detectados, o que se relaciona ao paradigma Interacionista. Trazendo para a comunicação, poderíamos aproximar tal abordagem à teoria dos Meios e Mediações, na qual o receptor é responsável pela

construção da mensagem, a partir das informações transmitidas pelas mídias em contraste com sua realidade, repertório cultural e postura ativa na busca por outras fontes de informação.

Para finalizar, a Abordagem Sociocultural, que também pode ser associada à educação com o uso das novas tecnologias e ao paradigma Interacionista, destaca a relação homem e mundo e o processo horizontal na relação professor-aluno. Assim, “para que o processo educacional seja real é necessário que o educador se torne educando e o educando, por sua vez, educador” (MIZUKAMI, 1986, p.99). Neste sentido, professor e aluno atuam conjuntamente na troca de informações, o que culmina na produção de conhecimento e no consequente processo de aprendizagem.

Com a sistematização das abordagens e paradigmas da educação e levando em conta que, de acordo com Behar (2009, 20), paradigma é um corpo teórico ou sistema explicativo dominante, durante algum tempo, em uma área científica particular, e que um modelo pedagógico, que representa uma relação de ensino/aprendizagem, sustentada por teorias de aprendizagem, pode ser embasado em uma ou mais teorias de aprendizagem, podemos entender melhor o cenário educacional no qual as TIC estão sendo inseridas e as possíveis transformações que podem promover nestes modelos. Tomando como base a missão da educação na era planetária que, de acordo com Morin (2003, p.98) “é fortalecer as condições da possibilidade da emergência de uma sociedade-mundo composta por cidadãos protagonistas, consciente e criticamente comprometidos com a construção de uma civilização planetária”, percebemos a necessidade de reconfiguração, por exemplo, dos papéis do aluno e professor.

Em meio às distintas possibilidades de entretenimento e de uso das mídias disponíveis aos alunos, como videogames, TV, internet, celular, entre outros, a falta de interesse e dispersão na sala de aula tendem a se agravar. Os conteúdos da escola, algumas vezes, ainda são apresentados de forma estática e fragmentada, por disciplinas aparentemente desvinculadas entre si, enquanto os aparatos tecnológicos detém plataformas 3D, vídeos de alta definição e jogos interativos, que associam conceitos de física, história, artes, etc. Muitas vezes, a informatização das escolas reduz-se à mera utilização de um novo meio, no qual se dá a transposição dos mesmos formatos de conteúdos, ou seja, as tecnologias não são utilizadas com a exploração de seus potenciais. Assim, os alunos ficam limitados às suas anotações e à realização de tarefas, exclusivamente articuladas pelos professores, sem a possibilidade de avançarem em observações próprias e em atividades práticas relacionadas ao conteúdo estudado.

Na escola, continuamos limitando nossas crianças ao espaço reduzido de suas carteiras, imobilizadas em seus movimentos, silenciadas em suas falas, impedidas de pensar. Reduzidas em sua criatividade e em suas possibilidades de expressão, as crianças encontram-se também limitadas em sua sociabilidade, presas à sua mente racional, impossibilitadas de experimentar novos vôos e de conquistar novos espaços (MORAES, 2001, p.50).

Faz-se necessário, portanto, avançar dos modelos pedagógicos centrados apenas na atuação do professor para processos de aprendizagem, nos quais, a partir da orientação dos docentes quanto à pesquisa e à busca por informações credíveis, os alunos sejam co- responsáveis pela compreensão da realidade que os cercam e pela elaboração de conhecimentos, a partir de uma postura ativa. Neste sentido, com a utilização do conceito de aprendizagem, “que coloca o aluno no centro do processo, em lugar de “ensino”, que remete o foco ao professor e à escola, fica mais fácil perceber que a educação ultrapassa os limites físicos da chamada “escola tradicional”” (TORI, 2010, p.26).

De acordo com Behar e Torrezan (2009, p.55), a nova concepção educacional, fundamentada no pensamento de Piaget, não significa que o aluno deva aprender sozinho, mas que deva ter liberdade para, a partir da interatividade com os materiais didáticos e da interação com colegas e professores, construir as suas próprias conclusões. “Ao professor cabe propiciar aos alunos essas situações em que eles irão entrar em contato com os objetos, interagir, contra-argumentar, desequilibrar-se, assimilar, reequilibrar-se, construir” (BEHAR; TORREZAN, 2009, p.55).

Nesse sentido, o processo de aprendizagem demanda interação entre professor-aluno e aluno-meio. Neste estudo, o conceito de interação refere-se à relação recíproca de ambos os atores do processo comunicativo, e interatividade ao potencial de um processo ou aparato tecnológico de promover interação. Assim, quanto ao processo educativo, seja ele formal, relacionado às instituições de educação, ou informal, relativo à transmissão de conteúdos de cunho educacional ou informativo, por meio de meios de comunicação, empresas e, até mesmo, publicidades, faz-se necessária a interação entre os interlocutores, seja para a transmissão recíproca de conteúdos ou para a exploração de atividades de campo, a fim de compreender um dado fenômeno ou realidade.

Ao professor, cabe a função de instrução e criação de situações que conduzam o aluno ao processo de aprendizagem. Esse, por sua vez, ao desvendar uma dada situação, assume também o papel de educador ao relatá-la ao docente e à classe, a partir de suas percepções e dos caminhos traçados rumo à informação, o que corrobora com a Abordagem Sociocultural. A interação com o meio, essencial neste processo, permite ao aluno entender, na prática, os

conteúdos estudados, a partir de uma postura de exploração da realidade, em detrimento de uma ação simplesmente constatativa, como prevê a Abordagem Comportamentalista.

A interação social é destacada por Vygostky (1989) como origem e motor da aprendizagem e do desenvolvimento intelectual. O sujeito toma consciência e aprende não só nas relações consigo mesmo (intrapessoal), mas também em nível social (interpessoal) como valores, linguagem e conhecimento (BEHAR; LONGHI; BERCHT, 2009, p.211).

Desse modo, cabe ao aluno processar as informações, característica da Abordagem Cognitivista, o que culmina no processo de aprendizagem. Ou seja, o aluno deve ir a campo, orientado em relação à sua pesquisa, mas sem “pré-conceitos” quando às suas observações. Ao visitar um zoológico, por exemplo, é interessante que ele saiba diferenciar anfíbios de répteis, mas também é importante que esteja curioso para entender como é o habitat de cada um. De acordo com Torres e Fialho (2008, p.456), “a tecnologia permite a experiência em primeira pessoa, experiências vivenciais e não apenas virtuais. O aprendizado deve sustentar- se na curiosidade do aluno, em sua procura pelo conhecimento”.

Para que a aprendizagem aconteça é preciso criar perturbações, desequilíbrios (situações-problema), que levem a criança a fazer um esforço de auto-organização, reequlibração, incorporando algo em suas estruturas, reorganizando-se novamente. A função do educador é criar perturbações, provocar desequilíbrios e, ao mesmo tempo, colocar um certo limite nesse desequilíbrio, propondo situações-problema, desafios a ser vencidos pelos alunos, para que possam construir conhecimentos e, portanto, aprender (MORAES, 2001, p.144).

Enquanto processo comunicativo, que pode se utilizar de diversas tecnologias para se consolidar, os novos modelos de educação necessitam de mediadores, responsáveis pela efetiva interação aluno-meio. Dessa forma, as ilimitadas possibilidades de acesso à informação não substituem o papel da escola e do professor. Até mesmo modelos de educação a distância, que se utilizam de forma mais eficaz das novas TIC, não se configuram como processos de autodidatismo. A figura do professor e da escola continuam sendo essenciais para a aprendizagem do aluno. O professor, a partir de sua formação e experiência, deve mediar o processo, orientando os alunos no percurso rumo à construção de conhecimento e ao aprendizado.

Os modelos educacionais emergentes demandam, portanto, transformações que se iniciam na formação do docente. “Cada vez se torna mais necessário o seu trabalho como mediação nos processos constitutivos da cidadania dos alunos, para o que concorre a superação do fracasso e das desigualdades escolares. O que, parece-me, impõe a necessidade de repensar a formação de professores” (PIMENTA, 2003, p.161).

Além de conhecimentos específicos sobre determinada área e da didática, os futuros professores devem conhecer os potenciais das novas tecnologias, seja para a elaboração de uma aula multimídia ou para a instrução aos alunos quanto aos sites que contêm informações credíveis e fontes seguras, até formas de interação, via fórum, formatos de arquivos compatíveis para envio online, entre outros. Faz-se necessário, ainda, compreender a realidade dos alunos, como utilizam a tecnologia, quais recursos digitais mais gostam, entre outros, a fim de instigá-los à utilização das TIC também para fins educacionais.

Neste sentido, de acordo com Moraes (2001, p.137), o foco da escola mudou e sua missão é atender ao aprendiz, que aprende e utiliza o conhecimento de forma diferenciada: “essa compreensão se fundamenta nas descobertas da ciência cognitiva e da neurociência, que reconhecem a existência de diversos tipos de mentes e, conseqüentemente, de diferentes formas de aprender, lembrar, resolver problemas, compreender ou representar algo”. “A educação, em todas as duas dimensões, torna ainda mais patente a necessidade da postura interdisciplinar, tanto como objeto de conhecimento e de pesquisa quanto como espaço e mediação de intervenção sociocultural” (SEVERINO, 2003, p.41). Assim, diante destas transformações no processo educativo, segundo Moraes (2001, p.203), o paradigma educacional emergente é construtivista, interacionista e sociocultural, “porque o conhecimento é produzido na interação com o mundo, um mundo físico e social”.

Levando em consideração que o novo paradigma é, então, construtivista, interacionista e sociocultural, os novos modelos pedagógicos devem valorizar o papel do aluno e sua interação com o mundo, ou seja, o seu repertório sociocultural, a partir do qual ele compreende a realidade que o cerca. Neste sentido, os professores tendem a mediar a aprendizagem, direcionando os alunos nos processos de formação pessoal e profissional, a partir dos conteúdos que transmitem e da orientação de atividades e pesquisas a serem desenvolvidas com o uso das novas TIC.

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