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4.3 COOPERAÇÃO NA LUTA CONTRA O CRIME ORGANIZADO

4.3.2 MERCOSUL

Ao contrário da UNASUL, o tratado constitutivo do MERCOSUL não traz elementos ligados à área de segurança. Todavia, o bloco desenvolveu mecanismos internos que podem ser associados a essa área, exemplo disso é o Grupo de Trabalho sobre Armas de Fogo e Munições do MERCOSUL e Estados Associados (GTAM) que trata especificamente do nosso objeto de estudo. O Grupo atua através de tratativas para harmonizar as legislações dos países do MERCOSUL e associados, estudando as divergências entre elas, comparativamente aos documentos internacionais que estabelecem parâmetros no controle da circulação de armas e munição.

O Grupo foi criado em 2001, devido às demandas para a implementação do PoA - Programa de Ação para Prevenir, Combater e Erradicar o Comércio Ilícito de Armas Pequenas e Leves em Todos os seus Aspectos, atuando assim de acordo com as diretrizes assumidas no âmbito da ONU pelos países membros. O objetivo maior é atuar na prevenção, combate e erradicação da fabricação e do tráfico ilícitos de armas de fogo, munições, explosivos e materiais correlatos e vem contribuindo para o intercâmbio de informações e a harmonização de legislações na matéria, constituindo- se em modelo de cooperação regional e foro de coordenação de posições no tocante ao controle de armas de fogo e munições. Todavia, desde 1998, tratativas nesse sentido são adotadas, como o Mecanismo Conjunto de Registro de Compradores e Vendedores de Armas de Fogo, Munições, Explosivos e outros materiais correlatos para o MERCOSUL, Bolívia112 e Chile, que se configura como um sistema de intercâmbio de informações.

112 Vale ressaltar que o processo de negociação para adesão da Bolívia ao MERCOSUL está em curso,

dependendo da decisão de ratificação de cada um dos 5 Estados membros do bloco. Em 1995, a Bolívia assinou o Acordo de Complementação Econômica com o MERCOSUL. Em 1996, foram assinados acordos de Livre Comércio entre o MERCOSUL e a Bolívia como país associado. Em 2003, iniciou sua participação em reuniões do MERCOSUL como forma de acelerar o processo integrativo. Em 2006, o Presidente Evo Morales manifestou interesse em iniciar os trabalhos para a incorporação do país como Estado Parte do MERCOSUL. Em 2007 foi aprovada a criação de um grupo ad hoc para a incorporação da Bolívia como Estado Parte do MERCOSUL. Em 2012, Evo Morales assinou o protocolo de adesão

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Em 2004, os Estados membros concordaram em assinar o Memorando de Entendimento para o Intercâmbio de Informação sobre a Fabricação e o Tráfico Ilícitos de Armas de Fogo, Munições, Explosivos e outros materiais relacionados, considerando:

Que o crescente incremento do crime organizado transnacional implica novos desafios que requerem ações conjuntas e coordenadas em toda a região [...] com o propósito comum de reduzir ao menor número possível os delitos, assim como seu impacto negativo sobre a população e sobre a consolidação das democracias no MERCOSUL. Que os Estados Partes reafirmam sua vontade de fortalecer a cooperação contra o estímulo ao crime organizado, que se realiza através do comércio ilícito de armas, munições e explosivos, com os recursos e meios com que contam os organismos com responsabilidade direta no controle das armas de fogo e materiais afins (MERCOSUL, MEMORANDO..., 2004, grifo próprio).

Outro mecanismo interessante, todavia mais amplo, refere-se ao Acordo Quadro sobre Cooperação em Matéria de Segurança Regional entre os Estados Partes do MERCOSUL, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela (2006), pois parte do entendimento da importância da cooperação e assistência recíproca entre as forças de segurança desses países para as tarefas de prevenção, controle e repressão das atividades delituosas, em especial, daquelas ligadas ao tráfico ilícito de entorpecentes e substâncias psicotrópicas, o terrorismo internacional, a lavagem de dinheiro, o tráfico ilícito de armas de fogo, munições e explosivos, o tráfico ilícito de pessoas, o contrabando de veículos e os danos ambientais - impondo uma ação conjunta, coordenada e acordada entre os membros citados (MERCOSUL, ACORDO QUADRO..., 2006).

A cooperação e a assistência mencionadas serão prestadas, conforme o Acordo, por meio dos organismos competentes dos Estados-partes que formulem e implementem políticas ou participem na manutenção da segurança pública. A cooperação compreenderá o intercâmbio de informação e de análises, a realização de atividades operacionais coordenadas, simultâneas e/ou complementares; a capacitação e a geração de mecanismos e instâncias para materializar esforços comuns no campo da segurança pública. Para isso, os Estados concordaram em

para que o país se torne membro-pleno do bloco, dando início às negociações formais para o ingresso. A diferença entre os membros plenos e os membros associados é que o primeiro implica no estabelecimento de uma tarifa externa comum, na adoção de política comercial conjunta e no compromisso de harmonizar a legislação das áreas pertinentes (GOULART et al., 2014). Já o Chile é Estado associado desde 1996 e não há processo em curso para a integração ao bloco como membro- pleno. Equador e Colômbia tornaram-se Estados associados em 2004.

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adotar como sistema oficial o SISME (Sistema de Intercâmbio de Informação de Segurança do MERCOSUL).

Essas iniciativas são, de alguma maneira, respostas à crescente necessidade de cooperação na área de segurança e defesa no tocante às novas ameaças. A assinatura de um acordo, tão somente, não se traduz em ação prática, pois são necessárias medidas de acompanhamento visando garantir a efetividade dos acordos. A participação do Brasil nessa empreitada é essencial à região, todavia se no espaço doméstico a coordenação entre os órgãos já é uma tarefa complicada, no âmbito regional, as dificuldades se apresentam de forma ainda mais proeminente.113

Salienta-se que na região há indicativos de uma cooperação em segurança impulsionada por ameaças à soberania, aliadas, de alguma forma, às ameaças tradicionais e não analisadas sob a ótica das externalidades negativas. Ou seja, o tráfico de armas não está sendo combatido devido ao alarmante número de homicídios na região, mas sim porque a incidência dos traficantes no território nacional e a perda da relativa soberania em alguns espaços leva os países a pensar sob o viés soberano – depreende-se essa conclusão, pois os documentos que visam sobre a segurança e defesa do Brasil não trazem os homicídios como problema securitário, mas trazem os ilícitos transnacionais como ameaças à dimensão soberana do país. Com isso quer-se apontar que as novas ameaças ainda são abarcadas através de um viés tradicional, sendo que o Plano Estratégico de Fronteiras inicia uma mudança no sentido de buscar a contenção dos ilícitos, principalmente armas e drogas, através de iniciativas de segurança pública.