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60 de si mesmo fosse excluída, passa fora de al cance, a não ser quanto a objeto de consumo,

No documento Impressos / Caderno temático (páginas 61-63)

produto reduzido a mercadoria. O sistema na- cional de esporte nos diferentes níveis de co- nhecimento encontra na estrutura, na gestão e na Psicologia do Esporte, paralelos significa- tivos para se pensar um projeto ético-político para formação da subjetividade. Os níveis mais elevados, situados no registro jurídico e social, encontram seus correspondentes num trabalho de gestão e precisa ter congruência nos níveis mais elementares de reconhecimento, que tem na Psicologia do Esporte seu campo de cuidado e atenção. O diálogo, a congruência entre esses diferentes níveis, deve ser estruturante, a fim de que a gestão seja responsável por promover um sentido de pertencer a cultura corporal de movi- mento e promover com competência e eficiência um sentido que encontrará na Psicologia do Es- porte seus processos de mediação e realização. Passa-se aí de um nível social, em que a regula- ção do sistema o coloca como um objeto à dis- posição e de direito à população, a um nível de relação e reconhecimento comunitário, não mais

de objeto, não mais de equipamento e técnica destinados ao corpo, embora nem sejam neces- sários, não mais anônima, mas de pessoa a pes- soa, corpo a corpo, onde o movimento seja fruto e fonte de confiança, de amor a uma possibili- dade de si mesmo ainda tão negligenciada para a maior parte da população, fonte de estima em relações solidárias, atualizadas em comunida- des afeitas a conhecer e viver a qualificação cul- tural dos movimentos dos seus próprios corpos, sem vergonha, sem medo, sem rebaixamento e sim, ao contrário, altivas, corajosas e plenas de dignidade de suas singulares capacidades cor- porais e do imensurável alcance dessas expe- riências para autorrealização pessoal. A estru- tura e a gestão do sistema nacional do esporte, para concretizar um projeto ético-político para formação da subjetividade, tem que favorecer o estabelecimento de um devir sempre mais pau- tado, mais norteado pela ideia de fazer do es- porte uma instituição justa, orientada pela equi- dade, só assim a vida boa com e para os outros, essência da ética, pode se tornar realidade no esporte e atividade física. Obrigado.

C A DERNOS T E M áT iC OS CRP SP Psicologia do Esport e: C ontribuições para a a tuação profissional

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Ricardo Santoro

Psicólogo pela PUC/SP, Especialista em Saúde Mental, Idealizador da Copa da Inclusão; Professor de Psicologia da FMU; Coordenador das Residências Terapêuticas Vila Monumento e Mandaqui I.

Primeiramente, quero humildemente parabenizar os slides do professor Leandro, muito esclarece- dores em termos de sistema, gráfico, desenho e na verdade acho que não é uma questão, por- que a moda agora é usar o termo provocação; acredito que o professor Leandro tem uma visão tecnicista do esporte; então, na fala do profes- sor Cristiano, ele fez uma crítica pontual na orga- nização dos jogos regionais aonde, ao invés de ter a promoção esportiva da participação, tem a questão da competição e até da contratação de atletas, para este caso, na qual você é atleta, professor Leandro. Então, gostaria de saber qual é sua visão disso, qual a sua opinião em relação a essa crítica dentro do contexto da construção do sistema. Por gentileza, a sua colaboração quanto a isto.

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Obrigado, Ricardo, pela sua provocação. Muito pelo contrário, eu não sou tecnicista, não. Estava comen- tando com os meus colegas, eu dei aula para crianças há um bom tempo e sou da mesma linha de raciocí- nio do Cristiano; também simplesmente apresentei um quadro aqui com relação ao esporte de auto ren- dimento. O que eu falo com relação ao tecnicismo é que vivemos isso num período histórico no nosso país, que acabou coincidindo com o final da ditadura militar; acho que a Paula colocou isso, que foi essa democra- tização do esporte e convencionou-se de falar que o que veio antes é coisa do demônio, vou colocar as- sim, tudo ruim. E aí foi do 8 ao 80 e eu sou formado em Educação Física, esporte em Educação Física, o que acontece hoje, você não encontra profissionais formados para trabalhar com esporte, você encontra profissionais formados em Educação Física e quem aqui é profissional de Educação Física, principalmente licenciatura que é o meu caso, sabe que a Educação Física não é esporte. E aí tem um hiato: quem traba- lha com esporte, então, da maneira como se tem que trabalhar? Seja no rendimento, seja na participação, seja na educação, porque eu dei aula na graduação, convicto de que o profissional de Educação Física hoje não é preparado para trabalhar com esporte, ele é preparado para trabalhar com Educação Físi- ca. E quem trabalha? Responde para mim, se alguém conseguir responder. “Ah! é um ex-atleta?”, pode ser, desde que ele seja preparado para isso, porque senão ele só vai trabalhar com o rendimento. Nos jogos re- gionais, vou representar minha cidade, que é Ribeirão Preto, eu sou de lá, e é muito interessante essa minha participação porque eu, enquanto ex-atleta, vejo que posso contribuir para quem está como atleta hoje, é esse o meu papel. Fico indignado de eu ter espaço de participação, na verdade porque eu não deveria par- ticipar como atleta, deveria participar como, não digo técnico, mas consultor ou algo do tipo, não como atle- ta. E eu participar como atleta quer dizer que não está

existindo um trabalho bom com esporte em Ribeirão Preto, porque eu não moro lá, apesar de ser de lá, fui atleta de lá, fiz 16 anos, representei jogos regionais, jogos abertos, fui medalhista de jogos abertos com 16 anos, tem a capa do jornal, a cidade, e eu voltar pes- soalmente é simbólico, eu quero ir para contribuir, eu não gostaria de estar indo como atleta, mas foi o que o meu técnico falou “eu quero que você esteja presen- te” e eu aceitei a proposta.

O ideal seria que eu ficasse lá em Ribeirão, fi- zesse um trabalho com os mais jovens (eu vou fazer isso), só que só nos momentos dos jogos, os jogos abertos serão em Ribeirão Preto, então tem isso, tem a cobrança e expectativa para o resultado, mas eu gostaria de outras expectativas, o que vai ficar depois dos jogos abertos, assim como nos Jogos Olímpicos, o que vai ficar para o Brasil? E essas ex- pectativas eu coloquei com relação a resultados em si, porque as outras, depois, eu não gosto nem de fa- lar, vocês viram o gráfico que eu mostrei, eu comen- tei aqui antes da minha apresentação que “é chato vir falar que o nosso futuro é negro, não tem boas perspectivas”, então é isso, eu acho que a palavra do Cristiano é perfeita, é claro que eu tive vinte minutos e ainda extrapolei o tempo, porque poderia ficar fa- lando disso o dia todo. Eu vim falar do esporte rendi- mento, mas tem algo por trás para chegar no rendi- mento que é a participação, tem eu como ex-atleta, qual o meu papel no esporte como ex-atleta? É o que a Paula mostrou, nós não temos, tem a taxa cinza que é rosa, que não tem. E por acaso eu consegui um espaço com um híbrido de ir lá em Ribeirão Preto, na minha cidade, contribuir de alguma forma. Eu pre- firo assim do que há 5 anos quando fui representar Sertãozinho, lutei contra minha cidade e ganhei, isso é o pior de tudo, aí eu fiquei mais indignado ainda, falei “não, não é possível”, não é possível porque não existiu renovação, algo está errado, eu vejo isso.

“Eu vim falar do esporte

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