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2.1 Metabólitos Voláteis de Fungos

2.1.2 Metabolismo Fúngico

2.1.2.1 Compostos Orgânicos Voláteis

Compostos orgânicos voláteis compreendem grupos quimicamente diversos de moléculas orgânicas (como por exemplo, hidrocarbonetos, alcoóis, aldeídos, cetonas, ácidos carboxílicos, ésteres, aminas e tióis) com massa molecular na faixa de 50 a 200 Da, que possuem pressão de vapor de 10 Pa sob condições normais de temperatura, sendo, portanto, facilmente evaporáveis a temperatura ambiente.33 Como possuem elevada pressão de vapor e baixa massa molecular se difundem rapidamente para a fase gasosa, o

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que contribui para suas aplicações e importância, principalmente no cenário biológico. Ocorrem naturalmente no ambiente bem como em resposta a ações antrópicas, em uma ampla faixa de concentração.34

2.1.2.2 Fungos e Importância na Agricultura - Controle biológico

As diferenças climáticas encontradas no Brasil levaram ao estabelecimento de grandes variações ecológicas formando o que se conhece como biomas ou zonas biogeográficas distintas, como por exemplo, a Floresta Amazônica, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica entre outros. A diversidade de flora e fauna alocadas nesses diferentes biomas reflete a diversidade de plantas, fungos, animais.35

No caso dos micro-organismos como os fungos, que são organismos eucarióticos e se diferenciam das plantas por possuírem parede celular formada por quitina, recentemente foi estimado que o número de espécies ultrapasse a 5 milhões em todo o mundo sendo que aproximadamente 100.000 destas espécies encontram-se descritas.36 No Brasil não há um registro do total de espécies nativas identificadas. Segundo Forzza et al. estão registrados no Catálogo de Plantas e Fungos do Brasil 78 ordens, 924 gêneros e mais de 3600 espécies nativas de fungos.37

A avaliação sobre a diversidade de fungos tem sido tradicionalmente estudada em virtude destes micro-organismos produzirem uma série de compostos, principalmente metabólitos primários e secundários com amplo espectro de aplicações industriais e agrícolas.38 No caso específico de metabólitos voláteis produzidos por fungos, todos são derivados do

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metabolismo primário e secundário o que permite se difundirem tanto no solo quanto no ambiente externo.39

Neste sentido, devido as suas características, os metabólitos voláteis de fungos podem atuam como moléculas sinalizadoras entre e intra-organismos (semioquímicos), como hormônios, intermediando processos específicos como comunicação, competição e predação entre organismos, como indicadores de contaminação ambiental e controle de qualidade pós-colheita bem como na defesa de vegetais contra pragas e doenças.40,41

Tradicionalmente o controle de pragas e doenças é realizado através do uso pesticidas e fungicidas. Porém, no cenário sócio-econômico atual há uma crescente preocupação pública sobre o uso continuado de agrotóxicos que são prejudiciais para a saúde humana e para o meio ambiente. Tais preocupações estão impulsionando a busca de métodos de controle de doenças e pragas em plantas que aliem a sustentabilidade na agricultura.

Combinado ao fato de que os custos para desenvolvimento de novos pesticidas e fungicidas químicos continuam aumentando, a ampliação de opções de gestão alternativa para o controle de doenças no setor agrícola é um assunto urgente.34 Entre essas estratégias de gestão de manejo de doenças destacam-se a indução de resistência em plantas e o controle biológico.42

Neste sentido, as pesquisas sobre agentes de biocontrole se intensificaram nos últimos anos, principalmente utilizando micro-organismos antagonistas.43 O controle biológico tem por objetivo a inibição do crescimento, infecção ou reprodução de um organismo por outro.44,45 Assim, um agente de biocontrole antagonista de patógenos de plantas interfere

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potencialmente no processo de vida do patógeno, podendo residir nas raízes, folhas ou outras partes do vegetal.46

O controle biológico utilizando fungos antagonistas contra fungos e outros patógenos de plantas é uma abordagem real e atrativa. Inúmeros são os fungos identificados e utilizados como biofungicidas (agentes de biocontrole) de maneira promissora na substituição de fungicidas químicos.43 A explicação para tal sucesso reside no fato destes micro-oganismos atuarem secretando ou emitindo compostos químicos com função antibiótica e antifúngica como enzimas e uma vasta classe de metabólitos voláteis e não voláteis, ou seja, uma série de metabólitos secundários que são tóxicos para os patógenos de plantas, mesmo em baixas concentrações.39,42,47

A indução de resistência contra fitopatógenos é um método de controle de doenças em plantas que atua ativando mecanismos de defesa no vegetal. Assim, a resistência de uma planta pode ainda ser definida como o processo que atrasa ou evita a entrada e atividade de um fitopatógeno nos tecidos vegetais. Este processo é regulado por genes que codificam proteínas relacionadas à patogênese e enzimas envolvidas na síntese de fitoalexinas e lignina.48

Desta forma, os estudos envolvendo metabólitos voláteis de micro- organismos benéficos que atuem como controle biológico em potencial e seus modos de ação apresentam crescente importância. A abordagem utilizando fungos como biocontrole no combate integrado de pragas e doenças bem como na promoção de resistência a fitopatógenos é uma realidade e importante estratégia com vistas a redução do uso de fungicidas comerciais.39

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De maneira similar aos patógenos, os fungos sapróbios são capazes de secretar pectatoliases que hidrolisam a parede celular do vegetal ativando a resposta de defesa da planta. Porém, como não produzem toxinas não são capazes de infectar a planta, atuando apenas como indutores de resistência no vegetal.49

Estes fungos podem ser obtidos a partir de matéria orgânica em decomposição, sendo a hostilidade do ambiente de bioprospecção preponderante para as chances de sucesso como biocontrole no ecossistema. Alguns organismos tem sido extensivamente explorados como controle biológico em um contexto comercial, o chamado mercado biopesticida.34 Entre os fungos mais utilizados para biocontrole de doenças em plantas destacam-se as espécies dos gêneros Trichoderma, Muscudor e

Talaromyces.39

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