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Por metodologia, entende-se, o “exame das proceduras e modalidades de explicação que são utilizadas na análise dos dados empíricos” (CORBETTA, 1999, p. 1). Para examinar os dados, (imagem, linguagem, tempo da noticia), será utilizada o Metodologia Qualitativa através da Análise de Conteúdo, uma vez que essa permite desvendar a produção de significados e símbolos presentes nas notícias e o uso da linguagem oral e imagens, utilizadas para a construção desses significados (ROCHA, 2008).

A metodologia qualitativa, oriunda do paradigma interpretativo dentro das Ciências Sociais, tem como pilar a escolha epistemolόgica através da bibliografia de referência utilizada para tecer o conhecimento, consciente, porém, que o que utilizo, longe de pretender-se universal e objetivo, é parcial e situado (HARAWAY, 1995). Refuto a ideia de construção do conhecimento neutro e positivista, aproximando-me muito mais daquilo que a produção teόrica feminista chama de Metodology Feminist24,

que leva em conta o fazer ciência de quem pesquisa, apontando como postulado juntamente a subjetividade do (a) pesquisador (a) e o pressuposto de que não é possível estabelecer uma linha rígida entre sujeito e objeto de estudo, além de considerar algumas implicações éticas, como o cuidado para não subordinar as mulheres ao

24 O sociόlogo Capecchi dedica um capítulo do livro “Il Sociologo e le Sirene. La sfida dei metodi qualitativi (a cura di CIPOLLA C, LILLO A., 2009, p. 93) à contribuição da Metodologia Feminista para a Metodologia das Ciências Sociais. E ele cita nomes que foram base nos estudos feministas estadunidenses e britânico como Helen Roberts, Margrit Eichler, Liz Stanley, Sue Wise, Sue Clegg, Judith A. Cook e Mary Margareth Fonow. O autor não cita a produção atual como aquela de Judith Butler, Donna Haraway e Sandra Harding.

construir a interpretação teόrica do conhecimento. Essa discussão de uma metodologia feminista levanta também o debate sobre neutralidade e objetividade. Haraway foi assertiva ao dizer que nao existe um “de fora” da pesquisa e do fazer ciência, que olha o mundo (o objeto estudado) como um “Deus” que tudo vê, distante e neutro (HARAWAY, ibidem). Nesse mesmo sentido, Sandra Harding diz que o foco da objetividade que ela denomina “objetividade forte” é o reconhecimento que a Ciência é praticada no mundo real e não parte de um ideal abstrato, respondendo às questões da vida dos sujeitos e suas relações sociais. Para isso a pesquisa precisa ser justa, tanto com os objetivos quanto com as evidências. (HARDING,2005)

Pensamento Feminista Negro (COLLINS, 2009) também é indispensável para se pensar o corpo do imigrante nessa pesquisa, tendo como pressuposto de análise a abordagem da Interseccionalidade. O termo foi cunhado pela jurista estadunidense Kimberlé Crenshaw no seu texto de 1989 25 e surge para contestar a visão homogênia de

uma condição de gênero feminino igual para todas as mulheres, inculcada no feminismo branco burguês. A ideia de que nao há, para as mulheres negras, como dissossiar raça, gênero e classe social, ao eleger a forma de opressão pela qual se deveria dar mais importância, permitiu ao Pensamento Feminista Negro de apontar uma visão mais ampla do funcionamento das estruturas sociais, visível nos corpos de forma diversificada. Patricia Hill Collins (2009) vê ainda outros elementos de opressão como a sexualidade e a nacionalidade, sem eleger a priori qual desses elementos oprimem mais, ao contrário, a autora enfatiza que eles trabalham de maneira distinta para produzir formas de dominação. Como instrumento e chave de análise sobre o corpo do imigrante na mídia italiana, isso não quer dizer que eu vá encontrar todas as categorias levantadas por essas autoras de forma igualitária e manipular os dados para que essas se apresentem de forma nivelada ou que todos essas formas de opressão (classe, raça, gênero, nacionalidade, sexualidade) estejam presentes nos corpos produzidos pelo TG1. Partir da perspectiva da Interceccionalidade é estar atenta a isso, nas suas manifestações mais sutis ou explicítas, contudo, são os dados que vão dizer o que é mais latente na fonte, e pode ser que serei obrigada até mesmo a mudar os meus conceitos, como sugere Harold Becker em “Os truques do ofício”26 (2007). No TG1 procuro perceber se o corpo

25O texto escrito por Kimberlè Crenchaw intitula-seDemarginalizing the Intersection of Race and Sex: A Black Feminist Critique of Antidiscrimination Doctrine, Feminist Theory and Antiracist Politics” (1989)

dos imigrantes, dentro do enquadramento da fonte, informa sobre raça, classe, gênero, nacionalidade e sexualidade.

O TG1 também exerce aquilo que Bourdieu (1989) chama de “Poder Simbólico”, que inculca princípios e visões de mundo. Por isso é importante atentar às formas de exercer esse poder, seja através da imagem que da linguagem usada, e da maneira como a fonte faz relacionar os italianos com o corpo do imigrante e como ela insere esse corpo na ordem social. Todavia, esse poder simbólico não é absoluto ou privo de tensões e disputas, como, por exemplo, a demanda do mercado e o público/telespectador.

Estudos sobre migrações são relevantes na crítica aos telejornais e alguns estudiosos denunciam o uso do léxico para se referir aos imigrantes no país de forma a desumanizá-los, como os sociólogos Ilvo Diamanti e Fabio Colombo. Desse modo os telejornais também devem se confrontar com a opinião pública, com estudos, Organizações pelo direito dos imigrantes, com o campo político em disputa e as demandas do mercado. É pensando nisso que trago o contexto italiano das leis dos últimos anos, do pensamento social predominante, como o consenso ao redor da figura de Matteo Salvini, do capitalismo de forma geral e sua política de desestabilização de economias, regiões, provocando deslocamentos, para assim, situar o TG1 em um contexto globalizado.

O telejornal é produtor de imagens dos migrantes, bem como reprodutor delas, pois esse também devolve ao público e ao país o que é tolerável enquanto discurso e imagem na Itália, além de reforçar o senso comum. Estudar a visão de um telejornal desse alcance é de suma importância, pois aponta o quanto o imaginário coletivo, a informação e o campo visual constroem formas naturalizadas de ver o mundo, de se relacionar com o diverso no interior de uma sociedade. No caso italiano é ainda mais importante, pois a televisão é a principal fonte de informação, chegando a 90,3% de audiência entre a população do país. (RAPPORTO SUL CONSUMO DI INFORMAZIONE, AGCOM, 2018)27.

Para o início do levantamento dos dados sobre o corpo do imigrante eu precisei partir de um conceito sobre o que é o imigrante, mas notei que o campo jornalístico também tem seu Conselho e suas diretrizes para orientar jornalistas com relação ao uso da linguagem mais adequada para se referir ao tema. Em 2016, o Conselho Nacional dos

27 Documento completo disponível em: <https://www.agcom.it/documents/10179/9629936/Studio- Ricerca+19-02-2018/72cf58fc-77fc-44ae-b0a6-1d174ac2054f?version=1.0>. Acesso em: 23, abr. 2020.

Jornalistas, aprovou um texto único sobre os deveres do jornalista e, no artigo 7, lê-se que:

a) O jornalista com relação às pessoas estrangeiras deve adotar termos juridicamente apropriados seguindo a indicação do glossário, anexado ao documento, evitando a difusão de informações imprecisas, resumidas ou distorcidas sobre o requerente de asilo, o refugiado, as vítimas de tráfico humano e os imigrantes. b) proteger a identidade e a imagem, não consentindo a identificação de pessoas, requerentes de asilo, refugiados, vítimas de tráfico e migrantes que concordam em se expor à mídia.28

A definição da qual parti para “procurar” pelo corpo do imigrante no TG1 é dada pela Organização das Naçães Unidas, formulada pela sua Agência de Migração (OIM), que considera o migrante “qualquer pessoa que se desloca ou que tenha atravessado uma fronteira internacional ou dentro de um Estado, longe de seu local de residência habitual, independentemente de (1) seu status legal; (2) se o movimento é voluntário ou involuntário; (3) quais sejam as causas do movimento”.29Era esse o conceito que eu, inicialmente busquei no TG1 para iniciar a coleta de dados, mas a ausência dessa definição ou mesmo daquela sugerida pela Associaçao de jornalistas italianos, me fez mudar a forma de acessar as notícias, passando assim a assistir todo o conteúdo de todas as edições, já que a fonte chama de “imigrante” aqueles que estão ainda à caminho da Itália, deixando de fora os que já vivem no territόrio nacional. Que fique claro que não estou defendendo o uso do termo “imigrante”, apenas problematizo a ausência dele para se referir a uma condição e quando o utilizo, tenho como referência do conceito formulado pela Organizaçao das Naçoes Unidas, podendo suscitar discordâncias ou discussões sobre qual seria o termo mais adapto para se falar de pessoas que já vivem dentro do território nacional.

Foi importante atentar para a definição de imigrante fornecida pelo telejornal para compreender se esse meio de comunicação, difusão e construção de visões de mundo busca distinguir, por exemplo, imigrantes e refugiados, uma vez que, pelo direito internacional, trata-se de dois estatutos jurídicos diferentes. A não distinção no uso da linguagem dificultou, no início, a seleção de notícias, pois o telejornal utiliza o

28 Artigo 7 do documento do Conselho Nacional dos Jornalistas.

29 Tradução livre do texto da Agência para Migrações da Organização das Nações Unidas (OIM): “ The UN Migration Agency (IOM) defines a migrant as any person who is moving or has moved across an international border or within a State away from his/her habitual place of residence, regardless of (1) the person's legal status; (2) whether the movement is voluntary or involuntary; (3) what the causes for the movement”. Disponível em: <https://www.un.org/en/sections/issues-depth/migration/index.html.> Acesso em: 22, nov. 2019.

termo “imigrante” para pessoas, nas embarcações que ainda não tem um status definido e omite o termo para os que estão no país.

O Conselho Nacional dos jornalistas, citado acima, oferece no seu documento um manual que contém o significado apropriado de cada termo, diferenciando Requerente de Asilo, Refugiado, Imigrante, Beneficiário de Proteção Humanitária e Imigrante Irregular. Abaixo as definições sugeridas pela Entidade:

Um requerente de asilo é alguém que está fora do país e, em outro estado, solicita asilo para o reconhecimento do status de refugiado nos termos da Convenção dos Refugiados de Genebra de 1951, ou para outras formas de proteção internacional. Até o momento da decisão final pelas autoridades competentes, ele é requerente de asilo e tem o direito de residência regular no país de destino. O requerente de asilo não pode, portanto, ser assimilado ao migrante irregular, mesmo que ele possa chegar ao país do asilo sem documentos de identidade ou de maneira irregular, através dos chamados 'fluxos migratórios mistos', compostos, ou seja, de migrantes irregulares e potenciais refugiados.

Um refugiado é aquele que foi reconhecido como refugiado pela Convenção de Genebra de 1951 sobre refugiados, à qual a Itália se uniu a 143 outros países. No artigo 1 da Convenção, o refugiado é definido como uma pessoa que: 'temendo ser perseguida por razões de raça, religião, nacionalidade, pertencente a um grupo social ou opinião política específica, está fora do país do qual ele tem a cidadania, e pode ou não, por causa desse medo, tirar proveito da proteção daquele país. ' O status de refugiado é concedido a qualquer pessoa que possa demonstrar perseguição individual.

Um beneficiário de proteção humanitária é aquele que - embora não se enquadre na definição de 'refugiado' nos termos da Convenção de 1951 por não haver perseguição individual - ainda precisa de alguma forma de proteção porque, em caso de repatriamento para o país de origem, estaria em sério perigo devido a conflitos armados, violência generalizada e / ou violações maciças dos direitos humanos. Segundo as diretrizes européias, esse tipo de proteção é chamada de "subsidiária". A maioria das pessoas reconhecidas como necessitadas de proteção na Itália (mais de 80% em 2007) recebe uma autorização de residência por razões humanitárias, em vez do status de refugiado.

Uma vítima de tráfico é uma pessoa que, diferentemente dos migrantes irregulares que dependem de traficantes por vontade própria, nunca consentiu em ser levada para outro país ou, se o tiverem, anularam o consentimento pelas ações coercitivas e / ou enganosas dos traficantes ou pelos maus-tratos praticados ou ameaças à vítima. O objetivo do tráfico é obter controle sobre outra pessoa para fins de exploração.

Um migrante / imigrante é aquele que escolhe deixar voluntariamente seu país de origem em busca de emprego e melhores condições econômicas em outros lugares. Ao contrário do refugiado, ele pode voltar para casa em segurança.

Um migrante irregular é aquele que a) entra contornando os controles nas fronteiras; b) entrou no país de destino regularmente, por exemplo, com um visto de turista, e permaneceu lá após o término do visto de entrada (tornando-se o chamado “overstayer”); ou c) não deixou o território do país de destino após uma ordem de remoção.30

30 Anexo 3 do documento do Conselho Nacional dos Jornalistas, 27 de janeiro de 2016. Tradução da autora

Importante também foi buscar verificar a definição dada por Sayad (2002) sobre quem é o imigrante, a saber, relacionado, sobretudo, uma condição social, mais do que jurídica e, pois o que os países centrais chamam de “imigrante”, são indivíduos provenientes de países pobres que oferecem mão de obra à baixo custo aos países ricos, enquanto os “estrangeiros” são pessoas provenientes desses últimos países, fornecedores de turistas para o resto do mundo. Logo, trata-se de uma relação de poder e dominação entre as Nações. Na Itália, outro termo bastante usado para se referir aos imigrantes é “extracomunitário”, em referência às pessoas provenientes de países que não fazem parte da Comunidade Europeia (CE), todavia o termo não se aplica no vocabulário jornalístico e no uso quotidiano, aos estadunidenses, canadenses ou suíços, (AMBROSINI, 2011), mesmo sendo cidadãos cujos países não fazem parte da CE.

O sociólogo Fabio Colombo (2019)31 destaca que a diferença entre migrante, imigrante, refugiado, deslocado, imigrante, ambiental, imigrante econômico e requerente de asilo, não é tão clara assim e que a utilização de um desses termos em detrimento de outros constitui uma escolha política. Por isso, ao não diferenciar os imigrantes que já tem seu status definido daqueles que estão a caminho da Itália, o TG1 não pode ser isento de uma intenção política e ser visto como mero lapso jornalístico. Sobre essa intenção veremos no tratamento dos dados no corpo do texto.

Na Itália, com os governos Berlusconi, de aliança com a extrema Direita (Lega), a estratégia adotada foi aquela de ligar os imigrantes ao problema da (In) segurança (CHIODI; QUASOLI, 2000), (BASSO, 2010). Essa representação se deu através de uma série de leis que criminalizam os (as) imigrantes, dificultam o acesso e a permanência deles (as) no país e ainda produz ilegalidade, pois se esses perdem o trabalho, indispensável para a renovação do visto, a condição de legalidade muda, passando a reponderem por reato de “Clandestinidade”. Não muito diferente foi o período em que o Partido Democrático esteve no poder, além do acordo com a Líbia e a Turquia, como veremos mais adiante, o Decreto de Lei Minniti (2017), durante o governo dos democratas, amplia os “Centri di Permanenza per il Rimpatrio nelle Regioni”, além da possibilidade do requerente de asilo realizar trabalho gratuito e voluntário enquanto espera pelo visto, facilitando a exploração dessa mão de obra.

31 O sociólogo traz uma reflexão sobre os termos acima em uma matéria ao jornal Lenius.it de 8/10/2019. Disponivel em: <https://www.lenius.it/migranti-2019/>. Acesso em: 12, nov. 2019.

A Análise de Conteúdo foi realizada para compreender o porquê de as notícias serem dadas de uma forma e não de outra, além de apontar a escolha de determinadas palavras ou termos e o uso de imagens, que coloca os imigrantes ou refugiados em determinados espaços, posições, gestos. O modo de construção da notícia é entendido como “artefato linguístico”, representando aspectos da realidade, valendo-se das interações com o meio social, o momento histórico, a tecnologia e a ideologia dominante, como aponta SOUZA (2002) e são apresentadas de forma a comunicar algo compreensível, através de uma narrativa e da “Nota Coberta” (uso de imagens). Sendo assim, as imagens não falam por si sό, o discurso é utilizado para conduzir o telespectador a nelas aspectos que a narrativa midiática induz.

Além da Análise de Conteúdo, utilizo o conceito de jornalismo de “Enquadramento” (Framing), também abordado por Butler (2015) nas Ciências Sociais. Esse conceito será central nesta pesquisa, pois amplia as análises clássicas de estudos de imagens baseadas na semiologia, como a iconografia e a iconologia. A semiologia, como estudo dos signos, forneceu uma contribuição importante para os estudos visuais dentro das Ciências Sociais. Com Panofsky (2017), a descrição das imagens (iconografia) e a sua interpretação (iconologia) também foram essenciais para o estudo de corpos racializados nas publicidades, livros, filmes, propagandas, etc., mas essa chave de análise apresenta algumas limitações, como, por exemplo, não abordar o uso político do “ângulo” da câmera, o que direciona o olhar do telespectador para alguns elementos, deixando outros de fora. E não é o objetivo aqui fazer uma mera descrição dessas imagens, mas apontá-las dentro de um discurso mais amplo, de uma forma de induzir a ver e pensar o imigrante.

Para o presente estudo, não basta desenvolver uma descrição física das imagens, por isso o “enquadramento” atua para diferenciar as vidas que reconhecemos ou apreendemos como dignas das que não são consideradas dignas, daquelas cujo luto e comoção não se dão da mesma forma que para outras, como aponta (BUTLER, 2015). O termo vem do inglês frame, que significa “moldura” e define o que é transmitido e contido no campo visual. Desvelar a forma do “enquadramento” é de suma importância nos estudos sobre guerras, como aponta Butler (2015), mas podemos usar nos estudos sobre migrações, pois além de construir o que seria o imigrante, constrói um tipo de corpo ou corporeidade.

No jornalismo, o conceito de “enquadramento” também é parte importante da construção da notícia e do noticiário. Além de estar relacionado a procedimentos

técnicos, o enquadramento envolve o modo como o jornalismo seleciona acontecimentos, participando ativamente na construção da realidade que se deseja mostrar (CARVALHO, 2009). Essa seleção de imagens desperta algumas questões como: qual corpo é usado para se falar de imigrante? Como e onde estão esses corpos? Em quais condições eles aparecem? Diante dessas perguntas podemos dizer que esses corpos, então

passam a existir e deixam de existir: como organismos fisicamente persistentes, estão sujeitos a ataques e a doenças que colocam em risco a possibilidade de simplesmente sobreviver. São características necessárias dos corpos – não podem “ser” pensados sem sua finitude e dependem do que está “fora deles” para serem mantidos –, características que são próprias da estrutura fenomenológica da vida corporal (BUTLER, 2017, p. 52).

Para compreender que lugares, materiais e simbόlicos, destinados aos imigrantes, foi importante olhar, não somente para os corpos, mas também para o contexto onde ele está inserido, observando os mecanismos de poder de enquadrá-los e de mostrá-los de determinada maneira e em certos lugares. Assim, tem-se que:

O enquadramento envolve essencialmente seleção e saliência. Enquadrar significa selecionar alguns aspectos de uma realidade percebida e fazê-los mais salientes em um texto comunicativo, de forma a promover uma definição particular do problema, uma interpretação causal, uma avaliação moral e/ou uma recomendação de tratamento para o item descrito (ENTMAN, 1994, p. 52).

Existem diversas formas de expor um corpo, como as suas vestimentas, o lugar, seus gestos e posições, o sentimento que expressa, se vivo ou morto, quais os adereços o acompanham, sua rede de suporte ou ausência dela. Essas formas se inserem nas relações de poder entre quem expõe e quem é exposto. A mensagem que se deseja exprimir através da exibição de corpos nos remete a uma cultura e memória visual, pois os significados do corpo, bem como seus usos e expressões são compreendidos dentro de contextos e remete à memória coletiva sobre determinadas imagens, que ecoam do nosso passado (COURTINE, 2013). Exemplo disso são as imagens que as sociedades europeias têm dos países do “Terceiro Mundo”, das populações indígenas e da escravização e, por conseguinte dos corpos oriundos desses lugares. De alguma forma, essas imagens circularam em mostras, exposições, jornais, livros, filmes, seriados, fotografias, filmes e como teses científicas, compondo o imaginário coletivo

globalizado. Quando uma embarcação chega à costa italiana repleta de corpos negros amontoados, a que imagem ou imaginário isso nos remete? Quais sentimentos evocam? A notícia como produção jornalística tende a ser vista de acordo com a teoria

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