• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II- O PROGRAMA INTEGRADO DE EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO (PIEF)

3. A legislação do PIEF

3.1. Metodologia de Intervenção do PIEF

O PIEF faz parte de um leque variado de medidas e acções orientadas prioritariamente para a reinserção escolar, através da integração no percurso escolar regular ou da construção de percursos alternativos, escolares e de educação e ou formação, actividades de educação extra-escolar, de ocupação e orientação vocacional e de desporto escolar, promovidas, realizadas ou apoiadas pelos serviços e organismos dos Ministérios da Educação e da Segurança Social e do Trabalho.

Existem cinco estruturas de coordenação Regional do PIEF com representantes do PETI, do IEFP, das Direcções Regionais de Educação e do Instituto de Solidariedade Social (ISS).

O PETI intervém quando toma conhecimento de situações de risco concretizado ou eminente e que lhe são comunicadas através de formulário disponível no site ou enviado anonimamente ou não para qualquer dos endereços do PETI.

As Equipas Móveis Multidisciplinares (EMM) do PETI após a recepção dessas sinalizações coordenam o diagnóstico de cada uma e envolvem no processo outras entidades – Segurança Social, as Comissões de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ), o Instituto de Reinserção de Menores (IRS) e as equipas de Crianças e Jovens (ECJ) –

O regresso à escola de alunos em abandono escolar – contributo de um Programa Integrado de Educação e Formação.

94 que podem (ou não) conhecer e acompanhar a situação. Fazem ainda o acompanhamento concreto da Equipa Técnico - Pedagógica (ETP) o que possibilita uma boa articulação, nem sempre conseguida, entre as matérias do social, das leis, quando se trata de alunos sinalizados pelo Tribunal, criminalidade, apoios socioeconómicos e de toda a natureza face a casos graves de exclusão, gravidezes precoces, questões relacionadas com toxicodependência e todas as situações dramáticas.

O diagnóstico consiste, entre outros itens, numa avaliação escolar da situação individual e da situação sócio – familiar dos menores sinalizados de forma a encontrar a resposta mais adequada a cada um. Depois desse diagnóstico, cada um dos menores é encaminhado para a resposta proposta que tem como objectivo favorecer o cumprimento da escolaridade obrigatória e a certificação escolar e profissional de menores a partir dos 15 anos de idade. No contacto que a EMM estabelece com a família e com a criança, de acordo com psicóloga presente na comemoração dos dez anos de vida do PETI “é a possibilidade de fantasiar e de sonhar, o que acaba por trazê- los novamente à escola. E o confronto com o insucesso passa a ser um processo de transformação, agora feito com alguém que está ao seu lado.”

Depois da “sinalização prévia de um conjunto de jovens com percursos de abandono escolar e/ou trabalho infantil” é, como refere Roldão (2008, p.10) criada a “turma PIEF (…) numa escola que se disponha” a acolher esses jovens agregados por proximidade geográfica “e a trabalhar com eles segundo os pressupostos legais que o equacionam”. A Directora do PETI na sua comunicação do painel «Modalidades de resposta» em Seminário do Conselho Nacional de Educação subordinado ao tema «Equidade na educação: prevenção de riscos educativos», em Novembro de 2006, esclarece que o PIEF existe para “dar resposta ao problema do abandono escolar e da entrada no mundo do trabalho sem qualificações nem competências escolares e profissionais básicas” apesar do ”desfasamento entre a legislação e a sua aplicação”e refere que a dificuldade em atrair os jovens para as medidas propostas pelo PIEF é suplantada pela dificuldade em os manter.

O funcionamento do PIEF baseia-se, ao nível do Conselho de Turma, no trabalho de equipa de natureza técnico - pedagógica que integra os professores de todas as áreas e disciplinas, em articulação com técnicos de apoio PETI – isto é, os membros das EMM. Essa equipa, ainda segundo Roldão (Idem, p. 11)

O regresso à escola de alunos em abandono escolar – contributo de um Programa Integrado de Educação e Formação.

95 trabalha numa base de regularidade como grupo, reunindo

semanalmente para gerir o desenvolvimento das aprendizagens, para acertar estratégias, para avaliar resultados, para regular através de balanços críticos frequentes, a progressão ou regressão dos percursos dos alunos.

Os professores da turma PIEF podem ser destacados especificamente para o efeito e reúnem-se semanalmente em conselho de turma. A estas equipas Técnico - Pedagógicas (ETP) é dada, nas palavras de Roldão (idem, p.12), a “liberdade de adaptar a estrutura curricular do ensino básico, mantendo todavia a fidelidade ao cumprimento do Currículo Nacional do Ensino Básico (2001) no que se reporta às competências essenciais, quer gerais, quer específicas, das diferentes áreas e disciplinas.” Têm como função fazer aprender os jovens “o conhecimento construído (…), os métodos da sua construção e a capacidade do seu uso pertinente”, seguindo a perspectiva de Schulman (1987 e 2004). Roldão reforça a ideia de que ensinar no século XXI exige do professor um bom conhecimento do currículo, um bom conhecimento dos modos adequados de o trabalhar, “de pôr os alunos a trabalhá-lo e a pensar sobre ele, de modo a que de facto

aprendam – isto é, compreendam, dominem e saibam usar o conhecimento curricular

em causa (…) pela via da exigência, do trabalho, do esforço e da responsabilização consequente.” (2008, p. 13 e 15). Apesar de este trabalho de equipa não ser realidade em todas as turmas PIEF, é o caminho que se pretende seja seguido, tanto mais que tem sido comprovado o seu sucesso. Os princípios de sucesso visíveis nas turmas PIEF, bem como em turmas de ensino regular referidos quer por Goodlad (1984) quer por Hopkins (2000) são os seguintes: trabalho colaborativo (co-docência frequente em par pedagógico com docente de 1.º ciclo para apoio às dificuldades iniciais), liderança, adequação e diferenciação de estratégias, regulação e avaliação permanentes do processo e dos resultados.

O reencontro dos jovens PIEF com o seu percurso escolar e social passa também “pelo apoio sistemático e sustentado a problemas relacionados com os seus agregados familiares e respectivas situações sócio-económicas.” (Roldão, p. 18) nomeadamente no que diz respeito à mediação que as EMM e os TIL (Técnicos de Intervenção Local ou monitores) exercem quando encaminham a resolução de situações desfavoráveis - como as relacionadas com a precariedade da habitabilidade, a violência doméstica, a pobreza, as gravidezes precoces, as necessidades de apoio clínico, entre muitas outras – para as

O regresso à escola de alunos em abandono escolar – contributo de um Programa Integrado de Educação e Formação.

96 instâncias adequadas. Os TIL ou monitores são quem na escola realiza o acompanhamento diário dos alunos das Turmas PIEF; contactam ou deslocam-se a casa da família do aluno sempre que necessário; são intermediários entre os alunos e o Director de Turma. Desta forma as condições de contexto afectivo e social a que cada jovem se encontra sujeito são resolvidas e melhoradas.

O apoio aos alunos na sua inserção na comunidade e no mundo do trabalho, na facilitação de instalações, transportes e outros recursos, na oferta cultural e desportiva, no estabelecimento de ligações a organismos locais da Segurança Social e do IEFP funciona devido à articulação promovida, entre os diversos actores sociais – autarquias, empresas, instituições culturais e associações desportivas – pelas EMM, pelos TIL e pelas ETP.

O PIEF dispõe de recursos financeiros para fazer face a situações de excepção que são geridos por entidade gestora sem fins lucrativos. Para cada aluno de turma PIEF existe um Plano de Educação e Formação (PEF).