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3.4 Experiência da 16ª Vara Criminal da Capital

3.4.1 METODOLOGIA DE PESQUISA

Com a finalidade de investigar e elucidar questões acerca dos exames de cessação de periculosidade, foi realizada uma pesquisa nos processos da 16ª Vara Criminal da Capital (Execução Penal). Buscou-se descobrir se, na maioria dos casos, os peritos consideram que houve efetivamente a cessação da periculosidade, bem como quais fatores são corriqueiramente levados em consideração na produção desses exames. Ademais, procurou-se analisar se existia a possibilidade de, apesar de ainda persistir a periculosidade, os pacientes receberem a desinternação em função do longo período a que foram submetidos à medida de

216 MONTEIRO, Cristina Líbano. Perigosidade de inimputáveis e in dubio pro reo. Coimbra: Coimbra, 1997, p.

82.

217 “En caso de duda, más vale actuar, puesto que si se comete un error al intervenir sin razón, sin duda no se

sabrá jamás ('siempre podría haber cometido tonterías'), mientras que si uno se abstiene y el acto se produce, la falta es manifiesta y el psiquiatra es el responsable”. CASTEL, Robert. De la peligrosidad al riesgo. In: AAVV,

Materiales de Sociología Crítica. Madrid: Ediciones de La Piqueta, 1986, p. 219-243. 218 FOUCAULT, Michel. Os Anormais. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 23.

219 CARNEIRO, Herbert José Almeida. A dignidade dos cidadãos inimputáveis. In: Responsabilidades, Belo

segurança.

Para tanto, fez-se uso de noções de estatística aplicada às ciências sociais para fixar qual a amostragem necessária para que a pesquisa tivesse representatividade em relação ao universo de processos e, assim, fosse dotada de confiabilidade.

Os processos judiciais foram escolhidos de forma aleatória, tendo em vista que, pelo fato de as amostras aleatórias darem a todo membro do universo analisado a mesma chance de ser selecionado, elas são mais representativas das características do universo do que os métodos não científicos220. Assim, ela é uma forma de escolha mais justa e, portanto, menos tendenciosa221.

Mas, mesmo nas amostras escolhidas de forma aleatória, existe a chance de o resultado encontrado a partir da amostra apresentar uma diferença em relação ao universo do qual ela foi extraída222. É daí que surge o conceito de erro amostral tolerável, que representa o quanto o pesquisador admite errar quando da avaliação dos parâmetros de interesse223. O conceito pode ser esclarecido a partir de um exemplo simples:

na divulgação de pesquisas eleitorais, é comum encontrarmos no relatório algo como: a presente pesquisa tolera um erro de 2%. Isso quer dizer que, quando a pesquisa aponta determinado candidato com 20% de preferência do eleitorado, está afirmando, na verdade, que a preferência por esse candidato, em toda a população de eleitores, é um valor no intervalo de 18% a 22%.224

No entanto, a definição do erro amostral tolerável deve ser sempre feita sob um ponto de vista probabilístico, haja vista que, por maior que seja o tamanho da amostra, existe o risco de a escolha, ainda que aleatória, gerar uma amostra com características diferentes das características do universo do qual ela foi retirada225. Desta forma, o nível de confiança é a probabilidade de que o erro amostral efetivo não seja maior do que o erro amostral admitido pelo pesquisor. Se uma pesquisa fixar o erro amostral “em 2%, estaremos afirmando que uma estatística, calculada com base na amostra a ser selecionada, não deve diferir do parâmetro em mais que 2%, com 95% de probabilidade”. Portanto, o nível de confiança indica a probabilidade de que o erro cometido pela pesquisa não supere o percentual do erro amostral

220 LEVIN, Jack; FOX, James Alan; FORDE, David R. Estatística para ciências humanas. Tradução de Jorge

Ritter. Revisão técnica de Fernanda Bonafini.11. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012, p. 160.

221 AGRESTI, Alan; FINLAY, Barbara. Métodos estatísticos para as ciências sociais. Tradução de Lori Viali.

4. ed. Porto Alegre: Penso, 2012, p. 31.

222 LEVIN, Jack; FOX, James Alan; FORDE, David R. Estatística para ciências humanas. Tradução de Jorge

Ritter. Revisão técnica de Fernanda Bonafini.11. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012, p. 160.

223 BARBETTA, Pedro Alberto. Estatística aplicada às ciências sociais. 7. ed. rev. Florianópolis: Ed. da UFSC,

2010, p. 57.

224 BARBETTA, Pedro Alberto. Estatística aplicada às ciências sociais. 7. ed. rev. Florianópolis: Ed. da UFSC,

2010, p. 57.

225 BARBETTA, Pedro Alberto. Estatística aplicada às ciências sociais. 7. ed. rev. Florianópolis: Ed. da UFSC,

tolerado.

Estabelecidas essas premissas conceituais, utilizou-se de cálculo apresentado por Barbetta226 para determinar o tamanho da amostra, sendo: N o número de elementos do universo, n o tamanho da amostra, no uma primeira aproximação para o tamanho da amostra e

Eo o erro amostral tolerável. Com a probabilidade de 95% de o erro efetivo não superar o erro

amostral escolhido, deve ser aplicada, primeiramente, a seguinte fórmula: no = 1/(Eo)2. E, posteriormente: n = (N x no) / (N + no).

A partir de consulta avançada realizada no Sistema de Automação da Justiça (SAJ), verificou-se que na 16ª Vara Criminal da Capital, no ano de 2017, existia um total de 62 processos com a classe “execução de medida de segurança” e com o assunto “medidas de segurança”. Este é o universo da pesquisa.

Considerou-se como erro amostral tolerável o de 10%, tendo em vista a necessidade de limitar a pesquisa, pois, quanto menor o erro amostral tolerável, maior seria a amostra necessária. Assim, aplicando as fórmulas acima, que dizem respeito ao nível de confiança de 95%, chegou-se a uma amostra de 38 processos, que representam 61,3% do total de processos.

Dentro da amostra de processos, foram analisados todos os exames de verificação de cessação de periculosidade, que totalizavam 60, bem como todas as sentenças de desinternação, que foram 23.

Com essa pesquisa, buscou-se verificar se as informações encontradas durante a pesquisa doutrinária – no sentido de que não há padronização para a elaboração dos exames – seriam confirmadas a partir da análise da realidade da vara alagoana.