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Esta dissertação apresenta o estudo de caso de um projeto complexo na indústria petrolífera brasileira. A pesquisa, de natureza qualitativa e exploratória, consistiu em uma investigação detalhada da interação específica entre os mecanismos de governança contratual e relacional, a fim de extrair a significância e a qualidade da sua manifestação nos resultados do projeto estudado. No sentido de assegurar a validade e a confiabilidade do estudo, foram seguidos os passos para condução de um estudo de caso (YIN, 2010).

Godoy (1995a, p. 61) argumenta que, “do ponto de vista metodológico, a melhor maneira para se captar a realidade é aquela que possibilita ao pesquisador ‘colocar-se no papel do outro’, vendo o mundo pela visão dos pesquisados”. Godoy (1995a, p. 63) sugere ainda que “quando o estudo é de caráter descritivo e o que se busca é o entendimento do fenômeno como um todo, na sua complexidade, é possível que uma análise qualitativa seja a mais indicada”, uma vez que, neste tipo de pesquisa, o pesquisador está preocupado com o processo, ou seja, em verificar como determinado fenômeno se manifesta nas atividades, procedimentos e interações diárias, e não simplesmente com os resultados ou produto final. Desta forma, o ambiente e as pessoas nele inseridas devem ser observados holisticamente, e não reduzidos a variáveis. A pesquisa qualitativa possui a característica essencial de ser descritiva, sendo seus dados coletados a partir do contato direto do pesquisador com a situação estudada, tendo como principais fontes a observação direta, entrevistas e análise de uma variedade de materiais empíricos.

Segundo Godoy (1995a, p. 62), “a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental”, de modo que, nessa abordagem, valoriza-se o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo estudada e busca-se a compreensão dos fenômenos a partir da perspectiva dos sujeitos desse contexto. Este tipo de pesquisa não procura enumerar e/ou mensurar os eventos estudados e, de modo geral, diferencia-se da pesquisa quantitativa por não empregar instrumental estatístico na análise de dados. Além disso, parte das questões ou focos de interesse vão se definindo ao passo que o estudo se desenvolve.

Quanto aos seus fins, esta pesquisa pode ser classificada como de predominância exploratória, sendo assim delineada em função da constatação feita pelo autor de que a área de estudo de relacionamentos interorganizacionais possui pouco conhecimento acumulado e sistematizado, notadamente acerca do fenômeno da interação entre tipos de governança nos relacionamentos interorganizacionais em contextos de economias emergentes e em setores econômicos específicos, como o de óleo e gás, carecendo, portanto, de aprimoramento de ideias, novas investigações e reflexões críticas (YIN, 2010; VERGARA, 2006).

No que se refere à estratégia de pesquisa, adotou-se o estudo de caso por se tratar de uma forma de pesquisa adequada à investigação empírica de fenômenos contemporâneos dessa natureza dentro de seu contexto real, em situações nas quais as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não estão claramente estabelecidas (YIN, 2010). Segundo Godoy (1995b, p. 25), o estudo de caso tem se tornado a estratégia preferida de pesquisadores que buscam responder às questões “como” e “por que” certos fenômenos ocorrem, especialmente quando há pouca possibilidade de controle sobre os eventos estudados e quando o foco de interesse é sobre fenômenos atuais, que só poderão ser analisados dentro de algum contexto de vida real.

Godoy (1995b) argumenta ainda que o pesquisador que pretende desenvolver um estudo de caso, adotando um enfoque exploratório e descritivo, deverá estar aberto às suas descobertas, pois, mesmo que se parta de um esquema teórico definido, novos elementos ou dimensões poderão surgir no decorrer do trabalho. O pesquisador deve também preocupar-se em mostrar a multiplicidade de dimensões presentes em uma determinada situação, assim como o contexto em que se situa, para permitir uma apreensão mais completa do fenômeno em estudo. A divergência e os conflitos, tão característicos da situação social, devem estar presentes no estudo.

Nesta mesma linha, Yin (2010) argumenta que o estudo de caso deve ser a estratégia escolhida quando são examinados acontecimentos contemporâneos e quando comportamentos relevantes não podem ser manipulados. O autor acrescenta ainda que, como a investigação de estudo de caso enfrenta situações tecnicamente únicas, em que existem mais variáveis de interesse do que pontos de dados, ela essencialmente se baseia em várias fontes de evidências, com os dados precisando convergir em um formato de triângulo, e se beneficia do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta e a análise de dados. Desta forma, uma ampla variedade de evidências foi utilizada de forma complementar e para

assegurar a validade deste estudo. Dentre essas evidências estão documentos, registros históricos, entrevistas semiestruturadas e observações diretas.

O caso selecionado se refere à implantação de uma mesma solução inovadora de sistema submarino de produção em dois campos offshore. Tal solução representa uma inovação tecnológica para a indústria mundial de óleo e gás. Este projeto envolveu a coordenação e execução de contratos extremamente complexos, com grande número de atores envolvidos. Além da multiplicidade de atores, a alta complexidade tecnológica, o alto investimento, o longo prazo de desenvolvimento e as altas incertezas relativas aos resultados esperados e às especificações técnicas contribuíram para a escolha desse projeto como matéria de estudo. O tamanho do projeto foi inicialmente estimado em um bilhão de dólares norte- americanos, e sua duração foi de aproximadamente cinco anos.

O processo de pesquisa foi dividido em quatro etapas. A primeira consistiu na revisão de literatura. Orientado pela explicação de Yin (2010) de que a revisão de literatura é um meio para se atingir uma finalidade, e não uma finalidade em si, o pesquisador analisou a literatura existente buscando avaliar o acervo de teorias e suas críticas para, então, tentar desenvolver questões mais objetivas e perspicazes sobre o tema. Inicialmente, a revisão de literatura concentrou-se sobre os estudos relacionados à governança de relacionamentos interorganizacionais, focando especificamente no problema tratado neste trabalho. No decorrer do processo de pesquisa, a partir das discussões com o orientador acadêmico e das importantes contribuições dadas pelo mesmo, o pesquisador percebeu a necessidade de se engajar com outras literaturas e de incorporá-las ao presente trabalho. Tais literaturas, ainda pouco conhecidas no Brasil, apresentam perspectivas diferentes e críticas bem mais profundas e substantivas à literatura dominante no campo da gestão estratégica e dos relacionamentos interorganizacionais, na medida em que introduzem elementos de geopolítica do conhecimento em suas análises e questionam a validade dos preceitos da literatura do

mainstream em outros contextos, especialmente em economias emergentes (BERTERO et al.,

2013; FARIA et al., 2014; FARIA; WANDERLEY, 2013). A revisão de literatura é apresentada no segundo capítulo desta dissertação, no qual o autor indica para o leitor os referenciais teóricos consultados, suas preocupações e discordâncias em relação a estes, os pontos que considera carentes de confirmação e as lacunas observadas na literatura especializada (VERGARA, 2006).

A segunda etapa do processo de pesquisa consistiu na exploração do caso por meio de uma extensa pesquisa documental, tendo como principal objetivo a identificação preliminar e a compreensão de situações ocorridas durante o projeto, em ordem cronológica, que eventualmente possam ter levado a alterações na aplicação dos mecanismos de governança e impactado os resultados do projeto, em termos de custo, prazo e qualidade. Essa pesquisa documental reforçou os conhecimentos prévios do pesquisador a respeito do objeto deste estudo e auxiliou na realização das entrevistas.

O pesquisador é integrante da organização analisada, o que facilitou o acesso à documentação do projeto, assim como a análise de documentos técnicos e de aspectos específicos do setor de óleo e gás. Esta posição do pesquisador em relação ao objeto de estudo (como um “insider”) também permitiu a observação direta de fatos e eventos específicos ocorridos ao longo do projeto e, consequentemente, a interpretação destes em “primeira mão”. Embora o pesquisador não tenha participado diretamente do projeto, ele acompanhou todo o seu desenvolvimento como integrante da referida organização, em um primeiro momento, atuando na área de contratação e, posteriormente, atuando na área de planejamento e gestão da unidade de implantação de projetos submarinos.

Se, por um lado, a posição do pesquisador o auxiliou na interpretação dos fenômenos estudados, por outro, trouxe-lhe a preocupação de buscar constantemente a imparcialidade e o distanciamento crítico necessários à realização das análises, para que essa condição não interferisse, de alguma forma, no sucesso do processo de pesquisa. As discussões entre o pesquisador (insider) e o orientador acadêmico (outsider), envolvendo perspectivas diferentes, por vezes contraditórias entre si, foram fundamentais para o pesquisador exercitar a sua capacidade de distanciamento e desenvolver um olhar crítico em relação ao objeto de estudo, sendo, portanto, determinante para os resultados desta pesquisa.

A terceira etapa da pesquisa envolveu a realização de entrevistas semiestruturadas com oito funcionários da operadora e da contratada que desempenharam funções importantes durante o projeto, a saber: gerente de projeto, coordenador de projeto, gerente de contratação, gerente de contrato, gerente técnico e três membros da equipe de projeto. Dado que o principal objetivo das entrevistas foi perceber como, a partir de situações ocorridas durante o projeto, foram se alterando as interações entre governanças e como isso afetou os seus resultados, o critério de seleção dos entrevistados foi pautado pela possibilidade destes poderem contribuir para o entendimento de como foram concebidos e implementados os

mecanismos de governança, quais problemas surgiram ao longo do projeto que provocaram mudanças na interação entre esses mecanismos e como esses problemas foram (ou não) resolvidos.

Também foram levados em consideração na seleção dos entrevistados: (i) o período de participação no projeto; (ii) a capacidade de contribuição individual; e (iii) a acessibilidade para o pesquisador. Foram selecionadas, quando possível, pessoas que participaram do desenvolvimento do projeto do início ao fim. Acredita-se que, desta forma, foi possível construir uma visão holística do projeto, cobrindo desde as atividades e principais decisões tomadas pela alta gerência até as atividades de rotina da equipe de projeto.

As entrevistas foram realizadas individualmente e em profundidade, no período de outubro a novembro de 2015, seguindo um roteiro previamente estabelecido. As entrevistas também foram realizadas de forma ininterrupta e tiveram durações que variaram de uma a três horas. Tendo em vista que, neste tipo de pesquisa, o pesquisador é dependente tanto das interpretações que o entrevistado tem dos fatos envolvidos quanto da sua disposição em compartilhar suas experiências e opiniões pessoais, neste caso específico, o pesquisador optou por se comprometer com cada entrevistado, antes de iniciar a entrevista, a preservar a confidencialidade das suas respostas e, em hipótese alguma, identificá-las em qualquer parte do estudo. Acredita-se que com isso os entrevistados se sentiram mais confortáveis e predispostos a compartilhar sinceramente suas opiniões pessoais e críticas sobre qualquer aspecto do projeto. Em função deste acordo de confidencialidade, não há nesta dissertação uma seção específica para se discutir os resultados das entrevistas, nem citações diretas às falas dos entrevistados. Ao contrário, as informações obtidas nas entrevistas permeiam todo o estudo de caso, na maioria das vezes sem indicação específica de onde se encontram, embora sejam fundamentais para as conclusões e ponderações apresentadas ao final do trabalho.

O roteiro estabelecido para a realização das entrevistas (Apêndice A) serviu para orientar a discussão com os entrevistados e foi constituído por perguntas abertas, agrupadas em três seções específicas: (i) incentivos/contratos; (ii) autoridade/hierarquia; e (iii) confiança. Contudo, cabe ressaltar que este roteiro não foi seguido de maneira rígida na condução das entrevistas. Pelo contrário, ele sofria alterações de entrevistado para entrevistado, em função da grande diversidade entre os perfis e áreas de atuação dos mesmos. Assim, a entrevista era conduzida pelo pesquisador no sentido de obter os dados mais apropriados para a pesquisa, considerando a capacidade de contribuição de cada entrevistado.

Em relação à dinâmica das entrevistas, o pesquisador inicialmente apresentava aos entrevistados, de forma sucinta, o tema, a pergunta e os objetivos da pesquisa. Feita esta introdução, o pesquisador iniciava, então, com as perguntas do roteiro, dando total de liberdade de resposta ao entrevistado. Durante a evolução da entrevista, perguntas do roteiro podiam ser descartadas e outras perguntas inseridas, visando favorecer a exploração de dados que emergiam. Os participantes eram solicitados a relatar com detalhes exemplos de fatos e incidentes críticos e a apresentar suas opiniões sobre eles. À medida que esses incidentes eram relatados, o pesquisador, a seu critério, buscava priorizá-los e coletar informações mais específicas e detalhadas sobre aqueles percebidos com maior possibilidade de estarem associados a mudanças nas interações entre mecanismos de governança. O uso deste procedimento possibilitou ao pesquisador identificar situações específicas e incidentes críticos que mereceriam investigação com maior profundidade.

A quarta etapa da pesquisa envolveu a análise e validação dos dados. As anotações efetuadas pelo pesquisador ao longo das entrevistas foram consolidadas de forma estruturada para análise qualitativa e comparação dos dados obtidos com outras fontes, tais como relatórios do projeto e atas de reunião. Os resultados das entrevistas foram complementados e validados mediante uma extensa pesquisa sobre a documentação e os registros disponíveis para todo o período do projeto, incluindo contratos, relatórios de acompanhamento mensal do projeto, atas de reunião, materiais de eventos de lições aprendidas, documentos de engenharia e documentos internos da operadora, tais como reportes executivos e solicitações encaminhadas à presidência/diretoria, relacionadas, por exemplo, a aprovações de passagem de fase ou mudanças de projeto, assinatura de contratos, pleitos ou aditivos contratuais.

A análise dos contratos foi conduzida buscando-se identificar os principais elementos e mecanismos de incentivo (por exemplo, cláusulas de bonificação por performance) e sanções (por exemplo, cláusulas de multa por atraso nas entregas de produtos ou por descumprimento de obrigações contratuais). Além disso, foram observadas a clareza e a completude dos contratos no que se refere à definição de responsabilidades das partes, mecanismos de controle e marcos de acompanhamento, escopo, entregáveis e especificações técnicas. Por sua vez, a análise dos relatórios de progresso mensal ajudou na compreensão da cronologia dos eventos e na identificação dos principais problemas e das principais mudanças que ocorreram durante o projeto.

Em adição às entrevistas e à pesquisa documental, foram realizadas observações diretas e participantes (YIN, 2005). O fato do pesquisador pertencer ao corpo funcional de uma das empresas investigadas e atuar no segmento foco da pesquisa possibilitou o acesso a informações inacessíveis à investigação científica e permitiu a percepção da realidade sob a ótica de alguém inserido no contexto do estudo de caso, e não de um ponto de vista externo.

As limitações referentes às pesquisas qualitativas são conhecidas e estão bem descritas na literatura. Dentre as principais, podem-se citar: incerteza quanto à confiabilidade dos resultados, dificuldades para generalizações, risco de o pesquisador ser “capturado” pelo caso e, com isso, perder o senso crítico, problemas de distorção (vieses) e relevância nas entrevistas. A seguir, são feitas algumas considerações sobre como as duas primeiras e mais importantes limitações são tratadas neste trabalho.

A respeito da validade e confiabilidade do estudo, cabe citar que contratos, confiança e governança são construtos bem definidos na literatura e que têm sido aplicados tanto em estudos qualitativos como quantitativos. Assim, os conceitos teóricos aqui adotados para esses construtos estão baseados em pesquisas anteriores, descritas no capítulo 2 desta dissertação. No que concerne à validade interna, as relações de causa e efeito entre variáveis específicas podem ser difícil de revelar, de modo que não se podem excluir outros fatores explicativos. Contudo, dado que o objetivo é ampliar o conhecimento sobre as interações entre mecanismos de governança contratual e relacional, serão feitas algumas inferências, particularmente para explicar por que essas interações ocorrem. No que concerne à validade externa ou possibilidade de generalização, ressalta-se que, por se tratar de um único estudo de caso, os achados desta pesquisa devem ser interpretados com cautela e não devem ser generalizados para outros projetos complexos ou relacionamentos interfirmas de modo geral.

4. ESTUDO DE CASO

A introdução de novas tecnologias em projetos complexos de exploração e produção

offshore sempre envolve desafios face aos riscos inerentes à natureza da atividade, que

demanda rigorosos requisitos de segurança e confiabilidade, e às restrições comerciais provenientes de mercados fornecedores altamente especializados. A inovação tecnológica no setor de upstream é frequentemente direcionada pela necessidade de encontrar, acessar e produzir reservatórios em novas fronteiras exploratórias.

Este estudo de caso analisa um projeto complexo de implantação de sistemas submarinos de produção em dois campos offshore na indústria brasileira de óleo e gás. O caráter inovador do projeto implicou a necessidade de desenvolvimento conjunto de tecnologias e processos, de modo que as principais partes envolvidas – operadora e integradora – tiveram que se engajar em um relacionamento de longo prazo com os fornecedores e subfornecedores parceiros. O tamanho do projeto foi inicialmente estimado em 1 bilhão de dólares norte-americanos, e sua duração foi de aproximadamente 5 anos.

Este capítulo está dividido em duas seções. A primeira apresenta a descrição do caso, identificando o uso simultâneo de mecanismos de governanças contratual e relacional ao longo do projeto. Na segunda seção, é analisada a interação entre os mecanismos de governança contratual e relacional e o impacto da coevolução desses mecanismos sobre a gestão e os resultados do projeto.

4.1. DESCRIÇÃO DO CASO

O projeto estudado consistiu no desenvolvimento de uma solução inovadora de sistema submarino de produção e na sua instalação em dois campos situados em águas ultraprofundas na costa brasileira. O cliente do projeto foi a operadora desses campos, que têm como concessionários dois diferentes consórcios. Desta forma, na perspectiva do cliente,

o projeto envolveu a contratação de uma concepção única de sistema submarino para aplicação, em paralelo, no desenvolvimento da produção de dois campos diferentes. Esta abordagem teve por objetivo promover sinergias e ajudar a reduzir os custos de desenvolvimento dos campos.

O contexto da indústria de petróleo e gás no Brasil à época da implantação deste projeto era promissor. A descoberta de grandes acumulações de hidrocarbonetos na camada pré-sal tinha aberto um novo horizonte para o Brasil no cenário energético mundial. A partir dessa descoberta, o país passou a vislumbrar uma oportunidade sem precedente na sua história de tornar a balança comercial do petróleo superavitária, deixando a atual posição de importador para tornar-se, em poucas décadas, um importante exportador. Além disso, o mercado internacional apresentava um cenário de alta do preço do petróleo (Brent) – que já havia superado o patamar de US$ 100/barril – e as projeções quanto à evolução do preço eram otimistas frente à tendência de crescimento da demanda.

Segundo a International Energy Agency – IEA (2013), o Brasil ocupa, em muitos aspectos, uma posição invejável no sistema energético global: possui uma dotação de recursos energéticos vasta, variada e mais do que suficiente para atender às necessidades do país. Comparativamente, o Brasil tem lidado de maneira bem sucedida com os principais desafios enfrentados por outras economias – garantir acesso à energia a toda população de maneira sustentável e de forma a não comprometer sua segurança energética. As grandes descobertas de Petróleo feitas no Brasil nos últimos anos foram as que mais contribuíram para o aumento das reservas provadas globais. Seis das dez maiores descobertas mundiais desde 2008 foram no Brasil.

Todavia, apesar do enorme potencial desses recursos, o incremento da oferta no Brasil está condicionado pela complexidade e escala dos investimentos, bem como pelas limitações da cadeia de suprimentos local. Transformar efetivamente esta oportunidade em desenvolvimento econômico e social envolve a superação de desafios nas esferas econômica, tecnológica e energético-ambiental.

Descoberta em 2006, a província do pré-sal localiza-se em águas ultraprofundas na plataforma continental brasileira. Conhecida como Polo Pré-Sal da Bacia de Santos (PPSBS), compreende uma faixa de 800 quilômetros entre os estados do Espírito Santo e Santa Catarina, distante cerca de 300 quilômetros da costa, em profundidades que variam entre

2.000 e 2.500 metros de lâmina d’água; os enormes reservatórios de petróleo e gás natural, por sua vez, situam-se no subsolo marinho, sob uma espessa camada de sal, com cerca de 2.000 metros, em profundidas que podem chegar a 7.000 metros do nível do mar.