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Interações de relacionamentos interorganizacionais: projetos complexos na indústria petrolífera brasileira

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Academic year: 2017

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(1)

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ESAPE

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS MESTRADO EXECUTIVO EM GESTÃO EMPRESARIAL

INTERAÇÕES DE RELACIONAMENTOS

INTERORGANIZACIONAIS: PROJETOS COMPLEXOS

NA INDÚSTRIA PETROLÍFERA BRASILEIRA

DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E OE EMPRESAS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE

THIAGO SOUZA CRUZ AMARAL

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THIAGO SOUZA CRUZ AMARAL

INTERAÇÕES DE RELACIONAMENTOS INTERORGANIZACIONAIS: PROJETOS COMPLEXOS NA INDÚSTRIA PETROLÍFERA BRASILEIRA

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THIAGO SOUZA CRUZ AMARAL

INTERAÇÕES DE RELACIONAMENTOS INTERORGANIZACIONAIS: PROJETOS COMPLEXOS NA INDÚSTRIA PETROLÍFERA BRASILEIRA

Dissertação de Mestrado apresentada à Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, no Mestrado Executivo em Gestão Empresarial, como requisito para obtenção do grau de Mestre em Administração.

Área de concentração: Estratégia Empresarial. Orientador: Prof. Dr. Alexandre de A. Faria

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Amaral, Thiago Souza Cruz

Interações de relacionamentos interorganizacionais: projetos complexos na indústria petrolífera brasileira / Thiago Souza Cruz Amaral. – 2015.

114 f.

Dissertação (mestrado) - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa.

Orientador: Alexandre de A. Faria. Inclui bibliografia.

1. Relações interorganizacionais. 2. Governança corporativa. 3. Contratos. 4. Planejamento empresarial. 5. Confiança. 6. Indústria petrolífera. I. Faria, Alexandre de Almeida, 1963- . II. Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas. Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa. III. Título.

(5)

L セ fgv@

THIAGO SOUZA CRUZ AMARAL

INTERAÇÕES DE RELACIONAMENTOS JNTERORGANIZACIONAIS: PROJETOS COMPLEXOS NA INDUSTRIA PETROLÍFERA BRASILEIRA.

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional Executivo em Gestão Empresarial da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas para obtenção do grau de Mestre em Administração.

Data da defesa: 16/12/20 15.

ASSINATURA DOS MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA

-ev. ... Alexandre de Alme1da Faria

Orientador (a)

q oaquim Rubens Fontes Filho

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Ao meu orientador, Prof. Alexandre Faria, pela assertividade nas suas orientações e pelo profissionalismo com que me ajudou a concluir esta jornada.

Ao Prof. Joaquim Rubens, por acreditar em mim e contribuir para o meu crescimento pessoal e profissional.

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RESUMO

Este trabalho buscou investigar a interação entre os mecanismos de governança contratual e relacional na relação comprador-fornecedor e seus impactos sobre os resultados de projetos complexos. A governança dos relacionamentos interorganizacionais e sua importância estratégica para o desempenho das firmas e para a obtenção de vantagens competitivas têm sido tema de muitas pesquisas recentes na área de estratégia, bem como em áreas correlatas. Mais especificamente, é crescente a importância de tais relacionamentos na literatura de gestão, especialmente em contextos envolvendo economias emergentes. A literatura apresenta uma convergência acerca de dois tipos principais de governança nos relacionamentos interorganizacionais: a governança contratual, que se refere aos contratos e regras formalmente estabelecidas entre as firmas para geralmente coibir comportamentos oportunistas, e a governança relacional, que se baseia principalmente na confiança e em normas relacionais para coordenar tais relacionamentos. Embora diversos estudos tenham investigado a interação entre essas governanças, não há um consenso na literatura sobre a natureza dessa interação. Este estudo teve por objetivo investigar a interação dos mecanismos de governança contratual e relacional por meio de um estudo de caso sobre a implantação de um megaprojeto na indústria brasileira do petróleo offshore, envolvendo tecnologia

inovadora. Os resultados indicam que os mecanismos de governança contratual e relacional desempenham importantes funções no relacionamento comprador-fornecedor e que a interação entre eles impacta os resultados do projeto em termos de prazo, custo e qualidade. Tais mecanismos atuam de forma simultânea e influenciam uns aos outros em grande medida. Percebe-se ainda que o nível de influência de cada um desses mecanismos varia ao longo do tempo, a depender do contexto. Por fim, conclui-se que os resultados do projeto, no contexto estudado, não podem ser plenamente explicados apenas pela interação entre esses mecanismos. Tais resultados precisam ser contextualizados, uma vez que diversos fatores do ambiente institucional atuam como moderadores da interação entre governanças.

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ABSTRACT

This study aims to analyze the interplay between contractual and relational governance mechanisms in buyer-supplier relationships and their impact on complex projects outcomes. Governance of inter-organizational relationships and its strategic importance for firms' performance and to achieve competitive advantages have been the subject of many recent studies in the strategy field, as well as in related areas. More specifically, the importance of such relationships in management literature has been increasing, mainly in contexts involving emerging economies. The literature shows a convergence about two main types of governance in inter-organizational relationships: the contractual governance, related to contracts and rules formally established between firms to generally safeguard against opportunistic behavior, and relational governance, which is based mainly on trust and relational norms to coordinate such relationships. Although many studies have investigated contractual and relational governance in inter-organizational relationships, there is no consensus in the literature about the nature of their interplay. This study aims to investigate the interplay of governance mechanisms through a case study about a complex procurement project in the Brazilian offshore oil and gas industry, involving innovative technology. The findings suggest that contractual and relational governance mechanisms play important roles in the buyer-supplier relationships and their interaction impacts project outcomes, assessed in terms of time, cost and quality. Governance mechanisms play simultaneously and influence each other to a great extent. The case also demonstrates that accents on different mechanisms can change during the run of a project, depending on the context. Finally, it is concluded that project outcomes in the context studied can not be fully explained only by the interplay between governance mechanisms. These outcomes have to be contextualized, since many institutional environment factors act as moderators of the interplay between governances.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Formas contratuais tradicionalmente utilizadas na indústria de óleo e gás...71 Figura 2 – Ilustração do organograma do projeto...76 Figura 3 – Linha do tempo do projeto...85

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Dimensões da confiança interfirmas...42 Tabela 2 – Principais dimensões de estudos-chave sobre a interação ente governança

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES

E&P Exploração e Produção

EPCI Engineering, Procurement, Construction and Installation

FEED Front End Engineering and Design

FPSO Floating Production Storage and Offloading

GE Gestão Estratégica

IOR Interorganizational Relationships

NEI Nova Economia Institucional P&P Pesquisa e Desenvolvimento

PLSV Pipe Laying Support Vessel

RET Relational Exchange Theory

SET Social Exchange Theory

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 10

1.1. PROBLEMA DE PESQUISA ... 16

1.2. OBJETIVOS ... 16

1.3. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ... 17

2. REVISÃO DE LITERATURA ... 18

2.1. A TEORIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO (TCT) ... 18

2.1.1. Conceitos de “instituição” no “velho” e no “novo” institucionalismo ... 18

2.1.2. As vertentes teóricas da Nova Economia Institucional (NEI) ... 26

2.1.3. A abordagem e os principais conceitos da TCT ... 32

2.2. GOVERNANÇA NOS RELACIONAMENTOS INTERORGANIZACIONAIS .... 38

2.2.1. Mecanismos de Governança ... 38

2.2.2. Interação entre mecanismos de governança ... 43

2.3. CONSIDERAÇÕES CRÍTICAS ... 49

2.3.1. Acerca da literatura dominante da área de gestão estratégica (GE) ... 49

2.3.2. Acerca da TCT e sua aplicação em contextos de economias emergentes ... 53

2.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS E PRESSUPOSTOS DO TRABALHO ... 57

3. METODOLOGIA DE PESQUISA ... 60

4. ESTUDO DE CASO ... 67

4.1. DESCRIÇÃO DO CASO ... 67

4.2. ANÁLISE DO CASO ... 89

5. CONCLUSÕES ... 93

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 103

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1. INTRODUÇÃO

A governança dos relacionamentos interorganizacionais e sua importância estratégica para o desempenho das firmas e para a obtenção de vantagens competitivas têm sido tema de muitas pesquisas recentes na área de estratégia, bem como em áreas correlatas, tais como gestão de suprimentos (CANIËLS et al., 2012; CALDWELL et al., 2009; OLSEN et al., 2005), gestão de operações (LIU et al., 2009; GOFFIN et al., 2006; LUMINEAU; HENDERSON, 2012; CAO; LUMINEAU, 2015), marketing (CANNON et al., 2000; HAWKINS et al., 2008; WUYTS; GEYSKENS, 2005) e gestão de projetos (MAURER, 2010; PING et al., 2015, PINTO et al., 2009). Mais especificamente, é crescente a importância de tais relacionamentos na literatura de gestão estratégica (LI et al., 2010a; POPPO; ZENGER, 2002; DYER, 1997; BARNEY; HANSEN, 1994), especialmente em contextos envolvendo organizações de economias emergentes (HOSKISSON et al., 2000; WRIGHT et al., 2005; XU; MEYER, 2013).

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Embora esteja aparentemente pacificado o entendimento de que mecanismos de governança contratual e relacional estão presentes nos relacionamentos interorganizacionais de desempenho estratégico superior, não há um consenso na literatura sobre a natureza da interação entre esses mecanismos. Um grupo de autores argumenta que tais mecanismos são substitutos, no sentido de que o uso de um tipo diminui a necessidade ou benefícios de se usar o outro tipo (REVE, 1990; WILLIAMSON, 1985; LI et al., 2010b; WUYTS; GEYSKENS, 2005). Em contraste, outro grupo de autores defende que os mecanismos de governança contratual e relacional são complementares, sendo que o uso positivo de um desses mecanismos potencializa os benefícios que podem ser adquiridos com os demais (POPO; ZENGER, 2002; OLSEN et al., 2005; CANIËLS et al., 2012; NESS; HAUGLAND, 2005). Em contextos envolvendo corporações de economias emergentes, esse quadro de contrastes entre posições acadêmicas estabelecidas principalmente nos EUA é ainda mais saliente e relevante (HOSKISSON et al., 2000; WRIGHT et al., 2005).

A partir da revisão da literatura especializada, constata-se que a maioria dos estudos investiga a atuação dos mecanismos de governança contratual e relacional de maneira isolada (HAWKINS et al., 2008; WATHNE; HEIDE, 2000; JAP; ANDERSON, 2003; POPPO; ZENGER, 2002), e são poucos aqueles que investigam a atuação simultânea desses mecanismos (OLSEN et al., 2005; CANIËLS et al., 2012; LIU et al., 2009; CAO; LUMINEAU, 2015). Nota-se também uma forte predominância de estudos empíricos que utilizam uma perspectiva estática e a-contextualizada para analisar a interação entre as governanças contratual e relacional, em parte devido à dificuldade de se conduzir estudos longitudinais. A maioria dos estudos também não leva em consideração dimensões contextuais importantes, como as dimensões institucional e sociológica, especialmente relevantes em economias emergentes (HOSKISSON et al., 2000; WRIGHT et al., 2005).

O conhecimento sobre como as governanças contratual e relacional interagem continua limitado, uma vez que os resultados das pesquisas têm se mostrado contraditórios, o que dificulta a compreensão do fenômeno e também a prescrição de modelos para auxiliar os gerentes – especialmente para organizações euro-americanas que atuam nas economias emergentes – na escolha da combinação adequada de mecanismos de governança contratual e relacional.

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pesquisas existentes usam os termos “complementar” e “substituto” para se referir tanto às relações entre as governanças contratual e relacional quanto às relações entre essas governanças e o desempenho das firmas. O pressuposto básico é que quando as governanças contratual e relacional são complementares (ou substitutas) elas têm impactos complementares (ou substitutos) sobre o desempenho. No entanto, alguns estudos têm demostrado que as governanças contratual e relacional podem ser substitutas para explicar o desempenho mesmo quando elas estão positivamente relacionadas (LI et al., 2010b; WANG et al., 2011). A segunda limitação é que a literatura tem dado pouca atenção à investigação das condições de contorno das relações entre governança contratual e relacional, e a lógica teórica a respeito dos efeitos moderadores desta interação permanece fragmentada. Por último, Cao e Lumineau (2015) argumentam que a maioria dos estudos existentes possui limitações metodológicas por terem sido realizados em contextos únicos – único país, único tipo de relacionamento (por exemplo, somente relacionamento comprador-fornecedor ou somente alianças estratégicas) e único ponto no tempo.

Apesar de tantas questões importantes que continuam sendo negligenciadas, a literatura especializada apresenta o uso predominante de três teorias para investigar a eficácia das governanças contratual e relacional, quais sejam: a Teoria dos Custos de Transação (Transaction Cost Theory – TCT), a Teoria das Trocas Sociais (Social Exchange Theory

SET) e a Teoria das Trocas Relacionais (Relational Exchange Theory – RET) (CAO,

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Por outro lado, especialmente fora dos EUA, a SET e a RET costumam ser usadas para explicar os efeitos da confiança e das normas relacionais, respectivamente. Nos estudos que visam a explicar os efeitos da governança relacional no seu conceito amplo, que abrange tanto confiança quanto normas relacionais, a SET e a RET são empregadas conjuntamente. Algumas escolas teóricas costumam adotar o termo “relational contracting” como um

guarda-chuva que abarca essas duas teorias (CARSON et al., 2006). As teorias relacionais criticam os pressupostos da TCT por serem economicistas, a-contextualizados, e subvalorizarem os aspectos sociais (GRANOVETTER, 1985; UZZI, 1997). Essas teorias postulam que a confiança entre as organizações resulta do histórico de interações favoráveis e de relacionamentos de longo prazo baseados principalmente em mutualidade. Assim, à medida que interações bem-sucedidas vão se repetindo dentro de um contexto, a confiança vai sendo reforçada, o que faz com que os atores ajam de forma confiável. Essa visão é oposta à da TCT, que tem o oportunismo economicista do ‘outro’ como princípio institucional central para justificar um modo de governança baseado em mecanismos de controle e coerção por meio de nexos específicos de contratos.

A principal proposição da TCT – como teorização construída nos EUA, que despreza dimensões contextuais e privilegia interesses economicistas do ‘principal’ – é que se deve empregar o modo de governança adequado para coibir o oportunismo causado pelas incertezas e especificidade de ativos envolvidos nas relações comprador-fornecedor. A teoria argumenta que uma governança contratual bem-estabelecida pode constituir um mecanismo eficaz de controle dos riscos associados à transação (supostamente introduzidos por fornecedores), a partir da definição contratual do papel a ser exercido por cada parte e das responsabilidades correspondentes, tanto em ambientes estáveis quanto em ambientes de mudança. Isto faz com que a complexidade dos contratos aumente no mesmo sentido da especificidade dos investimentos, uma vez que as firmas tendem a estabelecer salvaguardas e contingências contratuais, além de especificar processos de resolução de conflitos e problemas imprevistos. Não surpreendentemente, esta perspectiva é amplamente utilizada em estudos de governança contratual e governança corporativa nos EUA (WILLIAMSON, 1985; LIU et al., 2009; POPPO; ZENGER, 2002).

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completos ex ante, o que tem como consequência que uma parte importante dos custos de

transação só é conhecida ex post. Os mecanismos de governança relacional surgem então

como uma alternativa para evitar ações oportunistas e para facilitar ajustes/adaptações de contratos ex post. Sob a ótica da TCT, a governança relacional tem natureza econômica, e a

confiança tem natureza calculista (WILLIAMSON, 1985, 1993). Em outras palavras, a TCT institucionaliza a marginalização das outras teorizações, ao subordiná-las aos seus questionáveis pressupostos e interesses.

A abordagem economicista da TCT vem sendo aplicada ao complexo contexto da indústria do petróleo offshore em economias emergentes a despeito da central importância de

questões de política e geopolítica no setor (ver HARVEY, 2003). De forma simplificada, os empreendimentos no setor se caracterizam por: (i) alto grau de incerteza (associadas, por exemplo, aos riscos de reservatório, ao preço do petróleo e a intervenções governamentais e militares correspondentes); (ii) elevada assimetria geopolítica entre organizações de países em desenvolvimento e organizações do mundo euro-americano; (iii) alta complexidade tecnológica; (iii) alta especificidade dos ativos; (iv) alta escala dos investimentos; e (v) contratos complexos e de longo prazo envolvendo um grande número de atores. Trata-se de uma indústria em que é muito difícil especificar completamente todos os requisitos e termos contratuais ex ante e, portanto, os contratos possuem um elevado nível de custos de transação

e de coordenação associados (OLSEN, et al., 2005; CANIËLS et al., 2012). Ademais, especialmente no âmbito das economias emergentes (mas não somente) o complexo do petróleo em cada país ou região costuma envolver dimensões sócio-políticas e regulatórias de governança que são insuficientemente contempladas pela teorização dominante. Este estudo é de central importância para organizações, sociedade e gestores em economias emergentes devido à crescente importância social, econômica e política deste complexo setor para uma ampla parcela da população e também para a ascensão desses países em décadas recentes. Embora tais características configurem esta indústria como um campo fértil para o estudo das interações entre as governanças contratual e relacional, é correto argumentar que por ser um “setor estratégico” típico há uma escassez de estudos empíricos relacionados na literatura produzida no exterior (CAO; LUMINEAU, 2015) e, principalmente, no Brasil.

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projetos complexos, a partir de um estudo de caso da implantação de sistemas submarinos de produção na indústria petrolífera brasileira offshore. O estudo pressupõe que mecanismos de

governança contratual e relacional são complementares e impactam os resultados dos projetos, tanto por economias proporcionadas por menores custos de transação quanto por ganhos gerados em termos de sinergia, cooperação e compartilhamento de recursos na relação comprador-fornecedor no complexo do petróleo. Entende-se, ainda, que a dimensão contextual pode influenciar positiva ou negativamente o relacionamento mútuo entre governança contratual e relacional, de modo que a variável “desempenho” precisa ser definida em função do contexto. Não se assume, no entanto, que a complementariedade entre mecanismos contratuais e relacionais gere, necessariamente, um impacto direto positivo ou negativo para os resultados do projeto. Por exemplo, a presença de um alto grau de confiança ente as partes pode levar à redução de mecanismos contratuais de incentivo e controle, o que, por sua vez, pode gerar resultados positivos ou negativos para o projeto, a depender do contexto específico.

Este trabalho segue uma abordagem qualitativa. O estudo de caso envolveu a realização de entrevistas semiestruturadas com pessoas-chave do operador e da contratada (sob a forma contratual EPCI – Engineering, Procurement, Construction and Installation).

Além disso, foi realizada uma extensa pesquisa sobre a documentação e os registros disponíveis, incluindo contratos, relatórios de acompanhamento do projeto e atas de reunião. Acredita-se que este trabalho ofereça importante contribuição teórica ao realizar uma análise longitudinal da interação entre os mecanismos de governança contratual e relacional, associada aos impactos sobre os resultados de um projeto complexo e inovador da indústria de petróleo e gás offshore, conduzido no contexto de uma economia emergente. Sob a

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1.1. PROBLEMA DE PESQUISA

A estruturação deste trabalho, em termos teóricos e metodológicos, visa responder à seguinte questão de pesquisa:

Qual é o impacto da interação entre mecanismos de governança contratual e relacional na gestão estratégica dos relacionamentos entre comprador-fornecedor e nos resultados de projetos complexos?

1.2. OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho é investigar a interação entre os mecanismos de governança contratual e relacional na relação comprador-fornecedor e seus impactos sobre os resultados de projetos complexos, em termos de custo, prazo e qualidade. Para isso, será realizado um estudo de caso sobre a implantação de um megaprojeto na indústria brasileira do petróleo

offshore, envolvendo tecnologia inovadora.

De forma específica, pretende-se:

• Investigar o uso simultâneo de mecanismos de governança contratual (contratos/ incentivos e hierarquia/autoridade) e relacional (confiança);

• Desenvolver uma perspectiva dinâmica de governança na gestão de relações interfirmas em uma economia emergente, por meio do estudo de mudanças;

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1.3. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

A dissertação está estruturada em cinco capítulos, incluindo este primeiro, introdutório.

No segundo capítulo, é apresentada uma revisão das teorias pertinentes, destacando-se as principais argumentações teóricas e evidências empíricas encontradas na literatura. A revisão foi dividida em quatro seções. A primeira trata da Teoria dos Custos de Transação (TCT). A segunda apresenta as bases teóricas sobre governança contratual e governança relacional, focando nos estudos sobre a interação entre elas. A terceira seção apresenta considerações críticas sobre as abordagens e teorias predominantemente utilizadas nos estudos empíricos que examinam as interações entre governança contratual e relacional. A quarta e última seção apresenta as considerações finais sobre o capítulo e a construção das hipóteses do trabalho.

O terceiro capítulo apresenta o desenho metodológico e as abordagens escolhidas pelo pesquisador para o cumprimento dos objetivos delineados neste capítulo introdutório.

O quarto capítulo apresenta os resultados do estudo de caso, referente à implantação de um projeto de desenvolvimento de sistema submarino de produção em dois campos na indústria brasileira do petróleo e gás offshore.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

O objetivo deste capítulo é apresentar e discutir a base teórico-empírica do trabalho, no intuito de dar conhecimento ao estado da arte sobre os temas relevantes. Basicamente, a dissertação apoia-se em dois pilares: a Teoria dos Custos de Transação (TCT) e a literatura sobre governança das relações interorganizacionais. Este capítulo está dividido em quatro seções. Na primeira seção, apresenta-se brevemente em que consiste a Teoria dos Custos de Transação (TCT), a partir de uma síntese dos seus principais conceitos e princípios metodológicos, com ênfase na definição do papel dos contratos e das organizações na coordenação das atividades econômicas e nas propriedades de eficiência de diferentes estruturas de governança. Na segunda seção, são definidos conceitualmente os mecanismos de governança contratual e relacional e os construtos associados, bem como são exploradas as contribuições dos trabalhos empíricos sobre a interação entre esses mecanismos de governança nas relações interorganizacionais. Na terceira seção, são apresentadas considerações críticas sobre as abordagens e teorias predominantemente utilizadas nos estudos empíricos que examinam as interações entre governança contratual e relacional. Por fim, na quarta seção, são apresentadas as considerações finais sobre a revisão de literatura e a construção das hipóteses do trabalho.

2.1. A TEORIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO (TCT)

2.1.1. Conceitos de “instituição” no “velho” e no “novo” institucionalismo

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sociedade, bem como as estruturas e regras provenientes dessa regularidade (HODGSON, 1998, 2000; MÄKI, 1993; RUTHERFORD, 1994, 2001; PONDÉ, 2005).

Mäki (1993) propõe uma agenda para investigação metodológica do papel das instituições na economia. Com base nos seus levantamentos, o autor afirma que “é muito mais fácil insistir para se tomar seriamente as instituições como parte dos domínios da teoria econômica do que oferecer uma definição precisa, não ambígua, e ao mesmo tempo suficientemente rica e restrita, do conceito de instituição” (p. 13). Não obstante, o autor apresenta uma coletânea das definições adotadas por institucionalistas notáveis que discutem o tema sob diferentes perspectivas.

No “velho” institucionalismo (por vezes denominado de institucionalismo “original” ou “norte-americano”), as instituições são concebidas, na maioria dos casos, como sendo baseadas em hábitos e costumes. Os principais expoentes dessa corrente teórica são Thorstein Veblen, John Commons e Wesley Mitchell. Para Veblen (1919 apud HODGSON, 1998, p. 179), uma instituição consiste em “hábitos estabelecidos de pensamento comum à generalidade dos homens”. Nesta mesma linha, Commons (1934 apud MÄKI, 1993, p. 13) diz que uma instituição pode ser vista como “a ação coletiva no controle da ação individual”.

A noção de hábito é crucial para o conceito de instituição na perspectiva do “velho” institucionalismo. Hodgson, um dos representantes contemporâneos mais influentes dessa corrente teórica, define hábito como “uma propensão não deliberada e autoatuante para se engajar em um padrão de comportamento previamente adotado”, e ainda, como “uma forma de comportamento não-reflexivo e autossustentado que emerge em situações repetitivas" (HODGSON, 1998, p. 178). Segundo o autor, os hábitos compõem uma parte da habilidade cognitiva dos indivíduos e geram “estruturas cognitivas” (do inglês, cognitive frameworks)

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As instituições são tomadas como impondo forma e coerência social à atividade humana, parcialmente através da produção e reprodução de hábitos de pensamento e de ação. Isto envolve a criação e promulgação de esquemas conceituais, sinais e significados aprendidos. As instituições são vistas como parte crucial do processo cognitivo através do qual os dados sensoriais são percebidos e traduzidos em significado para os agentes. De fato, [...] a própria racionalidade é dependente de suporte institucional (HODGSON, 1998, p. 181).

Diante do exposto, depreende-se que, na perspectiva do “velho” institucionalismo, as instituições cumprem a função de promover e delinear comportamentos e hábitos particulares aos membros de um determinado grupo, além de ajudar a transmiti-los aos seus novos membros. Nesta concepção, as qualidades de durável e autorreforçável das instituições são explicadas pelo duplo papel que o hábito tem de “sustentar o comportamento individual e de oferecer aos indivíduos os meios cognitivos pelos quais a informação recebida pode ser interpretada e entendida” (HODGSON, 1998, p. 180).

O termo “novo institucionalismo” estabeleceu-se como referência à corrente de trabalho que se baseia, principalmente, na abordagem dos custos de transação. Esta vertente tem como principais autores Ronald Coase, Oliver Williamson e Douglass North (RUTHERFORD, 2001). Embora as definições de instituição no “novo” institucionalismo tipicamente não incorporem a noção de hábito, elas normalmente compartilham com o “velho” institucionalismo o conceito amplo de instituição. Nas palavras de North (1990, p.3), as instituições são “as regras do jogo em uma sociedade ou [...] as restrições arquitetadas pelos homens que moldam a interação humana”.

North (1990) ressalta um aspecto fundamental das instituições: elas emergem e são continuamente moldadas pelas interações entre os agentes, ao mesmo tempo em que se prestam ao propósito de governar essas interações, estabelecendo limites por meio de regras formais (leis, direitos de propriedade e regulamentações) e/ou informais (tradições, tabus e costumes). Na visão do autor, as instituições têm o papel de gerar ordem e estabilidade nos sistemas social e econômico. São os mecanismos de coordenação introduzidos pelas instituições que viabilizam o funcionamento da economia ao conferirem previsibilidade ao comportamento dos agentes, definirem restrições e padrões para tais comportamentos, e estabelecerem os meios para que ocorram as interações.

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Schotter (2008), para quem uma instituição é uma regularidade de comportamento ou uma regra que tem aceitação geral pelos membros de um grupo social, que especifica comportamentos em situações específicas e que se autopolicia ou é policiada por uma autoridade externa. Schotter (2008) acrescenta que, para haver regularidade de comportamento, ou seja, para que se constitua uma instituição, outra condição necessária é o compartilhamento de crenças e expectativas entre as pessoas, de modo que cada uma aja e espere que todas as demais também ajam em conformidade com a regularidade.

Hodgson (1998) comenta que todas as definições de instituição dadas pelos “velhos” e “novos” institucionalistas envolvem um conceito relativamente amplo, que engloba não apenas organizações1, tais como corporações, bancos e universidades, como também entidades sociais integradas e sistemáticas, tais como a moeda, a linguagem e a lei. Segundo o autor, a razão para uma definição tão ampla é que todas as instituições possuem características comuns: (i) envolvem interações entre agentes, com feedbacks cruciais de informações; (ii)

possuem características, conceitos e rotinas comuns; (iii) sustentam e são sustentadas por concepções e expectativas compartilhadas; (iv) embora não sejam imutáveis nem imortais, são duradouras, autorreforçáveis e persistentes; e (v) incorporam valores e processos de avaliação normativa e, em particular, reforçam a sua própria legitimação moral.

Hodgson (1998) indica também que há um aparente consenso entre as diferentes abordagens teóricas da economia institucional a respeito da proposição de que os indivíduos não são meramente constrangidos e influenciados pelas instituições, eles também são, enquanto seres sociais, constituídos por elas. Esta definição incorpora a noção de que as instituições são formadas e alteradas pelos indivíduos. Commons (1934 apud HODGSON, 1998) argumenta que os hábitos comportamentais e as estruturas institucionais são mutuamente entrelaçados e mutuamente reforçantes.

Para Scott (1995), as instituições possuem três diferentes dimensões – a regulativa, a normativa e a cognitiva –, cujas definições são apresentadas a seguir:

• Dimensão regulativa: envolve os processos sociais por meio dos quais se estabelecem regras de comportamento, monitora-se o cumprimento dessas regras e introduzem-se sanções (recompensas e punições) de maneira a influenciar as

1 Hodgson (1998, p. 180) define organizações como “um subconjunto de instituições, que envolvem coordenação

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condutas para direções determinadas. Esses processos englobam “mecanismos informais e difusos, (...) tais como se afastar de transgressores ou levá-los a se envergonharem”, bem como “mecanismos altamente formalizados e designados para atores específicos, como a polícia e os tribunais” (SCOTT, 1995, p. 33). Esta dimensão pressupõe que os atores tomam decisões racionais (embora se assuma que a racionalidade deles é limitada) visando satisfazer os seus interesses próprios. Assim, as instituições se configuram como uma estrutura de incentivos que têm o efeito de influenciar o comportamento individual em prol do social;

• Dimensão normativa: refere-se a “regras que introduzem uma dimensão relacionada a prescrições, avaliações e obrigações na vida social” (ibidem, p. 37), que se desdobram em valores e normas. Scott define valores como “concepções do preferido ou do desejável, junto com a construção de padrões aos quais os comportamento ou estruturas existentes podem ser comparados e avaliados” (p. 37); as normas, por sua vez, estabelecem a forma “como as coisas devem ser feitas” aplicando-se “meios legítimos para perseguir fins válidos” (p. 37). Os valores e normas podem aplicar-se indistintamente a todos os membros da sociedade ou a apenas alguns indivíduos e grupos de forma especializada, definindo “concepções de ações apropriadas para indivíduos particulares ou posições sociais especificadas” (p. 38). Portanto, diferentemente da dimensão regulativa, na qual o comportamento dos agentes emerge da busca pelo interesse próprio, na dimensão normativa esse comportamento está associado a mecanismos que fazem com que as condutas implementadas pelos indivíduos decorram de uma tendência de fazer o que se espera deles, conformando-se ao que é tido como socialmente adequado na situação específica.

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A partir dessas três dimensões, Scott (1995, p. 33) constrói sua definição de instituição:

Instituições consistem em estruturas e atividades cognitivas, normativas e regulativas que proporcionam estabilidade e sentido ao comportamento social. As instituições são transportadas por vários portadores – culturas, estruturas e rotinas – e estes operam em níveis múltiplos de jurisdição.

Pondé (2005, p. 132) comenta que “o reconhecimento destas diferentes dimensões das instituições se mostra útil para uma avaliação do alcance e compatibilidade de diferentes contribuições feitas para uma teoria econômica das instituições”. Segundo o autor, tais contribuições frequentemente se baseiam em “hipóteses teóricas gerais que refletem profundas divergências quanto ao caminho mais frutífero para a elaboração de modelos explicativos aplicáveis aos fenômenos econômicos”, ou, em outros casos, “utilizam enfoques teóricos que compartilham certas hipóteses (...) [mas] divergem na análise das instituições por enfatizarem dimensões distintas, de maneira que esforços de integração se justificam”. Para o autor, esta falta de convergência teórica tem como consequência a configuração de programas de pesquisa dificilmente conciliáveis, além de dificultar a construção de explicações teoricamente adequadas e empiricamente fundamentadas.

Pondé (2005) afirma que as abordagens institucionalistas se desenvolveram a partir de “diversos recortes específicos, que delimitam diferentes objetos a partir da eleição de um nível de análise determinado e da construção de um modelo teórico adequado a este” (p. 132). O foco principal dessas abordagens está na “análise das possíveis configurações institucionais de uma economia de mercado, o que significa supor que as instituições capitalistas fundamentais já estão dadas” (p. 135-136).

Pondé (2005) identifica três níveis de análise distintos nesta linha de pesquisa, que correspondem aos seguintes subsistemas:

(i) ambiente institucional: definido como o conjunto de “regras do jogo” econômicas, políticas, sociais, morais e legais que estabelecem as bases para produção, troca e distribuição de uma economia capitalista2;

2 Para Davis e North (1971, apud WILLIAMSON, 1993, p. 21), o ambiente institucional é “o conjunto de regras

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(ii) organizações e mercados: as primeiras são entendidas como entidades institucionais que configuram agrupamentos de indivíduos cujos comportamentos estão subordinados a determinadas metas e objetivos definidos para esta coletividade específica (como, por exemplo, uma empresa privada ou uma universidade pública), e os segundos como os espaços institucionais nos quais se processam as interações entre compradores, vendedores e competidores – trata-se do nível daquilo que Oliver Williamson chama de estruturas ou mecanismos de governança;

(iii)padrões, regras ou disposições comportamentais: imputados a indivíduos ou a grupos de indivíduos que não constituem uma organização na definição acima, nem se articulam em uma estrutura que os capacite a serem considerados parte do ambiente institucional.3

Hodgson (1998) defende que um avanço teórico significativo da abordagem institucionalista consiste em tomar a instituição como unidade básica de análise econômica, em substituição ao individualismo metodológico da teoria neoclássica. O autor critica a escola neoclássica por centrar-se na construção de modelos abstratos sobre o comportamento do agente individual, negligenciado as instituições enquanto estruturas sociais em que as interações dos agentes se processam e, por conseguinte, adotando hipóteses irrealistas e equivocadas para explicar a ação social. Assim, Hodgson (1998) justifica que as instituições devem ser tomadas como unidade básica de análise porque elas tipicamente registram um grau de invariância ao longo do tempo que faz com elas precedam e sobrevivam aos indivíduos com quem se relacionam. “Nós nascemos e somos socializados dentro de um mundo de instituições. Ao reconhecer isto, os institucionalistas centram-se sobre os traços específicos de instituições específicas ao invés de construir um modelo geral e a-histórico do agente individual" (HODGSON, 1998, p. 172).

Hodgson (1998) postula que, na abordagem institucionalista, indivíduos e instituições são mutuamente constitutivos, uma vez que estas últimas moldam e são moldadas pela ação humana. Desta forma, não há como se explicar adequadamente as estruturas em termos dos

3 Nas palavras de Pondé (2005, p. 136-137), “rotinas e hábitos são instituições desde que não sejam estritamente

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indivíduos, da mesma forma que os indivíduos não podem ser adequadamente explicados em termos das estruturas. As dimensões micro e macroeconômicas de análise, embora possuam um grau relativo de autonomia teórica, são conectadas por vínculos conceituais e explicações abrangentes.

As instituições são tanto ideias ‘subjetivas’ na cabeça dos agentes quanto estruturas ‘objetivas’ encaradas por eles. Os conceitos gêmeos de hábito e instituição podem, assim, ajudar a superar o dilema filosófico entre o realismo e o subjetivismo na ciência social. Ator e estrutura, embora distintos, estão conectados em um círculo de interação mútua e interdependência (HODGSON, 1998, p. 181).

Hodgson (1998, p. 168) cita ainda que “o núcleo das ideias do institucionalismo diz respeito às instituições, seus hábitos e sua evolução”. Contudo, os institucionalistas não têm a pretensão de “construir um modelo único e geral sobre a base dessas ideias”. Ao contrário, espera-se que essas ideias sejam direcionadas para a construção de abordagens específicas e historicamente localizadas.

Entretanto, Pondé (2005, p. 139) destaca que os institucionalistas que preconizam uma abordagem mais sociológica do comportamento dos agentes econômicos, tais como Hodgson (1998) e Granovetter (1985), “não conseguem formular um conceito de instituição que seja capaz de, ao mesmo tempo, excluir por si só a aplicabilidade da teoria neoclássica às dimensões institucionais das economias capitalistas e serem abrangentes o suficiente para sustentarem o desenvolvimento de uma teoria geral dos mercados”. Isso dificulta o delineamento das fronteiras da teoria econômica institucionalista a partir do seu objeto de análise – a instituição –, uma vez que a mera colocação de que essa teoria investiga os mecanismos institucionais e os seus padrões de operação no mercado é insuficiente para diferenciá-la de outras teorias capitalistas. Sob esta ótica, as instituições são apenas o pressuposto necessário da teoria, de modo que a qualificação de “institucionalista” deve se basear em outro fundamento.

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tenha se tornado a marca ou distintivo na qual se agrupam hoje o maior número de autores e trabalhos, acaba por se mostrar uma denominação relativamente pouco informativa, já que sua caracterização foi mudando ao longo dos anos e modelos teóricos muito distintos entre si acabam nela se encaixando (PONDÉ, 2005, p. 140-141).

Para Mäki (1993, p. 9), “o institucionalismo na ciência econômica é mais do que uma atitude, mas menos que um programa de pesquisa (...) [pois] existe uma variedade tão grande de abordagens na teoria econômica que merecem serem chamadas de ‘institucionalistas’, que nós devemos evitar uma caracterização muito restritiva do institucionalismo em geral”. O autor comenta que “qualquer esforço da ciência econômica em buscar explicações que envolvam instituições no papel de explanantia, explananda ou ambos, constitui um caso de

economia institucionalista” (p. 11). Desta forma, as diversas correntes institucionalistas variam em função das abordagens adotadas para se estudar a concepção e a permanência das instituições, os diferentes regimes institucionais e a forma como estes produzem diferentes comportamentos e resultados que influenciam no funcionamento do sistema econômico.

Hodgson (2000) traça as seguintes proposições acerca da essência da economia institucional: (i) o institucionalismo não é definido em termos de propostas políticas; (ii) o institucionalismo se apropria de ideias e dados de outras disciplinas, como psicologia, sociologia e antropologia, para desenvolver uma análise mais rica das instituições e do comportamento humano; (iii) instituições são elementos chave em qualquer economia; (iv) a economia caracteriza-se como um sistema aberto e em permanente evolução que é parte de um conjunto mais amplo de relações sociais, culturais, políticas e de poder; (v) para o institucionalismo os indivíduos são afetados por suas situações cultural e institucional. O autor ressalta que a característica mais importante do institucionalismo é “a ideia de que o indivíduo é social e institucionalmente constituído” (p.327).

2.1.2. As vertentes teóricas da Nova Economia Institucional (NEI)

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transitórias de desequilíbrio, tende a retornar para a condição de concorrência perfeita, em que os preços e as quantidades produzidas são determinados em função das preferências dos consumidores e das tecnologias disponíveis. Nessa situação de concorrência perfeita e na ausência de progresso técnico, a firma é um ator passivo, que não pode, isoladamente, alterar as condições que lhe são impostas pelo ambiente (TIGRE, 2005).

As principais críticas dos institucionalistas em relação à teoria neoclássica dizem respeito à sua incapacidade de explicar a organização econômica de forma realista e à ênfase dada ao indivíduo como agente econômico em detrimento da organização. A teoria neoclássica é também criticada por negligenciar a análise do ambiente em que as firmas se encontram e das suas diferentes formas de organização e competição (COASE, 1937; TIGRE, 2005).

A teoria da Nova Economia Institucional (NEI) se desenvolveu a partir das contribuições do artigo “The Nature of the Firm”, de Ronald Coase (1937). Neste artigo, o

autor explora a questão fundamental “por que as firmas existem?” e apresenta uma nova perspectiva sobre a natureza da firma e o papel que elas exercem no mercado. Enquanto as correntes teóricas vigentes enxergavam a firma meramente como uma função de produção, que transforma insumos em produtos usando as tecnologias disponíveis, Coase (1937) enriqueceu substancialmente a visão da firma ao defini-la como uma forma particular de organização econômica capaz de exercer a função de coordenação de transações. Para o autor, a firma e o mercado, este último caracterizado como o mecanismo de preços em concorrência perfeita, constituem meios de se efetuar a alocação dos recursos produtivos, ou seja, modos alternativos de coordenar a produção.

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uma transação mercantil, os agentes incorrem em custos de coleta de informações para descobrir quais são os preços relevantes para a decisão de troca que se pretende; (ii) em segundo lugar, os agentes incorrem em custos para negociar e confeccionar um contrato separado para cada transação. Este conceito tornou o trabalho de Coase uma referência fundamental para abordagens teóricas da empresa capitalista a partir dos custos de transação e abriu um campo de análises amplo e profícuo.

Coase (1988) discute também a relação entre o tamanho da firma e os custos de transação. Segundo o autor, a razão para o mercado não ser definitivamente suprimido e a produção totalmente realizada por uma única grande firma é que os ganhos da coordenação administrativa decrescem à medida que o tamanho das firmas aumenta. Assim, quanto maior a firma, menor a capacidade da administração de otimizar a alocação dos recursos, dado o grande volume de transações. Outro aspecto levantado pelo autor para justificar a existência do mercado é que o preço de oferta dos fatores de produção varia em função do tamanho e, consequentemente, das vantagens relativas usufruídas pelas firmas.

Coase (1937) defende que a escolha do modo de coordenação das atividades de produção – firma ou mercado – se dá pelo argumento da eficiência. Sua hipótese é que os agentes avaliam comparativamente as eficiências relativas de cada modo de coordenação, considerando os custos marginais de realização das transações, e optam por aquele que representa o menor custo. Porém, na sua construção teórica, Coase (1937) não conseguiu avançar na identificação das razões pelas quais os custos de transação seriam maiores em certas situações do que em outras.

As contribuições de Coase (1937) resultaram em uma nova onda de estudos que, na década de 70, ficaria conhecida como “Nova Economia Institucional (NEI)”. Sobre a origem da NEI, veja o trecho extraído da obra de Klein (1999):

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No artigo “The Use of Knowledge in Society”, Hayek (1945, p. 84) defende que o

problema econômico fundamental da sociedade consiste “(...) na rápida adaptação a mudanças em circunstâncias particulares no tempo e no espaço”, não estando relacionado meramente ao processo de alocação de recursos. Para o autor, o processo de coordenação das atividades econômicas é desempenhado por um conjunto particular de mecanismos institucionais que incentivam os agentes a “adequarem suas decisões ao padrão geral de mudanças do sistema econômico como um todo” (p. 84). Não obstante, o fato dessas ações serem implementadas simultaneamente e de forma descentralizada permite que os agentes se utilizem de diferentes “(...) combinações de conhecimento e habilidades individuais” (p. 84). Hayek (1945) argumenta que o sistema de preços opera como um mecanismo de transmissão de informações que indica a cada agente a direção da conduta a ser adotada (que pode ser entendido como “o que fazer”). Este direcionamento dado pelo mercado (visto aqui como um conjunto de arranjos institucionais) gera um processo adaptativo (não intencional) de coordenação das atividades econômicas, sendo que a “adaptação da ordem total de atividades a novas circunstâncias se assenta na remuneração [monetária] derivada da realização de mudanças em diferentes atividades” (p. 187).

Na perspectiva da NEI, os problemas de coordenação que estão na base da funcionalidade econômica das instituições são normalmente associados à existência de duas condições ou hipóteses comportamentais: a racionalidade limitada e o oportunismo.

A primeira condição corresponde ao conceito de racionalidade limitada (em inglês,

bounded rationality) definido por Simon (1979). Segundo o autor, a conduta econômica tem

um caráter racional, uma vez que os agentes procuram avaliar as consequências das suas decisões e estabelecer critérios para a escolha entre ações alternativas. Entretanto, a competência cognitiva dos agentes é limitada, pois eles estão longe de serem oniscientes e, portanto, estão sujeitos à existência de deficiências em termos do conhecimento de todas as alternativas, às incertezas acerca de eventos exógenos relevantes e à incapacidade de calcular consequências.

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Como efeitos da racionalidade limitada sobre o sistema econômico têm-se: (i) os contratos são quase sempre incompletos, pois os agentes não são capazes de antecipar todos os eventos que podem suscitar a necessidade de correções nas condutas das partes; e (ii) a coordenação das atividades econômicas não pode ser realizada ex ante, a partir de

mecanismos de planejamento.

A segunda condição, o oportunismo, está associada à falta de sinceridade ou honestidade entre as partes de uma transação. Nas palavras de Williamson (1985):

Por oportunismo eu entendo a busca do autointeresse com astúcia. Isto inclui mas certamente não está limitado às formas mais óbvias, tais como a mentira, o roubo e a fraude. O oportunismo envolve na maioria das vezes formas sutis de engodo. Tanto na forma ativa e passiva quanto nos tipos ex-ante e ex-post (WILLIAMSON, 1985, p. 47).

Portanto, o oportunismo se refere às incertezas vinculadas ao comportamento dos agentes individuais, que podem atuar de forma maliciosa na transação buscando seus interesses próprios. Neste sentido, um agente pode deliberadamente desvendar informações incompletas ou distorcidas, fazer promessas conscientemente falsas no que tange à sua conduta futura, além de empreender esforços calculados para enganar, deturpar, disfarçar, ofuscar ou, de alguma outra forma, confundir a outra parte. O oportunismo se torna possível devido à existência de assimetrias de informação entre os agentes. Na presença do oportunismo, contratos incompletos geram oportunidades para que, quando da ocorrência de situações imprevistas, uma parte de um contrato realize ganhos à custa da outra, acarretando barganhas e conflitos custosos.

Na obra “Markets and Hierarchies”, Williamson (1975) se dedica a investigar as

hipóteses de racionalidade limitada e oportunismo, além de identificar os principais atributos das transações4, e, a partir de conjunção destes fatores, explicar o porquê dos custos de transação serem maiores em certas situações do que em outras. Desta forma, Williamson (1975) contribui para a construção de uma teoria institucionalista mais sólida, denominada de Teoria dos Custos de Transação (TCT).

A TCT utiliza o conceito de que as transações mercantis envolvem custos concretos (ex ante e ex post) para estudar a interface entre a firma e o seu ambiente institucional,

4 Williamson (1985, p. 1) define transação como “o evento que ocorre quando um bem ou serviço é transferido

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colocando a problemática da organização econômica como sendo uma questão contratual. De acordo com essa perspectiva, as transações realizadas pelas firmas diferem em seus atributos, o que as leva a adotarem formas de governança e de organização diferentes, visando minimizar os custos de transação (WILLIAMSON, 1985).

Outras duas vertentes que também se destacam dentro do arcabouço teórico da NEI são: a Teoria da Agência e a Teoria dos Direitos de Propriedade.

Uma relação de agência existe sempre que um contrato, seja este formal ou informal, estabelece que um indivíduo – o principal – contrata um ou mais indivíduos – o(s) agente(s) – para desempenhar uma atividade específica do seu interesse, delegando aos contratados o poder de decidir de que maneira a atividade será executada. Neste caso, se o agente tiver um comportamento oportunista e se existirem assimetrias de informação entre as partes, o agente pode auferir ganhos em detrimento dos interesses do principal. A Teoria da Agência examina as possíveis configurações de incentivos e formas contratuais que podem induzir o agente a se comportar de forma a maximizar o ganho do principal (FAMA, 1980).

Sobre os direitos de propriedade, De Alessi (1990, p. 47) define, de forma bastante concisa, que “são os direitos dos indivíduos sobre o uso, a renda e a transferência de recursos”. Qualquer transação econômica envolve direitos de propriedade, e são estes que determinam tanto o fluxo de rendas presente, quanto o fluxo futuro, através da valorização ou desvalorização do ativo. Portanto, a definição clara dos direitos de propriedade é decisiva para a geração de ganhos mútuos e para a maior efetividade dos termos contratados entre os agentes econômicos. Sob essa perspectiva, a Teoria dos Direitos de Propriedade estuda as decisões de alocação de recursos por parte dos agentes econômicos, considerando a análise e a atribuição dos direitos de propriedade envolvidos em uma transação específica (ALCHIAN; DEMSETZ, 1972).

Rutherford (2001, p. 188) destaca ainda que “o novo institucionalismo tem trabalhado para estimular discussões relevantes não apenas sobre regras formais e estruturas de governança, mas também sobre normas informais e redes sociais, e sobre o relacionamento entre elas”.

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suas transações. Entretanto, conforme resumido por Felipe (2010), não se identifica nenhuma tendência de criação de uma teoria integrada da firma, mesmo considerando apenas a vertente institucionalista; ao contrário, a denominada escola institucionalista tem-se apresentado como um “guarda-chuva” que abriga diferentes formas no tratamento dessa unidade econômica.

A partir dos conceitos apresentados nesta seção, de modo geral, pode-se dizer que a NEI tem como principal objetivo estudar a funcionalidade econômica e as propriedades de eficiência de diversos tipos de arranjos institucionais (leis, contratos, formas organizacionais), bem como as motivações econômicas que desencadeiam e/ou influenciam processos de mudança institucional. Os estudos teóricos e empíricos da NEI têm possibilitado uma melhor compreensão das interações entre as firmas e as instituições que condicionam as atividades e as transações econômicas e, por conseguinte, as estratégias e trajetórias das firmas.

2.1.3. A abordagem e os principais conceitos da TCT

O elemento central das contribuições teóricas da Teoria dos Custos de Transação consiste em demonstrar como o desenvolvimento de instituições com estruturas de governança particulares resulta de tentativas dos agentes de encontrar a solução apropriada para o problema de coordenação das transações econômicas, tendo por objetivo a minimização dos custos associados. As estruturas de governança diferem em termos dos mecanismos de monitoramento, incentivo e controle de comportamentos adotados, apresentando capacidades de flexibilidade e adaptabilidade distintas em cada ambiente econômico específico.

2.1.3.1. Características dos agentes e atributos das transações

Williamson (1985) busca identificar as condições que estimulam os agentes a alterarem a organização do meio em que atuam, visando melhorar seu desempenho econômico, em função das características dos agentes ou hipóteses comportamentais – racionalidade limitada e oportunismo – e dos atributos da transação – especificidade dos ativos, frequência e incerteza.

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individuo como intencionalmente racional, porém limitado. Em relação à segunda característica, o oportunismo, o autor considera que o agente tende a buscar avidamente os seus próprios interesses, o que pode levá-lo a mentir, roubar, trapacear e fraudar.

Williamson (1985) assume o pressuposto de que a racionalidade limitada e o oportunismo impedem a redação de contratos completos ex ante. Deste modo, uma parte

importante dos custos de transação só é conhecida ex post, o que reforça a necessidade das

empresas desenvolverem mecanismos contratuais para evitar ações oportunistas, bem como de monitorarem as atividades e o ambiente, realizando ajustes e adaptações nos seus contratos, quando requerido. Entretanto, o autor ressalta que não é esperado que essas adaptações ex post sejam facilmente obtidas, especialmente quando existem interesses

conflitantes em disputa e os esforços de ambas as partes pelos benefícios dependem de intensa barganha.

Williamson (1985) define três atributos das transações: especificidade dos ativos, frequência e incerteza. O autor ressalta que a especificidade dos ativos é o atributo mais importante e o que melhor distingue a economia dos custos de transação dos outros tratamentos da organização econômica, embora os outros dois atributos também desempenhem papéis significativos. A existência de especificidade dos ativos pressupõe o uso de tecnologias especializadas, investimentos não triviais e a necessidade das instituições privadas elaborarem contratos adequados e garantirem o cumprimento desse contrato. Surge, então, a necessidade de governança na transação e de definição de salvaguardas contratuais para prevenir ações oportunistas.

Williamson (1985) cita ainda que os investimentos em ativos específicos são mais arriscados, no sentido de que eles não podem ser reimplantados sem o sacrifício do valor produtivo, ficando os agentes vulneráveis na hipótese dos contratos serem interrompidos ou prematuramente terminados. Entretanto, caso o contrato seja bem-sucedido, tais ativos frequentemente geram ganhos que compensam os riscos.

Williamson (1985) identifica quatro tipos principais de especificidade de ativos: a) especificidade locacional: surge quando estágios sucessivos de produção estão

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partes devem operar numa relação de troca bilateral por toda a vida útil do ativo. Além disso, os custos de instalação e/ou realocação são expressivos; b) especificidade de ativo físico: relaciona-se aos atributos físicos do ativo que

lhe conferem especialização para determinadas finalidades. Quanto maior a especificidade física de um ativo, maior a dificuldade de recuperar o valor investido mediante a sua venda, uma vez que suas possibilidades de reutilização são restritas;

c) especificidade de ativo humano: refere-se ao conhecimento acumulado pelas pessoas mediante a realização de uma determinada atividade ( learning-by-doing) ou aos problemas crônicos de alteração de capital humano em

configurações de equipes. Por exemplo, um funcionário altamente capacitado na operação de uma determinada máquina pode ser considerado um ativo humano específico;

d) especificidade de ativo dedicado: representa um investimento discreto em capacidade de produção generalizada (quando contrastada com propósitos especiais) que não seriam feitos a não ser pela perspectiva de vender uma quantidade significativa do produto a um cliente específico. Por exemplo, investimentos em expansão de uma planta fabril para atender a um cliente específico.

A existência de ativos específicos gera uma relação de dependência mútua entre os agentes envolvidos numa determinada transação, configurando uma situação similar ao monopólio bilateral. A presença destes laços de dependência, por sua vez, favorece a ação oportunista. Deste modo, os agentes devem administrar continuamente situações de barganha, além de construir mecanismos e interfaces que proporcionem adaptabilidade a mudanças e promovam a continuidade da relação.

Williamson (1985) afirma que em transações com especificidade nula (tecnologia de uso geral) não são necessárias estruturas de governança protetoras e as transações podem ocorrer via mercado spot, sob as leis da concorrência. Por outro lado, a presença de

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O segundo atributo das transações, a frequência, está relacionado à regularidade ou número de vezes que dois agentes transacionam (uma única vez, esporadicamente ou recorrentemente). Williamson (1985) explica que a frequência das transações é uma dimensão relevante porque influencia na estrutura de governança. À medida que aumenta a frequência de ocorrência de determinada transação, aumenta a confiança e o conhecimento entre os agentes envolvidos, o que tende a reduzir os custos de transação. Além disso, é mais fácil recuperar o custo das estruturas especializadas de governança em grandes transações de tipo recorrente, ou seja, quanto maior a frequência com que ocorre determinada transação, maior a possibilidade de diluição dos custos associados.

A respeito da incerteza, o último dos três atributos das transações, Williamson (1985) preocupa-se em explicar como a governança das transações é afetada pelo aumento do grau de incerteza. Segundo o autor, este atributo é mais relevante nas transações que envolvem investimentos específicos. Devido à natureza idiossincrática e não trivial desses investimentos, o aumento do grau de incerteza torna imperativo que as partes desenvolvam mecanismos para “resolver as coisas”, uma vez que as lacunas contratuais serão maiores e as ocasiões de adaptação futura irão aumentar em quantidade e importância.

Williamson (1985) destaca ainda que as incertezas podem se originar: (a) de contingências do estado, isto é, dos atos aleatórios da natureza e das mudanças imprevisíveis das preferências dos consumidores; (b) de falta de informação, que ocorre quando o tomador de decisão desconhece as decisões e planos dos concorrentes; e (c) do comportamento humano, que surge pela não revelação, dissimulação ou distorção estratégica da informação. As incertezas comportamentais introduzem desigualdade e complexidade às transações econômicas, dado que, nas negociações bilaterais, a informação privada não pode ser plenamente comunicada ou compartilhada entre os agentes. Isso abre brechas para a ocorrência de ações oportunistas, que as empresas precisam mitigar inserindo cláusulas de adaptação e salvaguarda nos contratos, elevando-se, assim, os custos de transação.

2.1.3.2. Estruturas de governança e suas propriedades

(38)

As estruturas de governança possuem propriedades diferenciadas em função da necessidade de coordenação de cada tipo de transação. De forma geral, tais propriedades estão relacionadas a sistemas de incentivo, controle de conduta e flexibilidade/adaptabilidade a mudanças. Williamson (1996) discute as particularidades de três tipos de estruturas de governança: (i) mercados, (ii) hierarquias e (iii) formas híbridas (contratual).

Os mercados coordenam as atividades econômicas a partir do sistema de preços, que combina mecanismos associados à rivalidade decorrente da competição entre os agentes e “incentivos de alta potência” (high-powered incentives), sendo estes definidos por Williamson

(1985, p. 132) como um “status reivindicativo residual pelo qual um agente econômico, seja por acordo ou pela definição prevalecente de direitos de propriedade, apropria-se de um fluxo líquido de renda, derivado de receitas brutas e/ou custos que podem ser influenciados pelos esforços por ele despendidos”. Nesta estrutura, a intensidade dos incentivos é forte o suficiente para garantir o comportamento responsável dos agentes, de modo que há pouca necessidade de controles administrativos e os compromissos contratuais são cumpridos com baixo risco de comportamento oportunista. A coordenação resulta das adaptações que os agentes fazem em suas condutas, de forma autônoma, buscando aumentar o próprio lucro.

A estrutura hierárquica se configura pela internalização de atividades em uma única empresa, o que é conhecido como integração vertical. Este movimento das firmas é explicado por Williamson (1985) a partir de dificuldades que emergem principalmente em transações envolvendo ativos específicos. Na visão do autor, a decisão de integrar estágios da cadeia produtiva (a montante ou a jusante) ocorre quando a eliminação de conflitos instrumentais e a introdução de mecanismos de incentivo e controle administrativos proporcionam economias de custo de transação. Embora reconheça a influência de outros fatores, tais como o determinismo tecnológico, Williamson (1985) afirma que as decisões de integração são tomadas, primordialmente, visando à obtenção de vantagens competitivas a partir da redução dos custos de transação.

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incentivo e controle que buscam limitar a ocorrência de iniciativas descentralizadas e garantir a convergência das ações e decisões no sentido de melhorar o desempenho global da organização. Desse modo, a incerteza comportamental é reduzida tendo em vista que unidades interdependentes se ajustam a contingências imprevistas de maneira coordenada e os conflitos e barganhas podem ser resolvida por fiat5. As hierarquias também permitem a obtenção de

ganhos no processo decisório, mediante a definição de padrões de comunicação relativamente homogêneos, o estabelecimento de fluxos e canais de informação e a divisão de responsabilidades dentro da cadeia hierárquica.

A característica essencial da integração, em termos transacionais, é que “a tomada de decisão adaptativa e sequencial é implementada sob a propriedade unificada e com o apoio de sistemas de incentivo e controle hierárquico”, e o comportamento dos agentes é submetido a relações de autoridade (WILLIAMSON, 1985, p. 70). Todavia, em comparação aos mercados, os incentivos na hierarquia são fracos e as organizações estão sujeitas ao surgimento de novas modalidades de oportunismo nas relações internas, decorrentes do esforço de indivíduos para manipular o sistema administrativo visando o atendimento de interesses individuais ou coletivos, em detrimento dos interesses da organização como um todo. Williamson (1985) parte do reconhecimento de que existem custos de transação internos à firma para explicar a natureza e a dinâmica das inovações organizacionais, que, na definição do autor, consistem em mudanças nas formas e mecanismos organizacionais tendo por objetivo a redução desses custos. Nas palavras do autor, “the modern corporation is mainly to be understood as the product of a series of organizational innovations that have had the purpose and effect of economizing on transaction costs” (WILLIAMSON, 1996, p. 1537).

As formas híbridas são estruturas de governança intermediárias entre mercados e hierarquias, que buscam estabelecer uma coordenação superior das interações interfirmas e, ao mesmo tempo, preservar parte dos incentivos de mercado ainda que na presença de certo grau de especificidade de ativos (WILLIAMSON, 1996). Isto é obtido por meio de contratos complexos e de longo prazo que se apoiam em salvaguardas e mecanismos de coordenação, incluindo procedimentos administrativos, de compartilhamento de informações e de resolução de barganhas e conflitos. As formas híbridas se apresentam como uma alternativa para lidar com a dependência bilateral de forma menos extremista do que a integração vertical.

5 Fiat é uma palavra em latim que literalmente significa “seja”, “faça-se”. Williamson a utiliza para se referir à

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Tabela 1 – Dimensões da confiança interfirmas
Tabela  2  –  Principais  dimensões  de  estudos-chave  sobre  a  interação  ente  governança  contratual e relacional
Tabela 3 – Agenda de Pesquisa sobre a interação entre governança contratual e relacional (Formato 5Ws e 1H)
Figura 1 – Formas contratuais tradicionalmente utilizadas na indústria de óleo e gás  Fonte: adaptada de Olsen et al
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