• Nenhum resultado encontrado

5. LEVANTAMENTO DA PERCEPÇÃO DE RISCO

5.1. Metodologia do trabalho

A metodologia empregada neste trabalho utilizou a entrevista a fim de interagir com a população moradora e compreender melhor seus valores, crenças e opiniões, assim como seus conflitos, atitudes e condutas. O levantamento da percepção de risco na área estudada prevê a obtenção de dados objetivos e subjetivos que representem a dimensão coletiva da comunidade a partir da visão individual de cada morador (Minayo

et al., 2012).

O trabalho foi dividido em seis fases, baseando-se no método para pesquisa social de Minayo et al. (2012).

I. Fase exploratória da pesquisa

Essa é a fase inicial para construção do projeto de pesquisa. Nessa primeira fase, pretende-se definir o objeto de estudo, em seguida delimitá-lo e construir o marco teórico conceitual a ser empregado, a fim de prover uma articulação criativa na aplicação dos conceitos. Para isso, uma ampla pesquisa bibliográfica sobre o tema foi realizada, destacando-se algumas experiências em levantamento de percepção de risco. Em seguida foram escolhidos os colaboradores da pesquisa, assim como o espaço físico a ser investigado. Pensou-se ainda em quem seriam os indivíduos sociais com vinculação mais significativa com o problema a ser investigado; quais seriam os instrumentos para coleta de dados (p.ex.: roteiro de entrevistas); e quais seriam as estratégias para entrada em campo (p.ex.: anotações, gravações).

88 II. Fase de elaboração do roteiro de entrevistas para percepção de risco Foi elaborado um roteiro de entrevistas com questões abertas, quando o informante pode responder as perguntas sem se limitar às alternativas de respostas, ou seja, com suas próprias palavras.

A abordagem técnica se deu por meio de entrevistas semi-estruturadas. As entrevistas semi-estruturadas articulam duas modalidades de entrevista: a estruturada, em que perguntas são previamente formuladas e a não-estruturada, em que o entrevistador aborda livremente o tema proposto. Desse modo, foram feitas perguntas fundamentais, auxiliadas por esse roteiro, e completadas com questões feitas livremente conforme a entrevista se desenvolvia (Manzini, 1991; Minayo et al., 2012).

Pretendeu-se ainda que a forma de condução da entrevista provocasse um olhar cuidadoso dos moradores entrevistados sobre suas vivências em relação ao problema dos desastres provocados por deslizamentos (Minayo et al., 2012).

A construção do roteiro de entrevistas se baseou, inicialmente, na experiência anterior do projeto realizado na comunidade do Maceió, citado no item 3.3.2. Após discussão sobre os tipos de perguntas aplicáveis à população moradora da área de estudo em Angra dos Reis, o roteiro de entrevistas para levantamento da percepção de risco das comunidades envolvidas foi elaborado.

O primeiro dia de entrevistas nas comunidades em estudo teve caráter experimental e permitiu a adequação do roteiro, estando a versão final apresentada no ANEXO II. As perguntas visaram cumprir o objetivo principal e os específicos apresentados no item 1.2. Os propósitos, especificidades e análises de cada pergunta estão contemplados no capítulo 6. Ressalta-se ainda, que a forma do roteiro não faz uma alusão incial ao entrevistado sobre a temática dos deslizamentos, tendo por finalidade notar se o morador fala espontaneamente sobre a mesma, procurando se observar a importância dada pelo morador aos deslizamentos frente à presença de outros problemas. Assim, as cinco perguntas iniciais tratam dos problemas gerais do bairro e da vida do

89 morador. A partir da sexta pergunta a entrevista se restringe a assuntos relacionados com os deslizamentos de terra.

III. Fase exploratória para trabalho de campo

Essa é a fase de planejamento e preparação para o trabalho de campo, fazendo parte dessa fase as seguintes etapas:

a. Conhecer a área de estudo.

O objetivo dessa etapa é conhecer o espaço de pesquisa a ser investigado, conforme apresentado no capítulo 4.

b. Escolher os colaboradores para execução das entrevistas.

As entrevistas foram realizadas com o apoio de cinco pessoas: Fernanda Gullo, autora deste trabalho, José Carlos Gullo, morador da região, Marcos Mendonça, Priscila Sanchez e Mariana Pinheiro, membros do projeto de percepção de risco do bairro do Maceió (item 3.3.2).

c. Estabelecer os critérios de amostragem e a construção de estratégias para entrada em campo.

As entrevistas foram realizadas nas moradias de três comunidades localizadas em áreas com baixa, média, alta e muito alta suscetibilidade a deslizamentos. Para tal, foi utilizado o mapa de suscetibilidade elaborado através do Projeto Fundação COPPETEC - 030/2010 - “Mapeamento de áreas de riscos, frente aos deslizamentos de encostas no município de Angra dos Reis, RJ” (Anexo III). Posto que a maioria dos moradores residentes na área de estudo está em suscetibilidade média de acordo com o zoneamento de suscetibilidade, o número de entrevistados com suscetibilidade média a deslizamentos foi, portanto, maior. Como instrumento de investigação no delineamento de estratégias para entrada em campo foram feitos registros das falas dos moradores por meio de gravações e fotografias no momento das entrevistas.

IV. Fase de execução das entrevistas e coleta de dados

Essa fase contempla o trabalho de campo propriamente dito. As entrevistas foram realizadas nos meses de abril e maio de 2014, sendo 34 moradores entrevistados,

90 com 7 em áreas de baixa suscetibilidade, 21 em média e 6 em áreas de suscetibilidade alta e muito alta. Além disso, a duração de cada entrevista teve em média 1 hora, com 23 mulheres e 11 homens entrevistados. A Tabela 16 apresenta informações sobre a execução das entrevistas.

91

Tabela 16 - Dados coletados durante a execução das entrevistas.

Mapa de suscetibilidade

Data Período da entrevista

Número da

entrevista Entrevistados Comunidades

Coordenadas UTM 23K

Dados do mapa de suscetibilidade (COPPETEC, 2011)

Movimento de massa a qual o

local é suscetível Suscetibilidade

26/04/2014 Manhã 1 Maria Ângela Morro do Santo Antônio 0569517

Fluxo Detrítico Média

7455640

2 Catarina 0569455 Deslizamento Translacional Média

7455683

3 Pedro 0569429 Deslizamento Translacional Muito Alta

7455740

4 Sérgio Mirael 0569462 Deslizamento Translacional Média

7455744

5 Patrícia 0569537 Fluxo Detrítico Média

7455734 02/05/2014 Manhã 6 Anita Morro da Carioca 0569349

Deslizamento Rotacional Muito Alta

7455345

7 Juliano 0569377 Fluxo Detrítico Alta

7455323

8 Katiana 0569338 - Baixa

7455285

9 Sônia 0569289 Deslizamento Translacional Média

7455275

10 Ruth 0569325 - Baixa

7455274

11 Caio Otávio 0569285 Rastejo Alta

92

Mapa de suscetibilidade

Data Período da

entrevista

Número da

entrevista Entrevistados Comunidades

Coordenadas UTM 23K

Dados do mapa de suscetibilidade (COPPETEC, 2011) Movimento de massa a qual o local

é suscetível Suscetibilidade 2/5/2014 Tarde 12 Marilda Feijão Morro do Abel 569197 - Baixa 7455092

13 Carla 569181 Deslizamento Translacional Média

7455102 14 Arlinda Morro da Carioca 569310 - Baixa 7455239

15 Marta Corinda 569335 - Baixa

7455270

16 Francisco 569457 Rastejo Alta

7455376

3/5/2014

Manhã

17 Samuel Morro do Abel 569168 Deslizamento Translacional Média

7455099

18 Paula

Morro da Carioca

569404

Deslizamento Translacional Média

7455273

19 Laura 569506 Fluxo Detrítico Média

7455341

Tarde

20 Manuel Carlos 569429 Deslizamento Translacional Média

7455276

21 Vitória Maria 569420 Deslizamento Translacional Média

7455243

22 Larissa 569426 Deslizamento Translacional Média

93 Mapa de suscetibilidade Data Período da entrevista Número da entrevista

Entrevistados Comunidades Coordenadas

UTM 23K

Dados do mapa de suscetibilidade (COPPETEC, 2011) Movimento de massa a qual o

local é suscetível Suscetibilidade

10/5/2014 Manhã

23 Maristela

Morro da Carioca

569451

Deslizamento Translacional Média

7455439

24 Rosângela 569479 Deslizamento Translacional Média

7455466

25 Matilde

Morro do Santo Antônio

569495

Deslizamento Translacional Média

7455566

26 Juca Bentão 569607 - Baixa

7455538

27 Mário 569560 Deslizamento Translacional Média

7455530

10/5/2014 Tarde

28 Marcos Vilage

Morro do Abel

569270

Deslizamento Translacional Média

7454988

29 Carolina 569270 - Baixa

7454904

30 Ana 569224 Deslizamento Translacional Média

7454959

31 Viviane 569204 Deslizamento Translacional Média

7455036

11/5/2014 Manhã

32 Tatiana

Morro do Santo Antônio

569620

Deslizamento Rotacional Alta

7455504

33 Angelica 569559 Fluxo Detrítico Média

7455632

34 Rogério Morro da Carioca 569414 Deslizamento Translacional Média

94

V. Fase de organização e análise de dados

Esta fase pretende categorizar e discutir as respostas dos moradores, buscar responder a perguntas gerais formuladas com intuito de investigar percepções, atitudes e comportamentos, consolidar os temas mais relevantes para compreensão das falas dos moradores, confirmar ou não os pressupostos da pesquisa e ampliar o conhecimento sobre percepção de risco associado a deslizamentos dentro do contexto vivido pela comunidade em estudo. Visou-se obter uma análise qualitativa, sendo necessário para tal desvendar o conteúdo subjacente a análise quantitativa. Sem excluir as informações estatísticas analisa-se também as ideologias, tendências e outras características acerca do tema em análise.

A partir das respostas dadas no momento das entrevistas, foram estabelecidas categorias de respostas. Após a categorização, as frequências das respostas foram definidas e os resultados calculados de forma totalizada e por grau de suscetibilidade do local de moradia. Os entrevistados que citaram mais de uma categoria de resposta tiveram todas as suas respostas consideradas no cálculo da frequência, uma vez que o morador considerou cabível mais de um tipo de resposta para pergunta formulada. Em uma segunda etapa da análise, os temas mais relevantes foram consolidados através da compreensão da fala dos entrevistados.

VI. Fase de conclusão

95 A Figura apresenta fotos retiradas durante o levantamento de percepção do risco.

Figura 40 – Fotos do levantamento de percepção de risco. Equipe de campo: Fernanda Teles Gullo, José Carlos Gullo, Marcos Barreto de Mendonça, Mariana Talita Gomes Pinheiro, Priscila Nunes Sanchez (Fotos do autor).

Catarina – Morro do Santo Antônio Sérgio Mirael – Morro do Santo Antônio

Pedro – Morro do Santo Antônio Maristela – Morro da Carioca

96 Figura 40 (continuação) - Fotos do levantamento de percepção de risco. Equipe de campo: Fernanda Teles Gullo, José Carlos Gullo, Marcos Barreto de Mendonça, Mariana Talita Gomes Pinheiro, Priscila Nunes Sanchez. (Fotos do autor)

97

Documentos relacionados