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3. RISCO

3.1. Conceitos básicos

3.1.4. Vulnerabilidade

Existem diferentes visões quanto a vulnerabilidade a se considerar na análise do risco e abordagens mais convenientes a serem empregadas - qualitativa, semi-quantitativa e/ou quantitativa. A Tabela 7 apresenta as diferentes definições empregadas na literatura.

52 Tabela 7 - Definições de vulnerabilidade encontradas na literatura.

Referência Definição

Blakie et al. (1994) apud Yang et al. (2008)

O autor define vulnerabilidade como as características de um indivíduo ou grupo, que os permitem participar, lidar, resistir e se recuperar quando expostos a impactos provocados por desastres. A desigualdade social manifesta a capacidade do indivíduo de resistir e se recuperar de desastres.

Thouret e D’Ércole (1996)

A vulnerabilidade é quando se está sensível a lesões e ataques, sendo incapaz de enfrentar as dificuldades para recuperação da saúde em risco.

Finlay e Fell (1997)

Vulnerabilidade é o grau de perda de pessoas ou estruturas que integram uma área afetada pelo deslizamento.

CEPAL (2002) apud Vargas (2006)

A condição de "vulnerável" está associada à produção de um dano, físico ou moral, a partir de evento potencialmente adverso, associado a uma incapacidade de resposta, devido à ausência de aptidão ou à carência de fontes de apoio externas – e a uma inabilidade para se adaptar ao novo cenário gerado pela materialização do risco.

Lucena (2006)

Vulnerabilidade é a condição específica de um cenário que determina a intensidade dos danos prováveis se houver a concretização de uma determinada ameaça.

Vargas (2006)

A vulnerabilidade está associada a danos produzidos, pode ser gerada pela pobreza, porém a mesma não é seu maior estímulo, porque existem distinções internas básicas que estão vinculadas a capacidade de resposta e a habilidade de adaptação dos afetados, mesmo que os mecanismos adaptativos se mostrem perversos (como a informalidade, as ocupações espontâneas de terras, entre outros). Não só a pobreza, mais a mobilidade socioeconômica descendente são riscos consequentes de distintos sinais de vulnerabilidade como falta de ativos, sua desvalorização ou a inabilidade para manejá-los. Essa condição vulnerável pode ser gerada pela erosão dos laços comunitários e pela perda de transferências do Estado.

Berry et al. (2006) A vulnerabilidade determina a exposição, a sensibilidade ou a

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Referência Definição

Yang et al. (2008)

A vulnerabilidade é um termo que não envolve somente discussões do meio ambiente físico (magnitude, intensidade e frequência), mas também circunstâncias sociais,

econômicas e políticas; também chamada de vulnerabilidade social.

Fell et al. (2008) apud Bressani et

al. (2013)

O grau de perda para um dado elemento ou grupo de elementos dentro da área afetada pelo escorregamento. É expressa numa escala de zero (sem perda) até um (perda total). Para propriedades, a perda será o valor do dano relativo ao valor da propriedade; para pessoas, será a probabilidade de uma vida em particular (elemento em risco) ser perdida, dado que a pessoa seja afetada pelo

escorregamento. UNISDR (2009)

Vulnerabilidade: características e circunstâncias de uma comunidade, sistema ou ativos que se tornam suscetíveis aos efeitos nocivos do perigo.

Castro (2012)

Vulnerabilidade: 1. Condição intrínseca ao corpo ou sistema receptor que, em interação com a magnitude do evento ou acidente, caracteriza os efeitos adversos, medidos em termos de intensidade dos danos prováveis. 2. Relação existente entre a magnitude da ameaça, caso ela se concretize, e a intensidade do dano consequente. 3. Probabilidade de uma determinada comunidade ou área geográfica ser afetada por uma ameaça ou risco potencial de desastre, estabelecida a partir de estudos técnicos. 4. Corresponde ao nível de insegurança intrínseca de um cenário de desastre a um evento adverso determinado. Vulnerabilidade é o inverso da segurança.

Da análise da Tabela 7 percebe-se que alguns autores apresentam uma definição muito limitada da vulnerabilidade, como Fell et al. (2008) apud Bressani et al. (2013), enquanto outros evidenciam que a mesma é considerada por aspectos sociais, econômicos e políticos.

Os primeiros estudiosos dos sistemas de vulnerabilidade acreditavam que ela dependia unicamente das características físicas dos elementos suscetíveis a danos, não considerando em sua definição condições sobre o comportamento humano e a dimensão temporal do desastre (Steinführer et al., 2007 apud Yang et al., 2010). Porém, com a inclusão das perspectivas sociais e geográficas e consequente interação entre sistemas sociais, políticos e econômicos, o conhecimento ficou mais

54 completo. Reconhecer porque determinados elementos podem estar suscetíveis a maiores riscos que outros requer conhecimentos sobre vulnerabilidade social, uma vez que as circunstâncias ou características das vítimas dos desastres e os fatores afetados pela estrutura social são compreendidos, levando a possíveis ações para redução dessa vulnerabilidade e ao aumento da capacidade de resposta da sociedade exposta ao perigo.

A inclusão da vulnerabilidade social em análises de risco é recente. A abordagem anteriormente era mais centrada no estudo da suscetibilidade, sendo a gestão do risco uma resposta à intensidade e a frequência dos fenômenos naturais, em que a sociedade era vista como vítima passiva, cabendo somente gerir os impactos decorrentes do processo físico (Veyret e Reghezza, 2006). A função do engenheiro passava pela elaboração de soluções técnicas obedecendo a uma racionalidade econômica condicionada a decisões políticas para sua efetiva aplicação. Hoje existe maior consciência de que soluções com foco exclusivo no processo físico, excluindo os grupos sociais, podem ser deficientes (Yang et al., 2010).

Segundo Heitz (2009) as abordagens para análise da vulnerabilidade são três:

a) Abordagem qualitativa: em que a vulnerabilidade é identificada e sofre o efeito de fatores ligados ao crescimento demográfico, ao modo de ocupação e uso do solo e a fatores socioeconômicos, socioculturais, históricos, culturais, psicológicos, técnicos, funcionais e político-administrativos.

b) Abordagem semi-quantitativa: que tem como fim a cartografia das zonas mais vulneráveis, caracterizando a propensão a danos categorizados socialmente e espacialmente em relação aos elementos expostos.

55 c) Abordagem quantitativa: baseada em elementos de vulnerabilidade passíveis de serem medidos pela determinação de porcentagens de perda e de suas repercussões econômicas, pelas análises de custo-benefício das ações de prevenção e informação etc.

Compreendido o conceito, o grau de vulnerabilidade de cada pessoa e da comunidade é significativamente influenciado por sua percepção de risco, posto que esta exprimi a relação da mesma com o risco e, em segundo plano, a capacidade de preparação e resistência aos desastres.

Thouret e D’Ércole (1996) discorrem sobre a análise dos fatores socioculturais que variam a vulnerabilidade de grupos e indivíduos frente ao alerta de desastre. Na análise desses fatores, a percepção de risco dos indivíduos e grupos é um componente que pode ser avaliado por meio de entrevistas, o que permite reconhecer as ameaças e as possíveis consequências danosas, a qualidade ambiental do local, etc.

Através dessas entrevistas a percepção do risco procura conhecer os comportamentos de populações expostas, suas reações individuais e coletivas à ações preventivas e emergenciais, e suas ideologias, sendo possível selecionar entre quatro modos de resposta (ou prováveis reações) ao desastre, aquele mais apropriado a determinada população (Mileti, 1993; Drabek, 1986 apud Thouret & D’Ércole,1996).

a) Primeiro modo: absorção passiva do dano repetido; existe ausência de consciência do indivíduo a cerca do risco e/ ou ausência de preparação da comunidade frente ao desastre, gerando vulnerabilidades e reações de pânico e fuga. Os danos são enormes e os custos pós-desastre são exorbitantes. b) Segundo modo: aceitação do dano; existe uma forma de partilha dos danos,

perdas e custos, ocasionados pelo desastre, que reflete a aceitação do risco previsível. Durante a organização de resgates e medidas de proteção

pós-56 desastre são vistos exemplos de solidariedade e interação entre comunidades afetadas.

c) Terceiro modo: sugere atitudes para atenuação individual ou coletiva do dano, antes, durante e pós-desastre, por exemplo, a elaboração de planos de proteção de evacuação antes do desastre.

d) Quarto modo: se baseia na modificação radical do comportamento social em caso de crise, mudar o modo de ocupação do solo, deslocando a população ameaçada e as realojar em terrenos próprios para construção e julgados sem perigo, por exemplo.

A análise das vulnerabilidades de uma população é importante, porém complexa, uma vez que deve ser conduzida em sociedades diferentes, com diversos níveis de percepção.

3.2. Mapeamento de suscetibilidade e de risco de

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