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3. RISCO

3.1. Conceitos básicos

3.1.1. Risco

Apresenta-se na Tabela 3 o conceito de risco aplicável para o tema em estudo segundo diferentes autores e na Tabela 4 sob a forma de fórmula.

45 Tabela 3 - Definições de risco encontradas na literatura.

Referência Definição

Slovic (1992) apud Campbell (2006)

Risco é inerentemente subjetivo, não existindo sem um contexto e independente de nossas mentes e culturas, e por isso, não é possível calculá-lo.

Diretiva Seveso 2 (1996) apud Heitz (2009)

O risco é definido como a probabilidade de um efeito específico negativo se produzir em um dado período ou dentro de circunstâncias determinadas.

Finlay e Fell (1997)

Os pesquisadores definem o risco como a probabilidade de determinado deslizamento ocorrer durante certo período versus o grau de perda de pessoas ou estruturas que integram uma área afetada pelo deslizamento.

Alheiros (1998) apud Lucena (2006)

O risco refere-se à probabilidade de ocorrência de um desastre.

Cunha (2005) apud Vieira (2004) apud Lucena (2006)

O risco refere-se a danos possíveis, sendo que se tem consciência do dano.

Lucena (2006)

Risco é a probabilidade de acontecer um acidente, um desastre ou uma ação que deu errado. É a relação entre a probabilidade de que uma ameaça de evento adverso ou acidente se concretize, com o grau de vulnerabilidade do sistema receptor a seus efeitos. O grau de risco dimensiona a probabilidade de ocorrência de acidentes, segundo uma escala de intensidade.

Vargas (2006)

O risco é o produto de diferentes percepções que integram visões de mundo, culturas e estruturas de sociabilidade específicas a determinados grupos sociais.

Ministério das Cidades e Cities Alliance (2006)

O termo risco indica a probabilidade de ocorrência de algum dano a uma população (pessoas ou bens materiais). É uma condição potencial de ocorrência de um acidente.

Ministério das Cidades e IPT (2007)

Risco é a relação entre a possibilidade de ocorrência de um dado processo ou fenômeno, e a magnitude de danos ou consequências sociais e/ou econômicas sobre um dado elemento, grupo ou comunidade.

Fell et al. (2008) apud Bressani et al. (2013)

O risco é uma medida da probabilidade e severidade de um efeito adverso à saúde, propriedade ou meio ambiente. O risco é frequentemente estimado pelo produto da probabilidade de um fenômeno de uma dada magnitude multiplicada por suas consequências.

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Referência Definição

Yang et al. (2008)

Os pesquisadores apresentam três definições encontradas na literatura, a saber: 1 - Risco é o produto entre exposição, perigo e vulnerabilidade, encontrado em relatório técnico do governo Australiano.

2 - Em revisão da literatura feita por 'England’s Tyndall Centre for Climate Change Research' entre 1966 e 2003, definiu-se: a) Risco como o produto entre probabilidade e consequência e b) Risco como produto entre perigo e vulnerabilidade social, sendo essas duas definições compatíveis e complementares.

Heitz (2009)

O risco se define como uma combinação entre a suscetibilidade e a vulnerabilidade. Está fortemente ligado a uma probabilidade de ocorrência de um dano e deve levar em conta não só aspectos físicos, mas também sociais, culturais, históricos etc.

UNISDR (2009) O risco é a combinação entre a probabilidade de um evento ocorrer e suas consequências negativas.

Castro (2012)

O risco é definido como: 1 - a medida de dano potencial ou prejuízo econômico expressa em termos de probabilidade estatística de ocorrência e de intensidade ou grandeza das consequências previsíveis. 2 - Probabilidade de ocorrência de um acidente ou evento adverso, relacionado com a intensidade dos danos ou perdas, resultantes dos mesmos.

UNISDR (2012)

O risco é uma função da ameaça (um ciclone, um terremoto, a cheia de um rio, ou o fogo, por exemplo), da exposição de pessoas e bens a essa ameaça, e das condições de vulnerabilidade das populações e bens expostos. Esses fatores não são estáticos e podem ser aperfeiçoados, a depender das capacidades institucional e individual em enfrentar e/ou agir para redução do risco. Os padrões do desenvolvimento social e ambiental podem ampliar a exposição e vulnerabilidade e então ampliar o risco.

47 Tabela 4 - Fórmulas relacionadas ao conceito de risco (R) encontradas na literatura.

Fórmulas Referências Descrição dos símbolos

Thouret e D’Ércole (1996)

S: suscetibilidade ou

características da origem do risco;

V: vulnerabilidade ou lista de impactos do sistema social como um todo; t: tempo; s: espaço; Finlay e Fell (1997) P: probabilidade de determinado deslizamento ocorrer sob determinado cenário do evento deflagrador. V: vulnerabilidade ou grau de perda de pessoas ou estruturas que integram uma área afetada pelo deslizamento;

Ministério das Cidades e Cities Alliance (2006)

Um determinado nível de risco R representa a probabilidade P de ocorrer um fenômeno físico (ou perigo) A, em local e

intervalo de tempo específicos e com características

determinadas (localização, dimensões, processos e

materiais envolvidos, velocidade e trajetória); causando

consequências C (às pessoas, bens e/ou ao ambiente), em função da vulnerabilidade V dos elementos expostos; podendo ser modificado pelo grau de gerenciamento g.

Fell et al. (2008) apud Bressani et al. (2013)

P: probabilidade de ocorrer um acidente associado a um

determinado perigo ou ameaça; C: consequências danosas potenciais do acidente.

Yang et al. (2008)

P: probabilidade de ocorrer um acidente associado a um

determinado perigo ou ameaça; Vsocial: Vulnerabilidade social;

Yang et al. (2008)

E: exposição das populações e bens; A: ameaça ou perigo, V: vulnerabilidade de pessoas e bens a essa ameaça;

Heitz (2009)

S: suscetibilidade;

V: vulnerabilidade ou lista de impactos do sistema social;

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Fórmulas Referências Descrição dos símbolos

UNISDR (2012)

A: ameaça ou perigo

V: vulnerabilidade de pessoas e bens a essa ameaça;

E: exposição das populações e bens; Re: resiliência ou CE: capacidade de enfrentamento para redução do risco;

Após a análise das tabelas 3 e 4 verifica-se que a discussão acerca do conceito de risco é ampla e divide opiniões, pois enquanto certos pesquisadores interpretam o risco sob uma perspectiva objetiva, alguns o definem como sendo algo subjetivo e outros o enxergam como uma combinação entre objetividade e subjetividade.

Em suas primeiras definições, o risco era conceituado como a probabilidade de ocorrência de um evento associado a um perigo. Com a evolução desse conceito convencionou - se, pelo meio técnico, que o risco seria o produto entre a probabilidade de ocorrência de um evento danoso e possíveis consequências desfavoráveis, o que representa uma perspectiva objetivista radical (Lieber & Lieber, 2002 apud Mendonça & Pinheiro, 2013).

No entanto, não são todos os especialistas que seguem essa orientação (Tabela 3). Os defensores da subjetividade do risco o vêem como não mensurável e dependente de um contexto histórico e cultural (Slovic, 1992 apud Campbell, 2006). Segundo Vargas (2006) o risco não pode ser tratado de forma objetiva e absoluta, porque ele é objeto de uma construção social por grupos diferenciados baseada em crenças e visões, que sustentam as relações sociais. Para Campbell (2006) o risco é subjetivo no sentido em que ele depende das experiências de vida, mentais e culturais, porque esses fatores influenciam nas preferências do indivíduo ou grupo social. Critica-se a objetividade no trato com a questão do risco, pois normalmente essa visão se confunde com a noção de “obviedade”, a qual a população é banalizada e sua

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capacidade de enfrentamento para redução dos desastres é negligenciada num ambiente de conflito de relações de poder, no qual a população exposta ao risco de desastre não é ouvida, mas inferiorizada por suas escolhas. (Vargas, 2006; Mendonça & Pinheiro, 2013; Mendonça, 2013).

Finalmente, no ano de 1969, o risco começa a ser visto pela comunidade científica de forma tanto objetiva quanto subjetiva, devido ao questionamento de Starr: “How safe is safe enough?”, que faz refletir sobre os fatores, objetivos e subjetivos, que compõem o grau de aceitação do risco (Heitz, 2009). Esse questionamento foi importante para evolução das reflexões sobre como o risco deveria ser tratado, sendo cada vez mais atual o pensamento de que o risco depende dos valores culturais de uma população exposta. Esses valores são inerentemente subjetivos, porém considerar o contexto cultural predominante é extremamente importante para compreender como essa população percebe o risco. Não são menos importantes os estudos quantitativos ou semi-quantitativos, que representem em números as consequências do desastre, dado que trabalha-se também com perdas e danos de pessoas, bens e do meio ambiente, diante de um evento físico previsível.

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