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Para a coleta de dados, utilizamos o levantamento bibliográfico e a pesquisa de campo. No levantamento bibliográfico, feito com o objetivo de identificar o conhecimento disponível sobre o assunto, estudamos as características gerais da população moradora de rua. Como fontes de pesquisa, foram utilizados livros, periódicos, trabalhos acadêmicos, pesquisas governamentais, além dos sites e materiais publicados por associações e instituições voltadas para moradores em situação de rua.

Através da pesquisa bibliográfica, tomamos conhecimento de publicações específicas voltadas para a população moradora de rua, tais como a Revista Ocas, o Jornal O

Trecheiro e o Jornal Boca de Rua, publicados respectivamente pela Organização Civil de Ação Social (OCAS), Associação Rede Rua e pela Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação (Alice).

A opção pela pesquisa de campo foi tomada a partir da verificação da necessidade de termos um contato face a face com o grupo pesquisado, o ambiente e o objeto investigado. Inicialmente, essa pesquisa seria feita com os MSR’s de Belo Horizonte (BH), cidade onde reside a pesquisadora. Entretanto, como não se constatou a existência de publicação de textos produzidos por esse grupo em BH, optamos por entrevistar os MSR’s em São Paulo, cidade em que fica a sede da revista Ocas e do Jornal O Trecheiro e em Porto Alegre, onde é produzido o Jornal Boca de Rua.

3.1.2 Caracterização das organizações que promovem as publicações

3.1.2.1 A Organização Civil de Ação Social (OCAS)

A Organização Civil de Ação Social, como já dito, é responsável pela publicação da revista Ocas. A organização mantém, através de voluntários e parcerias, os programas: a)

Psicodrama: onde foi gerado o livro “Terapia de Todos Nós – Vida e Rua”, sob a orientação de uma psicóloga; b) Projeto Metuia: coordenado por terapeutas ocupacionais, com a colaboração de alunos da USP; c) Oficina de criação: com voluntários de áreas profissionais

diversificadas que orientam os vendedores a criarem textos, fazerem fotos e outras atividades artísticas, dando origem à seção “cabeça sem teto”, publicada na revista; c) Projeto esportivo: desenvolvido pela Homeless World Cup, um evento mundial que busca, através dos esportes e particularmente do futebol, a oportunidade de colocar em discussão questões como a pobreza e a falta de moradia no mundo. O Brasil participou das seis Copas da Homeless World Cup: na Áustria, Suécia, Escócia, África do Sul, Dinamarca e na Austrália e é um dos candidatos a sediar a oitava copa. Dois dos entrevistados desta pesquisa representaram a Ocas na Copa da Dinamarca, onde fizeram palestras para outros grupos participantes.

3.1.2.2 A Rede Rua

Segundo dados do site85, desde 1980 a Rede Rua promove comunicação a partir

dos excluídos, documentando e assessorando a comunicação de movimentos, entidades e grupos sociais e populares. Além do jornal O Trecheiro, a rede mantém projetos que incluem: a) o albergue Pousada da Esperança, que atende diariamente 120 homens em situação de rua oferecendo-lhes abrigo, alimentação e condições de higiene; b) a Associação de Catadores

Reciclando a Esperança, um projeto de reciclagem que possibilita alternativas de geração de renda; c) o Núcleo Santo Dias, que presta atendimento diário a 80 homens, desenvolvendo oficinas e encaminhando para cursos de profissionalização; d) o Refeitório Comunitário

Núcleo de Serviço e Convivência, que oferece cerca de 500 refeições diárias, entre café da manhã, almoço e jantar, além de atividades sócio-educativas, como oficinas de artesanato, de comunicação, palestras, entre outras; e) a Moradia Provisória, que oferece moradia para 30 homens, em duas casas, em regime de cogestão. Alguns dos entrevistados em São Paulo fizeram referência ao trabalho de reciclagem, à distribuição de alimentos e à Moradia Provisória oferecidos por projetos dessa Rede.

3.1.2.3 A Alice

A Alice é formada por jornalistas e profissionais de diversas áreas. Segundo o site86, essa ONG tem, como objetivo, “desenvolver projetos de comunicação voltados para a área social; discutir o comportamento, a ética e as tendências da grande imprensa; formar leitores críticos; e contribuir para democratizar e qualificar a informação no país”. Além do

85 http://www.rederua.org.br/

jornal Boca de Rua e do Boquinha, a Alice desenvolve os seguintes projetos: a) Telecentro

Alice, destinado a promover a inclusão digital dos moradores de rua aos recursos de informática e das telecomunicações, junto ao Parque da Redenção; b) as oficinas

“Des(dez)mandamentos da mídia”, que “têm o objetivo de proporcionar aos leitores (em especial os educadores, estudantes do ensino regular e trabalhadores do chamado Terceiro Setor) uma leitura clara dos mecanismos de manipulação utilizados pela chamada grande imprensa e também capacitá-los para multiplicar este conhecimento”; c) o projeto “Retalhos

– Contos sem Fadas das avós do século 21”, realizado em parceria com o grupo Renascer de Terceira Idade da cidade de Bagé (RS), que desenvolve um trabalho de resgate do universo feminino das primeiras décadas do século passado para publicar, em forma de livro- almanaque, as histórias, receitas, benzeduras, simpatias, fórmulas medicinais caseiras, música e vocabulário de mulheres com idade entre 60 e 90 anos; d) o projeto Saideira – Encontros

Periódicos sobre Comunicação, que se propõe reavivar o hábito dos encontros de jornalistas ao final de cada edição do jornal. Os encontros, realizados mensalmente em um bar da cidade, contam com a participação de convidados, jornalistas e estudantes de comunicação, que discutem temas focados na atuação ética da imprensa, tendências, polêmicas, contextualização e resgate histórico da comunicação no País.

3.1.3 Procedimentos adotados na coleta de dados

Katz (apud GIL, 2002, p. 132) sugere alguns procedimentos que auxiliam a coleta de dados e que procuramos seguir: a) buscar apoio das lideranças locais; b) aliar-se a pessoas ou grupos que demonstrem interesse pela pesquisa; c) fornecer aos membros da comunidade as informações obtidas; d) preservar a identidade dos respondentes.

Iniciamos nossa pesquisa buscando o auxílio dos diretores, pessoal administrativo e jornalistas ligados à Ocas e ao Boca de Rua. Os primeiros contatos com a Ocas se deram, via e-mail e telefone, no final de 2006, época em que foi iniciada a pesquisa bibliográfica. Os contatos com os responsáveis pelo Boca de Rua foram feitos a partir de setembro de 2008. Os dois grupos, além de se disponibilizarem para dar as informações necessárias, contribuíram com o envio de jornais e revistas pelo correio e se dispuseram a agendar os horários e ceder o local para as entrevistas. Tanto os responsáveis pelo primeiro grupo quanto os do segundo receberam informações sobre os objetivos desta pesquisa, as condições para a participação

dos sujeitos informantes e a forma como seriam conduzidas as entrevistas, passando as informações aos entrevistados.

Dois MSR´s aqui entrevistados também viabilizaram o contato com o grupo de São Paulo: um deles, ex-vendedor da Ocas e participante ativo nas atividades promovidas pela ONG. O outro, um líder no Movimento Nacional da População de Rua (MNPR). Os dois foram citados de maneira respeitosa em vários momentos das entrevistas. Esse último possibilitou o contato com os organizadores do concurso “História de minha vida”, promovido pelo “Movimento pelos direitos da população em situação de rua de São Paulo”, que autorizaram que a pesquisadora assistisse à entrega dos prêmios e realizasse as entrevistas com os vencedores e/ou participantes do Concurso.

Fairclough (2001) sugere a ampliação do corpus em algumas pesquisas. Essa ampliação pode ocorrer através de julgamento ou de entrevistas com pessoas que tenham algum tipo de relação significativa com a prática social que se analisa, considerando-se os aspectos da amostra. Segundo o linguista:

Há várias maneiras pelas quais um corpus pode ser ampliado com dados suplementares. Pode-se, por exemplo, obter julgamentos sobre aspectos de amostras do discurso no corpus, com base em painéis de pessoas que estão em alguma relação significativa com a prática social em foco. [...] O ponto a enfatizar é que entrevistas, painéis, etc. são amostras adicionais de discurso. É uma maneira pela qual podem ampliar o corpus e simplesmente acrescentá-las. O corpus poderia ser considerado não como totalmente constituído antes do início da análise, mas aberto e com possibilidades de crescimento em resposta a questões que surgem na análise. (FAIRCLOUGH 2001, p. 277-288)

Em nossa pesquisa, optamos por ampliar o corpus utilizando questionários com os jornalistas responsáveis pelas oficinas do Jornal Boca de Rua e da Revista Ocas. As perguntas feitas para esses profissionais, conforme se vê a seguir (FIG.12), relacionam-se às práticas de leitura e escrita realizadas nas oficinas de textos por eles conduzidas. As informações dadas foram utilizadas na interpretação dos dados87.