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Capítulo 2. Enquadramento metodológico

2.2. Metodologia e suas Etapas

Tal como foi referido anteriormente, o estudo de caso procura explorar o perfil do professor em formação inicial, investigando, sobretudo, as suas especificidades. Inconscientemente, o perfil do professor do século XXI, dos professores nas escolas portuguesas, surge como ponto de referência comparativa com o perfil do professor estagiário e, por isso, inevitavelmente, o trabalho a que nos propomos tinha de passar por, numa primeira fase, traçarmos o perfil do professor e só posteriormente, através da comparação, procurar os pontos convergentes e divergentes entre este perfil e o perfil do professor estagiário. Estes tornaram-se os dois objetivos desta investigação e, assim, as perguntas de partida formaram-se:

1. Quais são as caraterísticas do “bom professor”?

2. Quais os aspetos convergentes e divergentes entre o perfil do “bom professor” e do professor em formação inicial?

Desde o início, foi traçado como um dos objetivos, estabelecer uma comparação entre o nosso estudo de caso e outros que se relacionam intrinsecamente com o tema do perfil do professor, postos em prática noutros contextos escolares e semelhantes ao nível metodológico. Dados os moldes do estudo, integrado no relatório de estágio, este ponto torna-se essencial, visto que o exercício da comparação entre vários estudos idênticos permite-nos aprofundar as reflexões e considerações já alcançadas com os dados retirados do nosso estudo, como também verificar as correspondências entre as comunidades estudadas.

A questão seguinte foi: quais as opiniões pertinentes para a definição do perfil do professor dos nossos dias e do professor estagiário? Foi, sem dúvida, um dos tópicos que levou a uma reflexão profunda e demorada, pois surgiram várias possibilidades para o desenrolar da investigação. Dar espaço à opinião dos alunos sempre foi a prioridade, mas refletimos também sobre recolher testemunhos de outras “vozes”, com diferentes estatutos. Até que ponto não seria pertinente traçar estes perfis a partir de testemunhos de professores ou, até mesmo, por nós, professores estagiários, e refletir sobre as semelhanças e diferenças traçadas por cada um dos grupos? A verdade é que sentimos que existia um grande interesse para abrir portas a todas estas possibilidades, mas

impunham-se as questões do tempo e recursos necessários para a sua realização e a extensão do estudo, tendo em conta os moldes do relatório de estágio. Consideradas todas as possibilidades, estabelecemos que o estudo de caso se limitaria à recolha das representações dos alunos sobre o tema, por consideramos serem as que mais curiosidade despertavam e, ao mesmo tempo, as que continham maior riqueza para a exploração do tema.

Definido o público alvo, chegou a vez de refletir e tomar decisões em relação ao instrumento a utilizar. Desde a fase mais embrionária do estudo, com as leituras e exploração de obras e outros estudos sobre a temática da representação do professor, que observamos que o instrumento mais utilizado era o inquérito por questionário e, por isso, prosseguimos para leituras sobre metodologias de investigação, muito orientadas para o questionário, as suas vantagens e os princípios a seguir para o seu correto desenvolvimento e aplicação.

Fachin (2015, p.158) define, de forma breve, o questionário como “um elenco de questões que são submetidas a certo número de pessoas com o intuito de se coletar informações”. Uma das suas caraterísticas desta metodologia, é ser um processo “para adquirir dados acerca das pessoas, sobretudo interrogando-as e não observando-as, ou recolhendo amostras do seu comportamento.” (Tuckman, 2000, p.308), algo que consideramos absolutamente pertinente, visto que desejávamos que fossem os próprios alunos a dar-nos as suas opiniões acerca do “bom professor” e do professor estagiário.

O questionário revelava-se totalmente compatível com os nossos objetivos, uma vez que, a nível logístico, facilitava o trabalho do investigador, no desenvolvimento do instrumento, na sua rápida aplicação e na posterior análise de dados, algo que no ano de estágio é bastante desejável. Apesar do discurso simplificador, o questionário, tal como qualquer instrumento, ao longo das suas diversas fases na investigação, segue métodos e princípios e, por isso, revela-se não só um instrumento completo, mas exigente, ao nível da sua elaboração, aplicação e análise. Por tudo isto, mais a natureza desta investigação, integrado num relatório de estágio, se justifica a escolha do questionário (Foddy, 1996).

2.3.1. Amostra

Delimitado que os alunos seriam os inquiridos, surgiu a questão sobre que alunos deveríamos incluir na investigação, isto é, de que nível de ensino. Determinámos que o estudo seria ainda mais rico e permitir-nos-ia estabelecer ainda mais reflexões se abrangêssemos alunos do Ensino Básico e alunos do Ensino Secundário. Assim, poderíamos não só encontrar o perfil do “bom professor”, os aspetos convergentes e divergentes entre o perfil anterior e o do professor em formação inicial, como também estabelecer uma comparação entre as informações dadas pelos alunos do Ensino Básico e os do Ensino Secundário.

Ainda em relação às dúvidas iniciais, debatemos em relação às proporções da amostra. A dúvida mantinha-se entre inquirirmos uma ou duas turmas de cada nível de ensino, ficando a amostra entre cerca de 55 ou 110 alunos. Embora tornasse a tarefa mais trabalhosa, julgamos que duas turmas por nível de ensino tornariam o estudo mais consistente e amplo. Assim, selecionamos duas turmas de 9.º ano, o 9.º B e o 9.º C, nas quais lecionamos ao longo do ano letivo, e duas turmas do curso científico-humanístico de Línguas e Humanidades, uma turma de 11.º ano, onde lecionámos, e uma do 10.º que selecionamos através do levantamento de turmas que durante o presente ano letivo também tivessem tido interações com professores estagiários, sendo que neste caso ocorreram na disciplina de Português.

A turma B, do 9.º ano, era constituída por vinte e nove alunos, dezassete do género feminino e doze do género masculino, sendo que, à data da recolha dos dados, todos com idades entre os catorze e quinze anos, à exceção de um aluno com dezasseis anos. Desde o começo do ano letivo que era do nosso conhecimento o potencial que a turma tinha, fruto dos resultados de anos anteriores (grande parte da turma fez parte do quadro de mérito da escola no ano anterior) e testemunhos de professores já familiarizados com a turma, e impôs-se o desafio, a nós professores, de rentabilizar este potencial. A nível disciplinar demonstrou ser uma turma exemplar, existindo sempre um respeito pela professora titular e por ambos os estagiários, não tendo existido qualquer tipo de ocorrência disciplinar. Formada por alunos interessados pelos conteúdos e curiosos, a turma revelou uma grande facilidade na aquisição de conhecimentos e, muitas vezes,

instauraram-se ambientes de debate e troca de ideias entre os alunos, proporcionando o diálogo horizontal, o que para nós, professores estagiários, foi uma experiência muito enriquecedora. Todo este ambiente saudável dentro da sala de aula permitiu que, ao longo do ano, fosse criada uma boa relação com os professores e o desenvolvimento de várias atividades, como visitas de estudo, debates, trabalhos em grupo, etc. O aproveitamento foi bastante positivo, sendo a média da turma no final do ano o nível quatro, e voltando a estar grande parte da turma nomeada para o quadro de mérito escolar.

A turma C, do 9.º ano, era constituída por vinte e sete alunos, catorze elementos do género feminino e treze do género masculino, sendo que, à data da recolha dos dados, todos com idades entre os catorze e quinze anos, à exceção de dois alunos com dezasseis anos. Ao contrário da turma anterior, o 9.º C foi-nos apresentada como uma turma “difícil”, com um potencial mais modesto, onde o aproveitamento era suficiente e, por vezes, existiam problemas disciplinares. Realmente os alunos eram mais enérgicos e rebeldes, mas a verdade é que o respeito mútuo prevaleceu sempre e à medida que o ano letivo foi decorrendo a sua colaboração e interesse pelas aulas foram aumentando gradualmente. Apesar do horário desfavorável a uma maior concentração dos alunos, as aulas decorriam dentro da normalidade, tendo núcleos de alunos bastante interessados e questionadores, e não existindo qualquer tipo de registo em relação a problemas disciplinares, criando-se uma relação afetiva muita próxima entre os professores e os alunos. De forma geral, o aproveitamento acabou por se revelar satisfatório, havendo uma heterogeneidade no nível dos alunos, havendo núcleos de alunos com bastantes dificuldades e núcleos de alunos de excelência.

A turma J, do 11.º ano, era constituída por vinte e sete alunos, vinte do género feminino e sete do género masculino, sendo que, à data da recolha dos dados, todos com idades entre os quinze e os dezassete anos, predominando os alunos com dezasseis anos. Apresentando-se inicialmente como o maior desafio entre as turmas nas quais lecionamos devido à maior exigência a nível científico e ao nível do estabelecimento da relação professor-aluno, resultante da proximidade de idades, o 11.º J acabou por ser a turma onde, fruto da sua maturidade, existiu uma maior proximidade, disponibilidade e recetividade por parte dos alunos para connosco, professores em formação inicial. As

aulas decorreram sempre num ambiente saudável e dinâmico, existindo um grande interesse e envolvimento dos alunos. Ao nível disciplinar, não existiram dificuldades, o que permitiu o desenvolvimento de atividades como a aula-oficina e trabalhos de grupo. Apesar do nível de dificuldade dos conteúdos lecionados no 11.º ano da disciplina de História A e, aos olhos dos alunos, da sua pouca atratividade, estes foram compreendidos de forma satisfatória. Em termos de resultados, as notas foram satisfatórias, sendo que, em relação ao ano anterior, a média da turma subiu consideravelmente e alguns alunos atingiram resultados muito bons.

Na turma do 10.º ano foram inquiridos vinte e cinco alunos, sendo que dezoito eram do género feminino e sete do género masculino e as idades, quando inquiridos, variavam entre os quinze e os dezassete anos, predominando os dezasseis anos. Esta turma não estava integrada no nosso estágio profissional, mas sim no estágio de duas alunas do Mestrado em Ensino de Português no 3. º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário da FLUP que, por sua vez, lecionaram a disciplina de Português na ESRT no ano letivo de 2018/2019. Desta forma, não tivemos oportunidade de testemunhar e observar as caraterísticas e particularidades da turma em questão, como sucedeu nas anteriores, e, por isso mesmo, apresentamos apenas esta breve descrição.

2.4. Estudo de Caso: instrumento de recolha de informações e fases da

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