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Foram escolhidas decisões que versam sobre a possibilidade ou não de alunos egressos de escolas privadas ingressarem no ensino técnico de nível médio dos institutos federais e no ensino superior das universidades federais por meio de cotas destinadas a alunos de escolas públicas, nos termos da Lei nº 12.711/2012.

Como se verá esta é uma demanda comum na Justiça Federal, orientada para a inclusão de alunos que tenham cursado o ensino fundamental e/ou médio em escola privada caracterizada como comunitária, confessional ou filantrópica, assim como para aqueles que

47 A Defensoria Pública da União foi escolhida, desconsiderando ações propostas por advogados particulares, para ressaltar o argumento da hipossuficiência dos alunos que almejam a inclusão no sistema de cotas, embora não tenham estudado o ensino médio e/ou fundamental integralmente em escola pública. Em relação às peças da Procuradoria Federal no Estado do Maranhão, foram selecionadas aquelas na qual o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão figura como parte nas ações ajuizadas pela Defensoria Pública da União que serviram de análise para a pesquisa em primeira instância nas varas e primeira e segunda instância nos juizados especiais, coletadas no biênio 2015-2016, das quais será investigada especialmente a fundamentação das decisões dos juízes.

tenham passado parte da vida estudantil em escola privada, incluindo aquelas em sentido estrito, e parte em escola pública.

Buscou-se analisar o conteúdo das decisões tanto de primeira instância (e 2ª instância nos Juizados Especiais Federais), quanto dos acórdãos do Tribunal Regional Federal da 1ª Região e do Superior Tribunal de Justiça. Para analisar a fundamentação empregada pelos juízes federais, foram coletadas decisões de concessão ou não de medidas liminares e sentenças proferidas no biênio 2015-2016, em demandas individuais propostas pela Defensoria Pública da União, na Seção Judiciária do Estado do Maranhão, a fim de compreender a realidade local.48

O período é considerado razoável para a aferição do entendimento atual firmado não apenas pela Justiça Federal no Maranhão em ações dessa natureza, mas também dos argumentos empregados pela Defensoria Pública da União e pela Administração Pública nos processos analisados, considerando a jurisprudência do Tribunal Regional Federal da 1ª Região e do Superior Tribunal de Justiça que se formou antes de 2015.49 O biênio 2015-2016 também coincide com o período de duração do Mestrado em Direito e Instituições do Sistema de Justiça da pesquisadora.

Identificaram-se onze decisões de pedidos de liminares, seis sentenças e um acórdão de Turma Recursal do Juizado Especial Federal. Destas, foi excluída uma sentença que apenas homologou um pedido de desistência da parte autora. Portanto, restaram onze decisões de liminares, cinco sentenças e um acórdão, os quais serão examinados na quinta seção deste capítulo.

Para a coleta de dados no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, a pesquisa jurisprudencial limitou-se aos acórdãos – excluindo-se as decisões monocráticas - publicadas no período compreendido entre 1º de setembro de 2012 a 31 de dezembro de 2016. O termo inicial foi definido levando-se em consideração o dia subsequente ao da entrada em vigor da Lei nº 12.711/2012 – lei de cotas nas universidades -, que ocorreu em 30 de agosto de 2012, e o termo final levou em conta o prazo para elaboração e qualificação da dissertação.

48 A pesquisa abrange a Seção Judiciária do Maranhão, excluindo-se as Subseções Judiciárias de Imperatriz, Caxias, Bacabal e Balsas.

49 Os argumentos da Defensoria Pública da União e da Administração Pública, por meio da Procuradoria Federal no Maranhão foram apreendidos pela análise das iniciais, contestações e réplicas constantes nos processos coletados no biênio 2015-2016: ação ordinária nº 256-08.2015.4.01.3700; ação ordinária nº 343- 61.2015.4.01.3700; mandado de segurança nº 3654-60.2015.4.01.3700; ação ordinária nº 0007558- 88.2015.4.01.3700; ação ordinária nº 0001232-49.2014.4.01.3700 (habilitação da DPU nas contrarrazões em janeiro de 2015); ação ordinária nº 0001745-46.2016.4.01.3700; ação ordinária nº 0006800-75.2016.4.01.3700; mandado de segurança nº 1000049-55.2016.4.01.3700; mandado de segurança º 1000058-17.2016.4.01.3700; ação ordinária nº 0001859-82.2016.4.01.3700; mandado de segurança nº 1000177.75.2016.4.01.3700; ação ordinária nº 0017824-43.2016.4.01.3700.

Como chave de pesquisa, foram utilizadas as seguintes palavras, separadas pela conjunção aditiva “e”: cotas, escola, pública, privada, ensino e superior. O sistema de busca de jurisprudência do sítio eletrônico do Tribunal Regional Federal da 1ª Região identificou cinquenta e dois acórdãos. Destes acórdãos, foram excluídos dois embargos de declaração em sede de apelação cível (0020051-12.2010.4.01.3300/BA e 0002169-46.2011.4.01.3803/MG), pois não versaram sobre a controvérsia jurídica objeto de análise.

Quanto ao Superior Tribunal de Justiça, também foram selecionados apenas acórdãos com a mesma chave de pesquisa utilizada no sistema de busca de jurisprudência do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, mas sem limitação inicial de tempo. Essa busca resultou em oito acórdãos, de três ministros distintos.

De acordo com o regimento interno do Superior Tribunal de Justiça há na Corte três áreas de especialização em razão da matéria, e a competência das Seções e das respectivas Turmas é fixada em função da natureza da relação jurídica. À Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, que compreende a Primeira e a Segunda Turmas, cabe julgar e processar os feitos relativos ao direito público. Cada Turma é composta por cinco ministros, desse modo, para abranger o entendimento sobre o tema de, ao menos, cinco ministros distintos, foi realizada nova busca no sítio eletrônico da Corte Superior com as seguintes palavras, separadas pela conjunção aditiva “e”: autonomia, universidade e cotas. Foram encontrados sete novos acórdãos, de cinco ministros distintos e um acórdão de uma desembargadora convocada do Tribunal Regional Federal da 3ª Região.

Desses quinzes acórdãos excluíram-se o agravo regimental no recurso especial nº 1.337.546/SE, pois considerou que o Tribunal de origem decidiu com base em fundamentação eminentemente constitucional, razão pela qual o recurso especial não servia à pretensão da recorrente, nos termos do art. 105, III, da Constituição Federal, ou seja, não adentrou no tema da controvérsia que se analisa; e o agravo regimental no recurso especial nº 1.498.315-PB, pois versou apenas sobre a ausência de prequestionamento e da teria do fato consumado. Ao todo, portanto, serão analisados treze acórdãos do Superior Tribunal de Justiça.50

50 Os acórdãos coletados do Superior Tribunal de Justiça foram os seguintes: recurso especial nº 1.132.476-PR; recurso especial nº 1.254.118-RS; recurso especial nº 1.254.042-RS; recurso especial no recurso especial nº 1.328.192-RS; agravo regimental nº 1.314.005-RS; agravo regimental no recurso especial nº 1.443.440-PB; agravo regimental no recurso especial nº 1.472.572-PB; recurso especial nº 1.540.146-MG; agravo regimental no recurso especial nº 1.548.318-RS; agravo regimental no recurso especial nº 1.521.053-PB; agravo interno no recurso especial nº 1.588.776-PB; agravo interno no recurso especial nº 1.592.226-PI; e recurso especial nº 1.611.470-PI.

Quanto à metodologia de apreciação das decisões, será empregada a análise de conteúdo, fazendo-se o recorte do texto e categorização a partir dos objetivos estabelecidos para interpretação e inferência dos dados.

Segundo Bardin (1979, p. 42), consiste a análise de conteúdo em um:

[...] conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. Procurou-se fazer uma leitura compreensiva do conjunto das decisões selecionadas, de forma exaustiva, a fim de atingir níveis mais profundos dos conteúdos expressos e implícitos. A partir da leitura, buscou-se: ter uma visão de conjunto; apreender as particularidades do conjunto das decisões; elaborar pressupostos que serviram de baliza para a análise e a interpretação do material; escolher formas de classificação inicial; determinar os conceitos teóricos que orientaram a análise.

Posteriormente, foi feita a exploração propriamente dita das decisões, identificando os núcleos de sentido obtidos com a classificação inicial, buscando dialogar entre as decisões e entre os núcleos de sentido e os pressupostos estabelecidos. Ao final, foi elaborada uma síntese interpretativa, com o escopo de responder à problemática da pesquisa e levando em conta os pressupostos teóricos estabelecidos no primeiro e no segundo capítulos.

Os objetivos estabelecidos para interpretação e inferência dos dados foram identificar argumentos políticos, morais e subjetivistas dos magistrados e verificar o direcionamento da atuação típica da Administração Pública, de modo que a decisão torna-se o próprio ato administrativo.

Para tanto, instituíram-se três critérios de análise das decisões: 1º) interpretação da Constituição e da legislação infraconstitucional sobre o tema; 2º) interpretação de princípios; e 3º) consideração de precedentes jurisprudenciais firmados em matéria análoga ou idêntica. A sistemática de apresentação dos dados, portanto, será baseada nos referidos critérios.

Importa ressaltar, por fim, que serão desconsiderados aspectos processuais como preliminares, prejudiciais, atendimento ou não dos requisitos legais para concessão de liminares, bem como outros pedidos que, apesar de estarem presentes nas peças processuais analisadas, não são úteis para os objetivos propostos pela pesquisa.

A investigação terá como foco, apenas, os argumentos que dizem respeito especificamente ao direito material, ou seja, à possibilidade ou não de alunos que tenham cursado integral ou parcialmente sua vida escolar em instituições de ensino privadas, possam

ou não ingressar nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio pelo sistema de cotas da Lei nº 12.711/2012.