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Este capítulo apresenta a metodologia adotada no presente estudo, tendo por base a

importância das entrevistas como técnica de recolha de dados sobre a perspetiva dos

consultores. Sousa e Baptista (2012:52) definem metodologia de investigação “ num processo

de seleção da estratégia de investigação, que condiciona, por si só, a escolha das técnicas de

recolha de dados, que devem ser adequadas aos objetivos que se pretendem atingir”. No

presente trabalho optou-se pelo método de investigação qualitativa por se adequar melhor aos

objetivos de pesquisa.

4.1 - Investigação Qualitativa

Para se compreender a importância do papel do consultor de gestão e as suas

perspetivas relativamente à adoção do BSC no setor público, escolheu-se o método de

investigação qualitativa.

Na investigação qualitativa não se verifica a preocupação com a dimensão da amostra e

a generalização dos resultados, como acontece com a investigação quantitativa. (Sousa e

Batista, 2012)

Segundo Vieira, Major e Robalo (2009:159) “a investigação qualitativa fornece ao

investigador informação rica, detalhada e contextualizada que normalmente a investigação

quantitativa é incapaz de fornecer”.

O estudo tem como objetivo proceder ao reconhecimento de uma dada realidade

pouco estudada, como é o caso da perspetiva dos consultores sobre o processo de adoção do

BSC. Deste modo, podemos classificar o estudo como exploratório, de cariz qualitativo.

4.2 - Técnica de Recolha de Dados

Existem três grandes grupos de técnicas de recolha de dados em ciências sociais, que

servem para operacionalizar as investigações qualitativas: a entrevista, a observação e a análise

documental.

No presente estudo a recolha de informação foi efetuada recorrendo à técnica de

entrevista, em particular a entrevista semiestruturada. Na opinião de De Ketele e Roegiers

(1993:22), a entrevista é um “método de recolha de informação que consiste em conversas

orais, individuais ou de grupos, com várias pessoas selecionadas cuidadosamente, a fim de

obter informações sobre factos ou representações, cujo grau de pertinência, validade e

fiabilidade é analisado na perspetiva dos objetivos da recolha de informação”.

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Segundo Lessard-Hébert, Goyette e Boutin (2008:160) a técnica da entrevista “é

necessária quando se trata de recolher dados válidos sobre as crenças, as opiniões e as ideias”.

Para Quivy e Campenhoudt (1998:191) “os métodos de entrevista distinguem-se pela

aplicação dos processos fundamentais de comunicação e de interação humana.”

Ao contrário do inquérito por questionário, a entrevista caracteriza-se por um contacto

direto entre o investigador e os seus entrevistados (Quivy & Campenhoudt, 1998).

As entrevistas podem ser estruturadas, semiestruturadas ou livres. No primeiro caso

todas as questões estão previamente elaboradas, assim como a respetiva formulação e

sequência. Nas entrevistas semiestruturadas, apesar de haver algumas perguntas previamente

estabelecidas, o entrevistador não está limitado por elas, tendo a liberdade de incluir outras,

mediante as respostas dadas pelo entrevistado e tendo em conta os objetivos da investigação.

Nas entrevistas livres o entrevistado tem a liberdade de responder sobre o assunto proposto

pelo investigador (De Ketele & Roegiers,1993; Rosa & Arnoldi, 2008)

O recurso à entrevista, nomeadamente a semiestruturada, enquanto técnica qualitativa

de recolha de dados, deveu-se ao facto de esta melhor se adaptar aos objetivos do estudo, na

medida em que permite obter informação, sobretudo relativamente às perceções dos

consultores sobre a implementação do BSC no setor público.

A entrevista semiestruturada, com perguntas abertas e fechadas, permitiu uma

organização flexível e desenvolvimento de sub-questões à medida que os consultores foram

respondendo.

Esta escolha constituiu uma mais-valia para a investigação, pelo facto de os

entrevistados poderem exprimir sobre as suas experiências com elevado grau de profundidade

e autenticidade, dado que ao longo das entrevistas foram surgindo informações relevantes, que

não estavam presentes no guião. Deste modo, foi possível direcionar a entrevista para os

pontos que mais interessavam no estudo.

Para a realização das entrevistas semiestruturadas é importante conhecer as suas

vantagens e desvantagens, em relação a outros procedimentos de recolha de dados.

As entrevistas apresentam algumas vantagens em relação às outras técnicas de

questionários, análise documental, observação participativa, o que justifica a escolha e

aplicação da entrevista semiestruturada no presente estudo. Na tabela seguinte apresentamos

as vantagens e desvantagens do recurso a entrevistas.

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Tabela 6: Vantagens e Desvantagens da Entrevista

Vantagens Desvantagens

- Permite recolher informação que por

vezes não está em documentos - Consome muito tempo

- Permite recolher os testemunhos e

interpretações dos entrevistados - Método difícil de trabalhar

- O entrevistado concentra-se mais sobre a questão

- Reflexibilidade – o entrevistado responde como lhe parece que o entrevistador quer

- Dão origem a respostas mais variadas - Possibilidade do entrevistador perder o controlo da entrevista

- Permite recolher informação atualizada - As opiniões do investigador podem influenciar o entrevistado - Flexibilidade na exploração de aspetos e

ideias originados durante a entrevista

- Distorções devido a questões mal formulada

Fonte: Adaptado de Vieira, Major e Robalo (2009) e Sousa e Baptista (2012)

4.3 – Caracterização da Amostra

A amostra incidiu sobre sete empresas de consultoria que prestam serviços de

construção/implementação do BSC no Setor Público.

Foi feita uma pesquisa via internet, através do motor de busca Google, a fim de obter

informação sobre empresas que implementam o BSC no setor público. No decorrer da

pesquisa foram consultadas 20 empresas de consultoria, das quais 4 não tinham experiência no

setor público, 4 não tinham disponibilidade em curto-prazo em colaborar no estudo, 2

procedem à contratação de profissionais externos à entidade quando é necessário prestações

de serviços na área de BSC e 3 não responderam se podiam colaborar no estudo (tabela 7).

Deste modo, obtivemos resposta positiva de 7 empresas de consultoria com experiência de

aplicação do BSC no setor público e privado.

Como se pode verificar na tabela seguinte, das 20 empresas contatadas 40% foram

constituídas no seculo XX e das 7 empresas que constitui a amostra foram 52% constituídas

no seculo XX. As empresas que constituem a amostra são na sua maioria do distrito de Lisboa

e são sociedades por quotas.

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Tabela 7: Caracterização das Empresas de Consultoria

Fonte: Site das Empresas, www.racius.pt e www.linkb2b.pt.

Empresa Colaboração

no Estudo Distrito

Início

de

Atividade

Forma

Jurídica

Experiencia

Setor

Público Privado Setor

1 Entrevista Lisboa 1981 Soc. por Quotas

2 Entrevista Lisboa 1988 Soc. Anónima

3 Entrevista Lisboa 1993 Soc. por Quotas

4 Entrevista Lisboa 2007 Soc. Unipessoal

5 Entrevista Setúbal 2005 Soc. por Quotas

6 Entrevista Leiria 2007 Soc. por Quotas

7 Entrevista Porto 1989 Soc. por Quotas

8 Profissionais externos Lisboa 2002 Soc. por Quotas

9 Profissionais externos Lisboa 1997 Soc. por Quotas

10 Sem disponibilidade Lisboa 2003 Soc. Unipessoal

11 Sem disponibilidade Porto 2005 Soc. Anónima

12 Sem disponibilidade Lisboa 2008 Soc. Unipessoal

13 Sem disponibilidade Lisboa 1992 Soc. por Quotas

14 Sem experiência no setor público Porto 2005 Soc. por Quotas 15 Sem experiência no setor público Braga 2005 Soc. Anónima 16 Sem experiência no setor público Porto 2009 Soc. Unipessoal 17 Sem experiência no setor público Porto 2005 Soc. por Quotas

18 Sem resposta Porto 1989 Soc. Anónima

19 Sem resposta Lisboa 1986 Soc. Anónima

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De acordo com Albarello, Digneffe, Hiernaux, Maroy, Rupuoy e Saint- Georges

(1997:105), “é necessário contar com algumas recusas, uma vez que, não é raro as pessoas se

mostrarem reticentes em aceitar a entrevista e por considerarem que a comunicação das suas

opiniões pode parecer uma operação delicada”. Deste modo, é importante que o entrevistado

tenha em atenção uma reserva de pessoas, no momento da constituição da amostra.

Para Rosa e Arnoldi (2008), na pesquisa qualitativa não é relevante a quantidade de

sujeitos que irão prestar informação, mas, sim, a capacidade que os sujeitos têm para

responder ao que se procura com a pesquisa.

Numa primeira fase efetuou-se um contacto, via telefone, a fim de obter informação

sobre a experiência no setor público. Pretendeu-se, desta forma, assegurar que os consultores

entrevistados dispõem de informação e experiência suficientes, tendo em conta que o grande

objetivo é conhecer as suas opiniões acerca da construção e implementação do BSC no setor

público. Posteriormente, enviou-se um e-mail (ver anexo I) com o objetivo do estudo, a fim

de a empresa analisar a sua disponibilidade em colaborar.

A todos os consultores disponíveis em colaborar no estudo, foi disponibilizado, via

e-mail, o guião da entrevista (ver anexo II).

A amostra é constituída por sete consultores, dos quais apenas um do sexo feminino.

Os consultores possuem experiência no setor público há mais de 4 anos e dois consultores

têm experiência no setor público e privado há 25 anos. Apenas dois consultores possuem mais

tempo de experiência no setor privado comparativamente com o setor público. Da amostra,

cinco dos consultores são os próprios administradores da empresa de consultoria e os outros

são consultores sugeridos pela administração para colaborar no estudo.

A Tabela seguinte demonstra as habilitações por consultor, assim como o tempo de

experiência e o distrito de localização da empresa de consultoria.

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Tabela 8: Caracterização da Amostra

Fonte: Elaboração Própria com base nas entrevistas

4.4 – Fases da análise qualitativa das entrevistas

A análise qualitativa das entrevistas teve por base a existência de cinco fases cruciais

para um melhor rigor da análise:

a) Construção do guião da entrevista e confronto com a revisão da literatura;

b) Realização da entrevista

c) Transcrição literal das entrevistas

d) Leitura e redução dos dados

e) Redação e discussão dos resultados

Consultor / Género Habilitações Função Distrito da Empresa

Tempo de prestação de serviços: Empresa Público Setor Privado Setor

C1 Masc. Licenciatura em Gestão Consultor Lisboa 13 anos 10 anos 13 anos

C2 Masc. Licenciatura em Economia e Mestrado

em Ciências Empresariais Administrador Lisboa 25 anos 25 anos 25 anos

C3 Masc. Licenciatura em Organização e Gestão de

Empresas Administrador Lisboa 20 anos 25 anos 25 anos

C4 Masc. Engenheiro Químico, Mestre em Matemática e Doutor em Física

Consultor

independente Lisboa 5 anos 5 anos aplicável) (não

C5 Masc.

Licenciatura em

Economia, Mestrado em Filosofia, Doutoramento em Gestão e MBA.

Administrador Setúbal 8 anos 8 anos 18 anos

C6 Masc. Licenciatura em Engenharia Mecânica, Pós-graduação em Engenharia da Soldadora e Engenharia da Qualidade e Especialização em Controlo de Gestão

Administrador Leiria 6 anos 12 anos 12 anos

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Nos pontos seguintes iremos abordar as quatro primeiras fases, pelo que a última fase

irá ser abordada no capítulo V.

4.4.1 - Guião da Entrevista

Para a realização das entrevistas foi construído um guião (anexo II), que teve em

consideração a revisão teórica. O guião da entrevista serviu como um instrumento de

orientação no decorrer das entrevistas e estruturante do discurso dos entrevistados. No

entanto, de acordo com Lessard-Hébert, Goyette e Boutin (2008), não se pressupõe uma

sequência absoluta na colocação das perguntas no desenvolvimento do processo da entrevista.

Neste sentido, a ordem das questões do guião foi-se alterando mediante as respostas dos

consultores, por forma a facilitar a comunicação e a recolha de informação.

O guião é composto por três categorias:

1) O papel dos consultores de gestão no setor público;

2) Motivações e benefícios na adoção do BSC no setor público;

3) Dificuldades na adoção e continuidade do BSC no setor público.

Na primeira categoria procura-se saber as motivações para as empresas de consultoria

prestarem serviços no setor público, nomeadamente como é dado a conhecer o serviço de

consultoria. Procura-se saber, quais os motivos que levam as entidades públicas a recorrerem

aos consultores de gestão e quais os critérios de escolha da empresa de consultoria. Como a

adoção do BSC é diferente do setor privado, procura-se saber qual o perfil do consultor e a

importância do seu recurso para a adoção do BSC no setor público.

Na segunda categoria pretende-se conhecer as motivações que leva a que as

organizações públicas a adotarem o BSC e os benefícios da sua adoção.

Na terceira categoria, pretende-se saber quais são as dificuldades encontradas na

adoção do BSC no setor público que não se encontram com tanta regularidade no setor

privado. Dado que os consultores têm conhecimento da realidade do setor publico e privado,

pretende-se saber as razões da reduzida implementação do BSC no setor público e as

sugestões para auxiliar a adoção do BSC no setor público.

4.4.2 - Realização de entrevistas

Para a realização da entrevista é importante que o entrevistador tenha todos os

conhecimentos a respeito do tema, para que depois possa ser ele próprio o condutor da

entrevista (Rosa & Arnoldi, 2008). Deste modo, as entrevistas só se realizaram depois de se

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proceder à revisão de literatura e visualização da informação disponível no site da empresa de

consultoria.

A realização das entrevistas foi agendada, via telefone e e-mail, por forma a agendar a

data e hora mais conveniente para cada um dos consultores. Antes da realização das

entrevistas houve uma conversa via telemóvel sobre os objetivos das entrevistas e a

composição do guião.

De acordo com a disponibilidade dos consultores, as entrevistas foram realizadas: no

ambiente de trabalho dos entrevistados; via telemóvel; por escrito e no local exterior ao seu

ambiente de trabalho.

Mediante a prévia autorização dos participantes, procedeu-se à realização das

entrevistas, gravadas em áudio, sendo que aos participantes foi assegurada a confidencialidade

e a não divulgação das gravações depois da sua transcrição. A gravação em áudio permitiu

obter elementos relevantes de comunicação, como o registo do discurso de forma verdadeira,

as pausas para meditação, as dúvidas, as alterações de voz, as interrupções e permitiu facilitar a

conversa.

Para manter o anonimato dos entrevistados adotou-se um procedimento de

codificação dos sujeitos, realizados pela ordem das entrevistas. Esses códigos vão desde o C1

até C7.

Todas as entrevistas foram realizadas de 25 de Fevereiro a 27 de Março de 2013.

Relativamente à duração, não foi estipulado um limite de tempo, sendo que as entrevistas

tiveram uma duração entre 30 a 60 minutos.

Na Tabela 9 é possível verificar, por consultor, a data da entrevista, o tipo e a respetiva

duração.

Tabela 9: Dados da Entrevista

Fonte: Elaboração Própria com base nas entrevistas

Consultor Entrevista Tipo Duração

C1 25-02-2013 Por escrito (não aplicável)

C2 07-03-2013 Presencial – Sala de Reuniões 60 minutos

C3 22-03-2013 Presencial – Gabinete 60 minutos

C4 23-03-2013 Presencial – Exterior à Empresa 40 minutos

C5 25-03-2013 Telemóvel 60 minutos

C6 26-03-2013 Telemóvel 30 minutos

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4.4.3 - Transcrição literal das entrevistas

Após a realização das entrevistas, procedeu-se á sua transcrição de forma integral e

com a seguinte informação:

a) Identificação do consultor entrevistado (nome, contato, tempo de serviço e

habilitações);

b) Data da entrevista;

c) Tipo de entrevista (presencial, por escrito e telemóvel);

d) Local da entrevista (sala de reuniões, gabinete e exterior ao local de trabalho)

e) Hora de início da entrevista;

f) Duração da entrevista;

g) Dados da empresa de consultoria (nome, localização e contacto);

h) Colocação do tempo em cada questão, a fim de facilitar a confirmação da resposta de

acordo com a gravação.

No total, a gravação das entrevistas teve uma duração de 4 horas e 10 minutos e a

transcrição integral uma duração de cerca de 24 horas. No total as entrevistas correspondem a

58 páginas de material transcrito.

4.4.4 – Leitura e Redução dos dados

Após a transcrição das entrevistas procedeu-se à sua análise.

Numa análise qualitativa “articulam-se três atividades cognitivas: a redução dos dados,

a sua apresentação/organização para fins comparativos e a sua interpretação/verificação”

(Albarello et al., 1997:123).

A redução dos dados é uma parte essencial na análise, na medida em que é necessário

decidir que dados devem ser conservados ou excluídos, sob que forma resumir um certo

número de excertos da entrevista. O objetivo desta fase é descobrir um fio condutor de

análise, tendo subjacente a construção de uma grelha de análise e as suas categorias

constitutivas. Para a construção da grelha de análise e definição de categorias, leu-se várias

vezes as entrevistas, a fim de “identificar regularidades, temas comuns e padrões que permitem

categorizar a evidência obtida” (Vieira, Major e Robalo 2009:160).

De acordo com Bardin (2008:145) “as categorias são rubricas ou classes, as quais

reúnem um grupo de elementos (unidades de registo, no caso da análise de conteúdo) sob um

título genérico, agrupamento esse efetuado em razão dos caracteres comuns destes

elementos”.

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A realização da categorização tem como finalidade favorecer a leitura e permitir ao

investigador uma melhor organização e interpretação dos dados recolhidos, isto é, uma

“passagem de dados brutos a dados organizados” (Bardin, 2008:147).

No capítulo seguinte apresenta-se a análise e discussão dos resultados obtidos com as

entrevistas e a sucessiva associação com a revisão da literatura.

CAPÍTULO V –

ANÁLISE E

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