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A metodologia investigativa e as ferramentas para a coleta de dados

4. CAMINHOS METODOLÓGICOS

4.1. A metodologia investigativa e as ferramentas para a coleta de dados

Para alcançar o objetivo deste estudo, busquei desenvolver um trabalho metodológico que me permitiu compreender a presença da Filosofia no currículo escolar e a partir desse ponto, saber em que medida ela pode se tornar uma disciplina relevante para o Ensino Médio. Pensando em estratégias sobre a melhor forma de realizar essa investigação, encontrei no estudo de caso (ANDRÉ, 2005; BOGDAN & BIKLEN, 1994) uma grande possibilidade de desenvolver o trabalho com rigor e profundidade.

O estudo de caso consiste em uma pesquisa detalhada sobre um determinado contexto, podendo utilizar como recursos a observação e a entrevista, entre outros, buscando a descrição do respectivo fenômeno estudado e fornecendo ao pesquisador um valioso material de estudo sobre os dados coletados. Essa metodologia investigativa mostra-se como uma significativa forma de pesquisa, visto que a mesma responde “muito bem às questões sobre relevância dos resultados da pesquisa, pois os estudos de caso são extremamente úteis para conhecer os problemas e ajudar a entender a dinâmica da prática educativa” (ANDRÉ, 1999, p.

50). Dessa forma, identifico esta investigação como sendo estudo de caso, pois a mesma se enquadra em algumas das características desse tipo de estudo, a saber: particularidade, descrição, heurística e indução (ANDRÉ, 2005).

Com relação à particularidade, a mesma refere-se ao fato do estudo focalizar um fenômeno particular, como por exemplo, o ensino de Filosofia. Quanto à descrição, entende-se que o produto do estudo de caso apresenta um caráter profundamente descritivo com relação ao caso investigado. Por característica heurística, compreende-se que o estudo de caso auxilia o leitor no entendimento sobre o fenômeno que está sendo estudado, podendo “revelar a descoberta de novos significados, estender a experiência do leitor ou confirmar o já conhecido” (ANDRÉ, 2005, p. 18). Por fim, a quarta característica refere-se à indução, pois é possível descobrir novas relações e compreender o fenômeno estudado a partir dos dados que emergem do estudo de caso que foi realizado.

Em outro livro que essa autora escreve com Menga Lüdke (LÜDKE & ANDRÉ, 1986), é possível identificar outras sete características que estão associadas ao estudo de caso de cunho qualitativo. A compreensão dessas características permitirá entender o porquê de se utilizar tal metodologia nesta pesquisa.

A primeira característica define que “Os estudos de caso visam à

descoberta” (Idem, p. 18). Nessa definição, percebe-se que mesmo que o

pesquisador já se dirija para a pesquisa de campo com algumas hipóteses sobre o que irá encontrar, ao longo da investigação novas descobertas poderão aparecer, permitindo que novos conhecimentos e saberes surjam a partir das informações encontradas. Em segundo lugar, as autoras dizem que “Os estudos de caso

enfatizam a „interpretação em contexto‟” (Idem, p. 18). É sempre importante salientar

que levar em consideração a análise do contexto do local investigado se faz necessária, pois a prática pedagógica que será pesquisada está intimamente influenciada pelas possibilidades de realização em seu contexto específico.

A terceira característica diz que “Os estudos de caso buscam retratar a

realidade de forma completa e profunda” (Idem, p. 19). A intenção nesse momento é

que o investigador consiga descrever a realidade pesquisada de modo completo e profundo, a fim de que seja possível, ao conhecer as respectivas instâncias, analisar a situação como um todo. A quarta afirma que “Os estudos de caso usam uma

que o estudo de caso se utiliza de várias ferramentas e fontes para se alcançar a informação pretendida. Assim, é possível que o pesquisador utilize a observação e a análise documental, entre outros instrumentos, bem como a entrevista com docentes e discentes, entre outras pessoas envolvidas com a realidade estudada.

Na quinta, as autoras dizem que esses tipos de estudo “revelam experiência

vicária e permitem generalizações naturalísticas” (Idem, p. 19). A ideia dessa

característica é que com o estudo de caso o investigador elabore registros que permitam aos leitores estabelecer análises e relações dos dados encontrados na investigação com as experiências que vivenciam em sua vida, a fim de aplicar ou comparar com a sua prática pedagógica, por exemplo.

A sexta característica define que os “Estudos de caso procuram representar

os diferentes e às vezes conflitantes pontos de vista presentes numa situação social

(Idem, p. 20). Nesse destaque, é possível compreender que ao longo do processo investigativo e da coleta de informações por meio de entrevistas, poderão surgir opiniões e argumentos que sejam contraditórios. Tais manifestações deverão ser expressas e discutidas pelo investigador ao longo do estudo, a fim de que o mesmo possa emitir seu posicionamento sobre o respectivo assunto nas considerações finais do trabalho. Por fim, a sétima diz que “Os relatos do estudo de caso utilizam

uma linguagem e uma forma mais acessível do que os outros relatórios de pesquisa

(Idem, p. 20). Nesse caso, as autoras argumentam que existe uma característica mais informal, visto que a intenção é que ocorra uma “transmissão direta, clara e bem articulada do caso e num estilo que se aproxime da experiência pessoal do leitor” (Idem, p. 20). É importante ressaltar que como a finalidade deste trabalho é de se tornar uma Tese, sua linguagem prioriza a formalidade acadêmica.

Desse modo, por identificar que o projeto engloba todas as características apresentadas acima, o estudo de caso foi tomado como a metodologia necessária para a realização da presente pesquisa, que também terá uma abordagem qualitativa, visto que a mesma buscará compreender a realidade através de instrumentos investigativos que permitirão uma interação dialógica com os sujeitos investigados.

Para desenvolver este trabalho, focalizei a investigação em duas escolas estaduais do município do Rio Grande/RS. Digo isso tomando por base o Censo Escolar 2012 (RS/SEDUC, 2013), onde é possível identificar que no município do Rio Grande/RS, no respectivo ano, havia 7.116 discentes matriculados inicialmente

no Ensino Médio. Desses, 5.709 (80,2%) matricularam-se na rede pública estadual; 588 (8,3%) na rede pública federal e 819 (11,5%) no ensino privado. Na rede pública municipal esse nível de ensino não é ofertado. Portanto, a escolha pela rede estadual se deve ao fato dessa ser a instância que atende ao maior número de estudantes do Ensino Médio regular, comparando-se com as demais redes de ensino. Com relação à escolha das duas escolas, escolhi uma da região central e outra da região periférica, com o objetivo de abarcar populações de estudantes diferenciadas e, com isso, dar maior legitimidade ao estudo, garantindo estudantes de diferentes classes sociais e de procedências étnico-raciais diferenciadas.

A escolha da escola da região central toma por base os dados da Secretaria da Educação do Estado do Rio Grande do Sul, que indicam que essa foi a escola do bairro centro que teve um dos maiores números de alunos com matrícula inicial no Ensino Médio regular do ano de 2012 (RS/SEDUC, 2013). A escolha da escola da região periférica toma por base o fato de também atender a um grande contingente de alunos, visto que nessa zona essa instituição encontra-se como sendo uma das escolas que possui o maior número de matriculados inicialmente em 2012 (RS/SEDUC, 2013). A pesquisa abrangerá o Ensino Médio regular diurno, nos três anos deste nível.

Para desenvolver este trabalho, utilizei como instrumentos de coleta de dados a observação e a entrevista. A observação ocorreu em todos os anos do Ensino Médio, em que acompanhei sempre as mesmas e respectivas turmas de cada série. A ideia de utilizar a observação se deve ao fato de que esse instrumento permite informações captadas no momento em que estão ocorrendo, registro que dificilmente seria obtido somente por meio da entrevista, por exemplo (LANKSHEAR & KNOBEL, 2008). Além disso, é possível considerar a observação como “uma etapa imprescindível em qualquer tipo ou modalidade de pesquisa” (SEVERINO, 2013, p. 125). Para desenvolver as observações, realizei-as de modo não- participante e utilizando-me de observações semi-estruturadas, nas quais observei as respectivas aulas, sem me envolver com as circunstâncias. Nesse processo, tive comigo um roteiro de observação (Apêndice A) para anotar as informações que foram surgindo ao longo das observações (LANKSHEAR & KNOBEL, 2008).

A entrevista – que foi gravada – tomou por base os requisitos apresentados nos objetivos específicos deste estudo. Como um instrumento complementar, a entrevista tornou-se essencial para o presente trabalho, pois por meio dela pude

compreender o que pensam as pessoas que estão direta ou indiretamente envolvidas com a disciplina de Filosofia nas instituições investigadas. A entrevista é um instrumento fundamentalmente voltado à interação humana, visto que envolve dois ou mais sujeitos no processo dialógico, em que de um lado encontra-se o entrevistador, que carrega consigo suas pré-informações sobre o assunto abordado, ao mesmo tempo em que busca novos dados, e de outro lado encontra-se o entrevistado, que apresenta conhecimentos e saberes que permitirão ao pesquisador compreender mais profundamente o assunto investigado (SZYMANSKI, 2004).

O tipo de entrevista que realizei apresenta-se na perspectiva das entrevistas estruturadas, as quais

São aquelas em que as questões são direcionadas e previamente estabelecidas, com determinada articulação interna. Aproxima-se mais do questionário, embora sem a impessoalidade deste. Com questões bem diretivas, obtém, do universo de sujeitos, respostas também mais facilmente categorizáveis [...] (SEVERINO, 2013, p. 125).

Nesse sentido, entrevistei: 1º) docentes de Filosofia e de outras disciplinas. A escolha pelos professores de outras disciplinas tomou como base um representante de cada uma das quatro grandes áreas do conhecimento; 2º) discentes, entre os quais me propus, inicialmente, a escolher um rapaz e uma moça de cada turma, para verificar a compreensão desses a respeito da importância da Filosofia. No decorrer da pesquisa de campo, esse número foi modificado, conforme será visto no próximo capítulo; 3º) supervisoras educacionais, que, por meio de suas palavras, busquei saber o posicionamento das mesmas sobre o grau de importância da presença da Filosofia no currículo escolar do Ensino Médio.

Cabe ressaltar que embora eu tenha feito a análise de documentos ao longo do processo investigativo, a técnica de análise de dados será a Análise de Conteúdo (BARDIN, 2011) e não a Análise Documental. Afirmo isso com base na diferenciação que existe entre ambas. No quadro23 abaixo, é possível visualizar as diferenças:

23

Quadro 4 – Diferenças entre Análise Documental e Análise de Conteúdo

Análise Documental Análise de Conteúdo

Trabalha com documentos. Trabalha com mensagens.

É feita por meio de classificação-indexação. Pode ser feita por meio da análise categórica temática.

Objetiva a representação da informação, para consulta e armazenamento.

Busca exercer um trabalho de manejo sobre as mensagens, procurando colocar em evidência os indicadores que permitirão fazer inferências sobre outra realidade que não a da mensagem propriamente dita.

Nesse sentido, como a minha proposta é analisar o conteúdo das mensagens expressas nos documentos da escola, a Análise de Conteúdo se mostra como um evidente método analítico para esse procedimento. Além do mais, a organização das categorias que farão parte da análise dos dados foi feita por meio de temas que também estarão presentes dentro do método analítico proposto por Bardin (2011).

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