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4. CAMINHOS METODOLÓGICOS

4.3. O processo de análise dos dados

Após a coleta de dados, iniciei o processo de análise dos mesmos. Para realizar essa etapa tomei como base a Análise de Conteúdo (BARDIN, 2011). Entendo que esse método contribuiu efetivamente para encontrar as respostas que

procurei sobre os respectivos assuntos desta Tese, extraindo as informações por meio da análise detalhada das mensagens emitidas pelos sujeitos investigados (seja por meio de entrevista, documentos, entre outros). Abordando esse assunto, Bardin (2011) destaca que o método de análise possui duas funções que podem, ou não, interagir entre si. São estas: a função heurística e a função de administração da

prova. Na primeira, a autora define que a análise de conteúdo oferece possibilidades

analíticas que enriquecem a exploração do conteúdo comunicado, aumentando as chances de se chegar ao objetivo que se propõe. Na segunda função, argumenta que por meio desse método, é possível confirmar ou negar na prática se as hipóteses levantadas no estudo podem ser comprovadas nos enunciados proferidos. Como a pesquisa que desenvolvi busca verificar em que medida a disciplina de Filosofia é relevante para o Ensino Médio, encontro na função heurística a possibilidade de utilizar a Análise de Conteúdo. Digo isso por perceber que a mesma se apresenta como um ótimo método para se analisar as falas dos sujeitos entrevistados e os documentos coletados, permitindo encontrar indícios que me possibilitem definir a importância curricular da presença dessa disciplina no currículo do Ensino Médio.

Buscando compreender as possibilidades de aplicação dessa metodologia analítica, encontro em Bardin (2011) os seguintes casos de comunicação em que podem ser aplicados esse tipo de análise:

Quadro 5 – Resumo dos possíveis domínios de aplicação da Análise de Conteúdo24

Suporte linguístico e

código

Uma pessoa

“monólogo” Duas pessoas “diálogo” Grupo restrito Comunicação de massa

Escrito Agenda, maus pensamentos, diários íntimos. Cartas, respostas a questionários, trabalhos escolares. Todas as comunicações, por escrito, trocadas dentro de um grupo. () Jornais, livros, textos jurídicos, panfletos. Oral Delírio do doente mental, sonhos. Entrevistas e conversas de qualquer espécie. () Discussões, entrevistas, conversas de grupo. Exposições, discursos, rádio, cinema. Outros códigos: tudo o que não é

linguístico e pode ser portador de significado. Posturas, gestos, tiques, coleções de objetos.

Comunicação não verbal com destino a outrem (posturas, gestos, distância

espacial, manifestações emocionais, objetos cotidiano etc.). ()

Meio físico e simbólico: sinalização urbana, arte, mitos, estereótipos.

24 O “quadro 5” toma por base o quadro presente na obra de Bardin (2011, p. 40), reescrito de modo sucinto nesta Tese.

Nesse sentido, como utilizei () entrevista, () observação e () documentos, a Análise de Conteúdo é perfeitamente adequada ao tipo de estudo proposto. Para realizar a apreciação dos dados que foram encontrados a partir da pesquisa de campo, esse tipo de análise ofereceu um método de organização que me permitiu sistematizar as informações presentes nos dados coletados, de modo que fosse possível organizá-los de acordo com os interesses da investigação.

Ao longo de seu livro, Bardin (2011) destaca ainda que nessa metodologia existem três fases de organização da análise dos dados, a saber: (1.) a pré-análise; (2.) a exploração do material e (3.) a abordagem dos resultados, a qual inclui a inferência e a interpretação.

A (1.) pré-análise diz respeito “a um período de intuições, mas tem por objetivo tornar operacionais e sistematizar as ideias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das operações sucessivas, num plano de análise” (BARDIN, 2011, p. 125). Nessa etapa inicia-se o processo organizativo da análise dos materiais coletados. É o momento em que o pesquisador se familiarizará com o material a ser analisado.

Nesse momento do processo existem cinco atividades que orientam essa fase. A primeira refere-se a (1.1.) leitura flutuante, na qual o pesquisador faz uma leitura sobre o material, a fim de conhecer e construir as primeiras impressões sobre o mesmo. O segundo momento é a (1.2.) escolha dos documentos,que pode ocorrer de modo a priori ou a posteriori. No caso da pesquisa que desenvolvi, a opção foi pela escolha a posteriori, visto que foi preciso identificar nas escolas quais documentos e informações seriam possíveis de serem obtidas com o consentimento da instituição.

O terceiro momento refere-se à (1.3.) formulação das hipóteses e dos

objetivos. Nessa fase, o pesquisador elabora possíveis respostas para o problema

que busca solucionar e constrói o objetivo de seu estudo. Com relação à elaboração das hipóteses, as mesmas não foram formuladas antecipadamente, visto que deixei que a pesquisa de campo “falasse por si” e fornecesse as informações que me permitiram responder ao objetivo deste estudo.

O quarto momento refere-se à (1.4.) referenciação dos índices e à

elaboração de indicadores. A referenciação dos índices diz respeito à identificação

No caso da presente pesquisa, busquei construir tópicos temáticos (como por exemplo os modelos de ensino de Filosofia) e com base nesses, fiz a elaboração dos indicadores que serviram de base para construir as categorias e organizar a análise.

Por fim, o quinto momento é o da (1.5.) preparação do material. Neste, o pesquisador inicia o processo de preparação do material para aprontá-lo para a análise. Sugere-se, por exemplo, que as entrevistas sejam transcritas e que no texto impresso da transcrição haja um espaço para que o pesquisador possa fazer as marcações analíticas no material.

Terminada a primeira fase, parte-se para a (2.) exploração do material. Aqui, o investigador começará o processo de codificação e categorização dos dados. O primeiro processo dessa fase é a (2.1.) codificação, a qual “corresponde a uma transformação – efetuada segundo regras precisas – dos dados brutos do texto, transformação esta que, por recorte, agregação e enumeração, permite atingir uma representação do conteúdo ou da sua expressão” (BARDIN, 2011, p. 133). Nesse sentido, por meio dessa primeira etapa, o pesquisador atribuirá códigos (números, letras, entre outros) que lhe auxiliarão a organizar as partes importantes de cada texto de acordo com as (2.1.1.) unidades de registro25 que construirá. Neste projeto de Tese, utilizei o tema como sendo a unidade. Através desse, conforme fui identificando nos materiais analisados, construí unidades temáticas que me auxiliaram a chegar à resposta do objetivo da pesquisa. As unidades temáticas serão conhecidas no próximo capítulo.

Após a definição dessas unidades, constroem-se as (2.1.2.) unidades de

contexto, as quais servirão para tornar mais compreensível e contextualizada as

unidades de registro elencadas. Para tornar clara essa etapa, cito como exemplo o seguinte caso: quando, nos dados da entrevista, identifiquei que um dos docentes considera que a carga horária semanal de aula não é suficiente para o desenvolvimento do trabalho com a disciplina de Filosofia, a unidade de registro é

Carga horária semanal de aula: não é suficiente e a unidade de contexto é a frase ou o parágrafo destacado da entrevista em que está identificada tal informação.

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As unidades de registro que Bardin (2011) aponta como sendo as mais utilizadas são: a palavra; o tema; o objeto ou referente; o personagem; o acontecimento; e, o documento. Para saber mais, cf. Bardin, 2011, pp. 134-6.

Prosseguindo na codificação analítica do material, Bardin (2011) aponta ainda as (2.1.3.) regras de enumeração26, as quais mostram como será feita a contagem dos registros. Para a presente pesquisa, utilizei a regra da presença (ou

ausência). Através dessa regra, defini como trechos importantes para serem

destacados todos aqueles que estiveram presentes na fala dos entrevistados e nos documentos e que possuíam relação com os objetivos desta Tese. Também foi utilizada como fonte de análise a ausência de informações importantes que deveriam estar presentes nas mensagens proferidas pelos sujeitos investigados.

Definindo as unidades de registro e de contexto, parte-se para a etapa da

(2.2.) categorização. Essa é compreendida como sendo

uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e, em seguida, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos. As categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos (unidades de registro, no caso da análise de conteúdo) sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão das características comuns destes elementos (BARDIN, 2011, p. 147).

De acordo com a autora, a categorização é feita em duas etapas: a primeira é o inventário, em que se isolam os elementos destacados e a segunda é a

classificação, a qual consiste em dividir esses elementos impondo uma certa

organização sobre os mesmos. Dessa forma, no presente estudo a categorização foi o momento no qual organizei por “títulos temáticos” as mensagens que foram sendo extraídas dos materiais coletados. Por exemplo, quando registrei as informações referentes à questão sobre se a Filosofia se manteria nos três anos, caso a lei 11.684/08 fosse revogada, defini essa como sendo uma categoria. Dentro dessa, foi preciso construir duas subcategorias diferentes: “1ª – Se mantém” e “2ª – Não se

mantém”. Deste modo, juntamente com cada categoria estão as unidades de

registro ou as unidades de contexto que abordam os assuntos referentes a cada uma e que se encontram presentes e identificadas em sua respectiva categorização.

Para que as categorias sejam consideradas boas, Bardin (2011) aponta cinco qualidades que devem ser levadas em consideração, a saber:

(2.2.1.) Exclusão mútua: essa definição indica que cada elemento deve ser organizado de modo que não esteja presente em mais de uma categoria. É importante frisar que essa regra não é plena e sendo assim, pode acontecer o caso

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Os diversos tipos de enumeração são: a presença (ou ausência); a frequência; a frequência ponderada; a intensidade; a direção; a ordem; e, a concorrência. Para saber mais, cf. Bardin, 2011,

de um elemento fazer parte de mais de uma categoria, desde que a sua codificação não cause confusão no momento da análise.

(2.2.2.) Homogeneidade: define-se que cada categoria deve ser organizada

com base em um único princípio de classificação e em uma única dimensão de análise. Essa regra está intimamente relacionada com a anterior e por meio dela é possível organizar as categorias de modo que se evite a confusão analítica ao longo do estudo.

(2.2.3.) Pertinência: as categorias deverão estar relacionadas e adaptadas

ao material de análise que será desenvolvido. Portanto, as mensagens que não tenham relação com o foco da pesquisa não devem fazer parte das categorias destacadas.

(2.2.4.) Objetividade e fidelidade: deve-se manter a mesma forma de

codificação para as diferentes partes de um mesmo material que irão compor a mesma categoria. Para isto, o pesquisador que estará organizando a análise deverá “definir claramente as variáveis que trata, assim como deve precisar os índices que determinam a entrada de um elemento numa categoria” (BARDIN, 2011, p. 150).

(2.2.5.) Produtividade: a categoria será considerada de boa qualidade se

“fornece resultados férteis: em índices de inferências, em hipóteses novas e em dados exatos” (Idem, p. 150). Esse âmbito da produtividade assegurará boas análises no momento de buscar as respostas com base nos dados coletados.

Essas cinco regras serviram de base para a construção das categorias de modo pertinente, oferecendo informações importantes para o estudo que foi desenvolvido. Por fim, a terceira fase da organização da Análise de Conteúdos é a (3.) abordagem dos resultados por meio das inferências e da interpretação.

Nessa última fase, o pesquisador “tendo à sua disposição resultados significativos e fiéis, pode então propor inferências e adiantar interpretações a propósito dos objetivos previstos – ou que digam respeito a outras descobertas inesperadas” (BARDIN, 2011, p. 131). Segundo a autora, as inferências podem ser formuladas a partir de polos27 que permitem que as interpretações ocorram. No caso desta Tese, o polo central de análise foi a (3.1.) mensagem, por meio da qual pude me basear nas significações oferecidas pelo conteúdo que as mesmas forneceram.

pp. 138-142.

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Os polos são: o emissor; o receptor; a mensagem; o código; a significação; e, o médium. Para saber mais sobre, cf. Bardin, 2011, pp. 165-8.

Realizando o processo analítico possibilitado pela Análise de Conteúdo, organizei os dados coletados e construí inferências e interpretações que me permitiram descobrir em que medida a Filosofia está se tornando uma disciplina relevante para o currículo do Ensino Médio. Toda essa descrição do modo de funcionamento da Análise de Conteúdo serve para mostrar como os dados da pesquisa de campo foram analisados, permitindo que no próximo capítulo seja possível mostrar a construção das categorias que foram sendo elencadas ao longo deste estudo.

Com isso, concluo a parte referente à metodologia da pesquisa. No próximo capítulo, apresento como se desenvolveu a pesquisa de campo e a análise dos dados.

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