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Ant Juju: integrated social practices and interdisciplinary

4. METODOLOGIA DE PESQUISA

Com base no conto “A formiga Juju e o professor Moskito” (2014), a metodologia de pesquisa usada foi de natureza qualitativa e inspiração fenomenológica, tendo como procedimento central o registro sistemático das observações do dia a dia da intervenção em diários de campo, incluindo fotografias, desenhos dos/as parti- cipantes, textos escritos e informações obtidas em questionários e entrevistas.

Em acordo com Bogdan e Biklen (1994, p. 150) diário de campo: “[...] é o relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê, experiencia e pensa no decurso da recolha e reflectindo sobre os dados de um estudo qualitativo”.

Ainda para estes autores (1994, p. 152):

[...] as notas de campo consistem em dois tipos de mate- riais. O primeiro é descritivo, em que a preocupação é a de captar uma imagem por palavras do local, pessoas, ações e conversas observadas. O outro é reflexivo – a parte que apreende mais o ponto de vista do observador, as suas ideias e preocupações.

Após diversas leituras dos registros do diário de campo, ao percebermos unidades significativas, estas foram agrupadas em categorias temáticas conforme proposição fenomenológica (MAR-

TINS; BICUDO, 1989; GONÇALVES JUNIOR, 2008), objetivan-

do movimento intencional em busca da essência do fenômeno pes- quisado.

Construção dos resultados

Na construção dos resultados, em andamento, apresentamos parte da compreensão do fenômeno estudado: processos educati- vos decorrentes da construção de uma práxis musical dialógica re- alizada junto à comunidade participante da atividade de extensão universitária, “Projeto Escrevendo o Futuro (PEF) – (Re) cortando papéis, criando painéis”, uma prática social.

De acordo com pergunta aplicada aos participantes da pes- quisa (DC XIV)4 (23/05/2016), vejamos algumas falas dos estudan- tes participantes, transcritas na íntegra:

Xandi: “Aparte que eu mais gostei foi mais tocando e can-

tando para muitas pesoas”. [grifos nossos] 5

Ana: “Eu gostei da apresentacão e Leila ou Vena eu gostei muito e tanbem gos dei arecêi e muito legau e eu sei todas

as notas das musicas”.

Julia: “Eu gostei muito do ensaio da apresentação eu achei que ia se muito difícil mas enfim foi muito facil tinha hora que eu tinha dificuldade mas elas me ajudaram. Na apre- sentação eu fiquei morrendo de vergoia mas deu tudo cer-

to então eu adorei muito. Um abraco para Vena.

Arthur (Chuchu): “Foi muito bem este projeto”. Milla: “toca no chilofone gostei muito”.

Netos: “Eu ajai que o projeto da formiga Juju está muito legal pata mim por isso estou participando do projeto da formiga Juju o estrumento que eu toco eu adorie por que

distrai a cabeça fica frio e eu mostro meu capais por isso mostei mutalento Vena se você e ajudou a esta – la hontem

por isso eu consegui”.

Mily: “sábado foi muito legal aprendi que tocar não e só

diversão e também aprendizagem”.

Jabuticaba: “R: Eu entendi que o progeto entre o conserva- tório é o Bias não é só música mas é também ouvir o pró- 4 DC, Diário de Campo, referente ao encontro do dia 23/05/2016, na escola pública de educação básica, ocasião em que aplicamos aos estudantes participantes da pesquisa (nomes fictícios) a seguinte pergunta: “Fale de sua experiência no processo de preparação e apresentação da atividade ‘A Formiga Juju e o Professor Moskito’”.

ximo e também a si mesmo beijos; Obs: o R acima endica a

resposta da atividade”.

Ninil: “gostei e achei muito bom”.

Belinha: “eu gostei muito e também e divertido”.

Falas das educadoras (gestoras e professora), transcritas na íntegra:

Lili (gestora): “A temática abordada na peça teatral/musi- cal evidencia de forma relevante, clara e objetiva o assunto em pauta sobre a prevenção e promoção da saúde quanto aos cuidados com a doença dengue. Foi abordada na ati-

vidade a musicalidade e explorada a expressão corporal, postação de voz e principalmente o interesse, envolvimen- to e a participação das crianças”.

Cândida (gestora): “Foi uma experiência edificante, me

envolvi em resolver problema de transporte e figurino dos alunos. Amei a apresentação e interação dos alunos Bias

Fortes com outras escolas municipais”.

Tina (gestora): “Como coordenadora participei de forma ativa de todo processo e preparação da atividade e posso afirmar que a mesma contribuiu de forma significante para a aprendizagem das crianças, uma vez que houve intera- ção entre todos os envolvidos no processo. Pude presenciar o envolvimento e o brilho no olhar cada vez que iam ao conservatório. Quando afirmo que houve aprendizagem é

baseado no processo como um todo, pois cada um teve que saber esperar, saber ouvir, saber se pronunciar, sa- ber calar no momento certo. Cada um contribuiu de forma relevante e o resultado memorável. Fiquei muito emocio- nada ao ver as crianças apresentando, pois o processo foi

construído de forma coletiva e nossas crianças puderam mostrar o seu potencial”.

Margareth (professora): “Uma experiência única que veio num momento de fundamental importância, trazendo aos

alunos a conscientização de não deixar água parada, e só

consegue o objetivo se todos participarem”.

Na fala dos/as participantes, observamos: satisfação em aprender as notas musicais, a tocar e a cantar, apresentar-se em pú- blico; ser capaz de, mostrar-se talentoso, ter capacidade de concen- tração (“distrai a cabeça fica frio e eu mostro meu capais por isso mostei mutalento”); possibilidade de novas aprendizagens (“apren- di que tocar não e só diversão e também aprendizagem”); percep- ção e reconhecimento de si mesmo e do outro (“ouvir o próximo e também a si mesmo”); a alegria do fazer musical (“gostei muito e também e divertido”).

Na fala das educadoras: cooperação e interdisciplinaridade (“musicalidade e explorada a expressão corporal, postação de voz e principalmente o interesse, envolvimento e a participação das crianças”); envolvimento e colaboração (“Foi uma experiência edi- ficante, me envolvi em resolver problema de transporte e figurino dos alunos.”); reconhecimento de práticas sociais (“Quando afirmo que houve aprendizagem é baseado no processo como um todo, pois cada um teve que saber esperar, saber ouvir, saber se pronun- ciar, saber calar no momento certo. [...] o processo foi construído de forma coletiva e nossas crianças puderam mostrar o seu poten- cial.”); integração às demandas e urgências da atualidade (“não deixar água parada, e só consegue o objetivo se todos participa- rem”).

Ao longo dos encontros, realizados entre os meses de março a junho de 2016, tanto na escola de música como nas escolas de educação básica, podemos dizer que processos educativos acon- teceram, como: ensinar e aprender uns com os outros as letras das canções e instrumentação musical; reprodução de ritmos de capoei- ra, congada e funk, com base no cotidiano e dia a dia das crianças; criação de gestos e palavras de orientação e regência; zelo e cuida- do com os instrumentos musicais; participação na elaboração de ro- teiros e fichas técnicas; criação de brincadeiras, percussão corporal e sonorizações, dentre outros.

Nesse esforço de cada um no processo de construção-recons- trução do conto “A formiga Juju e o professor Moskito” (2014),

com base na convivência dialógica e cooperativa, tomamos o termo interdisciplinaridade (FAZENDA, 2011), como uma forma de ten- tativa das pessoas envolvidas em direção a uma atitude de abertura ao saber e trabalho do Outro. Seriam os conhecimentos pessoais abertos e alinhados rumo ao saber coletivo. A presença do “nós” como resultado dos vários “eus”, sensíveis e estimulados a realizar na convivência com o fazer artístico, reconhecido como lugar de criação e imaginação.

Aprendemos no dia a dia problematizador um pouco mais de nós mesmos e do Outro, aprendemos o quê ensinar e o quê apren- der, formas e procedimentos metodológicos, conhecimentos e habi- lidades. Tocando, cantando, encenando, interpretando, brincando, contando história, criando, construímos com o Outro, e por isso acreditamos que práticas sociais baseadas no diálogo e na coope- ração criativa são potentes na construção das individualidades em busca do saber autônomo e libertário.

Figura 2. Percutindo galões.

Figura 4. Tocando xilofones e metalofones.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos considerar que práticas como essas, envolvendo di- ferentes instituições de ensino (universidade, escolas de educação básica, escola de música) e pessoas (estudantes, pais/mães e res- ponsáveis, educadores, gestores) dão mostras do quanto se pode realizar, quando cada um, cada qual do seu jeito, assume potencial- mente a responsabilidade por tudo aquilo que acontece, exercendo funções a partir de desejos, escolhas e decisões próprias, aspectos que fundamentam práticas sociais que têm na integração e interdis- ciplinaridade suas âncoras.

Entretanto, a realização de tais práticas exige esforço de cada pessoa envolvida, porque as coisas só acontecem entre concordân- cias e discordâncias, conflitos gerados em meio à convivência, os quais precisam ser negociados. Não há prática social que seja dife- rente, já que as individualidades destacam os vários “eus”, enquan- to posicionamentos e compreensões particulares.

A exigência se reserva, então, à abertura de cada pessoa em conviver e se relacionar com o Outro, resguardadas as diferenças ao invés de ocultá-las, pondo-as à vista no trabalho realizado. Prá-

ticas como essas instituem mundos e delineiam futuros, instauram outros modos de ser e conviver. Estabelecem laços de cumplicidade e reconhecimento, aproximam pessoas; educam.

REFERÊNCIAS

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FAZENDA, I. C. A. Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro: efetividade ou ideologia? 6. ed. São Paulo: Loyola. 2011. Disponível em: <http:// www.pucsp.br/gepi/downloads/pdf_livros_integrantes_gepi/livro_integracao_ interdisciplinaridade.pd>. Acesso em: 25 ago. 2015.

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O processo ensino-aprendizagem do aluno