• Nenhum resultado encontrado

1. Da finalidade, das opções e do percurso da pesquisa

1.6. Metodologia qualitativa e estudo de caso

Segundo Bogdan e Biklen (1994: 47-48) “na investigação qualitativa a fonte de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal; (…) os dados são recolhidos em situação e complementados pela informação que se obtém através do contacto directo; (…) os investigadores qualitativos frequentam os locais de estudo que têm de ser entendidos no contexto da história das intituições a que pertencem”. Neste quadro de análise, e como foi sendo dito nas páginas anteriores, entendemos que as condições do estudo deviam privilegiar uma abordagem de natureza qualitativa, com uma vertente etnográfica, esta última com o registo e anotação de um conjunto de práticas e acção dos professores nas variadíssimas situações: reuniões de conselhos de turma, reuniões de departamentos, reuniões de grupo e reuniões do conselho pedagógico, entre outras situações informais como conversas havidas na sala dos professores, nos corredores, nos intervalos, etc. Neste sentido, tínhamos em perspectiva que, segundo Bogdan e Biklen (cf. ibidem, p. 49-51) “a abordagem qualitativa

O Trabalho Cooperativo na Profissão Docente

148

exige que o mundo seja examinado com a ideia de que nada é trivial, que tudo tem potencial para constituir uma pista que nos permita estabelecer uma compreensão mais esclarecedora do nosso objectivo de estudo; (…) os investigadores qualitativos em educação estão continuamente a questionar os sujeitos de investigação, com o objectivo de perceber «aquilo que eles experimentam, o modo como eles interpretam as suas experiências e o modo como eles próprios estruturam o mundo social em que vivem”. Estes autores (cf. ibidem, p.51) referem que “os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos; (…) a recolha de dados não é feita para confirmar uma dada hipótese, mas para responder, de forma indutiva, ao «como é que”. Segundo Isabel Carvalho Guerra (2006:11) a denominada «investigação qualitativa», referindo-se aos estudos de Jean-Pierre Deslauriers (1997), “designa uma variedade de técnicas interpretativas que têm por fim descrever, descodificar, reduzir certos fenómenos sociais que se produzem mais ou menos naturalmente. Estas técnicas dão mais atenção ao significado destes fenómenos do que à sua frequência” tendo em conta que no âmbito da exigência etnográfica e segundo os autores acima mencionados o processo interpretativo toma também em atenção o ponto de vista dos sujeitos do estudo, porque “o processo de investigação qualitativa reflecte uma espécie de diálogo entre os investigadores e os respectivos sujeitos”. Com base nos trabalhos destes e de outros autores, tivémos como tarefa prévia a construção, a aplicação, a recolha e o tratamento dos dados provenientes das entrevistas e dos questionários sobre a temática em estudo. Enfatizámos, de resto, o interesse pelos factores inerentes aos modos correlativos da cultura profissional docente na escola, nomeadamente o isolamento e o individualismo, o trabalho cooperativo e a colaboração profissional.

Entendemos que, para uma abordagem mais aprofundada da situação em análise, era pertinente recorrermos à metodologia designada por “estudo de caso” como forma de atribuirmos maior relevância às opiniões e conhecimentos dos professores sobre a problemática em foco. Centrados nesta metodologia, priorizámos uma abordagem hermenêutica e qualitativa das condições sociais e profisssionais dos professores em contexto escolar, tendo como ponto de partida o método intensivo que nos ajudasse a analisar e a compreender pormenorizadamente os fenómenos em estudo, segundo os objectivos traçados. Para isso entendemos, à partida adoptar uma atitude interpretativa do que poderia ou deveria ser “trabalho cooperativo na profissão docente”, em razão dos percursos necessariamente diferentes dos vários professores, nomeadamente, as suas experiências e perspectivas profissionais. Pretendíamos ir um pouco mais além do sentido hermenêutico da investigação para melhor compreendermos a natureza e

Estudo de Caso

149

o signiicado pedagógicos do gesto mais tradicional atribuído ao individualismo e ao isolamento profissional na docência, considerando fundamental o aprofundamento das informações recolhidas ao longo da pesquisa, através de questionários, de entrevistas e da observação directa dos professores nos vários contextos. Mas, por razões justificadas nas páginas anteriores, confinámo-nos ao discurso essencial dos professores, tendo sido possível valorizar o sentido e o significado que os mesmos atribuem às suas acções, experiências e práticas pedagógicas, bem como ao seu modo de ser e de estar na profissão docente. Os resultados desta investigação procuram fornecer contributos para a melhoria das práticas pedagógicas e do processo de ensino e de aprendizagem. Assim, e enquanto estudo de caso, a abordagem empírica procurou centrar- se na interpretação, na apreensão e na compreensão das diferentes realidades profissionais e educativas dos professores, tendo em apreço um conjunto de questões previamente construídas sobre a problemática em estudo. Todos os instrumentos de pesquisa (grelha de observação, questionários, entrevistas individuais e por focus group) foram construídos com o objectivo de nos permitir, em cada fase de recolha, levantar novas questões sobre o enquadramento teórico- conceptual do problema em estudo. Como foi dito inicialmente, o estudo procurava compreender e reflectir sobre o fenómeno do trabalho cooperativo na profissão docente versus isolamento e individualismo, tendo como referência a responsabilidade partilhada entre os docentes de uma Escola Secundária da região da grande Lisboa.

A escolha deste estabelecimento de ensino teve em conta factores de ordem organizacional e pedagógica, para além da nossa ligação socioprofissional com a escola em questão. Chegados a este momento torna-se legítimo afirmar que a problemática em estudo teve em perspectiva um duplo pensamento sobre a relação dialéctica entre o trabalho cooperativo, o individualismo e isolamento na profissão docente. Assim, a investigação segue um campo hermenêutico e fenomenológico, dando espaço a uma abordagem descritiva (factual e objectiva) sobre o que era observável e passível de registo, privilegiando a matriz cultural da relação profissional entre os professores, nomeadamente a partilha de saberes e de experiências que conduzam a “boas práticas” pedagógicas e educativas. Procurou-se, essencialmente, os “comos” 23 e os “porquês” 24 acerca dos fenómenos em análise, tendo em conta o contributo empírico dos professores respondentes. Como foi sendo dito, a utilização desta metodologia é consciente, tendo como suporte a selecção e recolha de dados julgados

23

Os “comos” remete para a descrição das práticas.

24

O Trabalho Cooperativo na Profissão Docente

150

necessários para a compreensão do sentido fenomenológico da problemática em análise. Adoptámos procedimentos básicos ao nível da metodologia qualitativa, tendo sido implementados os critérios de recolha, organização e análise de dados (sob forma de observação empírica, questionários e entrevistas individuais e por focus group). Entendemos que a utilização desta metodologia constituiria um ponto de referência, entre outros já citados, para a consecução e concretização dos objectivos gerais e específicos traçados. De referir que estes objectivos foram pensados e organizados sobre os vários domínios correspondentes aos fenómenos de trabalho cooperativo, trabalho isolado, “privatismo”, cultura profissional docente, individualismo profissional, colegialidade, responsabilidade partilhada, etc. Assim, todas as questões colocadas tiveram em conta as experiências, as intenções, os motivos, os desejos, as expectativas, as crenças e os valores dos professores participantes.