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CAPÍTULO IV: Aplicação de um perfil conceitual de adaptação associado à estrutura

4.1. Contextos sócio-históricos de significação do conceito de adaptação

4.1.3. Micro-contexto

Os micro-contextos de significação do conceito de adaptação foram estabelecidos por força das atividades de ensino planejadas para que os estudantes se sentissem estimulados a falar acerca dos fenômenos evolutivos abordados nos roteiros. Para isso, propusemos, durante toda a sequência de ensino, discussões guiadas pelas informações contidas nos casos dos roteiros e para certos casos também estimulamos a fala dos estudantes a partir da exibição de filmes e documentários curtos que mostravam as estruturas orgânicas problematizadas nos cenários, como por exemplo, o filme que destacava a complexidade do marsúpio do mexilhão Lampsilis (ROTEIRO I, ANEXO II) e o documentário que debatia a excentricidade da genitália externa masculinizada das hienas Crocuta crocuta (ROTEIRO I, ANEXO XX). Além disso, textos e artigos que discutiam explicações para alguns cenários foram também colocados a disposição dos estudantes para também compusessem as fontes por meio das quais as explicações evolutivas pudessem figurar no contexto discursivo da sala de aula, a exemplo do texto ―A seleção natural‖ de autoria de Meyer e El-Hani (2005) para a discussão da evolução dos peixes Lebistes (ROTEIRO II, ANEXO XX).

QUADRO 16 - Sequência didática “Modos de pensar e formas de falar adaptação‖ Fonte: elaborada pela autora

Em interação no espaço social da sala de aula professora, estudantes e as ferramentas de ensino, momentos de debates e elaborações de narrativas explicativas para tais fenômenos e negociações de compromissos ontológicos e epistemológicos que sustentam essas explicações se instalaram no contexto da atividade de ensino. Nesses momentos, uma espécie de contrato de intersubjetividade mais amplo era acordado entre professora e estudantes de modo que todos os esforços se voltavam para a proposição de respostas para os fenômenos evolutivos em pauta.

SEQUÊNCIA AULA: TEMA PRINCIPAL ATIVIDADE DE ENSINO Modos de pensar e formas de falar adaptação no ensino superior de evolução

Aula 1: – Modos de pensar e formas de falar adaptação

- Estudantes elaboram uma narrativa para o cenário de resistência agrícola a inseticida

Aula 2: Obstáculos epistemológicos e

sementes conceituais na compreensão do conceito de adaptação

- Discussão sobre modos de pensar e formas de falar adaptação a partir da leitura do artigo de Sepulveda e El-Hani (2014)

Aula 3: Modos de pensar e formas de

falar adaptação e implicações do uso de linguagem em sala de aula

Aula 4: Modos de pensar e formas de

falar adaptação.

- Estudantes avaliam e reelaboram suas narrativas a respeito da resistência a inseticida

Aula 5: Explicações para a forma

orgânica: origem e diversificação

- Discussão em grupo do Roteiro ―Explicações para a forma orgânica: origem e diversificação I‖

Aula 6: Explicações darwinistas e

avanços da Biologia Evolutiva

- Apresentação das explicações disponíveis na literatura a respeito dos cenários evolutivos do roteiro I

Aula 7: Funcionalismo X Estruturalismo - Aula expositiva Aula 8: Adaptacionismo X Exaptacionismo - Aula expositiva

Aula 9: Avanços teóricos e empíricos

da Biologia Evolutiva

- Aula expositiva

Aula 10: Explicações para a forma

orgânica: origem e diversificação II

- Resolução do roteiro ―Explicações para a forma orgânica: origem e diversificação II‖ - 1ª Parte

Aula 11: Explicações para a forma

orgânica: origem e diversificação II

- Resolução do roteiro ―Explicações para a forma orgânica: origem e diversificação II‖ - 2ª Parte

Aula 12: Explicações para a forma

orgânica: origem e diversificação II

- Discussão do roteiro ―Explicações para a forma orgânica: origem e

diversificação II‖

Aula 13: Explicações para a forma

orgânica: origem e diversificação II

- Discussão do roteiro ―Explicações para a forma orgânica: origem e

4. 2. Metodologia de produção e análises dos episódios de ensino

O desenho metodológico para a produção e análise dos episódios de ensino envolveu, inicialmente, o procedimento de registro de observação em vídeo das 11 aulas que compunham a sequência de ensino ―Modos de pensar e formas de falar adaptação no ensino superior de evolução‖ (quadro 16). A gravação das interações discursivas perfez aproximadamente 20 horas de filmagem, as quais foram assistidas, ao menos, três vezes e mapeadas por meio de mapas de atividade (GEE; GREEN, 1998; AMARAL, 2004).

Foram selecionados episódios de ensino que tratavam da significação do conceito de adaptação e/ou de modelos explicativos para as mudanças adaptativas, de modo que indicasse como essa significação ocorreu durante a sequência. A individuação dos episódios, ou seja, o corte na sequência que limita os turnos de fala que os constituem, foi realizada tendo em vista as mudanças de conteúdos e as estratégias enunciativas tanto da professora como dos estudantes ao longo das interações discursivas.

Para alcançar o objetivo do nosso estudo, as análises dos episódios de ensino envolveram a aplicação do perfil de adaptação para a análise de discurso no ensino superior, por meio da caracterização epistemológica das zonas deste modelo que foi empregada para orientar epistemologicamente a análise semântica do discurso. De acordo com Sepulveda e El-Hani (2014), o tratamento epistemológico dado ao conceito de adaptação e à análise da estrutura das explicações biológicas para a origem e diversificação da forma orgânica, quando da construção deste modelo, é justamente um dos aspectos em que reside o potencial heurístico do modelo para a compreensão dos processos de significação do conceito darwinista de adaptação em situações de ensino e aprendizagem.

O perfil conceitual foi empregado na análise de discurso de modo integrado à estrutura analítica para caracterização das zonas do perfil conceitual, proposta neste estudo (Capítulo 3). Esta ferramenta nos permitiu a caracterização da situação social em que os enunciados da professora e estudantes são produzidos quando há emergência e negociação das diferentes zonas, por meio dos seguintes passos: (1) análise e descrição dos contextos sócio-históricos de significação (MATOS, 2014; AGUIAR- JÚNIOR, 2014), apresentada nas seções anteriores deste capítulo e; (2) aplicação da ferramenta analítica do discurso de Mortimer e Scoot (2002) integrada às noções de

organização do diálogo em sala de aula de Lemke (1990) e suas proposições a respeito das atividades e estratégias de controle utilizadas em sala de aula (FIGUEIREDO, 2013). Além de orientar um exame dos aspectos estruturais e linguísticos dessas formas de falar caracterização das propriedades do texto/enunciado, por meio de uma análise semântica da forma composicional do gênero de discurso, a partir da caracterização do padrão temático (LEMKE, 1990) das formas de falar próprias das zonas de um perfil conceitual.

Ao utilizar estas ferramentas na análise discursiva, realizamos uma análise microgenética para investigar a significação das explicações darwinistas ao longo das trocas de turnos que compõem os episódios de ensino selecionados. Wertsch e Hickman (1987) definem a análise microgenética como uma abordagem metodológica que envolve o acompanhamento minucioso da formação de um processo psicológico, em que são detalhadas as ações dos sujeitos e as relações interpessoais dentro de um curto espaço de tempo. A seguir, apresentaremos as análises dos episódios de ensino selecionados, localizando-os nas aulas nas quais se inserem.