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SUMÁRIO

3. PROPOSIÇÃO 87 4 MATERIAL E MÉTODOS

2.5 CLASSIFICAÇÃO DAS LESÕES ENDODÔNTICAS-PERIODONTAIS

2.6.3 Microbiologia Periodontal

A doença periodontal é de etiologia multifatorial, onde estão envolvidos vários complexos bacterianos que interagem com as células do hospedeiro. Essa interação causa uma ampla liberação de mediadores inflamatórios que podem acarretar a destruição das estruturas periodontais (Ebersole et al., 1997).

A etiologia da doença periodontal é multifatorial, mas a presença do biofilme bacteriano é essencial e indispensável na etiopatogênese das infecções periodontais

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Algumas bactérias são responsáveis pela formação inicial da biofilme supragengival, como Streptococcus ssp. e bastonetes Gram positivos. O crescimento secundário e maturação ocorre como consequência do crescimento da biofilme inicial. (Carranza, 1986)

O caráter infeccioso e imunoinflamatório crónico é caracterizado por uma cultura mista, com predomínio de bactérias anaeóbias Gram negativas. É induzida por biofilmes bacterianos contendo numerosos patógenos periodontais que se associam em complexos periodontopatogênicos. Esses complexos bacterianos são associações de bactérias presentes em biofilmes subgengivais, que interagem com as células do hospedeiro, liberam mediadores inflamatórios e causam a destruição do ligamento periodontal e do osso alveolar adjacente. (Loesche et al., 1990).

Os periodontopatógenos são bactérias específicas encontradas em grande numero nas bolsas periodontais, enquanto seus números são baixos em sítios sadios (Loesch et al., 1990). Diferentes espécies bacterianas estão associadas a diferentes formas de doenças periodontais. Eles apresentam vários fatores de virulências que aumentam sua colonização, incapacitando a resposta do hospedeiro e causando destruição do tecido diretamente ou pela ativação da resposta inflamatória. Esses fatores permitem que as bactérias colonizem defeitos periodontais profundos desfavorecendo as defesas do hospedeiro (Clarke & Hirsch, 2002)

Socransky e Haffajeee (1998) classificaram a microbiota das doenças periodontais em grupos ou complexos, que foi assim apresentada:

Complexo vermelho: Tannerella forsythia, Porphyromonas gingivalis e Treponema denticola.

Complexo laranja: Fusobacterium nucleatum spp., Prevotella intermédia, Prevotella nigrescens, Parvimonas micra. Dentre as espécies associadas a esse complexo, encontram-se Eubacterium nodatum, Campylobacter rectus, Campylobacter showae, Streptococcus constellatus e Campylobacter gracilis.

Complexo amarelo: Streptococcus sanguis, Streptococcus oralis, Streptococcus mitis, Streptococcus gordonii e Streptococcus intermedius

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Complexo verde: formado por três espécies de Capnocytophaga Campylobacter concisus, Eikenella corrodens e A.actinomycetemcomitans sorotipo a.

Complexo roxo: Veillonella parvula e Actinomyces odontolyticus.

A. actinomycetemcomitans serotipo b, Selenomonas noxia e Actinomyces naeslundii são espécies relacionadas com os demais complexos.

De todos esses complexos presentes nas doenças periodontais, o complexo vermelho é o mais investigado, pois está presente em etapas mais tardias da formação do biofilme. As bactérias pertencentes a esse grupo são freqüentemente isoladas dos biofilmes subgengivais em casos onde há grandes profundidades de bolsa e sangramento à sondagem (Socranski & Haffajeee, 1998)

Faveri et al. (2006) avaliaram a presença do complexo vermelho em 15 indivíduos com periodontite crônica e 15 indivíduos periodontalmente saudáveis. Os parâmetros clínicos de profundidade de sondagem, nível de inserção clínica, presença ou ausência de sangramento a sondagem, biofilme supragengival visível e supuração, foram avaliados em 6 sitios por dente. O checkerboard DNA-DNA foi utilizado para identificar a presença de Tannerella forsythia, Treponema denticola e Porphyromonas gingivallis. A presença concomitante dessas 3 espécies, foi identificada em 85% dos sítios avaliados dos pacientes com periodontite e 10% dos sítios dos indivíduos saudáveis; 81% dos sítios do grupos saudável não apresentavam esses patógenos, contra 2% dos sítios com periodontite. Os autores concluíram que a colonização simultânea dos 3 patógenos é rara nos indivíduos saudáveis e, uma característica marcante nos indivíduos com periodontite crônica

Dentre as inúmeras espécies bacterianas isoladas do biofilme associado a periodontite, as espécies constituintes do grupo de BPPN, Gram-negativos e anaeróbios, mostram-se fortemente relacionadas com infecções periodontais destrutivas (Socransky & Haffajeee, 1998).

Comumente, Porphyromonas gingivalis é isolada tanto de canais radiculares quanto nas bolsas periodontais (Holt et al., 1999).

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A prevalência de BPPN como Porphyromonas gingivalis e Prevotella intermédia, foi determinada em amostras subgengivais de 50 indivíduos com periodontite avançada (17 a 75 anos) e 50 adultos (21 a 36 anos) e 50 crianças com gengivite (2 a 11 anos) por Ashimoto et al., (1996). Foi usado o método do PCR baseado no gene16S rRNA. A prevalência em indivíduos com periodontite e em adultos e crianças com gengivite, respectivamente, foi de 70%, 10% e 14% para Porphyromonas gingivalis, 58%, 12% e 18% para Prevotella intermédia.

Algumas espécies do gênero Prevoltella são encontradas tanto em sítios sadios quanto em sítios periodontalmente comprometidos. Prevotella intermédia esta mais relacionada com sítios de destruição periodontal do que sítios sadios (Pereira et al., 2011)

Tannerella forsythia, é uma bactéria Gram-negativa anaeróbia freqüentemente detectada em indivíduos com diferentes formas de doença periodontal, infecções do canal radicular, e perimplantites (Tanner & Izard, 2006).

Kesavalo et al. (2007) demonstraram que Porphyromonas gingivalis, Treponema denticola, Tannerella. forsythia, associados ou não a Fusobacterium nucleatum, não só estão presentes na periodontite crônica, como também exibem virulência na colonização da cavidade oral, indução do aumento da resposta imunes da IgG, e significativa reabsorção óssea alveolar.

Ebersole (1997) mostrou que Porphyromonas gingivalis e Fusobacterium nucleatum exibem sinergismo na destruição de tecidos, mas os mecanismos de interação desses microrganismos no sulco subgengival e se eles expressam um potencial patogênico em progredir a periodontite permanece enigmática.

Em seres humanos, Porphyromonas gingivalis e Tannerella forsythia são mais prevalentes em indivíduos com destruição periodontal do que nos homólogos saudáveis, e ambos têm sido implicados com fatores de risco em periodontite, sugerindo um papel relevante no estabelecimento da doença e progressão (Saito et al., 2009). Em um âmbito clínico, isso contribui para a idéia de que os complexos de bactérias em infecções periodontais podem ser mais relevante do que espécies individuais sozinhas (Gomes et al., 2004). Porphyromonas gingivalis e Tannerella

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forsythia fazem parte de um complexo bacteriano responsável pela severidade da doença periodontal (Yoneda et al., 2005)

Rôças et al. (2001) procuraram determinar a existência de associação entre conhecidos patógenos periodontais como Tannerella forsythia, Porphyromonas gingivalis e Treponema denticola, conhecidos patógenos periodontais. Por meio da biologia molecular foram estudados 50 canais radiculares de dentes sem vitalidade pulpar e com lesão periapical. O DNA das amostras foi extraído e examinado por PCR. Em 33 casos foi encontrado pelo menos um dos microrganismos estudados. Treponema denticola, Porphyromonas gingivalis e Bacteroides forsythus foram detectados em 44%, 30% e 20% dos casos respectivamente. Os três microrganismos foram identificados em conjunto em 4 casos

Utilizando técnicas de cultivo microbiano, Van Winkelhoff et al., (2002), investigaram a presença de patógenos periodontais suspeitos em 116 pacientes com destruição periodontal (± 42,4 anos) e em 94 indivíduos sem doença (± 40,4 anos). A prevalência de indivíduos para a presença de Porphyromonas gingivalis e Prevotella intermédia foi, respectivamente, 59,5% e 10,6% no grupo sem doença e, 87,9% e 69,1% no grupo com doença periodontal. Segundo os autores, os resultados demonstraram que periodontopatógenos como Porphyromonas gingivalis, Tannerella forsythia, Actinobacillus actinomycetemcomitans, Prevotella intermédia, Fusobacterium nucleatum e Parvimonas. micra são fortes marcadores de doença periodontal destrutiva.

Socransky & Haffajeee (2003) investigaram os perfis microbiológicos relacionados com periodontite. Os autores enfatizam a presença do complexo laranja e vermelho em casos de periodontite refratária, nos quais as espécies Prevotella intermédia, Prevotella nigrescens e Porphyromonas gingivalis estão incluídas e mostram-se fortemente relacionadas com parâmetros clínicos periodontais, como perda de inserção e sangramento gengival à sondagem

Verma et al. (2010) testou a hipótese de Porphyromonas gingivalis e Treponema denticola apresentarem fatores de virulência quando em sinergismo. E examinou parâmetros de inflamação periodontal, padrões de resposta imune, indução de reabsorção óssea alveolar e interações de virulência. Em se estudo foram utilizados

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modelos de infecções microbianas em ratos que foram infectados individualmente com essas duas bactérias e através da mistura delas por 7 e 12 semanas. Foi realizado o PCR, que detectou mais DNA de Porphyromonas gingivalis do que Treponema denticola. Ambas as bactérias exibiram grandes quantidades de anticorpos (IgG, IgG2b, IgG1, IgG2), que indicou a estimulação da resposta imune. Avaliações radiográficas indicaram que a reabsorção do osso alveolar em infecções mono ou mistas foram grandes no período de 7 e 12 semanas, quando comparadas com os grupos controles (p<0,05). Histologicamente, houve maior migração do epitélio juncional nas infecções mistas, quando comparadas com as monoinfecções, o que mostra o caráter intenso da resposta inflamatória que é característico da doença periodontal. Os resultados mostraram que Porphyromonas gingivalis e Treponema denticola não exibiram fatores de virulência quando em sinergismo nas doenças periodontais induzidas em ratos.

Em geral, o tratamento periodontal consiste da raspagem e do alisamento radicular. Uma raspagem subgengival efetiva diminui a população de bactérias Gram negativas enquanto, concomitantemente, permite o aumento de Gram positivos, que esta mais associado a saúde gengival (Cobb, 2002).

Cugini et al (2000) mostraram que raspagem e alisamento radicular resulta em significativa diminuição de DNA de espécies subgengivais de Porphyromonas gingivalis, Bacteroides. forsythus e Treponema denticola. Concomitantemente com a diminuição dessas bactérias, houve um aumento de Actinomyces sp., Capnocytophaga sp., Fusobacterium. nucleatum, Streptococcus. mitis e Veilonella. parvula. Resultados similares mostrando a diminuição nos níveis de Porphyromonas gingivalis e Tannerella denticola também têm sido mostrado por Lowenguth et al. (1995).

Porphyromonas gingivalis e Treponema denticola, bactérias pertencentes ao complexo vermelho, têm sido associadas a uma resposta pobre frente ao tratamento de raspagem e alisamento radicular (Haffajeee & Socransky 1994; Chave et al. 2000)

Chaves et al. (2000) demonstraram que lesões periodontais que apresentavam Porphyromonas gingivalis em 1, 3 e 6 meses após o tratamento inicial demonstraram perda adicional de tecido ósseo, enquanto que nos casos onde este patógeno estava ausente, após o tratamento houve tendência a recuperação de estrutura óssea. A

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ausência de Porphyromonas gingivalis no início do tratamento sugere que o sítio não apresentará perda óssea após a terapia periodontal.

O padrão de distribuição de Porphyromonas gingivalis e Prevotella intermédia/nigrescens após terapia periodontal foi demonstrado por Mombelli et al. (2000), em 17 pacientes com periodontite, através de amostras de biofilme subgengival. As duas espécies de microrganismos apresentaram diferentes padrões de persistência. A Porphyromonas gingivalis foi detectada em 59% dos indivíduos, mas em baixa proporção nos sítios (5,4%). A Prevotella intermédia/nigrescens mostrou forte relação em sítios com sangramento, não sendo detectada em um único indivíduo, com 40,6% dos sítios positivos para essa espécie. Os autores concluíram que se após o tratamento mecânico padrão, um grande número de sítios continuaram sangrador, pode-se esperar número elevado de sítios positivos para Prevotella intermédia/nigrescens e se muitas bolsas profundas persistirem, um maior número de sítios Porphyromonas gingivalis positivos.