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Parte I – Problema de investigação

20. Microcrédito, Turismo e luta contra a pobreza

Conforme referido na caracterização socioeconómica Cabo Verde é actualmente uma nação reconhecida a nível internacional, na sua região e não só, pela boa governação e estabilidade política. Este facto tem permitido atrair de forma crescente investimento Directo Estrangeiro. É no subsector do Turismo e hotelaria que reside o maior interesse do capital estrangeiro aproveitando as condições climáticas favoráveis do Arquipélago durante todo o ano. Assim, o turismo tem sido utilizado, apesar dos riscos, como uma alavanca para dinamização da economia. Contudo, o seu crescimento não significa maior impacto directo na melhoria de condições de vida dos cabo- verdianos, principalmente os mais desfavorecidos. É um sector centrado na “monocultura de sol e praia”, em “pacote turístico” comprado fora de Cabo Verde e na importação de quase tudo que faz funcionar os hotéis. (Cf. Cabral, 2005). Beneficia directamente, embora também de forma limitada,

apenas as áreas costeiras das ilhas do Sal e Boa Vista. As populações das outras ilhas e do meio rural, onde concentra a maioria dos pobres, continuam à margem do processo recebendo pouco dinheiro com a actividade turística. Os benefícios directos do Turismo, para os nacionais, principalmente os mais desfavorecidos, os quais precisam de oportunidades de autoemprego, são ainda muito limitados. Não há indícios de ligação entre a estratégia de luta contra a pobreza e o desenvolvimento do subsector. Este continua isolado na perspectiva de relações com outros sectores da economia. Como aumentar os benefícios directos do Turismo para os mais desfavorecidos em Cabo Verde?

Uma estratégia de turismo pró-pobre (PPT)60 deve ser abrangente considerando três tipos de impacto líquido do turismo na vida dos pobres (Bolwell e Weinz, 2008:11)

a) Através de efeitos diretos sobre os pobres, tais como trabalhos de turismo e pequenas empresas de turismo;

b) Através de efeitos secundários, tais como ganhos de indústrias da cadeia de fornecimento (por exemplo, alimentos e construção), bem como dos trabalhadores de turismo que gastam os seus rendimentos na economia local, e

c) Através de efeitos dinâmicos na economia, tais como empreendedorismo, salários e preços, desenvolvimento de infraestrutura, de outros setores de exportação, desenvolvimento de competências e do ambiente natural.

Conforme foi referido o microcrédito é um instrumento poderoso que promove mudanças na vida dos pobres. Estimula a criação de pequenas iniciativas empresariais por públicos não tradicionais (mulheres, jovens desempregados, minorias étnicas) e fomenta a geração autónoma de rendimentos. Hoje, um manancial grande de microempresários nacionais pode dar respostas às necessidades do sector turístico em Cabo Verde. Ter um turismo pró-pobre em Cabo Verde, numa visão de partilha do alto valor acrescentado do sector com os pobres, significa, em primeiro de tudo, como se refere no ponto 1, estimular a iniciativa empresarial dos pobres nesse sector. É um processo contudo pouco fácil uma vez que deverá ser em nichos que evitem concorrência com grandes multinacionais. Políticas de turismo deverão repensar o turismo numa perspectiva mais diversifica e alternativa. São de considerar, no sentido de aumentar benefícios dos mais pobres com o turismo, o ecoturismo, o

turismo rural (grande potencial do país para turismo nas áreas rurais e de montanha), turismo cultural

(Deverá não apenas levar a tradição aos centros turísticos mas engajar a comunidade local na sua promoção), o turismo de base comunitária (ligar o turismo ao desenvolvimento comunitário integrado, participação da comunidade, interacção comunidade local e turistas mostrando as vivencias das comunidades) (Bolwell e Weinz, 2008; Cabral, 2005).

Experiencias diversas podem elucidar as referidas alternativas. No Vietname, por exemplo, a OIT implementa um projecto61 para apoiar a Província de Quang Nam na criação de oportunidades nas

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áreas rurais e montanhosas fazendo do turismo oportunidade para a geração de rendimentos. O resultado são serviços de “home-stay” (hospeda turistas, usando casa como uma casa de família), produtos tradicionais, formação em operação turística na comunidade; e apoio a actividades produtivas no meio rural deu origem a Produtos de tecelagem, especiarias e cestas de chá, amenidades de quarto de hotel, com marca "Made in Quang Nam" e "Produtos com uma história".

Em segundo lugar, estimular o crescimento de negócios (start-ups) relacionado com o turismo. Isso vai permitir conectar cadeia de abastecimento dos hotéis à economia local até hoje inexistente. Concordamos com os que afirmam que a economia local não tem capacidade suficiente para abastecer o sector turístico. Mas somos obrigados a discordar que em certas áreas e produtos tal não possa acontecer.

Baseando na actividade turística é possível animar constituição de pequenas iniciativas empresariais visando fornecimentos aos Hotéis (produtos agrícolas por exemplo), satisfazer nichos e aproveitar oportunidades específicas do sector. Há que ter em atenção contudo que, pequenas iniciativas empresariais poderão não estar bem posicionadas para relacionar individualmente com as grandes empresas do sector turístico. Questões como falta de escala para determinados investimentos (o investimento na qualidade e certificação dos produtos é um dos imprescindíveis), escala nos fornecimentos, falta de capacidade de negociação e marketing/comercialização, dificuldades de acesso ao crédito, falta de tecnologia entre outros tornam o sucesso da ligação hotéis – economia local dependente do papel desempenhado pelas já mencionadas Agências locais. As mesmas devem desempenhar um papel pró-activo na animação e, utilizando o microcrédito em estreita articulação com os outros serviços a empresas, fornecer uma base sólida para a relação turismo/pequenas iniciativas dos pobres.

Os desafios colocados pelo défice de escala das pequenas e microempresas podem ser superados pela organização colectiva de produtores locais. O cooperativismo62 oferece perspectivas bastante positivas para tal propósito, além de fomentar um sistema económico mais equilibrado e justo. A organização de produtores pela SEWA63 na índia pode ser apontada como importante ponto de referência. Outras experiências mostram ainda que é possível organizar trabalhadores no sector de serviços em Plataformas de serviços partilhados. O caso do “Projecto Marias”

(http://www.projetomarias.org/as-marias.aspx) desenvolvido na Cova da Moura, em Portugal constitui a este propósito um exemplo digno de referência.

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http://www.ilo.org/global/about-the-ilo/newsroom/features/WCMS_191838/lang-- en/index.htm?shared_from=media-mail, Acedido em Novembro de 2012.

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O cooperativo foi criado por Robert Owen e a experiencia mais conhecida sobre o movimento é a criação da cooperativa de consumo Rochdale em 1844. Ver página web da Aliança Cooperativa internacional destacado de forma diferente pelo ano 2012 ser considerado pelas Nações Unidas como Ano Internacional do Cooperativismo. http://2012.coop/ .

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